Anjo Bandido - FINAL

Um conto erótico de Alê12
Categoria: Homossexual
Contém 2104 palavras
Data: 09/02/2015 22:36:36

- Não custa tentar. Ei, olha pra mim. Eu amo você. E nunca vai está sozinho.

Eu saí da penitenciária com um aperto no coração. Eu estava pagando um preço caro, simplesmente por tentar ser feliz. Por não seguir padrões que tentaram impor sobre mim... Uma tristeza invadiu a minha alma, e eu andei até a praia para poder chorar. As minhas reflexões já não me levavam a lugar nenhum. Eu me questionei durante muito tempo, aliás, durante toda a minha vida, ao ponto de não achar que valia a pena viver. Onde está você felicidade? Andei, andei e andei até cansar os meus pés e me jogar exausto na areia. Minha cabeça doía e o meu coração palpitava. Desespero e tristeza se misturaram num único sentimento, tirando todas as minhas forças... Olhei para o céu e fiz uma oração íntima com o Pai celestial... Eu nunca fui de querer riquezas, apenas ser feliz! Acordar todos os dias com vontade de sorrir, e ter alguém ao meu lado, para me abraçar e me dar carinho. Respirei fundo, olhei para o horizonte, e voltei para casa do meu amigo.

- Onde você estava Gui? Ficamos preocupados com você? – disse a Vivi.

- Nossa, amigo! Você não está bem. – o Victor me abraçou.

- Eu quero morrer! Não quero mais fazer parte deste mundo tão cruel!

- Não diz isso Gui. Tudovai ficar bem.

- Como Vivi? Eu fui visitar o Enzo... Se soubesse o que fizeram com ele. E o João? Aquela criança chama pelo pai todas as noites. Era o Enzo quem o colocava pra dormir, era ele quem levava o filho à escola. E se o amor da minha vida ficar naquele lugar pra sempre?

- Xiiiii... Não fala isso! Hein! Cadê aquele cara forte e que não entrega os pontos? Eu e a Vivi estamos do seu lado. Nunca vai estar sozinho, pois seus amigos te amam e nós vamos tirar o Enzo da cadeia.

- A única esperança do Enzo, é o Arthur não o reconhecer como o seqüestrador. Mas o meu próprio irmão me odeia, e ele não vai querer ajudar. Eu conheço o Arthur.

- Não chora Gui. Se há esta esperança, abra o seu coração para o seu irmão. Eu acho que vocês se machucaram muito durante a vida de vocês. Este é o momento do perdão. E se você quiser fazer isto agora, eu descobri através da sua mãe, que ele já chegou de viagem. – disse a Vivi.

Eu vou tomar um banho, e vou direto ao apartamento do meu irmão. Seja o que Deus quiser.

Os meus amigos tentaram me reerguer e eu busquei força para encarar o Arthur e resolver a nossa questão de irmãos de uma vez. Tomei um banho frio, pus uma roupa qualquer e fui direto para casa dele. Ao chegar, senti um arrepio. Nunca tive esta sensação de medo, talvez por a situação ser tão delicada.

- Boa noite. Está sozinho?

- É você? Pensei que fosse a Michele voltando da casa da mãe dela.

- Como foi de viagem? – meu tom de voz era baixo e calmo.

- Muito bem. Obrigado! O que faz aqui?

- Bem, eu... Vim conversar com você.

- Eu já sei de tudo Guilherme. O papai me ligou e disse o que você aprontou. Se pensa que vou te defender o ajudar aquele marginal, está muito enganado. Amanhã mesmo, vou dar o meu depoimento na delegacia.

- Por que hein?

- Por que do quê? – ele franziu a testa.

- Este ódio de mim? Será que nunca sentiu nada por mim? Nenhum pingo de sentimento fraterno?

- O que é isso agora? Quer tentar me comprar com este choro melancólico?

- Não, Arthur. Eu só queria poder ter o meu irmão do meu lado, porque são pra isso que servem os irmãos... Para serem melhores amigos, parceiros, protetores... Mas você nunca, nunca cuidou de mim, me fez um carinho, me protegeu quando todos me falavam mal, me crucificavam... Você não estava do meu lado nos momentos em que mais precisei de você.

- Desde o dia em que você nasceu eu fiquei em segundo plano. Parecia que os meus pais não me amavam mais. Sempre foi bajulado, tinha as melhores festas de aniversários, e os brinquedos? – Eram os maiores, os melhores... Minha mãe apenas atribuía responsabilidades a mim, só porque eu era o mais velho; e enquanto a você... Podia comer doces, podia quebrar um objeto que nada acontecia. Antes de você vir ao mundo, era eu quem tinha todos os privilégios. Eu era o orgulho do meu pai...

Eu fiquei chocado com a revelação dele. O meu irmão sempre teve inveja de mim.

- Mas você ainda é o motivo de orgulho dele.

