Acordar e ver Rafa ainda dormindo me faria muito bem, se não fosse pelo fato de que eu precisaria de sua ajuda para me arrumar, finalmente eu iria voltar ao colégio, depois de mais três dias no hospital, totalizando uma semana inteira internado. Esses dias não foram suficientes para que eu pudesse tirar o gesso da minha perna quebrada, mas a companhia do meu irmão e de Lúcio me fizeram bem, e, no último dia de hospital, a surpresa ao descobrir que quem me levaria para casa seriam meus pais, recém chegados de viajem, me fez radiante. Depois de um mês e alguns dias sem nos vermos, tínhamos muito o que conversar, mas não havia tanto tempo e eu precisava dormir, o que Rafa me forçou a fazer assim que terminamos o jantar. Ao notar que ele não acordaria por si só, peguei minhas meias, formando uma bola e joguei nele, mas ele ainda não havia aberto os olhos, apesar de que eu sabia que ele já estava acordado, Rafa sempre ri quando está fingindo, e naquele momento ele estava tentando cobrir a boca.
Peguei meu travesseiro e joguei com toda força no seu rosto, ele se levantou e com um pulo estava na minha cama, deitado ao meu lado e eu sabia que ele ia fazer uma coisa que eu sempre digo que odeio, mas quando ele faz, da forma que ele faz, eu adoro. Rafael começou a fazer cócegas em mim, enquanto eu ria freneticamente, implorando para que ele parasse, meu irmão se divertia, "Só paro quando você melhorar, quero te ver sem esse gesso", "Quer se ver livre do trabalho né? Eu sempre soube!!", eu dizia enquanto segurava suas mãos, o que me custava muito esforço, já que ainda estava fraco, "Não precisa ser muito inteligente para descobrir isso, besta", e ele voltou a fazer cócegas. Depois de algum tempo dessa tortura ele parou, me abraçou para controlar minha crise de riso e me beijou na testa, como ele sempre faz, "Vamos, você tem que se arrumar para voltar ao colégio, eu te ajudo".
Depois que Rafael me ajudou a tomar banho, me vestir e descer as escadas, fomos para a cozinha comer, "Já deixei uma escova de dentes no banheiro daqui de baixo, para você não precisar subir tanto", incrível como ele consegue organizar as coisas desse modo, nisso somos extremamente opostos, minhas coisas são tão bagunçadas que é nítida a diferença entre nossos lados do quarto. Apesar de que andar de moletas era muito chato, não aceitei a cadeira de rodas, não queria parecer tão debilitado na frente de todo mundo, fora que achava ridículo usar a cadeira estando apenas com a perna quebrada, com tanta gente em situação pior e enfrentando mais bravamente.
Enquanto eu estava engessado a gente ganhou carona todos os dias para o colégio, ida e volta, "Você bem que podia quebrar a perna mais vezes, Lu!", "Rafael, isso é coisa para se falar?!", minha mãe falou, enquanto eu ria, abraçando Rafa em sinal de cumplicidade.
Chegando no colégio nós fomos direto para a sala, ao entrar nela notei que Amanda, a oferecida, estava sentada na cadeira onde eu costumava sentar, ao lado do meu irmão. Rafael sussurrou no meu ouvido "Agora a gente senta do outro lado da sala", eu sorri enquanto olhava para ela, feliz por ele ter notado meu desconforto perto daquela menina. Conseguia sentir o ódio no olhar dela, quase palpável, "As coisas andam meio tensas por aqui, ou é só impressão?", eu perguntei, querendo saber o que havia acontecido, e o motivo pelo qual ele ainda não tinha me contado até então, "Você já notou? Era uma coisa que eu pretendia te falar mais tarde", "Eu posso esperar até lá", eu disse enquanto me sentava, uma sensação ruim de perder o braço de Rafa envolvendo meu pescoço.
Primeira aula de história, melhor, mais um tempo de sono, Renato não era um exemplo de professor, e sua aula era a pior do ano, então eu dormi enquanto sua voz estridente me dava sono e irritação ao mesmo tempo, o que será que aconteceu por aqui para Amanda me olhar com tanta raiva? Duas horas se passaram rapidamente, até que veio a aula de matemática, finalmente veria a aula de Lúcio, depois de tanto tempo!
