Nevópolis - A cidade dos amores gélidos - Parte I

Um conto erótico de COSTA NETO, A. P.
Categoria: Homossexual
Contém 3845 palavras
Data: 17/11/2014 22:27:45
Última revisão: 17/11/2014 22:28:52

CAPÍTULO I: A DESCOBERTA DO AMOR ENTRE IGUAIS

- Bom dia senhor Rodolfo.

- Bom dia rapaz.

- Fábio, fale-me um pouco sobre o Fábio Cavalcanti profissional.

- Bom, na verdade nunca trabalhei antes como vendedor, sempre fiz alguns bicos, já fui servente de pedreiro, cozinheiro, enfim, o que aparece estou fazendo. Não tenho medo de desafios, procuro desafiar-me e desafiar a vida todos os dias, já que cada segundo para mim é uma grande batalha.

- Por que você diz que cada segundo é uma “grande batalha”?

- Veja bem senhor Rodolfo...

- Rodolfo, apenas.

- Bom, como eu ia dizendo, Rodolfo, cada segundo para mim é uma grande batalha. Vivi na rua desde que tive que partir do orfanato que cresci até os 18 anos, de lá não sabia para onde ir, então, fui procurar serviço, uma senhora muito arrogante, mas ao mesmo tempo bondosa, ofereceu-me o serviço de jardineiro, em troca eu ganharia trezentos reais e poderia viver em um quartinho no quintal da sua casa, três meses depois essa senhora estava na casa dos filhos, teve um derrame e morreu. Seus filhos não tardaram a brigar pela herança e acabei sendo demitido. Logo após encontrei um serviço de servente de pedreiro, o dono da obra pediu que dormíssemos lá, para mim foi algo interessante, uma vez que eu não tinha para onde ir. Ao final da obra, mais uma vez fiquei sem ter para onde ir. Passados três dias dormindo em frente a igreja de Santas Felicidade e Perpétua, a zeladora da igreja viu-me dormindo pela manhã, me despertou do sono e ofereceu-me um café, perguntou minha história, contei-lhe tudo e ela conversou com o padre que me contratou como auxiliar de serviços da paróquia. Um belo dia o bispo chegou e não conseguiram arrumar uma cozinheira, contei-lhes que sabia cozinhar, fiz todo o jantar e deu certo, todos ficaram maravilhados com minha comida. A partir daí, fui fazendo quentinhas para viver, só que um belo dia... Perdão, mas essa parte me dói muito...

- Não se faz necessário Fábio! Confesso que estou extremamente comovido com sua história... Você parece ser um menino muito bom. Vou te dar essa oportunidade, amanhã mesmo deixe seus documentos no setor de RH, a senhorita Amanda vai informar-lhe quais são necessários e amanhã mesmo você já começa a trabalhar conosco.

- Muito obrigado senhor Rodolfo! Posso dar-lhe um abraço?

- Sim meu rapaz!

Pela primeira vez eles se abraçaram, uma descarga elétrica invadiu os corpos deles, foi como se eles tivessem se transformado apenas em um, o encaixe perfeito, a peça que precisava para ser posta no quebra-cabeça de ambos, um amor inigualável, forte como uma rocha, mas delicado como um cristal, quente como o fogo, mas gélido como a neve do polo sul...

- Meu rapaz... Confesso-lhe que estou encantado pela sua história, vejo em você um grande futuro. Espero fazer parte dele!

- Sim, senhor Rodolfo... É estranho!

- O que?

- Parece que nos conhecemos há tanto tempo!

- Verdade! Nunca me senti tão bem com ninguém, nem com a minha mulher...

- O que o senhor disse?

- Nada rapaz! Já lhe disse para não me chamar de senhor!

- Perdão, Rodolfo, é que, querendo ou não, estamos em níveis hierárquicos diferentes.

- Aí que você se engana, rapaz, estamos no mesmo patamar. Eu tenho o dinheiro e você a força, se você precisa de dinheiro para se sustentar, eu preciso que você faça alguns serviços que eu não tenho tempo de fazer. A vida é cheia de trocas, uns dão, outros recebem e devolvem e assim é o ciclo da vida: Uns precisam dos outros e todos precisam de todos.

- Muito interessante sua fala, senhor... Rodolfo, Rodolfo... É difícil vermos alguém do seu poder financeiro pensar dessa forma. Sinto que serei muito feliz trabalhando nessa empresa.

