De onde menos se espera - Cap 1

Um conto erótico de LuCley
Categoria: Homossexual
Contém 4617 palavras
Data: 10/10/2015 02:34:32

Espero que gostem e deixem nos comentários se querem que continuo— Lucas, seu moleque preguiçoso, acorda.

— pára pai... pára!

— que pára o que. Tem que se arrumar pra ir a escola. Se não levantar agora mesmo vou trabalhar e você vai pra escola a pé. Levanta...

Meu pai me chacoalhava na cama e parecia ser um terremoto. Assim que ouvi ele dizendo que teria que ir pro colégio a pé eu saltei da cama e quando ele me viu soltou uma gargalhada. Eu já estava vestido e isso me pouparia vários minutos. Seu Jorge sempre foi o melhor pai do mundo e não é pra menos. Minha mãe foi embora quando eu tinha dois anos e nem me lembro dela. Meu pai sempre foi a única referencia de família que tive pois como vivemos em outro estado não vemos muito nossos familiares. Embora ele tenha me criado sozinho, nunca senti falta de mais ninguém pois ele sempre me deu atenção, carinho e muito amor.

Sempre fomos muito amigos e confidentes e não havia segredos entre nós, não mesmo!

— como você não amassa a roupa?

— eu não me mexo pai.

— garoto doido. Ande logo e vá escovar esses dentes. Ah, não esqueça de ir tirar esse aparelho a tarde. Até que enfim heim?!

— nem me fale. Tem dinheiro? Vou ter que pegar um taxi.

— tenho. Agora vá!

Fui pro banheiro e fiz minha higiene. Caramba, eu iria tirar o aparelho e estava tão ansioso pra ver como meus dentes estavam depois de cinco anos usando o maldito aparelho. Como aquilo me incomodava e era horrível toda vez que tinha que apertar, mas era o ultimo dia sem aquele ferro horroroso nos meus dentes.

Meu pai me levou pro colégio e assim que entrei portão a dentro vi a Fernanda me esperando e com a maior cara de felicidade.

— nossa, tudo isso só porque cheguei?

— também, mas eu preciso te contar uma coisa. Sabe aquele garoto da nossa sala que eu gosto?

— sei, o Cleyton. O que tem ele?

— esse mesmo. Veio falar comigo antes de você chegar. Não é o máximo?

— mas falar o quê?

— perguntou que horas eram.

A Fernanda era minha melhor amiga desde a quinta série. Sempre alegre e risonha. Não me lembro até hoje ver ela triste, tirando o dia que o pai dela faleceu. No primeiro dia de aula nos apaixonamos a primeira vista, como amigos, desde então nunca mais nos separamos.

— to morto de tanto rir contigo. Ele só perguntou as horas e você já está desse jeito, imagina se ele te pedisse em namoro?

— que isso Lucas, pra quem nunca me enchergou, está de bom tamanho. Ah, não quero mais falar sobre isso contigo, você nunca me apoia.

— eu não acho que o Cleyton seja um garoto legal pra você. Ele é metido, prepotente e arrogante. Sempre trata muito mal os outros e vive arrumando confusão, mas se você pensa o contrário...

Sempre disse a Fernanda que ela tinha dedo pobre pra arrumar namorado. Sempre se envolvia com meninos que nunca se importavam com ela. Depois me ligava de madrugada e enchia meus ouvidos de asneiras e chorava por horas. E eu, sempre secando suas lágrimas.

Fomos para sala e lá estava o Cleyton todo cheio de si e de papo furado com as meninas que sentavam no fundo da classe. De longe eu observava a Fernanda morrendo de ciúmes dele com as outras garotas.

O problema de toda pessoa apaixonada pela pessoa errada é que ela nunca consegue enchergar a pessoa certa, mesmo estando bem ao seu lado. E era isso que estava acontecendo. O Luís, sempre gostou da Fernanda e ela nunca se deu conta. Os dois sentam nas duas primeiras fileiras da porta e nas primeiras carteiras. As vezes o Luís me mandava SMS dizendo como a Fernanda não via o óbvio e que não enchergava mais ninguém alem do Cleyton. Era triste ver o Luís cercando a Nanda de mimos e ela encantada pelo chato da sala.

