A cidade do céu amarelo - Capítulo 3

Um conto erótico de Jader Scrind
Categoria: Homossexual
Contém 4525 palavras
Data: 25/02/2015 00:09:28
Assuntos: Gay, Homossexual

O primeiro sinal do anoitecer, antes mesmo do sol começar a se pôr no horizonte, antes das luzes dos postes se acenderem ou do clima esfriar, era o recolhimento dos pássaros, lá pelas seis da tarde acontecia, o céu amarelo que vivia recortado por pássaros dos mais diferentes tipos, a maioria porque a floresta ao redor da cidade era riquíssima de alimento para eles, e nesse horário voltavam para a mata e havia um silêncio ainda maior na região, e era por dentro desse silêncio que André corria pelas ruas da cidade, dissera para Daniel que se Júlio havia ido procurar Maicon e esse último o pegou, sabia para onde Maicon o levaria, mas torcia para que não tenha sido isso que aconteceu, e por isso disse que Daniel devia procurá-lo pelos outros lugares, porque Júlio havia levado sua câmera fotográfica, então havia uma chance de ele só estar por aí tirando fotos da cidade, e não ter sido encontrado pelos caras.

Daniel passou por todas as quadras, todas as ruas, perguntando a qualquer um que passasse por ele se não tinha visto um rapaz assim da sua idade, cabelo castanho, com uma câmera na mão, mas ninguém lembrava dele, e depois de várias tentativas ele começou a desconfiar daquelas pessoas, como se algumas delas soubessem sim onde Júlio estava, tivessem visto alguma coisa mas não quisessem dizer, como se concordassem com aquelas criminosos que espancaram um morador há dois anos, como se todos fossem cúmplices e quisessem ver longe daquela cidade pessoas como ele, e como Daniel. Talvez fosse paranóia, não tinha como saber, mas Daniel parou de perguntar e procurou sozinho, seguiu sozinho, se sentindo completamente sozinho naquela cidade intolerante. Precisava ir embora dali o quanto antes, seus pais já conheciam Júlio, agora podiam voltar para Florianópolis e seguirem suas vidas com liberdade. Sim, sim, assim que o encontra-lo conversaria com ele sobre isso. O sol se punha e a escuridão mergulhava aquela cidade num clima frio e inóspito. Arfando, parou de correr por um instante, desesperado, nem sinal ainda do seu namorado, não queria nem pensar no que poderiam ter feito a ele, não queria nem se deixar levar por essa possibilidade. Júlio tinha que estar bem, seu moleque não podia estar correndo perigo, ele não se perdoaria por isso, não, nunca. Um poste se iluminou sobre sua cabeça pouco antes de ele voltar a correr.