- Assim espero! Quero que todos os meus funcionários tenham certo conforto para trabalharem felizes e fazer com que meu lucro cresça, o lucro aumentando posso pagar-lhes salários maiores além de outras vantagens.

- Estou cada vez mais empolgado para que o dia de amanhã chegue logo e eu seja o mais novo funcionário.

- Todos esperamos isso meu jovem. Ah, antes que me esqueça, o salário que pagamos é de R$1.500,00, além de mais R$300,00 de vale refeição, mais R$250,00 de vale transporte, R$150 de plano de saúde e R$100,00 de vale gás. No total todos recebem no fim do mês R$2.300,00. Ademais, quando atingem a meta mensal, todos os que atingiram ganham mais R$200,00, ou seja, como vendedor da minha farmácia você pode chegar a ganhar R$2.500,00 mensais.

- Nossa! Não esperava ganhar isso tudo!

- Verdade, a maioria das empresas quer ter lucro e somente lucro, não quer investir no funcionário. A cada seis meses, todos têm que fazer um curso de “renovação”, e tudo é pago pela minha empresa. É como eu te disse: funcionário feliz é aquele que faz a empresa ter lucro, logo, a empresa que tem bons lucros consegue fazer o funcionário feliz.

- Interessante Rodolfo! Você é o patrão mais gente fina que conheço!

- Nada meu rapaz, sou apenas justo!

- Ok, já que você diz...

- Então meu jovem, infelizmente temos que encerrar nossa conversa por aqui!

- Uma pena Rodolfo...

- Estou de acordo, uma pena... Mas nos vemos amanhã às 7:30 da manhã, ok?

- Sim senhor!

- Não tem jeito...

Nunca me senti assim, esse rapaz mexeu comigo, o sorriso dele, aquele olhar penetrante, fixo, sedutor... Não Rodolfo, você não pode pensar nele, lembre-se de que, a última vez que você se envolveu com outro homem, vocês sofreram um grande castigo...

E o que parecia ser um dia belíssimo, se tornou em mais um dia triste! Rodolfo lembrou-se do terrível passado que até hoje lhe atormentar e que irá atormentá-lo para sempre.

CAPÍTULO II: UM PASSADO NO PRESENTE

Rodolfo saiu correndo da sua sala, entrou no carro e ficou andando por duas horas até lembrar-se que tinha que buscar suas filhas na escola.

- Amanda, por favor, deixe tudo que está fazendo, pegue um táxi e vá à escola das meninas busca-las, estou resolvendo uns problemas e irei demorar.

- Sim senhor, seu Rodolfo, pode deixar.

- Obrigado.

Assim que terminou de agradece-la, desligou seu celular e se pôs a chorar novamente. Ninguém poderia entender sua dor, só ele, e tudo por culpa do seu pai! Como ele tinha tido a coragem de matar o seu grande amor, como? Agora ele se pegava encantado pelo jovem rapaz e não poderia permitir que esse sentimento crescesse, teria que sufoca-lo para não ver outra pessoa com um futuro brilhante sofrer.

12 ANOS ATRÁS

- Estevão, que tal partirmos amanhã? Estou cansado do meu pai ficar brigando o tempo todo por causa do nosso amor.

- Será que vai dar certo Rodolfo? Tenho tanto medo do que nos espera!

- Vai sim meu amor, não devo negar que enfrentaremos muitos desafios, mas o nosso amor é maior que tudo.

- Você me traz uma segurança tão grande... Obrigado por ser a nossa pilastra principal.

- Obrigado por existir em minha vida e fazer-me o mundo mais feliz do mundo.

Rodolfo no outro dia acordou-se às 4:40 da manhã para passar primeiro na casa do seu amor e ainda irem correndo até a rodoviária comprar as passagens para logo em seguida partirem rumo à Gramado.

Porém, ao chegarem ao guichê, tiveram uma surpresa, três homens com encapuzados abordaram o casal e deram um tiro que era para Rodolfo, porém Estevão jogou-se na sua frente e deu a vida pelo seu grande amor...

NO PRESENTE...

A dor da perda de seu grande amor ainda estava viva em seu coração, ele não podia aceitar que seu Estevão tinha morrido com tão somente 18 anos e que seu pai era o culpado de tudo, o seu próprio pai!

VOLTANDO AO PASSADO

Seu pai, o Rodolfo Nóbrega Albuquerque de Merlo, sabia que dominava o filho e que não permitiria ele ser mais um sujo da sociedade, um pederasta. Ele não podia ter um filho desviado, acabaria com sua reputação, sua moral, seu respeito.

