Um Sopro de Primavera - Parte IV

Um conto erótico de Luke
Categoria: Homossexual
Contém 2500 palavras
Data: 26/01/2015 21:47:37
Última revisão: 26/01/2015 21:49:41

Parte IV - E as consequências não seriam nada boas...

- Lucas?! Ei, acorda, a aula já acabou.

Desorientado, levantei meu rosto e senti minha pele enrugada. Aparentemente o momento que eu escolhi para deitar o rosto na blusa de frio e descansar um pouco os olhos não correu bem do jeito que eu esperava. Tentando ajustar a visão à claridade súbita, olhei para o lado e observei Andressa rindo da minha cara.

- Cara, é só o quarto dia de aula e você já está nesse estado? Quero ver como você vai estar no fim do semestre - ela disse, enquanto arrumava as coisas dela.

- Isso se eu sobreviver até lá.

Ainda sonolento, guardei meu caderno, onde havia apenas duas linhas de anotações, e meu estojo. Bah, eu compenso depois com a leitura da bibliografia.

- Vamos?! - Danilo nos chamava da porta.

Os outros três dias dessa primeira semana tinham sido basicamente um espelho do primeiro dia. O que equivale a dizer que foram as aulas mais chatas que eu já tinha assistido. Professores novos sendo apresentados, inúmeros discursos sobre como o Direito é importante, mais apresentações desconfortáveis, e blá blá blá. As poucas aulas em que houve realmente matéria foram noções básicas a respeito da sociedade e etc., e eu não tinha o menor interesse nisso.

As pessoas da turma pareciam ter se consolidado em grupos definidos já nesses primeiros dias, embora a interação entre alguns grupo já se desse, mas além de trocar uma ou duas frases com algumas pessoas, eu tinha me atido a Andressa e Danilo. Apesar de me dar bem com a maioria das pessoas, eu não tenho o hábito de puxar conversa, então acabava por esperar a iniciativa delas. Bem, eu já estava satisfeito por ter com quem conversar, então o resto ia se ajeitar com o tempo.

Seguimos para a próxima aula, onde, para meu mais absoluto desgosto, a professora anunciou que distribuiria perguntas para que os alunos respondessem em grupos de seis pessoas. O detalhe é que as perguntas eram direcionadas à nossa "bagagem intelectual" até o momento, já que não tínhamos tido matéria nenhuma. "O que é sociedade?", "Qual a importância da educação de nível médio na vida de uma pessoa? E a da de nível superior?", e outras perguntas tão vagas quanto essa. Aquilo ia ser uma tortura.

Andressa acabou por chamar três pessoas de um outro grupo que estava ali perto e nos reunimos num círculo. A professora avisou que nos deixaria discutir por meia hora enquanto resolvia um assunto na secretaria da Faculdade de Direito. Contive o impulso de gritar um sonoro Picareta.

Em cinco minutos desenvolvemos respostas simples e sem rodeios, sem dar muita atenção para o exercício. Logo escorei a cadeira na parede e puxei meu livro da mochila. Não, não, nenhum livro de direito, eu tinha decidido que, já que o tédio era de presença constante nas minhas aulas, me valeria do tempo para continuar lendo meus livros. Estava praticamente no fim de A Fúria dos Reis, e estava ansioso pelo final.

- Ei, conheço esse livro! Estou lendo o primeiro - Uma das garotas que havia se juntado ao nosso grupo me disse. Seu nome era Jéssica, ela tinha cabelos ruivos e olhos azuis claros, e algumas sardas no nariz. É uma daquelas pessoas que você nota de imediato.

- É ótimo, não é?! Mal posso esperar para chegar logo no final.

Conversamos um pouco sobre o livro e acabamos nos conhecendo também. Logo nós seis estávamos conversando animadamente sobre assuntos aleatórios. A outra garota se chamava Camila, era baixinha e tinha os cabelos na altura dos ombros, um pouco tímida, mas quando se soltava era uma pessoa muito agradável. Isso sem falar do jeito nerd fofa. O garoto se chamava André, tinha cabelos castanhos curtos e lisos, olhos castanhos também, e um brinco na orelha esquerda. Ele era bem bonito, e tinha um jeito arrogante, mas também era legal depois de um tempo.

