DESPEDIDA DE SOLTEIRO – CAPÍTULO 23 – De Volta ao Passado

Um conto erótico de Manu Costa (Manolo Fernandes)
Categoria: Homossexual
Contém 4525 palavras
Data: 10/04/2013 19:56:15

DESPEDIDA DE SOLTEIRO – CAPÍTULO 23 – De Volta ao Passado

Liberdade, liberdade!

Abra as asas sobre nós (bis)

E que a voz da igualdade

Seja sempre a nossa voz

G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense (RJ)

Parte 1 – Paixão e Perseguição - Narrado por Jonas

Saí do carro e ele ficou me vendo entrar no prédio. Voltei meu olhar e joguei um beijo pra ele, que fez que segurava com as mãos e me devolveu. Entrei rindo da minha doce aventura de estar apaixonado por aquele homem tão diferente de mim. Sim, eu estava nas nuvens. Quando entrei em minha casa tomei um grande susto, lá estava ele, sorrindo e conversando com minha mãe.

Eu arregalei meus olhos. Minha mãe sorriu e falou “filho, por que você não me disse que estava namorando? Teu namorado Brunno está te esperando há horas”. Ele olhou pra mim com um sorriso no rosto e disparou “desculpa amor, mas eu não resisti, eu vim hoje te ver e conhecer minha sogra.”.

Minha mãe veio até mim e me deu um beijo “Achei teu namorado muito simpático filho, pena que seu pai está viajando essa semana, seria bom ele o conhecer também”. Eu continuava olhando sério para Brunno e ele sorria pra mim como se realmente fosse verdade o namoro. Eu olhei para minha mãe e falei “eu estou realmente namorando mãe, mas não é esse rapaz não, ele é só um conhecido meu”.

Ele na maior cara de pau falou “hahahahhaah. Nossa Dona Judite, como seu filho e meu namorado é espirituoso, ontem mesmo ele foi a minha casa e nos beijamos”. Eu o fuzilei com o olhar e falei aborrecido “Olha pra mim. Eu estou com cara de quem está brincando Brunno?”.

Minha mãe não tirava os olhos da gente e falou “calma filho, o rapaz está sendo tão simpático, você nunca foi grosso com ninguém”. Eu pedi a ela “mãe, a senhora pode dar licença pra eu falar a sós com o Brunno?”. Ela se retirou da sala, mas disse que não estava entendendo nada e que estaria no quarto caso precisássemos de alguma coisa.

Ele já veio com aquele olhar louco pra cima de mim “você está cada dia mais lindo meu amor”.

“Não se aproxima, não chega perto de mim. O que você quer Brunno? Quem você pensa que é pra ir invadindo a minha casa e fazer uma palhaçada dessas? Você já esqueceu que quiseste me pegar a força? Você é louco ou o que?”.

“Sou louco, mas é por ti amor. Já estava morrendo de saudades do teu corpo, dos teus beijos”.

“Brunno, Brunno vai embora daqui. Eu estou namorando, por favor, não complica minha vida. Desculpe, mais eu não quero nada contigo”.

“Jonas, Jonas, você é que está complicando tudo. Por quê? Por que você não para com isso e aceita meu amor? Pra que fugir? Pra que fingir que não me quer? Você sabe que não tem a menor chance. É de mim que você gosta”.

“Você é louco ou é surdo? Eu já disse que eu não gosto de ti. Desculpe, não é nada pessoal, não estou fazendo de propósito pra te magoar, mas eu não sinto absolutamente nada por você”.

“É claro que sente. Você me ama, só precisa admitir isso. Olha só amor, presta a atenção: eu sou lindo, sou malhado, sou rico, sou másculo, sou pauzudo, sou ativo, sou macho. É impossível você não me amar. Eu garanto que esse teu namoradinho aí não é tão bonito e nem tão macho quanto eu e nem tem o dinheiro que minha família tem. Deixa de besteira vai, me dá um beijo”.

Ele foi se aproximando e eu me afastando “não encosta a mão em mim. Presta atenção, eu vou repetir com todas as letras: eu estou namorando, eu sou apaixonado pelo meu homem e nunca que eu vou trocá-lo por ti. Você só está fazendo isso por que eu não caí na tua lábia. Mas cara, todo mundo um dia leva um fora, eu já levei muitos. Até o Nando que é o homem mais lindo que eu já vi na vida já levou fora. Coloca na tua cabeça que eu não sou um objeto teu”.