Ele entrou na sala e seus olhos rapidamente encontraram caminho para os meus, e então ele abriu um sorriso, me disse que era muito bom me ver de volta, que estava ali para me ajudar no que eu precisasse, "Professor, sinto que estou muito atrasado no assunto, e minha prova está perto, sei que já estou atualizando o caderno, mas tenho muitas dúvidas, depois o senhor pode me ajudar?", "Senhor? Já perdi as contas de quantas vezes te disse para parar de me chamar de senhor", essa frase, a do sonho, idêntica, senti meu rosto esquentar, notavelmente estava ruborizando e isso eu não conseguiria controlar, tentei pensar em outras coisas, "Mas claro que posso ajudar, dá uma passada na sala dos professores logo após a aula", eu agradeci, quase sem ouvir o que ele disse, me concentrando no outro lado da sala, me concentrando em Amanda e seu riso, me perguntando sobre o que ela estava pensando, em qual o motivo do seu riso.
A aula foi legal, como sempre, mas Rafael me desconcentrava, me fazendo rir enquanto fazia caretas e topava no meu gesso, "Você dormia quase chorando, seu fraco, uns cortes pequenos tão bestas, e você fazendo tanto drama", "Cortes pequenos? Você viu como estava o chão? A quantidade de sangue?", eu disse rindo, sabendo que tudo que ele falou era brincadeira, "Nunca mais faça isso, você quase me matou de preocupação, tive tanto medo, acho que até mais medo do que você poderia sentir naquela hora", enquanto Rafa falava eu consegui ver seus olhos e enchendo de lágrimas, mas eu sabia que ele não iria chorar, não na frente de todo mundo, não na minha frente, "Tá certo, prometo nunca mais cair da escada, prometo não deixar nenhum acidente acontecer comigo haha", "Promete mesmo, Lu?" ele falou segurando minha mão, não havia mais sorriso no seu rosto, ele estava falando tão sério que nem parecia que era ele, eu apenas balancei a cabeça confirmando.
Pouco antes de soar o alarme anunciando o término da aula Lúcio já estava ao meu lado, "Vamos lucas?", ele falou, segurando no meu braço, meu irmão já estava se levantando também, quando o professor o impediu, colocando gentilmente a mão em seu ombro, "Eu entendo sua preocupação Rafael, mas você tem que assistir a próxima aula, pode deixar comigo que eu não deixo ele cair mais das escadas", ele falou sorrindo para Rafa, que fez uma cara confusa, mas aceitou permanecer na sala. Foi ótimo o caminho para a sala dos professores, com Lúcio me guiando, com o braço me abraçando, indo até meu ombro, e, momentaneamente, seu braço desceu, circulando minha cintura, me aproximando dele. Ao chegar na sala não havia mais nenhum outro professor, Lúcio me ajudou a sentar e depois apagou o quadro, para que pudesse tirar minhas dúvidas, "Então Lucas, as questões que você não conseguiu", "Professor, não é esse tipo de dúvida, é que eu realmente não entendi o assunto, não consegui fazer nenhuma questão, fico nervoso e não entendo nada do que tem nos livros nem no caderno, Rafa já tentou me explicar, mas ainda assim tudo parece sem nexo", ele me olhou, parecendo um pouco preocupado e puxou uma cadeira, sentando-se do meu lado, "Eu compreendo que esteja sendo difícil, recuperar o assunto depois de uma semana no hospital,mas eu estou disposto a te ajudar no que for preciso, podemos até marcar uma aula extra, não precisa nem pagar, eu adoro ensinar, e para você, melhor ainda", ele falou colocando a mão em minha coxa, na minha perna quebrada, mas a sensação estava ótima, então eu coloquei minha mão em cima da sua, num ato reflexo. ele olhou nos meus olhos e logo após tirou sua mão, "Me desculpe, não notei sua perna quebrada, machucou?", ele entendeu errado o que eu pretendia demonstrar, "Que nada professor, não machucou, nem precisa pedir desculpa", "Sendo assim, coloco de novo haha", ele brincou, repondo a mão na minha coxa, mas dessa vez mais para cima, o que me deixou um tanto quanto vermelho, ele se aproximou, colocou a mão no meu pescoço e disse "Então vamos marcar uma aula, na minha casa, vou te passar o meu endereço por mensagem, pode ser hoje?", eu respondi que sim, Lúcio então me fez um carinho na nuca e me levou de volta para a sala, onde Rafael já me esperava com o meu caderno copiado. Ainda estava terminando a última aula quando recebo a mensagem no meu celular, "Lucas, estou caminhando agora, mas logo estarei em casa, pode ir para lá direto, a gente almoça e vai direto para os estudos", seguido por seu endereço e "quanto a escovar os dentes e banho, não se preocupe, já está tudo arrumado. Espero por você.", respondi que tudo confirmado, estaria lá assim que a aula acabasse, "Rafa, vou no banheiro, toma conta das minhas coisas, nossa mãe já vem nos pegar", "Tá certo, não quer ajuda Lu?", respondi que não, estava afim de aprender a me virar sozinho, pelo menos na escola.
