Sonho quente em uma noite fria

Um conto erótico de Coryolanus
Categoria: Heterossexual
Contém 2648 palavras
Data: 17/11/2006 01:32:08
Assuntos: Heterossexual

Recostado em um cadeirão, Adriano olha pelas vidraças da grande janela à sua frente o movimento dos carros e das pessoas na rua lavada por uma chuva miúda e contínua. Em redor das lâmpadas dos candeeiros, a chuva forma um halo de luz e o chão molhado reflecte os faróis dos veículos que passam em filas compactas. Sobre seus joelhos cobertos pelo roupão de flanela vermelho-escuro, Adriano tem um livro aberto, descaído em esquecimento. Prefere não acender a luz, pois ela viria quebrar a melancolia em que lhe apetece se afundar. Da lareira acesa, com o fogo brando lambendo os troncos, lhe sabe bem ouvir o crepitar e receber seu calor aromático e natural, que lhe permite estar confortavelmente nu sob o roupão, após ter tirado as roupas de trabalho e tomado um demorado banho de imersão. Adriano fecha o livro e o pousa sobre o chão, em gesto largo que faz seu roupão deslizar e se abrir. Suas mãos afagam distraidamente as coxas e o ventre. Vagaroso, levanta e afasta suas pernas, que passa por sobre os braços do cadeirão, apoia contra o parapeito frio da janela seus pés descalços, e se deixa escorregar para a frente. Encosta sua nuca nas costas do cadeirão e fecha os olhos. Por sua mente vai passando uma mescla difusa de sensações, memórias, fantasias. Se sente sonolento... Está completamente nu, dentro de uma carruagem de metrô apinhada, em hora de ponta. Há mãos que o apalpam, na confusão da gente comprimida. O calor é sufocante e sente gotas de suor se formando em sua testa. Em seu redor há um círculo denso de rostos esbatidos, como máscaras alaranjadas, que o olham maliciosamente. Depois, numa súbita explosão de claridade, o metrô sai do túnel. Numa metamorfose instantânea, Adriano descobre que é agora o único passageiro de um ruidoso trem de praia, que avança por entre as dunas, banhado pelo Sol. Quando o trem pára, ele se apeia de um salto na praia percorrida pela brisa carregada do cheiro forte do mar. O trem se afasta num guinchar estridente sobre os carris. Olha em sua volta. O areal está deserto. Anda uns passos ao acaso e se estende na areia fina e dourada, de ventre para baixo, apoiando o rosto num antebraço. A areia está bem quente. Os gritos das aves se juntam ao fragor do oceano. Adriano se sente em comunhão com a natureza. Recorda uma passagem de uma qualquer novela de ficção científica, em que um homem regressa à Terra aos comandos de sua nave de carga, ansioso por reencontrar a harmonia do planeta-mãe, depois de sua longa viagem pelos espaços siderais, antecipando o prazer de se banhar numa praia tropical, com palmeiras e coqueiros bordejando uma pequena enseada e o Sol se reflectindo na superfície calma do oceano azul. Estremece quando uma mão inesperada pousa em sua coxa esquerda, logo acima da dobra de seu joelho. Vira a cabeça e vê um coroa de meia idade, baixo, gordo e absolutamente calvo, seus olhos pequenos apertados numa estreita fenda entre papos de carne olham-no e ele sorri com o rosto contraído em um esgar estranho. Não tem sobrancelhas nem pestanas, nem vestígios de barba. Em sua enorme barriga redonda tem tatuada uma caveira de bovino, com uma víbora saindo por uma das órbitas vazias, tudo em tons sombrios e num traço gótico e maligno, como uma criação inspirada nos contos de H.P. Lovecraft. Adriano tenta se afastar, com repulsa, mas a mão gorda do homem sobe em direcção ao seu rabo, num gesto rápido, enquanto de sua boca de peixe se projeta uma língua de um verde azulado brilhante e metálico, cilíndrica e longa, tão longa que não pode existir em seres humanos. Adriano se detém, hipnotizado, entre o temor que o homenzinho lhe causa e o fascínio que aquela língua incrível exerce sobre ele, obscenamente escorrendo uma