“Tudo bem, eu não vou discutir hoje com você. Vou te deixar pensar no nosso amor por hoje. Amanhã você vai ver que eu é que sou teu namorado. E não se preocupa, eu vou saber te perdoar por você está tentando me maltratar, eu sei que isso é uma tática pra me seduzir. Você só quer chamar minha atenção. E pode deixar, eu vou tirar esse cara do nosso caminho. Agora chama Dona Judite que eu quero me despedir dela”.

Aquelas palavras me fizeram ficar com dor de cabeça e eu gritei “eu não vou chamar coisa nenhuma, vai embora cara, por favor, me deixa em paz”. Minha mãe veio correndo e disse “que é isso Jojô? Por que você está fazendo esse escândalo filho?”. As lágrimas já estavam escorrendo do meu rosto de tanto medo e indignação.

Ele olhou com um sorriso sereno, tranquilo para minha mãe e disse “não é nada Dona Judite, meu amor está nervoso, foi só uma briga de casal. Amanhã o Jonas e eu faremos as pazes”.

“Vai embooooooooraaaaaaaa”. Ele Foi se dirigindo a mim, me deu um selinho e disse “não fica assim meu anjo, eu não gosto quando você fica irritado, isso não faz bem pra você”. Beijou minha mãe no rosto e saiu calmamente dizendo “Tchau sogrinha, tchau meu amor”.

Senti um aperto no peito e um frio na barriga, o que demonstrava que eu estava com muito medo dele. Nunca vi uma pessoa tão fria, tão falsa e dissimulada. Em pouco tempo Ele fez minha mãe acreditar que realmente estávamos namorando e que ele era uma excelente pessoa.

Minha mãe começou a brigar comigo “Jonas, por favor. O que deu na tua cabeça pra tratar teu namorado assim filho? Ele é um amor de pessoa, um rapaz tão educado!”.

“Mãe! Mãezinha. Presta atenção, esse rapaz não é quem ele aparenta ser. Acredita em mim, ele é perigoso, em poucas horas ele te fez acreditar que ele é uma pessoa que não é. Eu só escapei dele por que encontrei um homem maravilhoso e estou apaixonado por ele”.

“E quem é essa pessoa que você diz que namora ein Jonas? Cadê que ele já veio se apresentar aqui como o Brunno fez, se ele fez isso é por que é uma pessoa de confiança, te leva a sério, é um rapaz de boa família”.

“O Brunno não é de confiança mãe e o nome do rapaz que eu estou namorando é Cláudio Mattos. Ele é delegado federal, é divorciado, tem três filhos, tem 37 anos, é um homem maduro.”

“O que? Você está namorando um homem muito mais velho que você é isso? Um quase quarentão? Já vem com pacote completo de confusão, com filhos e ex mulher? E ainda tem uma profissão perigosa? É isso o que você está me dizendo Jonas?”.

“Meu Deus, como meu pai faz falta. Nunca foi seu forte me ouvir não é mãe? Desde pequeno que você é assim, pelo menos meu pai me escuta”.

“Seu pai te paparica, é diferente Jonas, eu não, eu abro teu olho sempre. Como é que você é capaz de trocar um rapaz da sua idade, lindo, rico, louquinho por você, por um tiozinho? Se ele é delegado ele não é rico, não é pobrezinho, mas também não é rico, e tem na mala três filhos e mulher, isso é confusão na certa meu filho”.

“Eu não vou mais discutir com a senhora Dona Judite. Só me promete uma coisa. Promete que você não vai dar confiança pro Brunno? Não deixa mais ele entrar aqui em casa. Tudo o que ele quer é acabar meu relacionamento com o Cláudio”.

“Fazer o que não é Jonas? Não posso fazer nada se você quer trocar uma joia rara por bijuteria. Mas não me peça pra ser grosseira com o rapaz, se ele vir aqui será bem recebido. E outra coisa, também não quero conhecer esse tal de delegado, isso é muito pra minha cabeça”.