André, por sua vez, pensava exatamente as mesmas coisas quando corria por uma estrada pouco conhecida que levava a uma região rural da cidade onde se plantações de alface e milho se espalhavam aqui e ali, aquele caminho ele sempre evitava, desde a última que estivera ali há dois anos havia perdido completamente a coragem de andar novamente por aquela estrada sem iluminação pública e cheia de árvores altas da mata fechada. A última vez que estivera ali, quando havia vencido pela primeira vez um pequeno campeonato de surfe, viera para a cidade comemorar com seus amigos e eles explicaram que tinham o jeito perfeito de comemorar, disseram que havia um morador novo por aqui – "uma bicha nova na cidade", as palavras de Maicon – e que era uma bichinha e que merecia uma lição e que antes de André chegar eles já vinham tramando contra ele, Maicon já tinha se aproximado dele, puxado uma simpática conversa no corredor do pequeno mercado da cidade, contava histórias engraçadas para cativa-lo, sorria de um jeito bonito para conquistar sua confiança, levantou a camisa e mostrou a tatuagem que tinha no peito sob a desculpa de que estava pensando em tira-la só para ouvir o cara dizer – não tira não, está bonita em você – e por dentro ele se corroia de raiva enquanto que por fora agradecia o elogio e depois de alguns dias e mais alguns encontros casuais convidou o cara para encontra-lo aqui mesmo nessa estrada, viriam de carro porque Maicon não podia recebe-lo em sua própria casa sob a desculpa de que nessa cidade todo mundo fica de olho na vida dos outros e o carinha inocente aceitou e veio com ele para cá e desceram do carro e Maicon o prensou contra o seu corpo do lado de fora, o rapaz gemendo imaginando que iria transar recostou a cabeça na lataria do carro e não viu os amigos de Maicon saindo da mata, inclusive André, André que sabia que iriam dar um susto nele, ensinar uma lição na bicha, no viado, mas não sabia que seria assim, não sabia que Hugo iria lhe acertar um soco, Giovani um chute na boca do estomago e Maicon iria enforca-lo com o seu grande braço a ponto de deixa-lo semi-consciente, e que depois de jogado no chão iriam bater, espancar o cara, e diziam para André fazer também, bater também, e ele não queria, não era assim que ele imaginava aquela brincadeira, mas não teve forças para negar, era um covarde naquela época, Daniel tinha razão, era um covarde naquela época e bateu também, um chute só, nada perto do que aqueles três fizeram, mas aquele chute voltaria tantas vezes depois para assombra-lo, a culpa lhe perseguindo como uma serpente, e Maicon puxou a calça da bicha desmaiada, a cueca, e iria subir no cara e mostrar para ele porque homem não deve ficar com homem, iria ensina-lo a ser macho na marra e tirou o próprio pau da calça já duro, excitado com aquela violência e iria iria estupra-lo quando uma luz de farol vinha se aproximando e ele gritou corre e os tres correram dali, André para o meio da mata correu numa direção diferente dos outros, correu sozinho, achando que aquele farol ainda o estava perseguindo, estava cada vez mais próximo, assim como a luz da lua parecia persegui-lo, lembrando da barbaridade que ele estava ajudando a fazer. Correu sem fim naquela noite infindável e no dia seguinte foi embora da cidade, não tendo coragem de ficar por lá por algum tempo, sem ter visto Maicon ter sido preso pelo que fez. A culpa, mesmo tão longe do local do crime, ainda o perseguia. Mesmo hoje, anos depois, ainda o perseguia. Não suportaria se tudo acontecesse outra vez, precisava evitar que aquela cena se repetisse, Júlio com aquele rosto bonito de moleque não podia passar por tudo aquilo. Assim que anoiteceu, a lua surgiu enquanto ele corria para o mesmo lugar de antes, e estava cheia, exatamente do mesmo jeito que estava da outra vez, dois anos antes.

E arfante, viu o carro de Maicon estacionado na beira da estrada, exatamente no mesmo ponto da primeira vez e o filme dentro da cabeça de André se repetindo, mas agora Maicon estava mais esperto, não iria cometer suas barbaridades ali no meio da rua, não seria preso outra vez, e felizmente André viu as marcas de pisadas no chão para dentro da mata, parecia que algumas pessoas estavam arrastando alguém e quando ele acompanhou aquela trilha não demorou para encontrar seus amigos numa clareira da floresta, Hugo e Giovani, rindo, gargalhando, os babacas se divertindo as custas do sofrimento como sempre fizeram as pessoas estragadas, as pessoas quebradas, as pessoas incapazes de chegar por inteiro em outro alguém. E entre eles, o motivos das risadas causou um espasmo sufocante no corpo de André, Júlio estava amarrado a uma árvore de tronco grosso, varias voltas de corda deixavam seu corpo com marcas vermelhas mostrando o quão apertados aqueles nós estavam, e o rapaz nu, com a bunda exposta por entre as cordas, não sabia se inchada por causa das cordas ou era daquele grande tamanho normalmente, chorando Júlio implorava para que o soltassem, para que o deixassem ir, mas os rapazes riam e seguravam com brutalidade seu rosto para dizer que não o soltariam de forma nenhuma, que acabariam com ele aquela noite, que ele nunca mais ia desejar uma pica depois do que iam fazer com ele embaixo daquela lua cheia. André notou que Maicon não estava por ali, talvez ainda estivesse no carro se preparando para vir, se havia uma hora para tentar tirar o namorado do seu irmão dali seria agora, e ele não precisou tomar coragem para enfrentar aqueles dois, de alguma forma essa coragem vinha se acumulando no seu peito por todo esse tempo, desde a época em que foi covarde e ajudou a espancar aquele cara ele vinha tentando mudar aquele dia, ter força o suficiente para dizer não e enfrentar os amigos, como fizera hoje mais cedo, como faria agora quando saiu da clareira e com a força de um animal saltou sobre Giovani e se embolou com ele pelas folhas secas do chão, pegando-o desprevenido e parando com o corpo acima do dele e socos na sua cara, toda a fúria de dois anos na força daqueles socos, Júlio parou de chorar, tentava ver o que acontecia mas não conseguia por causa das cordas, só sabia que era André que estava ali porque Hugo muito assustado falou o nome dele, e Júlio entendeu de vez que aquele cara não era homofóbico como Daniel dissera, ele não parecia ter ódio quando falaram um com o outro pela primeira vez naquela manhã, só um pouco de confusão, desnorteamento, e pensando nisso viu Hugo indo na direção da briga para tentar ajudar o amigo que já nem reagia aos golpes, e André saiu de cima de Giovani e recomeçou a golpear, dessa vez Hugo e mesmo assim ele parecia cansado, era alimentado por uma força de justiça maior que ele mesmo, maior que a força nos seus braços, que a raiva no seu peito, uma força que o impulsionava a tirar Júlio dali a qualquer preço e Hugo tentou vence-lo assim como foi na briga da academia, mas agora parecia um outro André que o venceu facilmente e o derrubou e cuspiu no seu rosto esbravejando com o dedo na sua cara: "Tu não aprende, caralho! Não entende a merda que vocês tão fazendo?! Amarrar gente assim prova o quê? Prova o que, porra!", e passos se aproximavam pela mata, lentos, provavelmente não ouviram a gritaria, e André se levantou pronto para recomeçar mais uma brigas, continua assim pelo rosto da noite se precisasse, batendo, defendendo Júlio, impedindo que qualquer um tocasse nele, continuaria assim se o próprio Júlio não tivesse pedido para ele "Me tira daqui, vamos embora, por favor" e a sua voz fez com que voltasse uma racionalidade no surfista, que respirava arfante e abaixou os punhos ao ouvir a sua voz, ele estava certo, precisava tira-lo dali, foi até ele, tentou desatar os nós sem sucesso.