Logo que a professora chegou, ela fez uma discussão usando-se das respostas dos grupos, da qual eu rapidamente me abstive para terminar o livro. Confio bastante na minha habilidade de passar despercebido quando quero, então apenas coloquei o livro no colo e relaxei. Já estava no último capítulo quando fomos dispensados. Meus três novos colegas se despediram e se juntaram ao outro grupo, enquanto nós três seguimos para o restaurante. Estávamos comendo quando a Andressa levantou o assunto.

- Então, todo mundo vai na festa amanhã, né?

- Ahh, eu não sei - Danilo respondeu. - Eu estou meio desanimado, não costumo ir muito em festas desse tipo.

- Qual é, Danilo, é a primeira de muitas festas enquanto estivermos nesse curso, você vai ter que se acostumar! Além do que, vai ser muito legal, você tem que ir, tá me ouvindo?! O Lucas vai! - Ela fez uma pausa e me lançou um olhar inquisidor. - Não vai?

- Já tinha até esquecido dessa festa - disse, e ela fez uma cara ameaçadora, tenebrosa. - Mas eu vou sim, claro, ahh, não perderia isso por nada!

Ela suavizou o rosto e me lançou um grande sorriso, satisfeita. Ótimo, tudo que eu precisava, outra Letícia na minha vida. Ela olhou pro Danilo, triunfante.

- Então, você não vai perder essa festa, certo?!

- Bem, eu vou pensar um pouco no assunto e... - ele parou quando olhou pra Andressa e se apressou para corrigir. - Claro, claro, vou sim! - E encolheu como se estivesse prestes a dizer "Só não me mate".

- Ótimo! E lembrem-se, temos que causar uma boa impressão, nossa vida social nesse curso está em jogo.

Revirei os olhos e voltei a comer, deixando de lado o assuntoSexta-feira devia ser um nome sagrado. Além do melhor dia da semana desde sempre (embora minha estima por ela tenha caído quando passei a ter aulas nos sábados no terceiro ano), agora era o dia com menos aulas na faculdade. Tinha apenas dois horários na parte da manhã e pronto, liberado até segunda. Não tinha nada melhor que isso.

Acordei revigorado e fui pra aula. Tudo parecia lindo agora que eu estava bem humorado.Parando para observar, percebi que todos estavam bem animados. Aliás, animados até demais. Estava começando a achar estranho tudo aquilo apenas por ser sexta quando Andressa chegou e esclareceu tudo com uma pergunta.

- E aí, preparado pra grande festa?! - Ela estava com um sorriso enorme no rosto e parecia muito ansiosa pela noite.

- Ahh, a festa, já tinha até esquecido de novo - disse, e ela fechou a cara no mesmo segundo.

- Nem se atreva a não ir nesta festa, mocinho, ou vou fazer você se arrepender amargamente pelos próximos cinco anos - ela usava um sussurro ameaçador, com um dedo apontando pra minha cara. Recuei um pouco até bater na parede.

- Já te disse que morro de medo de você? - Fala sério, ela era pior que a Letícia, e eu nem imaginava que isso fosse possível.

- É bom ter mesmo - ela disse, e, no outro instante, voltou a sorrir como antes, alterando completamente seu comportamento. Bipolar!

Os dois horários eram aulas que eu ainda não havia tido durante a semana, e, talvez pelo meu ânimo melhor, elas foram até interessantes. Além do fato de terem passado rapidamente. Logo estava me despedindo de Andressa e Danilo, que estavam numa sessão de ameaça por parte da Andressa caso ele ainda não estivesse atemorizado o bastante. Saí bem rápido antes que sobrasse pra mim de novo e fui andando até em casa, aproveitando o dia.

Já em casa, decidi que ia fazer meu almoço. Conectei meu celular no som e coloquei num volume alto, mas não o bastante para gerar reclamações dos vizinhos. Logo estava preparando um arroz básico, alguns filés de carne ao molho madeira e uma salada simples. Eu disse, consigo me virar, mas não sou nenhum chefe francês. Estava colocando a carne no forno para assar um pouco quando meu celular tocou. Atendi sem olhar a tela antes, então não sabia quem era.