“Dá licença, eu vou pro meu quarto”. Quando fiquei sozinho aquela sensação ruim voltou. Fiquei pensando em todas as vezes que tinha saído e encontrado com Brunno, fui juntando as peças e cheguei à conclusão de que ele era mesmo um neurótico e psicótico compulsivo. Ele não agia daquela maneira por amor e sim por capricho, eu era apenas uma caça e ele um caçador. Ele não admitia perder ou ser contrariado e eu havia provocado sua ira.

Liguei para Cláudio imediatamente. Sim, sua voz me acalmaria “oi amor, boa noite meu príncipe”.

“Boa noite amor, já estou sentindo tua falta”.

“Que foi minha vida, aconteceu alguma coisa?”

“Não amor, é só saudades mesmo. Eu quero dizer que aconteça o que acontecer eu sempre te amarei, eu sou teu pra sempre viu!”.

“Jonas eu vou praí, você não está bem. Eu percebo pela tua voz. Em quinze minutos eu estarei aí”.

Ele simplesmente desligou a ligação. Confesso que me senti temeroso, mas ao mesmo tempo, seria a chance de contar logo pro meu amor tudo o que estava acontecendo comigo. Mesmo preocupado com as consequências precisava falar.

Ele chegou rapidinho e eu voei para o carro dele, fui logo dando um beijo nele, que retribuiu e disse “eu estava de plantão, mas vim logo, fiquei preocupado contigo”.

Respondi “sim amor, eu preciso te falar uma coisa muito séria”.

“Claro amor, pode falar”.

Já ia abrir a boca quando recebo uma mensagem que dizia “agora já sei qual é o carro do babaca, veja bem o que vais falar amor e não se preocupa, eu vou tirar esse lixo do nosso caminho”... Continua.

Continua...

Parte II – A Face da Discórdia – Narrado pelo Autor

A ira, a inveja e o orgulho são três dos 7 pecados capitais que contribuem para que o mal se apresente em nossa história. Mesmo com a resistência de um amor puro, Fernando e Cristiano continuavam correndo perigo. Sabrina ligou para Jonhy para saber como estava o andamento do plano para separar Cris e Nando.

“Então, como foi a repercussão com a família do verme? (Sabrina se referia a Cristiano)”.

“Nada feito. O Andrew falou que seu marido conseguiu contornar a situação. A família até aceitou a relação dos dois e eles estão mais unidos do que nunca”.

“Drooooooogaaaaa! Que ódio! Como eles conseguem se livrar dos conflitos desse jeito?”.

“Eu te avisei. Será muito difícil separar aqueles dois. Eles se amam de verdade. Mesmo com a cartada do “Chefe”, de jogar lama no ventilador mandando aquelas fotos e o bilhete pra casa dos pais do Andrew. Eles estão mais unidos do que nunca”.

“Que desgraça. Nós temos que dar uma dose mais forte pra eles. Você já conseguiu a chave do apartamento do Fernando? Pelo menos está mais amiguinho do putinho?”.

“A chave eu ainda não consegui, mas conseguirei em breve. Estou sim me aproximando de Cristiano cada vez mais. Todos os dias eu ligava pra ele pra saber das coisas. Ele tá confiando mais em mim. Quanto ao Fernando nada feito, ele é muito esperto, não dá a menor bola pra mim”.

“Isso mesmo. Temos que comer pela beirada com o putinho, pois o Fernando é quase imbatível, só vamos atingi-lo por meio do outro”.

“Tranquilo, mas você já sabe o que fazer quando eu conseguir as chaves? Não podemos cometer erro algum”.

“É claro, não sou idiota como você. Dessa vez eu quero ver se eles resistem. Faça o que eu mando e vê se não vacila e em breve os dois estarão separados”.

Sabrina desligou o celular e ficou pensativa, já sabia exatamente o que iria fazer. Ela não tinha percebido, mas seu irmão Marcos escutou parte de sua conversa com Jonhy...

Continua...