- Meu Deus, o que fiz para ter um filho pederasta, o que fiz meu Deus?

E Rodolfo pegou seu filho pelos cabelos e saiu arrastando-o escada a baixo, fazendo desmaiar de dor, não satisfeito o prendeu no quarto que ficava no subsolo da sua mansão e disse que o filho só sairia depois de virar homem.

- NÃO SE ESQUEÇA: ENQUANTO NÃO VIRAR HOMEM, NÃO SAIRÁ DAÍ SEU MOLEQUE INSOLENTE! TENHO VERGONHA DE SER SEU GENITOR! A PARTIR DE HOJE ESQUEÇA QUE SOU SEU PAI! SÓ VOLTAREI A SER UM DIA, QUANDO VOCÊ ARRUMAR UMA MULHER E ME DER NETOS!

Ele não poderia aceitar que seu único filho fosse um pederasta, e quem assumiria seu império? Seu filho era uma vergonha! UMA VERGONHA.

Rodolfo passou exatos 2 meses, 3 semanas, 4 dias, 19 horas, 30 minutos e 46 segundos preso naquele local fétido. Ao longo de todos esses dias ele perdeu cerca de 15kg, quase não se alimentava, apenas para não morrer, ele não mais chorava depois do décimo dia de cativeiro, o ódio crescia cada vez mais dentro do seu coração, principalmente no dia em que seu pai abusou de seu corpo sexualmente e depois urinou em cima dele.

- Para pai, por favor!

- Cale a boca seu imundo, se é para dar a outros, que dê a mim, pederasta!

E no maior requinte de crueldade, o pai de Rodolfo abusou dele. Tapas, xingamentos, cintadas... Todo tipo de coisas ruins ele fez com o próprio filho.

Rodolfo não se abateu, pelo contrário, jurou vingança... E ela não estaria muito longe.

CAPÍTULO III: AS TRÊS QUEDAS

A PRIMEIRA QUEDA

Passados cinco meses das grandes tragédias que aconteceram em sua vida, Rodolfo já recuperado planejava a vingança perfeita, começou a perseguir seu pai e assombrá-lo de todas as formas mais tortuosas possíveis. A primeira parte das “Sete espadas” começou com uma carta...

- Seu Rodolfo, chegou uma...

- Já lhe disse sua inútil que não quero que me incomodem!

- Mas seu...

- Calada! Que envelope é esse em suas mãos?

- Foi uma carta que chegou para o senhor.

- Coloque aqui na mesa e vá para o inferno sua puta!

A jovem Clarisse de Veloso Sampaio colocou o envelope sobre a mesa e saiu correndo, seu coração doía, nunca tinha sido tão humilhada em toda sua vida. Já tinha completado o segundo mês de trabalho, e a única vez que o patrão a tratou bem, foi quando tentou seduzi-la e ele o rejeitou.

- Meu Deus, o que faço? Não quero ficar nesse sofrimento, mas se eu não ficar, meus irmãos morrerão de fome! Por que o senhor tirou meus pais? Por quê? Agora tenho que sustentar meus irmãos e não posso mais estudar!

Clarisse continuou perdida em seus pensamentos e choro até ouvir os gritos do patrão.

- O QUE É ISSO? O QUE É ISSO? QUEM MANDOU ESSA PORRA CLARISSE, RESPONDA SUA VACA!

Clarisse nada pode responder o velho lhe desferiu um soco em sua face e ela caiu desmaiada. Atordoado com o que tinha feito, pensou logo em ligar pro seu médico praticar.

- Não foi nada demais senhor Rodolfo, agora lhe aconselho que dê uma boa gratificação a essa garota, senão o senhor terá sérios problemas com a justiça.

- Sim, Doutor Cristóvão, pode deixar.

Logo após o médico partir, Rodolfo (pai) começa uma nova série de xingamentos:

- Escute aqui sua vaca: Ou você inventa que foi assaltada ou alguma coisa do tipo e te dou a chance de viver, ou você me denuncia e mato você e seus irmãos!

- Pode deixar senhor Rodolfo, farei como o senhor quer.

- Boa cadela!

Clarisse aproveitou a distração do empresário e roubou-lhe a carta. Ao abrir ela teve um susto: A carta na verdade era uma foto, a foto de um caixão onde tinha escrito: “Você não irá para o céu” e no centro uma foto do velho. Horrorizada, ela tratou de guarda-la e no outro dia coloca-la no lugar de onde tirou.