- Porque você o decepcionou. No dia em que revelou para toda a família que era gay, somente depois deste dia, que o meu pai voltou a olhar para mim. Porque você se tornou a ovelha negra, um peso...

As palavras dele me atingiram profundamente...

- Eu não sabia que me odiava tanto. Eu vim até aqui te suplicar para que não diga ao delegado que o Enzo estava envolvido no seqüestro. Eu das nossas diferenças, mas...

- Sem mais. – ele gritou. Eu nunca ajudaria um bandido. Ele está onde merece. E enquanto a você, se tornou um lixo perto dele. – ele começou a rir alto. – Porque acha que eu ajudaria você?

- Porque eu sei que você tem um coração bom. Porque apesar de você me odiar tanto, eu te amo. E eu seria capaz de dar a minha própria vida, por você. É o único irmão que tenho, e não suportaria te perder. Eu só queria poder me aproximar de você e poder dizer, o quanto sinto orgulho, por sua garra e determinação. Por amar tanto o seu filho e a sua esposa, e ser um excelente pai. Bem, eu já sabia o resultado da nossa conversa, mas de qualquer forma, ainda continuarei amando você. Tchau!

Eu saí dali arrasado. A minha única esperança se foi. Eu não sabia que o Arthur era tão amargurado assim...

****

- E aí? Como foi a conversa com o seu irmão? Ele vai ajudar?

- Eu quero ficar sozinho.Victor. Não estou bem. A conversa foi péssima.

Eu tinha certeza de que o Enzo ia mofar naquele lugar... Fiquei desesperado e quebrei um porta-retrato na parede. Eu não sabia mais o que fazer...

******

NO DIA SEGUINTE...

- Bom dia seu delegado! Como vai?

- Oi Arthur. Vou bem, obrigado. Então? Veio prestar o seu depoimento sobre o seqüestro? O criminoso já está preso.

- Pois é delegado. Eu posso vê-lo?

- Claro! Vou pedir ao policial que te acompanhe. – ele fez sinal.

Arthur seguiu um corredor de selas, até chegar a última, onde encontrou o Enzo encostado num canto, refletindo. Ele ficou surpreso com a presença do irmão do Gui.

- Olá rapaz. Vejo que este lugar te fez mal... Bem, não vou demorar muito. Você ama mesmo o meu irmão?

- Porque a pergunta?

- Responde!

- Você sabe que sim. Eu amo o Guilherme mais do que a mim. Ele, meu filho e a minha mãe, são os meus tesouros.

- E o que pretende fazer para dar conta de três pessoas? Vou te avisando que o Guilherme adora uma geléia de amora, todos os dias no café da manhã.

- Hã? O que você está dizendo?

- Até logo rapaz... Arthur o deixou falando sozinho.

- E então? Viu a cara do marginal?

- Sim. E quero dizer que vocês prenderam a pessoa errada. Aquele rapaz que está preso, nunca vi mais gordo em toda a minha vida. Não foi ele quem me seqüestrou?

- Como não? Que palhaçada é essa?

- O senhor acha que tenho cara de palhaço? O rapaz que me seqüestrou é alto, forte, moreno claro... Não tem anda a ver com este rapaz. Prenderam a pessoa errada.

- Mas o seu pai...

- O meu pai seu delegado, se equivocou feio. A idade chegando... Bem, a verdade é que um inocente está preso e vocês devem soltá-lo.

- Mas o rapaz estava dentro da casa dos seus pais. O prendemos lá mesmo.

- O senhor quer saber mesmo a verdade? Este rapaz namora o meu irmão, e como o meu pai não aprova o namoro, resolveu se vingar e inventou esta história maluca. Mas eu não podia deixar um inocente preso... Agora que já sabe, cabe ao senhor agir e liberar o rapaz. O advogado dele está na recepção aguardando. Eu preciso ir.

- Eu não sei o que eu faço com os brasileiros...

Arthur foi embora dali, direto para a empresa. No fundo, ele amava o irmão, e jamais queria vê-lo infeliz.

**********

QUATRO HORAS DEPOIS...

- Guilherme, a mãe do Enzo me ligou, dizendo que era urgente! Eu falei que você estava no banho, e ela pediu para que você fosse até a casa dela.

- Ai meu Deus! Será que aconteceu alguma coisa com o João? Você me leva no seu carro?

- Claro! Vou só avisar a minha mãe.

Eu partir feito um maluco rumo à comunidade. Com tantos problemas, eu não merecia ter mais um.

- Invadi a casa. Dona Maria! Dona Maria!

- Está procurando alguém, senhor?

Quase tive um troço. O Enzo estava parado num canto, com o mesmo sorriso da vez que o conheci. Eu não entendi nada e nem quis, apenas me joguei em seus braços e o abracei forte.

- É você mesmo meu amor. Meu Deus, não pode ser. Como? Quem?

- Calma. Vou explicar tudo se me deixar respirar...

- Ata, desculpa. – eu o soltei.

- O seu irmão foi até a delegacia, e disse ao delegado que eu não tinha nada a ver com o seqüestro, e que o seu pai se equivocou.