– Você está bem? – perguntou nas suas costas, o corpo de Júlio assim pertinho do seu, nu, sem pelos, reluzindo ao luar.

– Eles ainda não fizeram nada comigo. Só me desamarra, André, por favor.

E o primeiro nó a ser desamarrado, aquele que precisava ser desatado para que os outros começassem a ser também ficava na parte de baixo, no inicio das curvas de sua bunda e André foi hábil em começar por ali, sua mão resvalando mesmo sem intenção nas nádegas de Júlio, os dedos de leve sentindo a maciez do corpo dele, na fria noite um calor do corpo a corpo porque precisavam estar muito próximos para que pudesse enxergar os nós e desfaze-los e André ficou de joelhos diante daquela bunda, o rosto de frente para o nó e para o corpo de Júlio, que cheirava de modo adocicado daquele que nós sentimos como um perfume o suor da pessoa por quem estamos atraídos, e se não estivessem naquela situação, se não houvessem os passos se aproximando, se não fossem quem eram, talvez André beijasse aquela bunda, talvez lambesse aquele suor cheiroso, enfiasse um dedo naquele rego lindo e só pararia para enfiar o próprio pau, agora duro com a imagem que a sua cabeça imaginou, duro por aquele moleque mais uma vez, o que estava acontecendo com ele? O nó se foi. Levantou-se, os outros nós eram mais fáceis, ao desatá-los foi só desenrolar a corda e Júlio estava livre mais uma vez. André procurou pelas roupas do moleque naquela clareira mas não havia nenhuma, talvez fosse para se livrar delas que Maicon havia saído, precisava encobrir todas as provas, não seria preso outra vez, mas já estava voltando, com certeza eram dele os passos que vinham vinham vinham quase chegando. E ao André olhar mais uma vez para Júlio, notou que sangue escorria da sua perna até o chão, um filete, não era um corte muito profundo, bem na coxa, provavelmente causado pelo tronco áspero da árvore.

– Você consegue andar?

– Acho que sim – Júlio respondeu, mas já nos primeiros passos mancou e isso só serviu para causar mais dor por aquele corte. E os passos se aproximando, não tinham tempo, quando Maicon chegasse talvez estivesse armado, não deixaria sua vitima viva dessa vez, não deixaria testemunhas, não seria preso mais uma vez. Para cavar uma cova foi que ele saiu da clareira, mas já estava voltando, e André sentia o perigo, falou para Júlio:

– Vem cá.

E o pegou no colo, como se pega uma noiva e a leva para a lua de mel, pegou o rapaz nu nos seus braços e levou dali sumindo com ele por entre as árvores bem no momento em que Maicon chegou e viu seus amigos jogados no chão, foi em cima de Hugo e o chacoalhou para que acordasse e perguntou o que havia acontecido e Hugo respondeu com apenas uma palavra, que saiu ferida dos seus lábios inchados: André. Mas foi o bastante para que Maicon se levantasse mais uma vez, deixasse seus amigos para trás e voltasse para o seu carro, André não podia ter chegado em casa ainda, ele precisaria por aquela estrada para voltar para a cidade, e Maicon estaria ali esperando-o. Não restariam testemunhas.