Parte III – Revelações – Narrado por Fernando

Em nosso retorno à Manaus eu sentia meu coração apertado e já com saudades da família do meu amado. Amei a todos, mas minha maior paixão foi por seu pai, seu Pedro era o homem que eu desejava ser: humano, autêntico, sério, sensível. Ele era um homem raro e como eu senti uma pontinha de inveja de Cris, por ter como pai um homem tão maravilhoso. Agora eu já o amava como a um pai e sabia que a recíproca era verdadeira.

Não aguentei mais e falei em tom de ordem para Cristiano “Amor, já deu. Quero que você se organize logo pra morar comigo. A gente ainda não pode casar oficialmente, mas quero dormir e acordar com você a meu lado”.

“Tá bom amor. Só me dar um tempo pra eu me organizar”.

“Tudo bem, mas nada de demorar muito. Quero o meu marido logo perto de mim. Não aguento mais isso”. Eu sabia que só ele poderia me fazer feliz e me dar uma família como a dele.

A vida na capital já estava agitada e eu e meu amor já batalhávamos pra valer. Glauber e Thiago não me pouparam e empurraram um monte de trabalho, tinha que visitar obras, resolver problemas com os órgãos públicos, revisar projetos e mais coisas que apareciam no dia a dia.

Uma das minhas grandes alegrias foi saber que Jojô e Mattos estavam juntos. Por mais tempo que eu tivesse de conhecimento com o Brunão, eu torcia mesmo era pelo delegado. Claro que eu respeitaria a decisão de meu amigo, mas conhecendo o Jiujiteiro Playboy e galinha, pensava que Jô seria mais um na sua lista. Fiquei feliz com a escolha do meu querido amigo.

Eu comecei a pressionar Cristiano para ir morar comigo, mas sabia que ele tinha resistência, não por não querer ficar comigo, mas por causa da situação financeira dele que era inferior a minha. Claro que na minha cabeça isso era uma bobagem, mas na dele não era e eu precisava entender isso.

Cheguei em casa um dia mais cedo e como sempre minha fiel escudeira Antônia já havia preparado tudo pra mim. Tomei um banho e quando eu ia jantar ouço a campainha tocar, quando eu abro a porta eu a vejo, a mulher que tinha acabado de me criar me olhava com um discreto sorriso e um olhar enigmático “será que eu não mereço um abraço do meu sobrinho querido? Ou você já me esqueceu?”.

“Tia Jurema, meu amor, claro que não te esqueci”. Demos um abraço profundo e muitos beijos no rosto.

“Eu vim aqui falar contigo Nando. O Olavo está muito triste por você não querer mais falar com ele”.

“Eu não tenho raiva do Olavo, só preciso de um tempo. Mas a verdade é que a coisa não serão mais como era antes”.

“Nando meu filho, nós gostamos tanto de você, ele te ama muito!!!”.

“Como é a vida não é tia? A senhora foi a única vítima nessa história e não guarda nenhum rancor de mim. A senhora é uma santa Dona Jurema”.

“Ah Fernando, ninguém é santo nessa história filho, a única vítima mesmo foi você”.

“Não tia. A senhora está enganada, a senhora foi traída pela minha mãe e seu marido”.

Ela começou a ficar com os olhos cheios de lágrimas e eu falei “tia não chora, por favor, eu sei que você já deve ter sofrido muito, e olha, eu vou me manter longe da sua família, eu vou poupar todos vocês da minha presença”.

“Eu estou chorando não é por sua causa Fernando. É de remorso. Tudo o que você sofreu até hoje foi por minha causa”.

“Não tia, a senhora foi uma mãe pra mim, se não fosse pela senhora eu nem sei como eu estaria hoje”.

“Eu vim aqui pra falar a verdade Nando. Eu vim aqui pra te contar toda a história, a história do teu nascimento, nem que você me odeie depois, mas é a única coisa que eu posso fazer por você, se eu chorar, você dá um tempo pra eu me recompor, mas não me interrompa”.

Agora eu estava realmente sentindo que o que ela tinha pra me dizer era importante e ela foi contando tudo.

