Gente, antes de tudo gostaria de conversar com vocês sobre uma coisa. Aqui onde moro, Manaus, está acontecendo uma Guerra entre bandidos e polícia. Não vou entrar em detalhes por que não sei detalhes. Só peço que rezem pela nossa cidade, para que haja consciência dos dois lados e diversas mortes sejam evitadas. Agora vamos lá.
Cap.3
Quando ele falou aquilo eu... Nem sei descrever o que senti. A verdade e que desde o que aconteceu eu não sentia atração por ninguém. Nem por mulheres, nem por homens. Estava começando a crer que era assexuado, até ele aparecer.
- O Que ?
- Já estou aqui a uns 2 anos... - falou, saindo da minha frente e se escorando na janela - e bem... Você me habita desde a primeira vez que te vi -arregalei os olhos com o que ouvi.
- Mas eu... Sou um garoto !
- Eh... - ele sorriu. Brincou com uma plantinha que ficava na janela da biblioteca - pra mim é estranho mas... Sei lá... O que eu sinto por você não tem explicação. Sabe... Fico minutos te observando, observando seus trejeitos, o modo como anda, como come, como estuda... Já te desenhei diversas vezes escorado naquele árvore no jardim... Sabe aquele amor sem explicação ? Que chega de uma hora para outra e te possui ? É assim... Que eu me sinto por você - falou, ligeiramente envergonhado. De perfil, pude ver a lateral do seu rosto corar... Eu estava muito surpreso. Surpreso de ouvir isso de alguém. De alguém estar sentindo algo por mim... De alguém dizer que gosta de mim.
- Mas... O Que você viu em alguém como eu ? - estava extremamente nervoso. Nunca tinha ouvido isso, era algo novo pra mim
- Você... - ele sorriu novamente quando olhou pra mim - é lindo ! Tem um jeito inocente, fofo, calmo... Uma beleza sedutora ! Fora que você gosta de Culinária, e eu também... Sempre disse pra mim mesmo que nunca havia visto alguém tão bonito como você... Tão... Indescritível ! - um misto de nervosismo e surpresa se formou dentro de mim... Sabe aquele momento que você não tem nada pra falar. Que fica impressionado, nervoso, surpreso ? Era como eu estava naquele momento...
- Eu...
- Não precisa dizer nada ! É loucura gostar de alguém que tem fobia de pessoas, não gosta de toques e é tímido. Mas eu não me importo. Se eu poder ficar perto de você e ouvir sua voz... Já basta... - falou, me deixando mais surpreso - não quero te ver triste nunca mais... Por isso, fique perto de mim. Eu vou te proteger, prometo ! - falou, se aproximando de mim... Sorriu, olhou nos meus olhos... Me deixou nervoso - você não imagina o tempo que eu queria dizer isso ! O quanto te observei naquela árvore, andando pela escola, o tempo que ficava olhando pelas janelas da sua sala para você, vendo sua dedicação... Parece imbecilidade... Mas eu amava fazer isso ! - ele acabou arrancando um sorriso de canto meu naquele momento, falando coisas bonitas, sendo sincero... Foi estranho. A um bom tempo eu não me sentia vivo. Agora estava me sentindo. De repente a porta da biblioteca foi aberta.
- Carlos ? Como você... - ele parou e viu que eu estava lá também - vocês se trancaram aqui ?
- Acho que algum engraçadinho fez isso... Mas não tem importância - falou, pegando sua mochila - pensem no que eu disse pra você Júnior. Até mais ! - falou, andando até a porta. Logo eu estava sozinho naquela sala. Depois de todas essas revelações que até o momento ainda me deixavam extremamente nervoso, só me restava ir para casa. Peguei minha mochila e já ia sair andando, quando percebi que um papel havia sido deixado na mesa. Quando peguei, era um desenho. O papel estava amassado, mas eu podia ver perfeitamente quem era. Eu... Com todos os detalhes. A franja, a roupa quadriculada, o olhar caído... Perto de mim, um balão. Dentro dele, " Fofo e Lindo " . Fiquei vermelho só com aquele desenho. Será que aquele garoto significaria alguma coisa pra mim ?
TEMPO DEPOIS
No dia seguinte, acordei pensativo. Peguei uma xícara de Nescau, me sentei na mesa, pensando. Como alguém poderia gostar de mim ? Como alguém poderia gostar de uma pessoa tão sem graça como eu ? Será se ele estava dizendo a verdade ? Era tão profundo assim ? E eu, o que pensava disso ? Ele parecia ser alguém legal... Não importa se seja homem ou não... Tinha medo... Será se conseguiria ser amigo dele ? Será se minha fobia permitiria isso ? Só o tempo dirá !
- Chegou cedo hoje Júnior... Ainda fresco ? - mais uma vez aquelas pessoas me incomodavam. Me tocavam, me faziam tremer com cada toque...
- Parem !
- Olha só, ele não gosta... Porquê será que você se acha tanto ein ? - sempre minha forma de defesa foi fechar os olhos, como forma de fingir que nada estava acontecendo.
- Deixem ele em paz ! - aquela foi a única voz que me fez abrir os olhos.
- Carlos ?
- Ele é meu amigo ! Ninguém mexe com ele ou vão se ver comigo ! - falou, puxando meu braço apressadamente. Assim que viramos o corredor, me soltei.
- Não sabia que tinha tanta influência sobre as pessoas daqui.
- Você sabe pouca coisa sobre mim... - olhei para ele sem saber o que fazer. Queria cumprimenta-lo, abraça-lo como forma de agradecimento, mas não conseguia.
- Obrigado - falei, sorrindo.
- Não foi nada. Quer saber ?
- O que ?
- Tô feliz.
- Porquê ?
- Foi a primeira vez que vi seu sorriso !
TEMPO DEPOIS
Peguei meu lanche e fui para o canto que sempre ficava. Não demorou muito e aquela voz novamente eu ouvi.
- Você também gosta de Sanduíche de Frango ? - perguntou, mostrando o mesmo sanduíche que eu.
- Gosto. É bem temperado...
- Não é ? Incrível ! - sentou-se ao meu lado. Foi a primeira vez que eu não me senti ameaçado por alguém depois de anos. Um silêncio se formou por alguns segundos enquanto comiamos.
- Eu não entendo !
- O Que ?
- Como isso pode acontecer...
- Mas do que esta falando ?
- Alguém... Gostar de uma pessoa... Sem poder tocar... Pelo pouco que eu sei sobre paixão... Isso deve ser torturante - ele sorriu.
- Quando o sentimento é verdadeiro, queremos ver a pessoa feliz. Se você é feliz sem os meus toques, as minhas carícias, eu me contento com uma atenção especial de você pra mim.
- Você gosta daqui ?
- Gosto... - falou, sorrindo - apesar de a um bom tempo não passar por aqui por que você estava aqui.
- E do que mais você gosta ?
- Ah... Culinária, Romances, Animes , você, enfim... Tudo de bom que existe neste mundo...
- Ah é ? - eu estava me sentindo em dívida com ele. Sendo tão legal comigo e eu não retribuindo nada - EI... Você gostaria de jantar lá em casa hoje ?
- Sério ?
- Humrum. Eu posso cozinhar pra você... Diminuir um pouco a culpa que sinto por estar desperdiçando o único bom sentimento em relação a mim. Vem ?
Continua
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