Gelo - Aposta

Um conto erótico de Ustir
Categoria: Homossexual
Contém 1423 palavras
Data: 03/03/2013 00:25:51

Como previ, os dias realmente foram longos. Em seis meses de aulas, de vez em quando tentava falar com Gelo e... Bem, acontecia como da primeira vez e empatávamos nos insultos. Tiago e eu ficamos muito próximos, com o garoto loiro sendo uma visita freqüente em casa e passando a chamar minha mãe por “Tia Laura”. Não fazia mal, eu gostava muito dele, o garoto sabia conduzir uma conversa sem entediar ou perder assunto, exceto em um dos dias em que tentava falar com o garoto recluso e arisco, nesses dias o único assunto que saía de nossas bocas era o próprio.

. – Como ele pode ser tão idiota? – falei em tom raivoso, em um dos dias quentes de junho.

Tiago estava deitado em minha cama sem camisa, exibindo o que comprovei ser o peitoral de alguém que praticava natação há muitos anos: definido, mas não muito musculoso e trincado ( na minha opinião, perfeito).

. – Lu... – começou em voz entediada, olhando para o teto – Te cortando, você não tem ar-condicionado?

Não ouvi.

. – Tenho. – apontei para o canto esquerdo do quarto – Sério, eu nunca fiz nada para ele, por que ele simplesmente não é minimamente simpático, só para variar?

Aquele fora especificamente um dia muito, muito ruim na escola.

Meu amigo levantou e fechou a porta da sacada, falando enquanto isso.

. – Que bom, achei que ia fritar aqui. – parou no meio do quarto e olhou ao redor – Cadê o controle?

. – Sério, eu nem... Ah, em cima da escrivaninha. – apontei – Você está ao menos me escutando?

Ele não se deu ao trabalho de responder, simplesmente ligou o ar-condicionado, abaixou para a mínima temperatura e ficou parado em frente ao vento.

. – Bendito seja o criador dessa maravilha, quem foi?

. – Stuart W. Cramer, se não me engano... Ouviu minha pergunta?

. – Sim – se jogou outra vez na cama – São Stuart, soa bem?

Fiquei brincando de girar a cadeira sem responder.

. – Certo – disse com um tom estranho – Acho que isso te subiu a cabeça.

Parei de girar.

. – Acha exagero querer ser tratado socialmente?

. – Não, acho exagero ficar reclamando e insistindo em uma coisa que eu te avisei que era problema.

Fiquei pensando um pouco, olhando para o espaço. Tiago estava certo, ele havia mesmo me avisado mas ainda assim, alguma coisa me atraía para Gelo e com certeza não era sua falta de educação. “Maldito”, pensei.

. – Aquele garoto simplesmente me irrita! – quase gritei, levantando da cadeira repentinamente e fazendo com que meu amigo se sentasse na beirada da cama – Tigo, ele não tem motivo para me tratar assim e a cada resposta que recebo, minha vontade de esganá-lo só aumenta! – gesticulava muito, fazendo movimentos cada vez maiores e mais nervosos – E eu... Eu... Eu só queria conversar com ele.

Em um desses gestos, quase acertei o rosto do Tiago, que segurou minha mão antes de acertar.

. – Desculpa. – falei rapidamente.

. – Como disse, isso te subiu a cabeça – ele me olhava nos olhos e por um segundo me vi afogado no azul de seus olhos – Você está com raiva, sim. Mas não é motivo para tanta insistência.

Continuei sem dizer nada, só encarando-o.

. – Gelo não faz amigos, Gelo não gosta de pessoas. – a cada palavra o azul de seus olhos parecia escurecer cada vez mais, passando do azul de uma piscina, para a cor do alto-mar, um azul escuro e perigoso – Esqueça-o de uma vez por todas, simplesmente ignore, como nós fazemos.

A resposta saiu automaticamente.

. – É uma questão de orgulho, ele feriu o meu e só vou conseguir me sentir bem quando ele se desculpar e aceitar a amizade.

O garoto soltou minha mão e abaixou a cabeça.

. – Cabeça-dura – disse em voz baixa, ainda olhando para o chão – Que seja então. Que tal uma aposta?

. – Como assim, aposta?

Tiago me encarou novamente, desta vez com os olhos na cor normal e um sorriso malicioso no rosto.

. – É simples. – fez menção de uma balança usando as mãos – Se você perder, não conseguindo a amizade do garoto em questão, vai ter que atender um pedido meu, seja ele qual for – continuou com as mãos como balanças imaginárias – Se eu perder e você realmente for capaz de conquistá-lo, então eu tenho que atender um pedido seu.

Pensei um pouco sobre a situação.

. – Isso é imoral e antiético... – falei encarando-o – É, eu aceito.