“Eu e Olívia éramos empregadas na casa dos Villaverdes. Éramos daquelas moças do interior que vêm trabalhar com os ricos da cidade. Chegamos mocinhas as duas e fizemos uma intensa amizade. Horácio trabalhava com o seu Alberto Villaverde nas fazendas, enquanto Olavo morava em São Paulo e era estudante de medicina. Tudo começou há 32 anos atrás. Horácio tinha 22 e Olavo tinha 20 anos. Eles eram dois jovens lindos, cada um de seu jeito. Éramos também duas meninas lindas, mas sua mãe tinha o dom do encanto, ela era alegre, espontânea e profundamente carismática. Eu era mais tímida e retraída”.

“Era inevitável que ambos os irmãos se apaixonassem por ela. Quando Olavo veio passar férias em Manaus eles se conheceram e ficaram perdidamente apaixonados um pelo outro. Mas o que eles não sabiam era que eu era louca pelo seu tio e Horácio obcecado por sua mãe. Olívia e Olavo começaram a namorar escondidos, pois em nossa cabeça os Villaverdes sendo uma família tradicional, jamais iria deixar uma moça pobre casar com um dos filhos”.

“Olavo tinha a fama de mulherengo, já Horácio era visto como um rapaz muitíssimo sério. Isso preocupava Olívia, mas eles viveram essa paixão, tanto que Olavo foi o primeiro homem dela, assim como foi o meu também”.

“Cegos de ciumes e de inveja, eu e Horácio nos unimos para destruir a relação de Olavo e Olívia. E assim, eu sordidamente traí minha melhor amiga e irmã. Sua avó materna ficou doente e sua mãe teve que viajar às pressas. Quando Olavo chegou eu entreguei uma carta falsa dizendo que sua mãe tinha ido embora por não confiar no namorado e por estar esperando um filho de Horácio. Ela passou dois meses cuidando da mãe, tempo suficiente para eu me entregar para Olavo e engravidar do meu primeiro filho, o Lavinho (Olavo Filho)”.

“Quando Olívia chegou eu já estava grávida e a fiz acreditar que Olavo tinha abusado de mim. Aliás, eu fiz a família toda pensar isso e por isso seu Alberto, que era um homem muito moralista, o obrigou a casar comigo. Eu me fiz de vítima e Olívia se afastou e foi trabalhar na casa de outra família. Assim, Olavo pensava mal de Olívia e ela pensava mal dele também”.

“Horácio soube muito bem se aproveitar da situação e rapidamente pediu sua mãe em casamento”.

“Eles casaram e foram morar na fazenda e eu fui morar em São Paulo com meu marido e meu filho. Depois da residência médica de Olavo, retornamos pra Manaus. Seu Alberto já estava doente e precisava dos filhos junto dele. Foi inevitável eles se reencontrarem e descobrissem que tinha sido traídos, mas já era tarde de mais. Tinham se passados três anos e eu já tinha um filho pequeno e Gil já era um bebê”.

“Eles se reencontraram e se amaram muito. Viveram aquela paixão por cerca de um ano, então, depois, você nasceu. Horácio descobriu tudo e quase nossa vida se transformou em tragédia e derramamento de sangue entre os irmãos”.

“Horácio se isolou na fazenda com você e sua mãe. Seus avós morreram um em seguida do outro. O único bem que você realmente tinha era uma casa que sua vó materna conseguiu conquistar no centro da cidade com uma vida toda de trabalho. Você só herdou esse bem por que sua avó colocou a casa no seu nome, numa tentativa inteligente de te proteger dos Villaverdes e ela conseguiu”.

“A vida de Horácio e sua mãe era um verdadeiro inferno. Ela era uma espécie de prisioneira, juntamente com você. Já eu e Olavo tentávamos viver, mas te confesso que sem muita alegria. Ele me perdoou e se tornou um excelente pai de família.

Quando você tinha 12 anos você presenciou uma discussão entre seu pai e sua mãe e saiu correndo na chuva. Se escondeu e ela ficou muito tempo te procurando. Foi aí que ela adoeceu de pneumonia e veio a falecer em seguida”.

Durante todas essas revelações um filme passava em minha cabeça e tudo começava a fazer sentido. Eu via minha tia chorar, fazer pausa e continuar, até que eu falei “então era por isso que ele dizia que eu era o responsável pela morte de minha mãe, eu lembro que eu só apareci no outro dia, eu não sabia que ela estava me procurando”.