Mas não era esse caminho que André tomara, pelo contrário, ele não seguia na direção da estrada, mas sim na direção do seu esconderijo, que ficava ainda mais para dentro nas entranhas da floresta, e as gotas de sangue que caíam do corte na coxa de Júlio cessaram quando dois dedos de André pressionaram a ferida enquanto ele seguia com o rapaz nos seus braços, as coxas do rapaz contra o seu braço direito, as costas no seu braço esquerdo, e ele tremia um pouco de frio por estar ali sem roupa naquele sereno, e para confortá-lo André falou, calma, já estamos chegando, ele não vai nos encontrar. E Júlio sussurrou que precisava falar com Daniel, no que André respondeu que não tinha como falar com ele agora, estava sem o celular, e se voltassem para casa naquele momento Maicon com certeza os encurralaria, mas assim que voltassem poderia falar com Daniel, dizer que tudo acabou bem no fim das contas. E Júlio viu quando passaram pela cerca de não ultrapasse, e o quanto André tomava cuidado para que sua cabeça não batesse nos galhos rasteiros, e o quanto os músculos dos braços do irmão do seu namorado estavam sendo exigidos para carregá-lo, e ele nem arfava mesmo que Júlio com certeza estivesse sendo pesado, e aqueles músculos circulares e volumosos pareciam aceitar de bom grado a tarefa de carregar o rapaz nu, fazendo Júlio relembrar que André era um atleta, sempre esquecia disso, o irmão de Daniel era um atleta e mesmo quando os dois estavam brigados Daniel pagava à tv a cabo separadamente para ver as competições de surfe em que André concorria e torcia por ele, podia não ser em voz alta, orgulhoso, que era, mas Júlio sabia que Daniel estava torcendo pelo irmão, acreditava no talento do irmão.

Quando chegaram finalmente no local em que André gostava de se esconder, aquele esconderijo próximo ao penhasco da cidade, ele cuidadosamente repousou o rapaz no chão, tirou a própria camiseta e pediu para que Júlio levantasse os braços para que ele pudesse vesti-la no moleque, e quando a pos, por André ser maior, a camiseta cobriu o corpo do rapaz até quase metade das coxas, o que André que seria uma tentativa de fugir da tentação que aquele garoto era, mas que não adiantou porque assim ele parecia ainda mais irresistível que quando estava nu, assim, sabendo que por baixo daquele fino tecido estava aquela linda bunda, ali, livre, recebendo a brisa por baixo da lusa, isso só deixava seu pau babando mais, e ele pensava se eu passar uma noite com esse rapaz, se eu dormir com ele, se eu transar com ele, se eu foder ele durante uma noite inteira, depois eu pediria para ele vestir uma camisa minha e ficar com ela o dia todo, para que eu lembrasse que agora ele era meu, me pertencia e podia usar minhas roupas, e só eu podia tira-las na hora em que eu quisesse come-lo outra vez, mas esse pensamento era doido e ele precisava se segurar, milhões de razões para se segurar: ser hétero, seu irmão, tudo o que passaram nesse dia, etc; e só uma para seguir em frente: o tesão que era aquele skatista.

Sem camisa, André se abaixou junto com Júlio e falou que precisava cuidar daquele corte, arrancou um pedaço da própria bermuda, e o usou de atadura, pressionando o ferimento.

– Agora você vai ficar bem – falou, olhando nos olhos de Júlio, segurando ainda a sua coxa.

Alguns segundos de silêncio. O entreolhar que não se quebrava nunca. Júlio sussurrou:

– Obrigado.

Soltou-o, antes que seu pau conseguisse desatar a cola da bermuda e saísse dali de tão latejante que estava. Deviam ser uma nove da noite no máximo.

– Quando você acha que podemos voltar para sua casa?

– Ao amanhecer seria o melhor – André respondeu de cabeça baixa, pensando que Júlio podia interpretar da maneira errada o que ele estava dizendo, como se André estivesse armando para que os dois passassem a noite toda ali, mas não era por isso, ele queria também convencer a si mesmo que não era por isso, era por causa do Maicon, só por causa do Maicon que ele estava dizendo para irem embora somente no dia seguinte.