Nós rimos e Tiago deitou-se outra vez na cama, falando agora sobre uma garota do terceiro ano do colégio e seus “namorados semanais”.

Durante a noite pensei com clareza sobre aquilo, a aposta era injusta uma vez que a probabilidade de eu conquistar a amizade de alguém tão arisco era quase nula. Dormi pensando no que eu poderia fazer.

O dia seguinte no colégio foi particularmente diferente, ignorei Gelo e segui a aula normalmente, até que Helena, nossa professora de história anunciou:

. – Queridos Imps do meu coração – disse alegremente – Daqui a duas semanas nosso colégio fará uma excursão – o ânimo da sala cresceu de maneira palpável – Corumbá de Goiás – o ânimo desapareceu – Acharam que seria uma excursão sem estudo? Meus caros, aprendam, excursão é um nome bonito para aula de campo.

Depois da entrega dos papéis onde pediam a permissão dos pais, a aula seguiu normalmente. No recreio houve a quebra da máscara.

. – NÃAAAAAAAAAAAAO! – Tiago gritou em pleno corredor, atraindo atenção de várias pessoas que passavam por ali – Tenho uma prova de natação no dia da viagem!

Mariana consolou-o enquanto Danilo e eu discutíamos sobre como seria: primeiro dia, ida, primeira parte da cidade, chácara-hotel, segundo dia, mais aula e volta. Nada de surpreendente, exceto pelo fato de que teríamos que dividir o quarto com alguém da sala.

. – Lu – ouvi Mariana falar enquanto brincava de consolar – Wagahai wa neko de aru.

Entendi o sinal e corri para a biblioteca o mais rápido que pude, já que o recreio já estava quase acabando, e foquei no título do livro que vinha procurando há anos e que finalmente a biblioteca encontrara: “Wagahai wa neko de aru – Eu sou um gato”

A bibliotecária se espantou em me ver tão agitado na entrada, e sem palavras, simplesmente me indicou o lugar aonde se encontrava o livro que queria (desde o início do ano havia deixado de aviso que estava à procura). Segunda prateleira a esquerda, terceira fileira, depois segunda prateleira a direita.

Encontrei a prateleira sem muita dificuldade, mas fiquei estático na hora em que toquei o livro: havia uma voz do outro lado da prateleira, uma voz baixa e neutra que reconheci como sendo do garoto que tanto me perturbava, o maldito sem nome Gelo.

Sabia que se ousasse retirar o livro da estante ele me veria pelo nicho, então simplesmente parei e escutei a conversa.

. – Senhor, agradeço, mas só é daqui a duas semanas – a voz não aparentava alteração, mas a escolha de palavras não aparentava nenhum prazer pela pessoa do outro lado da linha – Sim, eu sei. E estaria bem melhor se não ficasse me lembrando o tempo todo – uma pausa – Mas é claro, faz parte, eu tenho que ir – outra pausa – Quem? Não, não faço idéia de quem seja esse, e não me importo em saber, na verdade – mais uma pausa – Que pena, então. Pois eu vou, e nem pense em me obrigar a outro daquelas situações chatíssimas como a do mês passado. Agora adieu, eu tenho uma vida para cuidar.

E silêncio.

Logo em seguida um soco forte foi dado em alguma coisa.

. - Nom de Dieu de putain de bordel de merde de saloperies de connards d'enculé de ta mère.

E finalmente o som de passos se dirigindo à fileira de livros mais a direita. Esperei dez segundos e peguei o livro, indo sem fazer barulho até a mesa de locação e por pouco não deixando meu livro lá. Aquela conversa realmente o havia irritado, muito, e com o pouco que sabia de francês a expressão agressiva não ficava nem um pouco melhor.

Fui para a sala e o olhei de canto: continuava o mesmo, com sua expressão neutra e seu livro de capa negra aberto. Deixei de lado, afinal, não era assunto meu.

Aquela noite foi uma das mais inquietas, com a cena estranha martelando em minha mente, sem me deixar pensar em mais nada. E quem diria, Tigo estava certo, o garoto era problema: já havia roubado minha atenção e meu sono, o que viria em seguida?

Vá bene persona! Agradeço pelos comentários e pelos votos, tenho que admitir que estou muito emocionado em ver meu trabalho sendo apreciado. Juro que ao longo da série vou repondendo os comentários de forma mais pessoal, é só conseguir mais tempo^^

Gratzie.

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Comentários

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Tá muito legal seu conto, cara. Legal mesmo, prende bem, pelo menos pra mim. Mesmo sem focar em sexo ta muito bom mesmo, to bastante ansioso para as continuações. Continua aí, flw!

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Gostei está ótimo, to vendo fortes emoções q podem vir no próximo, estou ancioso continue logo!

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Gostei muito, não demoras a postar a continuação.

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