Durante a aula de Biologia a professora pediu trabalho em dupla. Tinhamos que pegar o xerox na biblioteca e o Luís pediu se podia fazer com a Nanda. Ela me mandou um SMS perguntando se eu ficaria chateado e disse que não tinha problema algum. O sinal tocou e fomos direto para a biblioteca.

Eram cinquenta exercícios e valeria cinquenta pontos. Eu estava sem dupla e na hora desejei ter alguém que me ajudasse a fazer. As vezes é melhor nem desejarmos certas coisas. Senti a mão pesada de alguém em meu ombro e o cheiro daquele perfume amadeirado invadiu minhas narinas confundindo minha respiração. Olhei pra trás e era o Cleyton.

— aí, você já tem par pra fazer esse trabalho chato?

— ainda não. — disse e tirei a mão dele do meu ombro.

— qual é Luquinha, faz o trabalho comigo?

— você ao menos sabe a matéria? Nunca vi você copiando da lousa. Nem sei como você chegou no terceiro ano.

— nossa, eu só pedi pra você fazer o trabalho comigo e você me trata assim?

— você faz o mesmo com todo mundo e ninguém fala nada. Se quiser fazer dupla comigo, fique sabendo que não vou fazer tudo sozinho pra você ter nota sem esforço. Vem na minha casa a tarde e faremos juntos, senão nada feito ou faça tudo sozinho.

— não sabia que você era tão marrento e rancoroso, mas chego lá as três.

Ele saiu e antes deu um tapa nas minhas costas. Estava na cara que ele queria ganhar o trabalho pronto, mas eu não ia deixar ele sair de boa as minhas custas. Vi a Nanda e o Luís chegando para pegar os exercícios e ela perguntou o que o Cleyton queria. Expliquei e ela quase teve uma síncope. Pensei que ela ia desmaiar ou qualquer coisa do tipo.

— eu não acredito que ele chamou você.. Poderia ter me chamado.

Chamei a atenção dela porque o Luís poderia ouvir e ficar chateado. Ela ficou quieta e conversando baixinho comigo.

— ele comentou alguma coisa de mim?

— não, ele só queria saber se eu já tinha dupla, mas deixei bem claro que não ia fazer tudo sozinho. Se ele não colaborar eu desisto de fazer com ele. Ele já aprontou comigo uma vez e não vou aturar de novo.

— não precisa ficar bravo. Durante o trabalho, fale de mim pra ele, sei lá. Me ajuda.

— nem falo nada... tenha santa paciência.

Saí e deixei ela falando sozinha. Era só o que me faltava, virar cupido da desesperada. Fui pra casa e quando cheguei meu pai tinha deixando um bilhete sobre a mesa de jantar. Disse que precisava ficar no consultório até mais tarde e que chegaria só depois das oito. Eu estava indo tomar um banho quando me lembrei que tinha que tirar o aparelho. Corri pro banho e almocei rápido. Tomei um táxi e fui pro dentista.

Tive que esperar uma hora pra ser atendido. Quando o seu Afonso tirou meu aparelho e me fez olhar o espelho nem parecia a mesma pessoa.

— ficou... perfeito! — disse satisfeito.

Seu Afonso pediu pra eu voltar na próxima semana para fazer uma limpeza pois ele estava muito ocupado e não daria tempo, pois já tinha feito meu encaixe só para retirar o maldito aparelho.

Quando saí do consultório e olhei o relógio me dei conta que já passava do horário do Cleyton ir lá em casa. Peguei o celular e liguei pra ele pra me desculpar.

— oi, é o Lucas.

— oi... tudo bem?

— você estava dormindo?

— caramba garoto, eu perdi completamente a hora. Sei que vai me xingar e tem razão, mas é sério, se quiser eu vou aí agora.

— calma, não liguei pra te xingar, mas também não vou mais pedir desculpas porque você também esqueceu.

— também? Vai dizer que o garoto mais responsável da turma também esqueceu um compromisso?