Um sem calças, outro sem camisa, partes dos corpos estavam nuas, Júlio podia disfarçar muito bem, mas os olhos de André também viam que as vezes ele parava de olhar para as estrelas além do penhasco e de canto de olho fitava o seu peitoral, os gomos da sua barriga, as curvas do seu braço. André via porque ele nem conseguia tirar os olhos de Júlio. André ajeitou o cabelo por sob a orelha. Gostava de pensar que estavam num joguinho de sedução, mesmo que soubesse que não estavam, que Júlio namorava o seu irmão e parecia muito feliz com isso.

– Você quer conversar para passar o tempo? – Júlio perguntou.

– Sobre o quê você quer conversar?

– Sei lá, pode ser sobre surfe. Como você chegou a ser um surfista tão reconhecido se nasceu nessa cidade sem mar?

E a conversa começou daí para seguir os mais loucos rumos, porque André que sempre foi calado e meio misterioso se abria com tanta felicidade para aquele moleque que parecia ser quase um espelho dele mesmo, alguém para quem podia falar tudo que quisesse sem medo, e falou sobre sua paixão pelo mar, sobre como aconteceu aquela briga com o seu irmão (deixando claro que naquela época ele era intolerante a esse ponto, mas que nos últimos dias isso vinha mudando completamente), como seu namoro com Mariana estava sendo empurrado pela barriga há meses e como acabou ficando amigo daqueles caras que estavam ali na clareira agora há pouco; por sua vez, Júlio contou da sua vida, da sua paixão por fotografia, de ter nascido em Curitiba mas ter se mudado para fazer a faculdade em Florianópolis, que foi onde conheceu Daniel, não na faculdade, mas num parque da cidade enquanto Júlio andava de skate e Daniel passava com alguns amigos e eles se viram pela primeira vez e meio que souberam que não eram só duas pessoas se vendo, e que Daniel se afastou dos amigos e se sentou ali perto da pista de skate e Júlio foi até lá e conversaram trocaram contato e não pararam mais, Júlio também que vinha de uma família intolerante como aqueles caras que o amarraram, talvez não a esse ponto, mas era uma família que não aprovava o seu jeito de ser e essa era uma das razoes de ter ido fazer faculdade fora da cidade natal, assim como Daniel, ele aprendeu a seguir sua vida por conta própria.

Depois falaram sobre coisas menos sérias, gostos pessoais, histórias engraçadas que viveram, loucuras que já fizeram, e riam alto, gargalhavam como quem gargalha só para um amigo intimo, e já era madrugada enquanto a conversa só crescia, até chegar um ponto de Júlio dizer que estava com muito sono mas não conseguia dormir.

– Talvez seja o frio ou o sereno – André opinou. – Vem cá.

Puxou o corpo de Júlio para perto do seu, os dois sentados de frente para o penhasco, seu braço direito contornou as costas de Júlio, afagou com carinho sua pele para aquecê-la. Deitaram-se nessa posição, Júlio amparado no seu ombro, a mão resvalando pelo tórax de André que só mexia de leve os dedos para acalmá-lo enquanto o moleque pegava no sono.

– Acho que assim você vai conseguir dormir, e amanhã também vai ser um dia muito cansativo...

Júlio já não respondeu, começava a dormir, mas André não conseguiria, havia dormido a tarde toda, e também sentia uma força estranha que o fazia querer aproveitar ao máximo aquele momento, Júlio assim aninhado no seu corpo, ronronando como um gato bem perto do seu ouvido. E André olhando para o céu, para a lua cheia estampada lá em cima, como se tivesse sido costurada a mão no tecido da noite.

Júlio dormiu tranquilamente pelas horas seguintes. Mas até o momento em que o sol nasceu, André continuou de olhos abertos, pensando.

E na manhã seguinte, quando o céu tornava-se amarelo mais uma vez, e os olhos de Júlio se abriu com a claridade ele deu um bom dia meio sonolento ainda e tocou se querer com mais intimidade no peito de André para se levantar, o mamilo sob seus dedos. André olhou para ele e sorriu um bom dia em resposta.

– Escuta, você não acha que vai ser estranho quando nós chegarmos com essas roupas na cidade? – Júlio comentou, sentado no chão e olhando para André, que ainda estava deitado.

– Com certeza eles só vão entender depois que a gente explicar a história toda – um segundo de silêncio e André mudou de assunto: – Escuta Júlio, depois do que aconteceu ontem a noite, você e Daniel, vão embora, não é? com certeza ele não vai querer ficar aqui...