Rodolfo infelizmente não pode ver a reação do seu pai no momento em que a carta lhe fora entregue, mas ele tinha certeza: o velho pirou. Ele precisava logo colocar seu plano em prática, mas para isso precisava da ajuda de alguém, e ao lembrar de que nenhum dos empregados de seu pai eram bem tratados ele saberia que alguém poderia ajuda-lo, mas quem?

Rodolfo saiu sondando várias pessoas, mas não percebeu em ninguém a força que ele necessitava para ajudar-lhe nessa guerra, foi quando ao ir ao escritório da família, viu uma moça loura levando gritos e sendo chamada de vaca pelo seu pai. Ele se escondeu e quando a moça chegou à sua mesa, pensou alto:

- Esse velho nojento ainda me paga.

- Hum, então quer dizer que meu pai também te trata mal?

- Seu Rodolfo Filho, me perdoe, eu não quis...

- Não se preocupe minha jovem, acho que temos interesses em comum!

- Quais? Não entendi!

- Tanto eu, como você, odiamos o meu pai, ele nos faz passar as maiores humilhações. Acredita que ele já me deixou em cárcere privado por quase três meses e ainda teve a coragem de abusar de mim sexualmente?

- Não posso acreditar!

- Acredite minha jovem. Mas aqui não é o lugar mais indicado para termos esse tipo de conversa. Vamos À lanchonete ali da frente e vamos conversar mais sobre isso depois do seu expediente?

- Sim senhor, seu Rodolfo.

- Rodolfo apenas, Rodolfo!

- Ok.

- Afinal, como é seu nome mesmo?

- Clarisse!

- Então Clarisse, aliados?

- Sim!

- Me passe seu celular.

- O meu é

Rodolfo deu um pequeno sorriso e saiu, ele precisava resolver um problema “físico” até a hora do seu encontro com a jovem secretária. Ao sair da metalúrgica do seu pai, ele passou pela Lagoa dos Gélidos, era uma lagoa em meio a um onde poucas pessoas frequentavam, inundada de garotos de programa, apenas homens ricos, não-assumidos perante a sociedade frequentavam aquele horário.

Ao passar perto da lagoa, ele avistou um garoto branco, mais ou menos 1.90 de altura que parecia ser muito bonito, encostou o carro, o garoto entrou e juntos foram a um motel. Ao satisfazer-se sexualmente, ele pagou uma boa quantia ao rapaz que parecia ter sua idade e partiu para sua casa. Após almoçar, decidiu tocar um pouco, ele tocava violino, piano, violão e guitarra, era um multi-instrumentista, além de cantar perfeitamente, perdido na atmosfera da música, sentiu seu celular vibrar, era uma mensagem de Clarisse:

“Acho que você iria gostar de vir aqui nesse momento”

Rodolfo saiu correndo e foi ver o que acontecia naquele momento, ao chegar teve uma estranha surpresa: a frente da empresa estava lotada de carros da polícia federal e repórteres, que, quando perceberam sua presença, voaram em cima do rapaz como urubus atrás da carniça.

- Rodolfo Filho você pode dar uma entrevista?

Ele nada respondeu, saiu correndo para ver o que estava acontecendo de verdade, ao chegar ao hall da sala de seu pai, o vê saindo algemado, ele tinha sido denunciado por tráfico, além de trabalho escravo e abuso de poder.

Apesar de querer vingar-se de seu pai, ele se viu triste, não pelo velho inútil está sendo preso, mas por não poder cumprir com seu plano de vingança. Rodolfo chegou mais perto de Clarisse e, quase inaudível disse:

- Parece que o nosso plano irá buraco a baixo.

- Aí que você se engana meu querido!

- Não entendi!

- Tive uma ideia... Conversamos melhor depois.

- Pode deixar.

Depois de despistar os repórteres, ele e a secretária do pai foram à um renomado restaurante, lá iniciaram a conversa depois de serem servidos com um delicioso e caro vinho.

- Estava pensando Rodolfo, imagina que você tem uma pessoa que lhe deve favores trabalhando na mesma penitenciária que seu pai ficará...

- Aonde você quer chegar com isso?

- Simples meu querido, vamos infernizar a vida do seu pai naquela cadeia com a ajuda de um amigo.

- Ok senhorita mente brilhante, mas como faríamos isso?