- Alô?

- SEU DESNATURADO! ALÉM DE SUMIR NEM FALA COMIGO MAIS?

Ok, a única pessoa que eu conheço que consegue gritar tão alto assim é a Letícia.

- Sua louca, se quer me deixar surdo você vai conseguir com certeza. E eu falei com você ontem a noite se você não tá lembradaAhh, é mesmo. Tinha esquecido - e riu. RIU. Por que todo mundo que eu conheço é tão louco assim?!

- Vai ter volta, pode ter certeza.

- Não vai não, você não consegue gritar tão alto quanto eu.

Droga.

- Eu te odeio.

- Que nada, você me ama. Ei, que barulhão é esse?

- É que o som tá ligado.

- Ahh, e tá ouvindo o que?

- Agora? Tell me the truth, do I Am King, mas a lista tá bem variada hoje - a gente tinha um gosto musical bem parecido, então era bem comum discutirmos novidades que achássemos.

- Hmm, não conheço, mas vou olhar depois. E tá fazendo o que?

Nós conversamos por uns vinte minutos enquanto eu fazia o máximo pra cozinhar com uma mão só e conversar ao mesmo tempo. Sentia uma falta imensa dela, e assunto entre nós nunca falta. Eu conversava todos os dias a noite com ela e com Henrique e os outros pelo Facebook, e as vezes pelo telefone, mas isso não era o bastante.

O almoço estava ótimo, não querendo me gabar. Guardei o que sobrou para mais tarde, arrumei a cozinha e fui para a sala. Fiquei fuçando nos canais até achar alguma coisa interessante, e deixei num filme que passava no Universal Channel. Três minutos depois estava dormindo.

Lembro que sonhei que estava de volta na minha casa, no meu quarto, e ouvia meus pais me chamarem me pedindo pra descer. Quando abria a porta, as vozes deles viravam as dos meus amigos, e eu descia a escada correndo, mas quando eu chegava lá o térreo da minha casa tinha virado meu apartamento novo. Um telefone bem antigo e enorme estava numa pilastra de mármore no meio da sala, e tocava bem alto, vibrando, ameaçando deslizar pela pilastra, e tocando, tocando...

Acordei com meu celular fazendo o escândalo de costume. Levantei, ainda desorientado com o sonho esquisito, e atendi com uma voz sonolenta.

- Alô?

- Você já está se arrumando pra festa, né?

- Ahh, oi pra você também, Andressa.

- Você estava dormindo, né? - A voz dela estava ameaçadora de novo. - Falta uma hora pra festa, o que significa que se eu não tivesse ligado você teria ficado dormindo e não iria. E nós dois sabemos que as consequências disso não seriam nada boas.

Não consegui evitar um arrepio ao imaginar o que poderia ter acontecido

- Tá bom, tá bom, desculpa, mas eu vou me arrumar agora, relaxa.

- Ótimo! - A voz dela voltou ao normal. - Você já combinou com o Danilo?

- Já, a mãe dele vai passar aqui para me buscar e nós vamos juntos.

- Pelo menos assim aquele lá não vai conseguir arranjar um jeito de faltar. Bem, te vejo lá, anda logo e vai se arrumar - e desligou.

Apesar das ameaças, foi ótimo ela ter me ligado, o Danilo teria ficado muito puto se eu não estivesse pronto quando ele chegasse. Tratei de correr pra me arrumar.

Tomei um banho caprichado e bem quente. Saí, me enxuguei e fui escolher uma roupa. Um detalhe agora, nunca me preocupei muito com o que vestir, na maioria das vezes apenas escolho alguma coisa que está no armário. Apesar disso, a maioria das pessoas acha que eu me visto muito bem. Presumo que seja uma coisa que se tornou automática depois de um tempo. Acabei, no entando, parando pra pensar um pouco no que iria vestir, pois queria estar bem na primeira festa. Acabei por escolher um jeans simples, levemente apertado, uma camisa branca manga longa, e um tênis branco. Borrifei meu perfume, coloquei meu relógio de pulso, peguei minha carteira e meu celular. Passei um pente no cabelo, tentando ajeitar um pouco para trás, mas ele insistia em cair numa franja bagunçada para os lados. Bem, não ia adiantar nada continuar lutando, então apenas baguncei um pouco com as mãos sem secar e me dei por vencido.