— engraçadinho...

— o que aconteceu?

— tive que ir tirar meu aparelho e acabou atrasando, enfim, amanhã marcamos de novo. O trabalho é pra semana que vem mesmo. Xau!

— pode ser. Hei, quer fazer alguma coisa a noite?

Eu soltei uma gargalhada e quase que desliguei o celular na cara dele. O maior convencido do colégio me chamando pra "fazer alguma coisa a noite".

— Cleyton, desculpa, mas a gente definitivamente não tem nada em comum. E você seria zuado por aqueles seus amigos idiotas iguais a você se te verem comigo, o nerd. Não é assim que vocês me chamam?

— não é bem assim...bom... é. Olha eu só fiz um convite, quem sabe você começa ter outra opinião sobre mim.

— amanhã no colégio nos falamos.

Desliguei o peguei um táxi de volta pra casa.

A noite a Nanda me ligou e eu disse que não tinha feito o trabalho e ela ficou mais desesperada. Praticamente me culpando por eu não ter podido me encontrar com ele aqui em casa. Deixei o viva voz ligado e ouvindo ela reclamar enquanto arrumava meu material pra aula do dia seguinte. Quando ela parou , ouvi ela suspirar e dizer calmamente:

— me ajuda a conquistar o Cleyton?

— eu? Eu não suporto ele e já está sendo demais o fato de termos que fazer esse trabalho juntos. Não vai rolar.

— por mim, por favor.

— Nanda, porque você não da uma chance pro Luís? Poxa, ele gosta de você, sempre gostou. Droga, eu nem deveria estar falando isso, mas eu não aguento ver ele arrastando um caminhão de areia por você e você arrastando um caminhão por quem nem te olha.

— eu não sabia que o Luís gostava tanto assim de mim. Como nunca encherguei isso?

— porque você só tem olhos pro chato. E fala sério, ele não liga pra nenhuma menina, só quer se divertir com elas. Engraçado...

— engraçado o que? Que foi?

— eu nunca vi ele ficar com nenhuma garota do colégio, ele sempre desdenha todas. Todas elas falam que ele só sabe brincar com os sentimentos delas.

— ai Lucas, será que ele é apaixonado por alguma garota fora do colégio? Será que ele já tem namorada? Morta!!

— morta nada. Quer saber? Não me interessa. Beijo.

Talvez fosse a explicação mais óbvia o fato dele nunca ter ficado com nenhuma garota do colégio, ele já tem uma namorada. E todas aquelas coitadas correndo atrás dele feito bobas. Como pode isso? Eu só não tinha entendido o convite dele pra " fazer alguma coisa a noite". Ele sempre passou perto de mim e fazia que não me conhecia. E toda vez que eu falava com ele era recebido com uma patada. Até que decidi nunca mais puxar assunto e simplesmente comecei a ignorar do mesmo jeito que ele fazia com todos.

Meu pai chegou e perguntou como foi meu dia. Assim que comecei a falar ele me olhava fixamente.

— que foi pai?

— como você ficou bonito. Digo, você sempre foi bonito, mas agora...ta perfeito. Ficou melhor sem aparelho.

— pai, que mico se o senhor falasse isso na frente do colégio todo, mas obrigado, estou diferente né?

— muito! Mas diga, o que fez hoje?

Ele não parava de olhar pra mim e a gente ria porque realmente eu estava diferente com os dentes alinhados e sem o aparelho. Falei pra ele o quanto aquele Cleyton me tirava do sério. Ficamos um bom tempo conversando e percebi que uma lágrima caia dos seus olhos. Perguntei qual era o problema e ele meio abalado disse que minha mãe tinha ligado pra ele durante o dia e que estava voltando para o Brasil.

— pai, eu não quero falar com ela.

— filho, acho que esta na hora de termos uma conversa.

— pai, não vai rolar essa conversa hoje, por favor.

— tudo bem, mas a gente tem que conversar, vou te dar esse tempo.

— quando ela volta?

— em julho. Daqui dois meses.

— ela nunca me ligou, nunca quis falar comigo de verdade. Não entendo essa vontade de manter contato logo agora. Ela está morrendo?