Júlio refletiu sobre aquilo por alguns instantes. – Acho que você tem razão. Aliás, você também deveria ir embora daqui, não seria uma boa idéia continuar nessa cidade depois da surra que você deu naqueles dois.

André pensou nisso durante a noite, provavelmente não voltaria mais para cá, provavelmente não veria muito Daniel e Júlio quando voltasse para Florianópolis, suas vidas seguiriam caminhos diferentes quando os três fossem embora. E também durante a noite, pensando, chegou a conclusão de que tinha que faze alguma coisa antes desse momento de separação, tinha que por um fim as suas duvidas. E foi por isso que quando Júlio ia se levantar André não deixou, sua mão contornou a cintura do rapaz, André se levantou mais depressa, ficou de frente de frente para ele e os dois caíram deitados outra vez, André em cima do rapaz, sua mão esquerda no rosto de Júlio que ficava ainda mais bonito sob a luz daquele céu amarelo, sua mão direita segurando firme a coxa do moleque, descendo por ela, entrando pela parte de baixo da camisa.

Queria explicar para ele porque estava fazendo aquilo, queria contar sobre o desejo estranho que sentia desde que vira Júlio pela primeira vez, queria dizer que ele era a causa da mudança na mentalidade de André sobre o os gays, um monte de coisas queria dizer, mas olhando assim para o rosto de Júlio abaixo do seu, o corpo de Júlio protegido pelo seu, as palavras não saíram dos lábios, somente um beijo saiu, e foi na direção da boca daquele moleque, um longo beijo profundo, e sua mão chegou na bunda de Júlio, aquela bunda linda, macia, tão macia quando os lábios que agora ele beijava com tanta vontade quanto nunca sentiu ao beijar Mariana ou qualquer outra garota. E no susto ou guiado pelo tesão que inegavelmente Júlio também sentia por André, foi que ele retribuiu ao beijo e ao toque do campeão e surfe, e o peitoral de André caiu sobre o seu corpo junto ao momento do beijo que estava se tornando um momento muito muito longo porque não conseguiam se desprender e a camisa no corpo de Júlio já estava erguida e sua bunda a mostra enquanto a mão macia e experiente de André explorava-a com vontade e já criava seu caminho pelo rego fechado buscando pelo cuzinho e duraria mais aquele momento, se tornaria uma transa épica e eterna se a racionalidade não tivesse vindo num lampejo na cabeça de Júlio e ele não empurrasse André pelos ombros, tirando-o de cima dele.

– Não. Não posso. Não posso fazer isso cara – abaixou a camisa, tentando se tampar, mas isso não escondeu o volume do seu pau duro por baixo da camisa.

André, que não perdera o ar naquela briga, não perdera o ar por carrega-los nos braços até aqui, agora havia perdido naquele beijo e estava respirando sofregamente, nunca dera um beijo tão bom o que o deixou desnorteado por algum tempo, mas depois ele respondeu:

– Eu sei, eu sei. Me desculpa. Eu só... não sei o que estava pensando...

Os dois estavam tão visivelmente excitados que tentar fingir que nada aconteceu foi tão ingênuo e inútil que nem valia a pena comentar, mas eles tentaram, levantaram-se, tiraram a poeira da roupa, falaram que estava na hora de voltar, que nada daquilo sairia dali, foi um deslize, um beijo que não iria se repetir, esqueceriam dele, e falavam que estava mesmo na hora de voltar, e saíram daquele esconderijo falando o mínimo possível, com um clima estranho entre os dois porque nenhum deles imaginava que gostaria tanto daquele beijo.

O carro de Maicon já não estava na estrada. Passaram pela cidade ainda sem ninguém pelas ruas por ser muito cedo, e chegaram em casa onde Daniel e o restante da família estavam muito preocupados na sala de estar. E Daniel os viu chegando e correu até lá e abraçou o seu namorado, abraçou com toda força o seu moleque somente agradecendo por ele estar bem, deixaria para depois as perguntas sobre o que aconteceu e porque estavam vestidos daquele jeito, naquele momento só respirou o cheiro do pescoço de Júlio e agradeceu por ele está bem enquanto André, que não recebeu o abraço de ninguém, olhava para Júlio com a cabeça no ombro de Daniel, e Júlio olhava para ele até o momento em que fechou os olhos e se entregou também ao abraço do namorado.

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Comentários

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Eu acho que o André so tem tesão nele pq foi o primeiro gay q ele teve contato. Sei la. E o maicon ainda vai fazer merda

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Digo e repito se eles trairem o Daniel vai ser muita sacanagem.

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