- Simples: esse meu amigo que trabalha lá, deve-me muitos favores e ele fará tudo o que pedirmos a ele, fora o fato dele ser caidinho por mim.

Rodolfo não poderia acreditar no que acabava de escutar, era uma notícia maravilhosa, finalmente conseguiria continuar com seu plano. Finalmente a segunda espada poderia dilacerar o seu pai.

A SEGUNDA QUEDA

Rodolfo necessitava vingar-se do seu pai, agora ele tinha uma forte aliada, poderia começar a realiza-la, porém ele não conseguia confiar na garota, ela lhe soava um pouco forçada.

- Não, deve ser apenas impressão minha.

Ele preferiu deixar para pensar naquilo depois, ele precisava mudar seus planos, uma vez a vida brincou com ele e as coisas saíram do seu controle, no entanto ele faria com que elas voltassem ao seu curso natural.

- Amanda, necessito descobrir algo a respeito do meu pai!

- O que, por exemplo?

- Não sei ao certo, mas todos sempre escondemos algo podre!

- Tem razão, o que seria?

- Tive uma ideia!

- Me conte logo!

- Terei que fazer uma viagem, uma longa viagem!

Rodolfo separou algumas roupas e logo partiu para uma cidadezinha chamada “Serra do Vernáculo”, ele sabia que seu pai tinha saído de lá, mas não sabia o porquê, a única coisa que sabia era que o velho tinha uma irmã que era muito pobre e vivia lá desde que nasceram.

Por ser uma cidade pequena, apenas dois mil habitantes, ele logo encontrou informações sobre a sua tia, ela se chamava Carmelita, quando chegou à sua humilde casa teve uma surpresa: sua tia não tinha as duas pernas, ele disfarçou bem e mostrou-se muito simpático e atento à todas as coisas que aquela humilde senhora lhe contava. Mas algo lhe intrigou: sua tia evitava não falar de seu pai, como tática, ele decidiu não perguntar mais, iria apenas fazer a linha sobrinho carinhoso e sofredor para poder arrancar algo da velha.

- Tia, sofri muito nas mãos de meu pai, ele fez da minha vida um inferno, ainda me deixou sem nada, só consegui chegar até Serra do Vernáculo porque tinha uma graninha que economizei ao longo desses anos.

- Imagino meu filho, seu pai é um monstro, ele, ele...

- Tia se acalme, não precisa mais tocar nesse assunto. Também me dói falar sobre o que meu pai me fez.

- Não, meu filho, não se preocupe com isso. Agora já sinto a confiança necessária em você para contar-lhe tudo o que seu pai me fez.

- Tia, acho melhor...

- Escute aqui rapaz, sei que você não veio aqui para cuidar de mim, você até que é um bom ator, mas se lembre: enquanto você está terminando o colegial, tenho PHD. Sei muito bem que você veio descobrir coisas sobre o passado do seu pai, então lhe contaria letra por letra, sem tirar e nem por.

- Ok.

- Comecemos! Então... Desde criança sempre fui diferente das minhas coleguinhas, meus pais sempre perceberam isso e respeitavam, já meu irmão, não, ele vivia me xingando, chamando de “Maria Machadão”, “Mulher-Homem”, “Aberração”, “Inseto”... Enfim, xingava-me de várias outras coisas, as quais fiz questão de apagar da minha memória. Quando completei meus quinze anos, pedi aos meus pais para comemorar na capital e levar uma amiga muito próxima, que na verdade era minha namorada. Meu irmão quando descobriu tudo, prometeu que isso não iria ficar assim. Passados dois dias depois da viajem, meus pais precisaram se ausentar para resolver problemas financeiros em outro estado, queriam levar-me, mas por estar apaixonada, preferi ficar, esse foi meu maior erro: ter ficado. Quando estava me preparando para dormir, Rodolfo, seu pai, entrou no meu quarto em silêncio, dominou-me, arramarrou-me no espelho da cama, amordaçou-me e rasgou minha roupa, quando menos espero, ele chega perto do meu ouvido e diz:

- Você vai virar mulher agora sua aberração!

- Comecei a me debater na cama, mas nada poderia fazer... Quando de repente o sinto penetrando-me com aquela coisa nojenta, fazendo-me sentir a maior dor da minha vida.

- Foram exatas três horas de dor, de tortura, da atitude mais perversa que um irmão poderia fazer com o outro... O que eu poderia fazer era chorar, chorar e chorar. Quando ele se satisfez começou a chutar-me, dar-me tapas e mais tapas, saiu, prendeu-me no quarto e deixou-me presa até o outro dia de manhã.