— não fala isso nem de brincadeira...

— só pessoas em estado terminal que decide falar com filho abandonado depois de tanto tempo. Foram quinze anos sem ela pai. Droga, vou dormir.

Ele me dei um beijo de boa noite e disse que estava tudo bem. Eu não queria ter que ver ela e nem falar com ela. Sinceramente eu queria que ela nunca voltasse. Só faltava ela querer que eu fosse morar com ela e eu nunca iria deixar meu pai, meu pai e mãe. Fui dormir e de manhã quando acordei tinha uma mensagem do Cleyton no meu celular.

" pode fazer o trabalho sozinho, não vou fazer".

Não dei bola e dei graças a Deus por eu não ter que aturar ele na minha casa. De certo ele nem sabia a matéria e eu teria que fazer tudo sozinho como da outra vez. Meu pai estava me esperando e só consegui dar bom dia. Meus pensamentos estavam todos na minha mãe e eu não queria começar uma conversa aquela hora da manhã.

Assim que saí do carro vi a Nanda e o Luís me esperando no portão e dei a volta entrando pelo portão lateral. Não queria conversar com ninguém e nem ouvir a Nanda lamentar o fato do Cleiton não olhar pra ela. Era demais pra mim saber que minha mãe estava voltando e que queria reestabelecer uma relação que eu se quer me lembrava como era. Eu estava deprimido, confuso e com medo de enfrentar àquela que havia me abandonado sem ao menos dizer porquê.

Não entrei na sala de aula e fiquei sentado atrás da arquibancada da quadra coberta. Fiquei sentado atrás da pilastra de sustentação e dado momento me peguei chorando. Como uma mãe tem a coragem de abandonar um filho tão pequeno? Era a pergunta que eu fazia o tempo todo e mesmo ela tendo todos os motivos do mundo não fazia o menor sentido ir pra tão longe. Encostrei na pilastra e no meio de meus devaneios acabei cochilando. Acordei com alguém me chamando e era o Cleyton.

— o que você esta fazendo aqui?

— eu venho aqui pra fumar no intervalo, mas eu é que te pergunto, o que faz aqui? Você estava dormindo, porque não entrou pra sala? Você está bem?

— já estive melhor. E o que faço aqui não lhe diz respeito. Vá fumar seu cigarro e acabar com sua saúde sozinho e me deixa aqui em paz.

— olha, mesmo você achando que eu sou a pior pessoa do mundo eu só estou querendo te ajudar. Outra coisa, você não deve estar nada bem, você matou aula pra ficar aqui, ai chego e te pego dormindo. Você está com uma cara horrível...

— obrigado, já acabou?

— não. Você está com uma cara péssima e andou chorando. Eu sei que já te tratei muito mal, mas eu não sou uma pessoa ruim...

— chega. Sinceramente não me interessa sua ajuda e não tenho vontade de conversar contigo.

Ele saiu virando os olhos e desistiu de me fazer falar. Jamais eu cairia naquele papo de querer ser meu amigo. Assim que ele saiu eu aproveitei o intervalo e fui embora. Fiquei andando pelo centro e parei na praça de frente ao shopping. Sentei e peguei meu celular. Tinha várias mensagens do Luís e da Nanda. Não respondi nenhuma e desliguei o celular.

Eu fiquei lá praticamente a manhã toda e acabei indo pra casa. Quando cheguei no prédio dei de cara com o Cleyton me esperando.

— Cleiton... você está fazendo o que aqui?

— vim fazer o trabalho contigo.

— que trabalho garoto? Você me mandou um SMS dizendo que era pra eu fazer sozinho e que você não ia fazer.

— mudei de ideia. Podemos subir?

— ah não! Qual é o seu problema heim? Vai tirar o dia pra me chatear agora?

— eu vim até aqui pra te ajudar com o trabalho porque sei que você não está legal, aí você diz que estou te chateando? Muito feio isso, onde está sua educação? — ele disse dando um leve empurrão no meu ombro.