“Então Nando. Muito próximo de sua mãe morrer ela me pediu pra falar comigo e me fez prometer que eu levaria você pra longe do seu pai. Ela não me disse qual dos dois era realmente seu pai. Eu morria de remorso, mas mesmo não gostando da ideia eu cumpri o que ela pediu, eu convenci Horácio e Olavo que eu cuidaria de você. No início houve muita resistência por parte do seu pai, mas ele me devia muita coisa e não teve como negar e foi assim que você foi morar conosco”.

“E você cuidou de mim tia, me deu tudo, me deu carinho e proteção”.

Ela começou a chorar de verdade “ah meu filho, quem dera que isso fosse verdade. Eu não conseguia olhar pra você sem sentir remorso, eu sim, me sentia culpada por tudo o que aconteceu com sua mãe”.

“Mas a senhora sempre me deu carinho tia, sempre me tratou bem”.

“É claro que eu não te maltratava, e nem tinha por que. Você sempre foi tão especial, tão forte e ao mesmo tempo desprotegido, com aquele jeito de menino interiorano que eu conhecia muito bem por que eu também era. Mas eu fazia sim, muita diferença entre você e meus filhos. O Olavo não fazia diferença, mas eu fazia, era inevitável”.

Ela chorou muito. Eu fui buscar um copo com água pra ela. Eu ainda não tinha chorado, mas meu coração estava apertado e o filme continuava passando em minha cabeça. Até que ela continuou.

“Você sempre foi muito sacrificado. Horácio não queria que você usufruísse do dinheiro da família e tudo o que nós dávamos pra você era comida, roupa, estudo e dinheiro pro ônibus. Enquanto Lavinho e Gil tinham mesada, ganharam carro e esfregavam na sua cara que eram melhores que você. Eu percebia isso e não fazia nada. Você era um pobre menino rico, um órfão de pai e mãe, que era cuidado por um tio muito ocupado e por uma tia omissa”.

Tia Jurema chorava copiosamente “eu nunca irei me perdoar por isso, por tudo o que eu fiz você passar”. Eu comecei a tentar amenizar e situação, mas no fundo estava muito decepcionado “Tia não fica assim, você fez o que pôde pra me ajudar e eu sou grato”.

“Não meu filho. Lembra da tua formatura? Fui eu quem inventou a viagem, alegando que minha mãe estava doente, ela realmente estava, mas não era tão grave assim. Fomos todos embora e no dia da tua formatura não tinha ninguém da família, teu paraninfo foi um professor. Meu Deus que vergonha Nando. Como é que eu pude fazer uma coisa dessas com você que sempre foi tão doce comigo”.

E ela continuou, às vezes parava o choro e outras vezes não conseguia aguentar. “Sabe o que é mais incrível Fernando? É que você conseguiu ser melhor do que todos nós juntos. O tempo foi passando e eu fui vendo a pessoa maravilhosa que é você. Tu, mesmo sem saber de nada, mesmo sem nenhuma condição, deste uma tapa de pluma na minha cara, na cara dos meus filhos e na cara do Horácio. Você se tornou uma pessoa tão grandiosa, que por mais esforço que façamos, nunca iremos ser”.

“Você é um homem bom, corajoso, autêntico, honesto, justo. Talvez seja por isso que seu pai não consiga engolir você. Por que você, contrariando todas as expectativas, se tornou o melhor e o maior de todos e por isso eu te amo tanto e tenho tanto remorso”.

Eu finalmente comecei a chorar “agora tudo faz sentido. O desprezo do Horácio, a culpa que ele jogava em mim pela morte da minha mãe e o motivo dele sempre falar que o Olavo queria roubar tudo o que era dele. Era o contrário. Aquela sensação de abandono que eu sentia. O único porto seguro que eu tinha era no Jojô, tão desprezado e discriminado quanto eu”.

“Você deve estar me odiando não é? Mas eu precisava te dizer a verdade. Me perdoa pelo amor de Deus”. Ele se ajoelhou aos meus pés em prantos e eu a levantei “não faz isso Tia Jurema. Você está aqui me dizendo a verdade, dando sua cara a tapa. Eu não vou negar que eu estou muito magoado, mas eu sei que eu vou perdoar você”.