- Quando me desperto, vejo que estou sem saída, a casa tinha três andares, o que não era comum na época, mas pelo fato de meus pais serem ricos, fizeram-na dessa forma. E por azar, os quartos ficavam nesse terceiro andar. Em uma atitude loucura e desespero decidi pular a janela, infelizmente na queda fiquei temporariamente sem poder andar. Quando meus pais souberam do acontecido, vieram correndo para casa, só que... Só que a velocidade do carro era tão grande que meu pai perdeu o controle e capotaram. Dizem que parecia cena de novela: o carro bateu em uma carreta, capotou várias vezes e logo em seguida explodiu...

- Por ficar deitada em uma cama sem que meu irmão permitisse que uma enfermeira viesse cuidar de mim, minha perna direita infeccionou, logo em seguida “apodreceu” e tiveram que amputa-la, depois aconteceu o mesmo com a esquerda... E hoje estou aqui do jeito que você vê: vivendo neste cubículo com um salário pequeno, mas digno, uma vez que meus bordados e crochês vendem e são de ótima qualidade!

- Tia... Não sei o que lhe dizer!

- Não diga nada! Apenas se vingue do seu pai por nós dois!

- Pode deixar... Tia, a senhora aceitaria ir comigo até Nevópolis fazer uma visitinha ao meu papai na prisão?

- Com todo prazer meu querido!

- Mas antes vou conseguir pernas mecânicas para a senhor, quero que a senhora entre de nariz empinado para mostrar ao meu pai que somos mais fortes!

- Que notícia maravilhosa meu querido!

E assim começava a se concretizar os planos para segunda parte da queda do grande Rodolfo Albuquerque, ele iria arrepender-se de tudo o que fez no passadoA segunda parte do plano finalmente poderia ser colocada em prática. Carmelita, Rodolfo Filho e Amanda finalmente chegaram à penitenciária onde o “grande” Rodolfo Albuquerque se encontrava.

Com ajuda do amigo da Amanda, os três conseguiram entrar para a visita, causando uma grande surpresa no velho.

- Irmãozinho lindo... Voltei! Bu!

E com uma risada diabólica e estridente Carmelita comemorou a derrocada do irmão que saiu gritando com as mãos na cabeça e pedindo socorro afirmando que o demônio estava lhe perseguindo!

- SOCORRO, SOCORRO, O DEMÔNIO ME PERSEGUE!

Ele repetiu essa frase inúmeras vezes até conseguirem dominá-lo e aplicarem uma injeção que o deixou mais calmo.

Não foi preciso outra visita, o delegado pediu a transferência para um hospital psiquiátrico, uma vez que o “Grande” Rodolfo Albuquerque tinha constantes surtos e “ouvia vozes”.

Rodolfo Filho preferiu não ficar com nada do pai, doou tudo para sua tia, o que ele achava justo, uma vez que a mesma precisava viver confortavelmente por causa de suas limitações físicas provocadas por seu pai. E sem querer, a terceira parte do plano foi cumprida: Seu pai ficou sem nada, morreu três meses depois ao fugir do hospital em que se encontrava e ser atropelado por um carro que fugia da polícia.

Continua.

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Comentários

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Tudo bem, espera... primeiro tô encantado com a história, tua escrita é sublime parabéns e continue por favor assim que possivel. É diferente de tudo e ainda assim incrivel. Sou novato aqui então se tiver alguma dica pra mim sera bem vinda! Nota 10

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A segunda parte demorará a ser postada, uma vez que ainda estou escrevendo-a. É uma parte mais cansativa do conto, mas necessária. Espero em breve postá-la aqui e no Wattpad. Assim como outros autores, deixarei de postar no "Romance gay". O site tem muitos bugs e está cada vez mais chato usá-lo.

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Fiquei muito feliz com todos os comentários! Espero que gostem do desenvolvimento da história. Ah, e por favor, ajudem-me a divulgá-la.

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Bacana, hein? Estilo de texto requintado, cuidadoso, historia plausivel e coesa. Esta de parabens!

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nota 10 pela sua forma de escrever que é impecavel

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excelente ő conto. Uma novela. Vingança um prato que se come frio, como Já dizia ő velho ditado. Agora espero que nada impeça Rodolfo de ser feliz com seu Fábio. Tô curtindo cada virgula dessa história. Continue escrevendo.

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