Quem me leva os meus fantasmas?

Um conto erótico de Nando Mota
Categoria: Homossexual
Contém 2235 palavras
Data: 07/02/2015 02:44:44
Última revisão: 12/02/2015 02:17:53

Finalmente a pequena casa havia ficado arrumada. Olhando tudo após colocar as últimas dobradiças para reforçar as portas da frente da casa e do quintal, fui até a pequena cozinha beber um pouco de água. O gelágua ainda não esfriara a mesma ao ponto que gostava de beber e deixei o copo em cima da bancada da cozinha.

Esse não era o meu mundo e o lugar onde vivera os últimos oito anos, também. Nunca pensei em chegar tão longe, até o dia que o longe se tornou uma realidade em minha vida. As lembrança de um quase passado cheio de felicidade me assomou de repente e dei um pequeno sorriso enquanto andava pela casa...

O ANTES...

CONHECENDO O AMOR PLENO

Naquela segunda-feira acordei pontualmente às 05:20 h de uma manhã fria e escura, o tempo nublara de um jeito que mamãe ao me chamar teve que acender a luz do quarto pequeno que dividia com meus quatro irmãos menores. Éramos em oito, cinco meninos e três meninas, mamãe estava viúva há dez anos e todos em nossa casa, pelos menos os mais velhos, tínhamos que trabalhar pra poder ajudar nas despesas que não eram poucas. Os que não trabalhavam, estudavam em escolas públicas de tempo integral pois até minha mãe ainda trabalhava.

_ Olá meu amor... Bom dia pra você e feliz aniversário.

Ela timidamente me beijou o rosto, sorriu e me passou um embrulho feito com papel já usado, mais isso em nada diminuiu o meu sorriso em pegar aquele pacote e praticamente rasgar o papel que continha desenhos de balões em todas as cores e ver o que tinha ganho... Um tênis novinho em cor azul escuro. Não acreditei no que tinha nas mãos e a emoção foi muito grande...

_ Um tênis da Nike, mãe. Deve ter sido muito caro. Quase quebrei os ossos de minha mãe ao abraça-la ainda sentado na cama.

_ Fico feliz que tenha gostado. Tinha falado com a D. Graça pra comprar no final do mês passado no cartão dela. Quando eu falei pra quem era, ela fez questão de me ajudar a escolher e sabe o que é melhor? Não vou pagar e nem ela vai descontar... Ela me disse que você é um filho de ouro e que ficaria muito satisfeita em poder lhe presentear.

Aí ela que estava com uma das mãos pra trás, estendeu e me entregou outro embrulho... Uma calça jeans e uma camiseta, novinhos e cheirando a loja, estavam enrolados para presentes também.

_ Mãe, eu... Eu não aguentei e chorei com tudo aquilo.

_ Ah, meu amor... Assim não vale. Você tem só que sorrir e ser feliz. Eu queria era poder dar mais, muito mais... E começou a chorar abraçada comigo. Só a gente sabia o quanto que era difícil seguir em frente. E o velho fantasma do medo que senti em minha volta logo após a morte do meu pai, voltou rapidamente ao meu pensamento... Procurei afastar tal lembrança...

Eu não sei como e nem quando, só sei que prometi a mim mesmo que um dia ia recompensar a minha mãe por tudo o que ela fazia por mim e pelos manos também.

Estava completando 19 anos de idade, era um cara alto e forte. Todo mundo dizia que eu era a simpatria encarnada em mim mesmo, tinha 1, 72 m de altura e uma musculatura invejada por quase todos os garotos do bairro e amigos do trabalho. Um sinal em forma de folha ocupava o meu ombro direito, tinha os cabelos longos e encaracolados, um sorriso bonito, olhos verdes claros, por ser ruivo minha pele era branca e cheia de pintas e os amigos me chamavam de Pintado, mas o nome de batismo era Jonas Silva Brasil.

Passada a emoção inicial, levantei e fui tomar banho, pois o ônibus saía pontualmente da garagem e eu pegava duas conduções até o trabalho na fábrica de móveis.