- Ele fez isso?

- Fez. E ainda por cima, me fez exigências... Me cobrou cuidar de você direitinho.

- Eu to sem palavras. Cadê a sua mãe?

- Eu pedi para que ela fosse à casa da tia Ana, aqui do lado, para que eu pudesse ficar sozinho com você.

- Será que estou sonhando? Eu não acredito. – minha alegria era visível.

- Eu senti tanta saudade de você meu marrentinho. Sonhei com seu beijo, com seu corpo, com seu sorriso... Te amo tanto meu príncipe.

- Eu também amo você meu anjo bandido. Minha perdição, meu pecado, meu gostoso!

Ele me beijou, tirando o meu fôlego e possuindo o meu corpo do jeito que somente ele sabia fazer. Suas mãos acariciavam minha pele e sua língua chupava o meu peito. Nos jogamos no chão da sala, e fizemos amor de forma intensa e louca. Ele me dominava e eu gemia em seus braços... Sim, eu amava aquele homem!

******

DIAS DEPOIS...

- Hummm... Que mesa linda! Isso tudo é pra mim?

- Claro. Tenho que cuidar do meu bebê. – nos beijamos.

- Geléia de amora? É minha favorita! Onde conseguiu?

- Tive que andar muito, para achar esta geléia.

- Rsrsrsrs... Ohhhh... Tadinho do meu gostoso. Que lindo, a sua atenção. Onde está o resto do povo.

- João no colégio e dona Maria foi ao Banco.

Tomamos café juntinhos, depois nos amamos novamente.

- Aonde você vai Guilherme?

- Daqui a pouco estou de volta. Beijos.

Fui até um lugar, agradecer pessoalmente.

- Você aqui? Quase não me achava em casa.

- Bom dia, Arthur. Eu vim agradecer pelo que fez. Você foi incrível!

- Não fiz isso por você...

- Claro que fez! Eu te amo bobo, e sei que também me ama. Vem cá e me dá um abraço de irmão, porque sinto a sua falta.

Ele se jogou em meus braços chorando.

- Claro que te amo Guilherme. Me perdoa pelas coisas que te falei. Você é o meu irmão caçula, e quero cuidar de você. Eu me culpei tanto por não ter aproveitado os nossos momentos...

- Nunca é tarde. Que tal sairmos como dois irmãos e aprontar por aí?

- Humm... Tudo bem, eu topo!

Caímos na gargalhada, e bem que me falaram uma vez: O tempo é o mestre de tudo. Ele é sábio, e faz com que a nossa vida gire em torno dele. No final, eu descobri que a felicidade estava sempre ao meu lado. O meu pai nunca aceitou o meu relacionamento, e ficamos distantes, mas um dia ainda nos encontraríamos nos caminhos da vida. Quanto a mim, nunca foi tão divertido morar numa comunidade, interagir com as pessoas... Eu estava feliz e era isso que importava!

FIM.

**************

Agradeço mais uma vez, ao carinho de todos. E comunico oficialmente a minha saída da CDC e desta vez sem voltas. Fiquem com Deus, cuidem-se. Foram longos e 10 contos até aqui escritos, estou feliz por mim mesmo. E vocês foram a minha maior motivação para que eu escrevesse. Mas é o momento de parar. Espero ter proporcionado alegria a todos! Um beijo no coração de cada e nunca se esqueçam: Vivam, e não tenham a vergonha de serem felizes!

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Comentários

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Oi Thy. Obrigado por mim avisar. Eu não sabia disso! Vou tomar providências!

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Não sei se tu vai ler esse comentário, mas tem alguém postando teu conto versos íntimos no wattpad. Não sei se é com teu consentimento, mas vi lá o conto.

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Oi Alê, muito bom o final do conto.

Já que vc vai sair da CDC não poderia deixar de dizer que te admiro muito, vc escreveu muitos contos que me fizeram sorrir, chorar, me emocionar, enfim vc é maravilhoso. De todos que vc escreveu teve un especial "Overdose" esse foi conto mais lindo que já li aqui na CDC. Obrigada por nos proporcionar esses momentos, sei que não sou íntima de vc mas pode ter certeza que te acompanho por muito tempo. Um abração e que tudo dê certo pra vc.

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ALEEEEEE NÃO, não nos deixe, teus contos, tuas histórias sempre me tocam o fundo da alma. Mas se essa foi tua escolha que Deus te cuide onde estiver, grande beijo

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Foi um prazer ler todos os seus contos, você deixou uma parte de você aqui...S2 ;) :'( :D :*)

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Perfeito o conto; ao mesmo tempo triste por saber que não lerei mais um conto escrito por você. Felicidades!!!

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Final perfeito. E já grande pena você abandonar a CDC. Confesso que seus contos eram um dos motivos eu ainda ler aqui, porque a o site não anda como antes. Mas foi um prazer te acompanhar até aqui. Abraços fofo.

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