Apenas uma história... 8

Um conto erótico de Nando Mota
Categoria: Homossexual
Contém 1763 palavras
Data: 14/07/2015 15:11:34
Última revisão: 14/07/2015 21:56:45

Eu jamais vou esquecer aquele dia na calourada. Lembro como se fosse ontem, o primeiro dia em que vi o Matheus Pimentel... Seu nome eu só saberia muito tempo depois. Os calouros estavam sendo submetidos ao famoso trote e assim que o vi tratei logo de cortar seus cabelos encaracolados sem pena. Ele ficou bem estranho com o novo corte. Se não fosse pelo grande contingente de pessoas a serem zoadas por nós, os veteranos, eu teria tido o maior prazer em ficar na cola daquele garoto lindo.

Eu estudava Farmácia, fazia o quarto semestre... Ele tinha acabado de entrar em Civil, me disse depois. E após esse primeiro encontro que nunca mais saiu da minha cabeça eu fiquei um bom tempo sem vê-lo.

Minha família tinha e ainda tem uma solida empresa no ramo farmacêutico - Farmácias, Laboratórios, Distribuidoras de Medicamentos, Farmácias de Manipulação, Postos de Coleta de Exames - e quando me formasse pretendia me dedicar a área da Bioquímica por achar que ainda poderíamos melhorar muito nesse seguimento e por conta de tanto compromisso nos estudos confesso que o garoto do trote saiu da minha mente.

Uma amiga de minha irmã Roberta estava em nossa casa e fui praticamente forçado por conta de uma verdadeiro dilúvio que caia na Cidade a deixar a garota no Campus da Universidade porque ela encontraria uma amiga no bloco da Engenharia e dormiria na casa da mesma. Quando fiz a manobra pra retornar tive a visão de uma pessoa sozinha na parada do ônibus e sem pensar duas vezes resolvi parar e oferecer uma carona. Chamei o garoto que lá estava sem jamais imaginar que seria ele. Foi uma grande surpresa quando ele se aproximou do meu carro e o reconheci imediatamente. O cabelo já estava maior, só que o sorriso era o mesmo. O cara tava totalmente molhado e assim que abri a porta do carro para que ele entrasse começamos a conversar.

Houve uma breve afastamento e após encontrá-lo na Biblioteca nossa amizade passou a ficar mais íntima porque era visível o que tava acontecendo entre nós e tratei de apostar todas as minhas fichas pra poder levar adiante o sentimento que praticamente trasbordava em meu peito. E ele me conquistou de vez.

Sempre foi muito forte o ciume que sentia dele. Eu tentava me controlar ao máximo e só relaxei por breves momentos porque na maioria das vezes eu tinha que fazer das tripas coração para não sair na porrada principalmente com seus amigos.

Logo alguns rumores sobre nós dois começaram a serem ouvidos e isso muito me preocupava por conta da minha família e amigos. Combinamos de evitar ao máximo estarmos juntos em público por um breve tempo, só que notamos que não era isso que a gente queria pra nossa vida. Aos poucos fomos abrindo para alguns amigos, acho que ele mais que eu... E no dia em que o ajudei na matrícula do semestre, uma filha da puta jogou de vez merda no ventilador.

Voltamos a separar e eu morri. Nada tinha cor, sabor, desejo. Foram os piores quatro meses da minha vida. Em casa os meus pais e irmão me cobravam posicionamentos diante da família e da vida e eu só queria ter de volta o garoto que amava de todo coração. Meu aniversário de 22 anos foi uma bosta. Preferi viajar e fui pra casa der uma tio que morava no interior de Goiás.

Quanto mais distante dele, pior eu ficava. Voltei uma semana depois de ter viajado. Foquei nos estudos e me desliguei dos amigos. Roberta entrou em meu quarto numa bela manhã de sábado avisando que alguns amigos nossos estavam na piscina e assim que me viu chorando ficou preocupada...

_ Ei meu fofo, que tá acontecendo com você?

Tentei disfarçar, só que meu estado me denunciava...

_ Posso confiar em você, Princesa?

_ Claro que pode meu fofo...

_ Um garoto me deixou assim. É por conta de um garoto que eu tô desse jeito. Amo aquele cara de um jeito que até me assusta, Princesa. Sei que vou ser crucificado, vou ser motivo de falatório, vu ser deserdado... mais quer saber? Não me importo...

Baixei a cabeça e chorei abraçado a minha irmã que foi sensacional comigo. Ela não apenas me confortou por conta de minha fragilidade, ela também me encorajou para que fosse procurá-lo. E eu fui.