Assim que entrei na fábrica de móveis por volta das 08:00 h daquela manhã chuvosa, alguns amigos vieram me cumprimentar e por alguns instantes o trabalho foi esquecido. Em seguida o Gerente do lugar, Sr. Paulino veio colocar ordem na zorra que faziam comigo e o trabalho começou...

Eu já estava tão acostumado a minha rotina trabalhista e a minha rotina de vida que chegava a não me importar com o passar dos dias. Ansiava pelos finais de semana.

Largava o trabalho pontualmente às 16:00 h e após tomar banho na fábrica mesmo, trocava a farda pela roupa da chegada e voava pro colégio, que ficava mais ou menos perto de casa... Isso quer dizer que pegava de volta os mesmos dois ônibus pra poder chegar no horário e assim ia seguindo em frente.

As vezes estava tão cansado que mal conseguia ficar com os olhos abertos durante as aulas... Química e Física não entravam de jeito nenhum na cabeça e sempre na época das provas, sacrificava meus finais de semana em cima do meu beliche, ou estudando com amigos.

Já havia namorado algumas meninas no bairro, só que até agora o amor, o cuidar, o querer ter, a coisa da posse, nada disso acontecera... Só que a gente é traído pela própria vida e foi na volta da escola quando já fazia o último ano, por volta das 22:25 h de uma noite bem quente na cidade que conheci o Cabo da PM Guedes.

O ônibus estava com quase todas as cadeiras ocupadas, apesar do horário. Faltava ainda uns vinte minutos de viagem pra mim, quando vejo a porta da frente abrir e um policial fardado entrar e vir pelo corredor, depois de falar boa noite ao motorista.

O Militar teria apenas duas opções, ou sentaria junto de uma senhora que fazia de conta que estava dormindo, ela sempre fazia isso para que as pessoas não sentassem perto dela, ou sentaria ao meu lado, só que do outro lado do corredor do ônibus.

Assim que ele sentou, me fez uma espécie de aceno com a cabeça e deu um leve sorriso. Retribuí o cumprimento e sem querer deixei um dos dois livros que levava cair. Ele me ajudou a pegar o tal livro e a gente trocou um primeiro leve toque.

Eletricidade pura começou a passar pela minha mão até chegar no meu pensamento. Ele ainda segurou por eternos três segundos a ponta dos meus dedos da mãos direita e disse:

_ Acho que é seu... E dessa vez, sustentou o meu olhar que por outros cinco segundos não desviou dos sues. Juro que vi a pupila do seu olhos dilatar levemente e um belo riso veio a meus lábios...

_ Na verdade é do Governo estadual, tenho que devolver no final do ano.

_ Nesse caso, o cuidado deve ser redobrado.

_ Prometo que vou tentar.

Depois disso eu olhei pra frente e apesar de querer vê-lo novamente, o fantasma do medo, sempre ele, me fez ficar olhando só pra frente até eu descer na minha parada... Eu tava super confuso com o que estava acontecendo comig nos últimos meses e dar de cara logo com um PM era um pouco demais...

Só depois que estava na calçada e o ônibus deu partida eu vi que ele me procurava na calçada e ao me ver olhando novamente pra ele, acenou pra mim tocando a ponta dos dedos na cabeça, como se fizesse uma continência e sorriu.

Duas semanas foi o tempo que demorou até poder vê-lo novamente na volta da escola. Ele dessa vez estava ao lado do motorista por conta da lotação do ônibus e infelizmente ainda não me vira. Eu também não o vira. Voltava com um amigo raramente vinha de ônibus e que descia duas paradas antes da minha e assim que ele levantou pra descer, eu tive que levantar pra poder deixar ele passar e o PM virou para o corredor ao mesmo tempo e quando o vi, ele já sorria demonstrando não sei se felicidade, prazer, gosto... Só sei que o cara tava contente em me ver, sei disso porque seus olhos pretos brilhavam e tive mais certeza ainda quando ele fez o mesmo aceno da última vez, seus dedos tocaram a ponta da cabeça...