Liguei para os meus pais, avisando da festa, e expliquei pra eles que estaria com um amigo. Foi um interrogatório só, mas no fim eu consegui convencê-los de que era pouco provável que eu morresse. Saí de casa, desci, e fiquei conversando com o Sr. Walter até meu celular tocar e Danilo avisar que estaria na frente do bloco em cinco minutos. Me despedi e fui para a frente, e logo ele chegou com sua mãe, num Civic prateado. Ele acenou para mim e me disse para entrar.

- E aí, cara? Essa aqui é minha mãe, Adriana. Mãe, esse é o Lucas.

- Prazer em te conhecer, Lucas. Já ouvi falar muito de você.

- O prazer é meu, Sra. Adriana.

- Ahh, não!! Só Adriana, por favor, sou mãe mas não sou velha!

O que o Danilo tinha de introvertido a mãe dele tinha de extrovertida. Era totalmente diferente do Danilo, com cabelos pretos e longos, e um rosto jovem e arredondado, exceto pelos olhos pretos, idênticos aos dele. Seguimos conversando o tempo inteiro, ela era uma ótima pessoa, e gostei dela quase imediatamente. Logo estávamos na frente do local alugado para a festa, então descemos.

- E juízo vocês dois! Já tive a idade de vocês, sei muito bem o tipo de coisa que acontece nessas festas! Lucas, eu não sei quanto a você, mas o Danilo nunca bebe, então pelo amor de Deus, não deixa ele exagerar.

Dizer que eu tomei um baita de um susto com a forma franca e direta com que ela disse aquilo é dizer pouco. Fiquei sem fala com o susto. Danilo parecia querer se enfiar no chão, à moda das girafas.

- Mãe! Você já pode ir agora!

- Fica tranquila, Adriana, eu vou cuidar dele sim - disse, recuperado do susto e com um sorriso. Apesar de que qualquer um esperaria o contrário, já que ele era mais velho que eu.

- Ótimo, então até mais tarde - ela sorriu e foi embora.

- Cara, sua mãe é o máximo! E ela praticamente te deu autorização pra beber, e isso porque segundo ela você nunca bebeu!

- É porque eu nunca bebi mesmo.

- Bem, acho que isso muda hoje. Caramba, queria que minha mãe fosse que nem a sua.

- Tá, tá, tanto faz, vamos logo - ele estava roxo de vergonha.

Ri um pouco da reação dele e me virei para o clube, onde várias pessoas, das quais reconheci algumas, estavam entrando. Danilo parecia um pouco nervoso, e imaginei que talvez ele não fosse mesmo do tipo festeiro. Eu mesmo não sou do tipo de ir para toda festa possível, mas já fui em um bom número, então já trato qualquer uma com indiferença. Claro que, nesse caso, também estava um pouco tenso. Seria a primeira festa com pessoas com quem eu teria de conviver durante todo o curso. O nervosismo era algo natural nessa situação. Coloquei minha mão no ombro dele, para acalmá-lo um pouco.

- Então, tá na hora - suspirei e sorri para ele. - Vamos?

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Luke17 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Amei Continua logo esta maravilhoso seu conto estou totalmente Preso a Ele

0 0
Foto de perfil genérica

Sempre animando minhas noites com seus capítulos. Chega a ser rotina eu checar todo dia para verificar se você publicou um capítulo novo. Sensacional como sempre né?! Não esqueça da gente e continue publicando com frequência, porque é uma tortura quando você desaparece.. hahahaha Muito bom, como sempre !!

0 0
Foto de perfil genérica

Continua! Mal posso esperar a parte que Lucas assume tudo para o seu amor. Luke, espero que você atualize com frequência e assim você voltará a fazer sucesso, porque postando de ano em ano ninguém vai ficar acompanhando e logo cairá em esquecimento. Então espero que você volte com tudo e com certeza fará sucesso! Um dos melhores contos da casa.

0 0