Nós rimos por alguns segundos e não queria que ele entrasse, mas ao mesmo tempo queria que ele estivesse ali, pelo menos ele era engraçado, sei lá. Meu dia já estava arruinado mesmo e como ele tinha se abalado até meu prédio só pra me atormentar, que diferença faria? Pedi que subisse e ele chamou o elevador. Assim que entramos ele começou a cantarolar uma música que eu gostava muito. Me surpreendi e pensei: até que ele tem bom gosto.

Quando o elevador parou, antes de sairmos, ele mexia na mochila e disse que tinha esquecido a folha com os exercícios.

— você não muda mesmo né?

— é só uma folha. Além do mais você tem a sua e eu posso responder em outra a minha parte. Não vai fazer tudo sozinho.

— você já me fez de bobo uma vez e com essa mesma desculpa esfarrapada. Eu não sei como te deixei subir.

— deixa de ser rancoroso. Eu já te falei, eu to mudando. Eu sei que muita gente não gosta de mim pelo meu jeito...

— mal educado...

— ok... mal educado, mas você também não está sendo nada receptivo. Ninguém te ensinou que todo mundo merece uma segunda chance?

— tudo bem, me desculpe. Eu não estou muito bem hoje e ... deixa pra lá, não é problema seu. Entre logo antes que eu me arrependa.

Abri a porta e pedi que se sentasse. Fui até meu quarto e troquei de roupa. Coloquei uma regata e um short curto, preto de futebol. Fui pra sala e ele estava de costas olhando umas fotos no aparador próximo ao aquário. Fiquei meio de lado olhando ele olhar as fotos e ele sem se virar disse:

— ficou muito bom.

— o que?

— seus dentes sem o aparelho.

— não me diga... — disse e ri por instantes.

— está rindo do que? Falo a verdade.

— tudo bem, obrigado. Você quer comer alguma coisa? Está com fome?

— não, não quero incomodar. Além do mais, eu não vim aqui pra almoçar e sim pra te ajudar a passar esse dia ruim com um pouco mais de alegria.

— você está de brincadeira, só pode.

— garoto, deixa de ser implicante.

— agora eu sou implicante? — disse e ele ainda olhava as fotos.

Ele continuava de costas e eu discutindo com ele, mas ele deixou bem claro que não ira embora. Deixei ele na sala e fui pegar algo pra comer na cozinha. Meu pai me ligou dizendo que não iria almoçar porque tinha muitos pacientes. Que ótimo, pensei. Eu teria que ficar o dia todo sozinho com o novo Cleyton e eu não tinha nem assunto. Que belo jeito de terminar meu dia ruim. Voltei pra sala com dois copos de suco e ele acendia um cigarro. Deixei os copos no aparador e fui até ele. Ele já estava com o cigarro entre os dentes e quando ia acender segurei sua mão.

— você não vai fumar aqui não.

— qual é Luquinha? Só unzinho?

— você nem deveria estar fumando, qual é o seu problema heim? Quer se matar?

Ele colocou a mão dele sobre a minha e abaixou o isqueiro. Por instantes ele me encarou e sorriu dizendo pra eu soltar sua mão. Soltei rápido. Pedi que tomasse o suco pra gente começar com os exercícios. Ele tomou tudo em um gole só e escorreu um pouco pelo canto da boca.

— toma devagar. Vou pegar uma toalha pra você. — disse e quando ia sair ele me segurou pelo braço.

— não precisa. Viu só, já limpei.

Ele passou a língua no canto da boca limpando e pedi que fôssemos até meu quarto estudar. Peguei uma cadeira e ele me seguia sempre olhando os quadros pelo corredor. Seus olhos pareciam estar procurando algo e eu queria saber o que era. Entramos e coloquei sua cadeira ao lado da minha na escrevaninha. Assim que nos sentamos ele me perguntou:

— não vi fotos de sua mãe pela casa, ela faleceu?

De certa forma essa era a imagem que eu tinha da minha mãe e não queria começar a falar dela, ainda mais com ele. Ele nem era meu melhor amigo. Meu celular tocou e era a Nanda. Desliguei. Não queria falar com ela, não queria ter que dar explicações por não ter ido a aula e sabia que ela iria me fazer um monte de perguntas.