Ao vê-lo na saída de sua aula também notei que ele não tava legal. Parecia estar mais magro e sua cabeça estava baixa enquanto andava. Ele não era assim. Ele jamais tivera uma postura derrotada, só que essa postura estava lá e eu vi que não havia sofrido sozinho. Fiquei no sol, e o esperei se aproximar até que criei coragem e após pedir para que nosso amigo Jeff se afastasse, eu coloquei pra fora tudo o que estava engasgado dentro de mim... Ele apenas me abraçou e voltou a me tornar o garoto mais feliz do mundo.

Tivemos momentos maravilhosos juntos e mais algumas pessoas passaram a saber de nós. Em casa as pressões ainda existiam. Mais uma no havia passado e já estava com 23 anos de idade. Passamos a viajar, dormi em sua casa, ele dormiu na minha... Íamos na casa de paria da minha família, lugar que ele adorava ir, em momentos só nossos e quando completamos dois anos juntos, uma grande tragédia aconteceu...

Me culpei e sofri todo o peso dessa culpa durante anos. Ouvir seus gritos e ser chamado de assassino por ele foi realmente o que de pior já tinha vivido na vida. Me fiz perguntas por muito tempo e nunca obtive uma resposta que amenizasse minha culpa e minha perda. Matheus Pimentel me odiava e eu lhe dava toda razão em sentir ódio de mim pelo resto de sua vida.

Tentei após os cinco primeiros anos uma aproximação sem sucesso. Já era um homem mais velho, estava com 28 anos de idade, era formado e já comandava o segmento de coleta e exames da empresa familiar. Tinha aberto pra todos da família a minha opção sexual e me afastei de todos gradativamente. Matheus jamais saiu da minha cabeça com o passar dos anos...

Ele havia formado com um ano de atraso segundo soube depois por alguns amigos que tínhamos em comum... Acho que o primeiro ano da morte do Senhor Jacinto o abalou muito e quando voltei a ter notícias suas, ele já era um funcionário público e morava numa Cidade do Interior.

Sempre que chovia na Cidade eu lembrava de nós e daquela carona que havia lhe dado. Minhas noites eram vazias e sem emoção. Tive alguns relacionamentos que nada acrescentaram e por não mais querer fazer ninguém sofrer resolvi saciar meus desejos com estranhos em locais específicos tipo, boates, saunas, serviços de acompanhantes masculinos... Muitas vezes não conseguia nem me excitar e em tantas outras desistia mesmo antes de começar a tirar a roupa.

Dez anos haviam passado, meu pai havia morrido, a empresa era comandada por mim, Roberta e Fábio. Todas as nossas decisões eram tomadas em comum acordo e após uma reunião do Conselho da Empresa, Roberta pediu que eu ficasse na sala porque queria me dizer algo pessoal...

_ Sou todo ouvidos minha Princesa... jamais deixei de chamá-la assim.

_ Primeiro quero lhe dar os parabéns pelos 41 anos de idade. Todos esqueceram, menos eu.

Ela me beijou no rosto e me deu uma abraço bem apertado. Em seguida pediu pra que nós nos sentássemos e continuou...

_ Uma amiga que trabalha numa repartição pública tem uma outra amiga que trabalha numa Construtora de médio porte cujo dono se chama Jefferson Abreu Alves. Esse Jefferson é o mesmo garoto que costumou por muito tempo frequentar nossa casa há alguns anos atrás. Sua esposa se chama Ana Amélia e ela é irmã de alguém que você conhece muito bem...

_ Princesa por favor...

_ Não meu fofo, eu não posso ficar vendo você cada vez mais fechado, preso numa história trágica que infelizmente culminou em perdas irreparáveis. dezoito anos se passaram meu querido. Não se pode punir alguém por conta de uma fatalidade. Você era muito jovem, impulsivo, possessivo, tinha medo que tudo fosse descoberto e outra série de fatores, mas o seu amor era assim e o Matheus sabia disso... Você mudou e aprendeu pela dor o que no passado você não conseguia... Controlar seu ciume, sua possessividade em relação a ele. Não Rodrigo, é injusto ver você sozinho e infeliz por tanto tempo... Chega dessa auto punição. Esse é o numero do celular dele - E ela me passou um pequeno pedaço de papel que estava em seu bolso - Insista em ter com ele pelo menos uma última conversa... Se liberte desse amor de uma vez por todas ou se houver alguma chance, reconquiste esse homem que há muitos anos sofre o mesmo que você.

Ela voltou a me abraçar. Eu fiquei emocionado com suas palavras. Já sozinho na sala, peguei o papel e imediatamente gravei no meu celular o numero dele. Assim que cheguei em casa liguei pela primeira vez e infelizmente deu caixa postal... Não tive coragem de deixar mensagem alguma. Na segunda ligação que fiz uns tr~es dias depois pude voltar a ouvi-lo...

_ Alô? Disse a voz dele. nem preciso dizer o quanto que meu coração acelerou... Muitos anos haviam passado.

_ Matheus Pimentel?