Quando me aproximei da porta de saída e toquei o sinal, ele me olhou e disse:

_ Parece que vamos juntos hoje.... A próxima é a minha também.

_ É o que parece... Só consegui dizer essas palavras idiotas.

Descemos e esperamos o ônibus voltar a manobrar. Ele então estendeu a mãos e disse:

_ Cabo Guedes. Prazer em te conhecer.

_ Jonas Brasil, só que os amigos me chamam...

_ Pintado, acertei?

Olhei pra ele com uma total surpresa estampada e declarada nos olhos...

_ Como você sabe meu apelido, Cabo Guedes?

_ Porque conhecemos alguém em comum e essa pessoa me disse que você é chamado de Pintado por conta das suas sardas... É isso.

_ E eu poderia saber o nome dessa pessoa que tem em comum a nossa amizade?

_ Meu irmão e seu professor de Física, Mario Guedes.

Eu acho que não disfarcei direito o fato de não gostar do irmão do Cabo pois mesmo perguntou:

_ Parece que não temos essa amizade em comum, né mesmo?

_ Desculpa cabo Guedes, não gosto do seu irmão... Não entenda mal, o cara pode até ser gente boa, só que a matéria que ele ensina é que é foda. Inclusive a gente brigou na última aula dele. Posso te perguntar como foi que você descobriu que eu era aluno dele? Ou que conhecia ele? Ou o que vocês falaram que meu apelido chegou a té você?

_ Tô vendo que você é bem desconfiado, né Pintado? Ele disse o meu apelido e foi rindo... Não retribuí o sorriso e ele parou.

_ Foi simples Jonas... Você ta com a blusa do Colégio. Eu sei que ele ensina Física nesse colégio, daí quando seu livro caiu, era justamente o livro de física... Cheguei em casa e ele logo depois de mim. Comentei que tinha visto um garoto com as suas características e ele na hora me disse seu nome e apelido. Esclareci a contento, senhor?

_ Desculpa, é que sou assim mesmo. Então boa noite e até qualquer dia...

_ Pode ser amanhã esse dia?

Pela primeira vez na vida, fiquei sem dar resposta a uma pergunta simples que me fizeram... Ele então disse:

_ Não vou esconder que achei você um garoto muito legal. A gente pode ser amigo, né?

_ Claro... E nossos olhos se encontraram, só que amigo não olha pro outro do jeito que ele me olhou e foi retribuído... Havia algo escondido por trás de nossas iris, pupilas, retinas, escolham o nome... havia algo ali, e isso fez com que meu coração acelerasse tal um carro de formula um.

_ Quer meu numero? E tirou de um dos bolsos da calça da farda um celular...

_ Eu não tenho celular ou mesmo telefone... Se você quiser, pode me deixar em casa, aí você conhece o lugar e decide se quer voltar ou não... Vamos?

Guedes seguiu a meu lado falando sobre um monte de coisa. Os dez minutos a pé que me separavam da parada até chegar em casa, parece que voaram e quando menos esperei estava diante do portão da pequena vila de casas em que morava. Ele entrou comigo e me acompanhou até a quarta casa do lado direito da vila...

_ É aqui que eu moro... Ele desviou o olhar e viu a frente da pequena casa.

_ Nesse caso, passo aqui amanhã pra que a gente possa conversar melhor, o que você acha?

_ Nos finais de semana sempre estudo. A culpa, devo dizer, é do seu irmão que não me dá uma trégua. Não consigo assimilar o que ele diz. Física é foda mesmo...

_ E que tal praia no domingo? Passo aqui e te pego.

_ Pode ser. Qual a praia que você costuma ir?

_ Qualquer uma... Pode ser no Pecém?

_ É muito longe...

Uma lâmpada foi acesa na sala de casa e ouvi quando minha mãe perguntou:

_ É você, Jonas?

_ Sou eu mesmo mãe... Já vou entrar. E olhando pro Cabo... Tenho que ir, a gente combina um outro dia, beleza?

_ Tudo bem... Não vou desistir... Beleza? E sorriu.

_ Ok. Retribuí o sorriso e aós vê-lo sair da vila, entrei em casa...