Ao voltar tive uma visão que me enfureceu, Amanda estava ao lado de Rafael, conversando com ele, rindo. Peguei minhas coisas e avisei que minha mãe havia chegado, mesmo sem saber se ela realmente já nos esperava, Rafael saiu sem se despedir da vaca, me disse no caminho que ela quem foi falar com ele, que ele mal havia respondido o que ela tinha falado, mas eu não estava afim de ouvir. Por sorte minha mãe chegou na hora em que atingimos o portão, avisei para ela que iria para a casa do professor, sem nem antes comentar com Rafael. Era perceptível sua tristeza, cortava meu coração, mas estava com muita raiva.
"Professor? Já cheguei, você pode vir aqui me ajudar?",eu disse assim que ele me atendeu, torcendo para que ele já estivesse em casa, "Claro que posso, já estou indo!", Lúcio abriu a porta, estava com uma camisa branca, completamente suada, uma bermuda azul e tênis branco, cabelos amarrados, conversou com minha mãe, explicando a situação e cumprimentou Rafael, que fez um esforço para sorrir, sorriso esse que logo sumiu, me despedi da minha mãe com um beijo, e friamente falei tchau para meu irmão. Lúcio me ajudou a entrar na casa, levando minha mochila. "Vou deixar suas coisas no meu quarto e vou só tomar um banho para a gente almoçar, certo?", ele disse e eu apenas concordei, estava admirado com a quantidade de livros em sua casa, eram tantos em armários, prateleiras, espalhados pela casa, resolvi segui-lo, não queria ficar sozinho em sua casa, foi quando eu notei que ele já havia tirado sua camisa e a jogava para o lado, pude observar suas costas largas e bronzeadas, "Meu quarto é lá em cima, vem, eu te ajudo", Lúcio enlaçou minha cintura com seu braço, me impulsionando para cima e ao mesmo tempo me dando apoio, "desculpa, estou todo suado, tinha até me esquecido, mas não tem problema, depois você toma banho também hehe", "Tudo bem Lúcio, mas não trouxe roupa", eu falei, procurando alguma solução para isso, "Fica sem ué, haha, brincando Lucas, eu te empresto, tenho umas cuecas novas, você pode usar", eu apenas acenei afirmativamente com a cabeça enquanto fazia os últimos esforços para alcançar o seu quarto, mesmo tendo ultrapassado as escadas, Lúcio não havia soltado minha cintura, o que eu, de um certo modo, gostei. Ele logo foi tomar banho, enquanto eu fiquei esperando no seu quarto, era de impressionar a quantidade de livros que ele possuía, mas também vi os brinquedos que ele tinha, todos antigos, legal que ele preservava suas memórias, não consegui evitar e fui mexer em seus brinquedos. Não sei quanto tempo se passou, mas foi o suficiente para ele aparecer na porta, só de toalha, com seu corpo ainda um pouco molhado, ele botou o desodorante e me chamou, "Vem, vamos almoçar, estou morrendo de fome, depois me visto, você se importa?", "Claro que não Lúcio, vamos", na verdade eu me incomodava sim, tê-lo me segurando pela cintura somente de toalha me deixava desconsertado, mas nada podia fazer, não iria mandar meu professor se vestir. enquanto estávamos descendo as escadas minhas mãos escaparam por suas costas molhadas e desceram para sua cintura, onde continuaram por um tempo, até que uma coisa que eu realmente não esperava aconteceu.