saliva translúcida que goteja sobre a areia. O estranho se curva num movimento célere e sua língua penetra seu ânus, em um só impulso. Apesar de saber que tudo é antinatural naquela língua fria e viscosa, Adriano se entrega à invasão profunda e gostosa que ela faz de suas entranhas. Sempre deitado sobre o ventre, empina loucamente seu traseiro e fecha os olhos em delírio. A língua musculosa e ágil sai e reentra e remexe e se contorce dentro dele num ritmo alucinante. Passam tempos infindos em que toda a intimidade de seu corpo é percorrida naquele movimento caótico, até que a língua reptiliana deixa de se mover e começa subitamente a pulsar ejaculando, vibrando em espasmos violentos, e o enche de um líquido gelado, numa ejaculação que parece não ter fim. De seu ânus começa a escorrer uma torrente aquosa que se derrama e forma um pequeno regato coroado de espuma, que a areia absorve lentamente. A estranha sodomia termina quando Adriano se sente subitamente vazio e atinge suas narinas o cheiro a enxofre de uma nuvenzita amarelada que rapidamente é dispersa pelo vento. O estranho incubo gordo e calvo se esfumou, como se nunca tivesse existido no Universo, e não está mais ninguém na praia. De seu ânus continuam escorrendo líquidos que o sodomita lingual despejou dentro dele. Em movimentos lentos e entorpecidos, pois o rio que flui de suas entranhas e desce pela face interna de suas coxas esgota suas forças, Adriano se ergue e caminha em direção às ondas. De súbito, cai descontrolado e sua boca se enche de areia quente, que não consegue cuspir. Se arrasta para o mar, em uma agonia crescente. Por fim, sente a frescura do oceano em suas mãos. Uma onda rebenta em cheio em seu rosto e Adriano engole alguma água salgada, engasgado e aflito, sem poder respirar. Num esforço doloroso, consegue se erguer. A água fresca acaricia seus pés. Continua caminhando para dentro do mar. A água sobe até seus joelhos, suas coxas, depois até sua cintura, entrando em seu corpo pelo ânus aberto. Tem a sensação de absorver um bálsamo de forças oceânicas que progressivamente revigoram suas fibras, mucosas, músculos, vísceras, nervos, ossos. Seus sentidos recuperam progressivamente a acuidade. Quando, por fim, sai da água, ergue a cabeça e vê dois homens sentados na areia, acima da orla humedecida pelas ondas, integralmente nus. Tem a certeza de que a praia estava deserta após seu perturbante acto com o ser sem nome que lhe injectou aquele líquido gelado e deletério, mas desiste de tentar compreender de onde podem os dois homens ter aparecido e fica observando-os. Um tem os braços cruzados à volta dos joelhos erguidos. Deve ter uma idade semelhante à sua, perto dos quarenta, e tem cabelo claro, revolvido pelo vento. O outro parece mais velho e é bastante moreno. Tem pouco cabelo e algo nele lhe faz lembrar um militar. Tem um cigarro entre os lábios carnudos. Adriano avança devagar pela areia. Ouve o rumorejar das ondas que atrás de si se espalham ritmicamente no areal. Pára no meio dos dois homens, mas não se senta. Vira-se de frente para o coroa. Uma tremenda carga sexual está latente no ar. Ninguém fala. O homem moreno à sua frente apaga o cigarro na areia, aproxima sua boca para receber o glorioso tesão que Adriano silenciosamente lhe oferece. As mãos do homem acariciam seus testículos e sua língua lambe lascivamente a glande rubra, molhada da água salgada, que depois introduz na boca e chupa longamente, envolvendo-o com lábios acolhedores. Depois percorre todo seu pênis com a ponta da língua, dos testículos até à glande. Volta a metê-lo na boca e suga como se o fosse engolir. Tremendo de prazer, Adriano segura sua cabeça e começa a movê-la para trás e para a frente, com o ritmo que mais gosta. Atrás dele, o outro homem beija suas nádegas. Depois Adriano sente seus dentes mordendo. Fica sempre louco quando lhe fazem