— não, ela não morreu. Ela foi embora quando eu tinha dois anos... não quero falar sobre isso. Vamos fazer logo esse trabalho?

— tudo bem. É por isso que você ficou chateado hoje?

— já disse que não quero falar sobre isso.

— desculpe.

Tiramos nosso material da molchila e começamos a fazer os exercícios. Me surpreendi como ele estava me ajudando e nem de longe parecia aquele garoto desinteressado quando conheci no começo do ano. Ele não era um gênio da biologia, mas pela primeira vez ele parecia saber a matéria. Estávamos na metade dos exercícios e ele tinha me ajudado bastante. Pediu onde ficava o banheiro e apontei o do meu quarto. Ele se levantou e foi. Quando voltou se sentou novamente e comtinuamos a fazer os exercícios.

— acho que vou fazer umas pipocas pra gente você quer? — disse e ele sorriu.

— quero sim. Quer ajuda?

— não precisa, mas se quiser ir lá na sala e colocar um filme pra gente assistir...

— posso sim. Viu só, eu não sou uma companhia tão ruim.

— é, não é tão ruim.

Ele foi colocar o filme e eu fui fazer as pipocas. Sempre faço um molho de catchup, mostarda com um poquinho de suco de limão. É uma meleca que faço pra comer com as pipocas. Assim que ficaram prontas levei pra sala e ele já tinha jogado as almofadas no chão. Nos sentamos escorados em um dos sofás e coloquei o balde de pipoca no chão junto com o molho. Pedi que ele fosse até a cozinha buscar o refrigerante e os copos que já tinha deixado sobre a mesa. Quando ele voltou iniciei o filme.

— o que é essa meleca vermelha nesse potinho? — ele disse fazendo uma careta.

— ei, não faz essa cara feia não rapaz. É um molho que faço pra comer com as pipocas. Experimenta!

Ele pegou um tanto de pipoca e mergulhou no molho, deu uma olhada antes e olhou pra mim. Ele comeu e parecia pensativo. De certo estava pensando se engolia ou cuspia fora.

— humm...não é tão ruim.

— igual a você. — disse e rimos.

O filme começou e começamos a comer.Servi o refri pra gente e parecia que a presença dele não era tão desagradável, na verdade estava muito agradável e eu começava a ter outra opinião a seu respeito. Ele colocou um filme de terror e se levantou fechando as persianas.

— não da pra assistir filme de terror com toda essa claridade. — ele disse e voltou a se sentar.

— e se você se assustar? — ri muito.

— engraçadinho... ai você me proteje.

— vai esperando.

Rimos e fiquei quieto de repente. Ele me olhava querendo entende o por quê do meu silêncio.

— obrigado. — disse.

— por?

— por você ter vindo aqui. Obrigado.

— eu não ia deixar você ficar sozinho em casa depois do jeito que te vi no colégio. E precisava limpar minha barra contigo. Me desculpe por eu ter sido tão idiota esse tempo todo.

— tudo bem, mas o que te fez mudar?

Ele ficou em silêncio e meu interfone tocou. Atendi e o porteiro disse que era a Nanda. Pedi pra avisar que eu não queria falar com ninguém e que falaria com ela no colégio. Desliguei e ele perguntou porque eu não pedi pra ela subir. Aproveitei e comecei a falar da Nanda pra ele.

— amanhã eu falo com ela. Me diz uma coisa...

— fala.

— o que você acha da Nanda?

— hum, sei lá. Acho normal.

— entendi. Você ta namorando alguém?. — disse e ele se engasgou.

— não, mas gosto de uma pessoa.

— mas não é do colégio, é?

— então, vamos assistir o filme? Daqui a pouco vai começar aquela parte que o cara corta a cabeça de todo mundo e é a minha favorita.

— que horror. — disse rindo.

Ele não queria entrar em detalhes e eu também não queria ficar incomodando com perguntas. O importante é que eu já sabia que ele gostava de uma pessoa e que a Nanda poderia desencanar dele, ou não.