_ Sim, eu mesmo... Quem fala? Ele realmente não havia reconhecido minha voz.

_ Rodrigo Santiago. Foi tudo que eu pude dizer naquele momento.

Esperei alguma palavra em retorno e só ouvi a ligação ser encerrada. Isso poderia ter me afastado dele, só que sua reação me deu coragem pra insistir cada vez amais. Nos dias que se seguiram eu ligava três a quatro vezes por dia, mandava mensagens, descobri o seu endereço, apesar de nunca ter ido lá, e o numero do seu fixo com uma amiga que tínhamos em comum e que via esporadicamente em algum evento social.

Foi numa quinta-feira de muita chuva na Cidade no mês de maio que criei coragem e pela primeira vez deixei uma mensagem em sua secretária eletrônica... " NÃO ADIANTA VOCÊ FUGIR DE MIM RAPAZ... SOMOS IGUAIS... AMO VOCÊ... ME LIGA "... E passei o numero dos meus telefones fixo e celular...

E esperei sua ligação após longos e terríveis dezoito anos.

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Boa tarde meu querido Povo do Lado Esquerdo...

Obrigado pelo retorno de vocês. Tô numa preguiça tremenda. Assim que terminei de almoçar vim escrever mais esse capítulo, agora dormir...Com certeza a gente se fala mais tarde, combinado? Grande abraço a todos. Nando Mota.

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Comentários

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Oi nando boa noite. Esses ultimos caps foi muito emocionantes e explicou muitas coisas. Nao consegui ler o cap 9 a pg ta em branco. Vc pode consertar isso indo no seu painel e editar qualquer coisa no texto salvar que volta. bjos

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Não sei se é só eu, mas estou com dificuldade de abrir o conto 9

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li desde ontem, mas não consegui comentár, passei hoje praia dizer que to aqui viu!

💋💋💋💋

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Revelador esse capítulo, agora estou curioso pra saber o que aconteceu para que o Matheus tenha tanta raiva do Rodrigo. Abracos man...

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Legal saber a versão dos fatos pelo Rodrigo, percebendo que ele também sofreu muito , mas como disse acho difícil Mateus olha-lo da mesma forma, mesmo depois de tanto tempo. Amor as vezes não é suficiente pra que duas pessoas fiquem juntas... Vamos ver o que o futuro reserva a esses dois.

Excelente!!! Beijo grande meu querido Nando!

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Esse capítulo foi esclarecedor e agora muita coisa faz sentido. Amando mais essa história Nando. Um abraço! Ahhh, só um adendo, sem querer ser chato: ser gay não é opção. Te adoro Nando!

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boa noite,estou sem tempo pra comentar mais sempre estou aqui viu parabens estou amando

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Não sei em quais circunstâncias se deu a morte de seu Jacinto e o quanto de culpa o Rodrigo tem ou se tem neste triste fato, só sei que se fosse comigo seria praticamente impossível voltar com esta pessoa. Beijos e boa noite.

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Agora as inseguranças do Rodrigo fazem sentido, mesmo sabendo que seu amor era correspondido, o ciume doentio era maior e o dominava, sua irmã Roberta têm razão ao dizer que era hora de ambos pararem de se culpar e começarem q viver de verdade, pois durante estes anos tanto ele como o Matheus estão sobrevivêndo, já que o verdadeiro eu de ambos está hibernando. Posso até estar errada, mas penso que além da Roberta, Amélinha e D. Amélia se juntaram para acabar com a tristeza de ambos. Tomara que ambos possam deixar de lado toda a mágoa e conversem, pondo os pingos nos "is", e se ainda houver a chama pq não reavivar e dar mais uma chance, pois como sempre me disseram se não aprendemos com amor, aprendemos com a dor. Nando, eu sei o que é alguém sentir um ciúme possessivo que nos faz achar melhor nos afastar para não magoarmos e macularmos um amor verdadeiro e tb sei que ao deixar de sermos cabeças duras, uma nova chance renovou este amor, torço para que se acertem como eu e o Beto fizemos, já que sou uma romântica incurável. Um cheiro e um superbeijo desta que te adora de montão, sua sempre Mama Rose.

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Oi amigo, como é bom curtir uma preguiça, no próximo mês sou eu a curtir minhas férias. Acho que com o passar do tempo, o Rodrigo cresceu e amadureceu, mas acredito que para o relacionamento deles seja reestabelecido, o Mateus precisa perdoar e limpar o coração de toda mágoa. Aguardando o próximo capítulo. Beijos lindão!!!

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eu acho que o mateus tem que se dà um chance e ser feliz.acho que eles jà se penalizaram bastante .e punir eternamente o rodrigo não vai ajudar em nada.na verdade só vai trazer mas dores .beijo da sua lindona meu muito amado amigo.

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