“Eu sei Filho, Você é igual a sua mãe, ela me perdoou. Eu vou embora, mas quero que você saiba que eu te amo muito e hoje sim, como um filho. Mas quero te pedir pra falar com o Olavo, ele está sofrendo muito com tua ausência”.

Abraçamo-nos longamente e por incrível que pareça, eu não conseguia sentir raiva dela. Depois que minha tia foi embora eu senti minha cabeça rodar. Meu corpo estava em frangalhos. Liguei imediatamente para meu amor, que em pouco tempo chegou, me encontrando com frio em cima da cama. Ele apenas me aqueceu com seu corpo. Eu contei toda a história pra ele, que me passou muita segurança.

De tudo o que eu tinha na vida, o meu amor por Cristiano era realmente o meu maior tesouro. Ele foi muito companheiro e me disse “Amor, você é um homem muito forte e maravilhoso e está na hora de fazer justiça”.

“Como assim Cris, do que você está falando?”.

“Está na hora de você procurar seu Olavo e ter uma grande conversa com ele. Eu te acompanho, vamos”.

E ele me levou de moto, eu estava tão nervoso que nem senti medo dessa vez. Olavo estava de plantão no Hospital Getúlio Vargas. Os funcionário já me conheciam e entrei com facilidade. Cris ficou me esperando do lado de fora e disse pra eu não me preocupar que tudo daria certo. A moça da recepção disse que naquele momento ele estava numa sala de descanso e estava sozinho.

Fui até ele, que estava vendo TV, deitado em uma poltrona. Quando percebeu que alguém entrou no recinto se virou e me viu, levantou-se bruscamente. Ficamos imóveis, olhando nos olhos um do outro...

Continua...

Meus amores, sei que este conto foi diferente, não teve nada de sexo ou erotismo, mas a vida é assim... Dedico esse capítulo a todas as nossas famílias e lembrem-se “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Já ia esquecendo, hoje, dia 10 de agosto meu filho amado está aniversariando, há 27 anos atrás nascia meu filho Fernando. Isso mesmo, ele existe. Parabéns meu filho lindo, muita saúde e paz, que você continue esse rapaz maravilhoso que me enche de orgulho e alegria, que Deus te abençoe e te proteja sempre!!!!

Beijos meus amados e amadas, paz e bem!!!!

As. Manu Costa

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Comentários

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AI , ISSO É MALDADE ..EU ME ACABEI EM LÁGRIMAS , NA HORA DA BRIGA .MEU DEUS , VC ESCREVE MT BEM E EU TENHO A IMAGINAÇÃO FÉRTIL .

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Bem, como eu amo vocês meus amigos e leitores, vou responder: sim Cris também existe, todos os personagens são inspirados (Vejam bem, inspirados) em pessoas e fatos reais e sim, o Olavo é meu ego, ou seja, eu mesmo. Beijos!!!!!

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Adorando... Essa parte foi muito boa, esclarecedora!!! Estou com tanta raiva desse bruno...

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Bem esclarecedora essa parte. E o Cris também é real??? Continueee.

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O Bruono é doido . e ficou maravilhoso esta parte ..

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Esse bruno é um psicopata tem que ser internado , mais antes tem que levar uma surra pra ter se aprende. E essa revelação sobre a vida do nando bem emocionante. Você e o olavo tio do fernando desse conto? Ansiosa pelo próximo. Até mais.

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Carama o Brunno è um psicopata to muito ancioso pela continuacão ah a parte da revelacão da vida do Nando foi bem emocionante em fim eu adoreii teu conto.

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Entao.....me deixou de boca aberta escorpiaozinho....nao sei nem oque dizer...bjo....

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Vou revelar-me Jhoen Jhol, sou tio dele. Eu o amo como um filho, o ajudei a criá-lo, mas não posso revelar mais nada sobre isto. Beijos Querido!!!!

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Quantas emoções! Cláudio espanca o Brunno e depois prende ele MUUHAHAHAHA. Pera você é o pai do Fernando desse conto???

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emocionante demais essas revelações todas.

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Gostaria de falar uma coisa que eu esqueci: Edney, bem vindo meu querido e aos outros que quiserem contato: manever_2005@hotmail.com.

Beijos em todos e todas!!!!

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