O filme estava bom e quando chegou na parte da motoserra que ele gosta eu meio que cobri os olhos e escondi o rosto no ombro dele.

— que nojo. Sempre que assisto não consigo ver essa parte, me da enjôo. — disse ainda com o rosto no ombro dele.

— quando acabar eu te falo. Só não vai chorar no meu ombro de medo.

Me toquei do fiasco que estava fazendo e coloquei minha cabeça no sofá. Quando a motoserra parou eu voltei a assistir e pegar as pipocas. Quem diria que eu, um dia, assistiria um filme com pipocas com o garoto mais insuportável do colégio? Eu nunca imaginei uma situação assim.

Passamos a tarde juntos e quando demos conta já era nove da noite. Assistimos dois longos filmes. Sua companhia por incrível que pareça aliviou um pouco a dor que eu estava assistindo. Meu pai chegou e ele já estava de saída. Apresentei rapidamente os dois e meu pai o convidou para vir em nosso apartamento mais vezes. Meu pai entrou e me despedi do Cleyton.

— mais uma vez, obrigado.

— não por isso. Amanhã você me conta sobre ela.Quem sabe posso te ajudar.

— não é tão simples assim, mas um dia a gente conversa sobre isso. Se você quiser, mas só se você quiser, aos sábados eu vou àquela feira de livros no centro e se você quiser ir...

— está me convidando?

— de certa forma...

— tudo bem. Amanhã combinamos melhor. Lucas, foi um prazer passar essa tarde contigo.

— igualmente.

— então, amigos?

— amigos! — disse estendendo minha mão e ele apertou.

Eu estava cansado, exausto e pensativo sobre inúmeras coisas. Fui tomar banho e antes de entrar no boxe senti um cheiro bom na minha mão. Apertei mais meu nariz contra minhas mãos e lembrei que tinha o mesmo cheiro do perfume do Cleyton. O cheiro era o mesmo quando encostei meu rosto em seu ombro. Entrei no boxe e tomei um banho demorado. Meu pai bateu na porta e entrou. Perguntou se estava tudo bem comigo e quem era o garoto que acabara de sair.

— é um amigo de classe. Estamos fazendo um trabalho de biologia juntos e como acabamos, colocamos uns filmes.

— ele parece ser gente boa.

— parece... na verdade, acho que ele está melhorando, já foi bem chato.

— bom, eu vou dormir. Boa noite, amo você.

— também te amo pai.

Sai do banho e só coloquei uma boxer e fui dormir. Eu praticamente desmaiei e acordei com meu pai praticamente me derrubando da cama. Coisa mais doida o jeito como ele me acorda, parece que o mundo está acabando e eu acordo pensando que realmente estou caindo. Sensação estranha.

Troquei de roupa e pedi que ele me deixasse no portão lateral do colégio. Assim que entrei senti novamente aquele cheiro, o cheiro do dia anterior que ficou na minha mão. Me virei e vi ele terminando de fumar um cigarro e vindo ao meu encontro. Nos cumprimentamos e fomos pra trás da arquibancada. Estendi a mão oferecendo uma bala de menta e ele aceitou.

— desculpa pelo cigarro, mas eu estou meio nervoso.

— tudo bem, mas nervoso porque?

— coisa atoa. Como você está hoje?

— um pouco melhor que ontem. Posso te fazer uma pergunta?

— sempre.

— o que te fez mudar?

— você fez a mesma pergunta ontem.

— e você não me respondeu.

— as vezes a gente muda, por alguma coisa, por alguém ou pela gente mesmo. Não há um motivo especifico, mas garanto que é pra melhor.

— espero que seja mesmo. Vamos subir pra sala?

— vamosContinua...

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Comentários

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Uhuuuu Adorei O Seu Conto. . . Espero Que Continue Por Favor!

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Adorei o conto.....Continue com certeza!!!!!!

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Nossa, muito legal essa história! Continua! Acho que vem muitas emoções por aí. Abraços!

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gostei, mas acho que o Cleyton ainda vai pisar na bola e vai magoar o Lucas

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Adorei o conto, quero os dois juntos logo ♡

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