O sono não veio rápido e no dia seguinte acordei com uma sensação de vazio... E foi aí que soube o que era sentir falta de alguém...

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MEUS QUERIDOS AMIGOS...

PENSEI QUE NÃO CONSEGUIRIA ARRANJAR UM TEMPINHO PRA VOLTAR AQUI E PODER SABER DE VOCÊS... SAUDADE É UM TROÇO ESQUISITO QUE CHEGA A DOER. MEUS DIAS ESTÃO SOBRECARREGADOS E DEI GRAÇAS A DEUS QUANDO O FINAL DE SEMANA SE FEZ VERDADE EM MINHA VIDA...

VOLTAR E TER A COMPANHIA DE CADA UM DE VOCÊS É SUPER GRATIFICANTE... SE A TURMA DOS REINOS TINHA THUNDRA PRA RECARREGAR AS ENERGIAS, TENHO VOCÊS PRA VOLTAR A ME SENTIR VIVO.

DESSA VEZ OS MEDOS DO PROTAGONISTA DARÃO O TOM DA HISTÓRIA... MEDOS QUE QUALQUER UM DE NÓS JÁ SENTIU, SENTE OU TALVEZ SENTIRÁ AO LONGO DA JORNADA... A VIDA É ASSIM CHEIA DE MISTÉRIOS E SEGREDOS, MAS TAMBÉM CHEIA DE ESCOLHAS E REALIZAÇÕES...

" Não viemos pra vida atrás de problemas e sim de soluções..." Nando Mota.

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Comentários

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Saudades de vc também Nando! Muito bom esse início

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Que legal! Voltaste! Acho muito interessante estes contos com flashback, ainda mais quando envolve, mesmo que indiretamente, escola. Entendo o ponto de vista do Pintado, mas, sinceramente, como licenciado em Ciências Exatas, não acho a Física tão difícil. O que acontece, na maioria das vezes, é o professor complicar mais que necessário. Um beijo carinhoso,

Plutão

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Que maravilha mais um conto perfeito e o fim da saudade que estava sentindo. Espero que Jonas enfrente seus medos e alcance seus objetivos. um abraço querido.

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Oi meu amigo lindo, muito bom entrar aqui e encontrar um novo conto seu, assim como você sente saudades, nós também sentimos. Escutei uma frase que carrego hoje para vida:"a coragem não é a ausência do medo e sim a capacidade de enfrenta-los. Espero que Jonas saiba enfrentar seus medos e tenha está coragem. Bjos lindão e um super fim de semana!

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Achei que continuaria com a história de Marcos e Jorge... mas já valeu você ter voltado. ;)

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Boa tarde meu querido... Que felicidade encontra você aqui com mais essa história para todos nós. Saudades imensa de você. Jonas parece ser um rapaz de bom caráter e bom filho, espero que os caminhos de sua vida ñ sejam muito tortuosos. Bjos seu lindo, e seja bem vindo de volta rsrsrsrs.

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Medo, o medo...Como se livrar? Detesto quando ele me paralisa. Só de ler o primeiro capitulo já sinto que vou adorar. Nando querido, a saudade já estava enorme, que maravilhoso que voltou para nós. Beijos.

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Que bom que voltou Nando! Já estava com saudade de vc e de suas histórias... Já comecei gostando. Abração!

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Já to apaixonado pelo início e ancioso pela continuação.

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mais uma historia com um enredo fascinante .e que todos temos o amor e o medo !!! voce nos surpriendendo. a cada novo conto néh meu lindo anciosa pra ver onde essa historia vai nos levar .beijos e xeruh meu lindo

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Bom demais Nandão. Ansioso pelo próximo. Abraços.

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Jonas um rapaz que lindo que está descobrindo algo novo e maravilhoso e que têm uma mãe maravilhosa. Nando ansiosa para ler as novas descobertas deste ruivinho lindo, que a sua semana seja gratificante mesmo com toda a correria, estaremos sempre a postos para te ajudar a recarregar as suas energias como sua querida e amada praia. Um cheiro e um beijo da sua sempre Mama Rose

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