isso, sobretudo quando mordem seu ânus, e se inclina para a frente, para oferecer a essa carícia forte o seu voluptuoso orifício. As mãos do homem dos cabelos revoltos abrem suas nádegas, até colocar ao pleno alcance da boca o ânus húmido e quente, que morde e penetra com a língua, sugando demoradamente o anel túrgido. Sente a língua remexer dentro de si e a sucção enérgica que aspira seu ânus cada vez mais saliente lhe proporciona um prazer que Adriano bem conhece mas que sente agora mais intensamente. Depois, o homem se levanta e se chega a ele, prende seus flancos com mãos firmes e encosta a cabeça macia do pênis rijo e quente. Adriano sente su cuzinho aberto e bem lubrificado de saliva. Afasta suas pernas e se apoia nos ombros do homem que o chupa sentado em sua frente. Louco de gozo, recebe o longo tesão que devagar se enfia por seu rabo dentro, até nada ficar de fora, até ter o ventre do homem grudado em suas nádegas. As sucções profundas da boca frenética do coroa sentado no chão em sua frente e os movimentos enérgicos do pênis afundado em seu cu o levam à beira do abismo. O vento atira seus cabelos para o rosto. O Sol é uma esfera incandescente paralisada na abóbada azul intenso do céu. A areia escalda sob seus pés. Respira de forma ofegante e há em seu peito um crescendo de tensão que o faz gritar, e que só a explosão do orgasmo urgente pode apaziguar... Um ruído alto e agudamente agressivo se faz ouvir, repentino, vindo de muito perto, numa estridência alarmante e incômoda. A praia e seus dois efémeros amantes se desvanecem num instante. Adriano abre seus olhos, estremunhado, e reencontra a intimidade familiar de sua sala. Seu coração bate acelerado. Seu pênis está num estado de tesão quase insuportável e seu ânus se contrai em palpitações latejantes. O fogo crepita na lareira. A chuva continua fustigando as vidraças, agora mais intensa. Toque de campainha, longo, insistente. Claro! Foi isso que o despertou. Se ergue de um salto, acende a luz, compõe o roupão e vai abrir a porta. Enquadrado contra o fundo mais escuro da rua, aparece seu amigo Alberto. Com um sorriso cordial no rosto molhado pela chuva, Alberto lhe pergunta se não tinha ouvido os toques anteriores. Adriano murmura uma desculpa e se desvia para ele entrar. Alberto passa, se roça por ele, o abraça e trocam um beijo demorado. Depois, Alberto despe a capa de chuva, que escorre bastante água, e a pendura no cabideiro junto da entrada. Tira os sapatos molhados e entra na sala. Se aproxima do fogo, esfregando as mãos no gesto habitual de quem entra num lugar aquecido. Adriano serve dois whiskies e regressa para junto de Alberto, que se instalara em um dos cadeirões. Quando Adriano se encosta a ele e lhe estende o copo de whisky, afagando seus cabelos húmidos, a mão ainda fria de Alberto se insinua sob seu roupão e percorre suas coxas, subindo até seu rabo. Os dedos procuram o buraco macio do ânus, pelo qual Alberto sente uma atracção irresistível. Adriano afasta a mão de Alberto e manda ele se despir. Depois abre e deixa cair o roupão, mostrando seu corpo elegante e seu traseiro firme de linhas harmoniosas, em pose exibicionista e sensual. Vira as costas a Alberto e fica de pé junto dele, mas suficientemente longe para não poder lhe tocar. Permanece de costas voltadas, com as pernas afastadas e as mãos acariciando e afastando ligeiramente suas nádegas. Alberto sorve um pouco de whisky, pousa seu copo, e despe apressadamente o camisolão, depois as calças e as cuecas, e tira por fim as peúgas. Coloca toda a roupa no chão, num canto da sala, e volta a se sentar, com seu pênis teso e vertical, que parece um totem talhado em madeira, de pele esticada e brilhante, avermelhada pela pressão sanguínea. Do orifício da glande flui um fio de líquido claro. Alberto se sente cada vez menos capaz de agüentar aquele jogo erótico. Observar o belo cu de Adriano, meio aberto de forma provocadora para fazer adivinhar seu ânus apertado e quente que tão bem conhece, lhe causa sensações que mal saberia expressar por palavras. Por fim, Adriano sorri, ciente de que o espetáculo que oferece a Alberto tem o risco de o fazer gozar a qualquer instante. Adriano não quer ver o esperma de seu amigo saltar e se derramar no chão. Deseja sentir a ejaculação quente fluir bem dentro de seu cu. Pega num lubrificante e espalha algum em seu ânus, apoia as mãos nos braços do cadeirão e baixa devagar seu corpo elástico sobre aquele pênis ereto, se empalando nele até ficar sentado sobre as coxas de Alberto. Alberto fecha seus olhos e firma seus lábios e dentes no ombro de Adriano. Sente o gozo intenso da fricção do apertado anel muscular que desliza ao longo de seu pênis, até lhe prender a raiz num amplexo forte. Enlouquece-o estar completamente enterrado no cuzinho de Adriano. Se sente muito perto do orgasmo e se esforça por desviar a atenção do prazer avassalador centrado em seu próprio pênis. Rodeia o corpo de Adriano com os braços e começa a masturbar seu pênis rijo. Beija apaixonadamente seu pescoço e sua nuca. No estômago de Adriano se espalha o calor que um bom whisky provoca, enquanto o pênis de Alberto o preenche todo. Seu ânus dilatado faz contracções rítmicas, percorrendo o pênis de cima a baixo em movimentos de subir e descer, numa alucinante bebedeira de gozo que ambos partilham. Os dedos de Alberto enclavinhados no pénis de Adriano, numa dança frenética, espalham eletrizantes chispas de prazer que sobem por seu ventre contraído e por sua coluna vertebral, até o pescoço, e lhe causam frémitos de êxtase absoluto, quase metafísico. Algumas bátegas de chuva chicoteiam violentamente os vidros e a noite lá fora é já muito escura. O frio se adivinha do lado de lá da janelaEpílogo As ideias que passo para o papel me excitam terrivelmente. Também sinto alguma fome. Paro de escrever. Olho o grande relógio de pêndulo, na parede. Sob a legenda "Tempus fugit", em letra de estilo, os ponteiros marcam quase onze horas e meia. Vou até à cozinha. Faço uma sanduíche de pão escuro com duas fatias de bacon, rodelas de ovo cozido e de tomate, uma folha de alface e um pouco de maionnaise. Ponho duas pedras de gelo num copo alto, deito suco de laranja e junto uma generosa porção de vodka. Regresso à sala. Sento de novo à secretária e releio em diagonal os últimos parágrafos que escrevi. Devoro rapidamente a sanduíche. Não me apetece continuar escrevendo. Aliás, também não me ocorre nenhuma boa ideia para prolongar o texto. Retiro a última folha da máquina e a coloco sobre as anteriores. Sinto tristeza de não ter alguém junto de mim, agora, neste mesmo instante. Ainda penso telefonar a algum amigo, mas não arranjo coragem para o fazer. Não conheço nenhum suficientemente disponível para lhe telefonar e pedir assim, de surpresa, que venha satisfazer meus desejos de que alguém me abra, me lamba, me morda, me penetre com sua língua e seus dedos. Termino a vodka com laranja e me levanto da secretária. Apago a luz elétrica, porque ela quebra a melancolia em que me apetece afundar. Me recosto em um dos confortáveis cadeirões, com os joelhos cobertos por meu roupão de flanela vermelho-escuro. Da lareira acesa, a meu lado, me sabe bem ouvir o crepitar das chamas e receber o calor aromático do fogo ateado, que me permite estar confortavelmente nu sob o roupão. Vagaroso, levanto e afasto minhas pernas, que passo por sobre os braços do cadeirão, apoio contra o parapeito frio da janela meus pés descalços e me deixo escorregar para a frente. Encosto minha nuca nas costas do cadeirão e fecho os olhos. Pela minha mente vai passando uma mescla difusa de sensações, memórias, fantasias. Me sinto sonolento...

E-mail= coryolanus@yahoo.com

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