Como eu me apaixonei pelo meu amigo? - Capítulo 5

Um conto erótico de Miguel
Categoria: Homossexual
Contém 1877 palavras
Data: 02/11/2015 00:56:15

REFLEXÕES

(E também reflexão sobre situações que eu passei, inspirado pelo comentário do O. J. Carmo)

Eu nasci em cidade pequena e sempre fui o único gay assumido em todas as escolas até o segundo ano do ensino médio, então desde muito pequeno (eu sempre fui bastante diferente) eu era acostumado com agressões no banheiro (tanto que depois da quarta sério nunca mais fui no banheiro da escola e hoje na faculdade ainda tenho uns traumas. mas enfim no segundo entrou na minha sala outro amigo, afeminado e que embora fosse alvo das agressões, meio que ainda iria passar por muita coisa que eu já tinha passado. E foi quando conheci esse garoto que eu percebi que a militância era o que eu devia seguir pois eu me senti determinado a fazer com que ele não sofresse nada do que eu tinha sofrido e eu percebi que se eu chamasse muita atenção o foco dos homofóbicos seria apenas eu e ele ia acabar finando mais tranquilo e foi a maior loucura que eu fiz para um amigo (não me arrependo nem um pouco). Hoje ele me agradece por muita coisa e eu também me agradeço por não ter ido contra meus princípios e minha identidade, pois eu sabia que se eu deixasse ele ser agredido eu deixaria de ser o foco dos homofóbicos. Mas eu já estava blindado contra aquilo, eles nutriam raiva de mim mas o máximo que podiam fazer eram me empurrar num local público como se fosse acidente ou me xingar, inventar calúnias ou etc. Sobre os empurrões, já tinha aprendido a cair sem me machucar, e como eu fazia parte dos grupos de fofoca eu acabava dissipando parte da conversa fiada que disseminavam sobre mim.

SOBRE O CAPÍTULO

E pois bem, sobre este capítulo só posso dizer que embora eu tenha passado por muita coisa na vida mesmo sendo um jovem universitário, às vezes eu ainda me pego agindo como uma criança inocente apaixonada por qualquer coisa nova... Julgo que isso ocorra por ter sido privado de parte da infância (o abuso sexual relatado anteriormente tem participação nisso). Meu medo de ser ruim em algo, de ser "só mais um gay no mundo" (hoje isso não passa pela minha cabeça, pois é um dos meus maiores motivos de orgulho) me fizeram viver pelo estudo e pelo trabalho. Não posso dizer que muita coisa mudou pois seria mentira, ainda sou viciado na faculdade, mas não mais por medo de ficar abaixo das expectativas mas por paixão no que faço. Mas ainda sim às vezes tenho medo de terminar a faculdade e não me encaixar no mercado de trabalho machista e homofóbico que é a engenharia. Se é um desafio enfrentar isso na faculdade, imagina lá fora? Mas acho que faz parte de ser gay no cenário atual, viveremos sempre para quebrar barreiras para os que virão atrás de nós. E enquanto nos matamos para conseguir direitos básicos, vemos a infância e adolescência passar sem aproveitar dela e depois já adultos contemplamos o céu como algo novo e acabamos percebendo que a última vez que fizemos a mesma coisa tranquilo fora numa vez lá na infância antes de colocarem na sua cabeça que você é um problema na sociedade.

Ah, está curto pois dei uma dividida e já já posto o outro. :)

COMENTÁRIOS

Sobre os comentários, bem pessoal, só tenho que agradecer por todo carinho que vocês me passam nas avaliações e comentários. Eu coloco muito sentimento nisso que escrevo pois é algo que me representa e é um pouco do que passei e me sinto bastante honrado de poder compartilhar e talvez ensinar algo a vocês ao mesmo tempo que aprendo quando leio o que escrevem de volta. Obrigado mesmo!

CAPÍTULO 5 – BRIGAS

Eu fiquei desesperado com a situação que se instaurou após a minha tentativa de beijar Miguel. Ele se afastou um pouco e fazia de conta que nada acontecera. E de fato, nada acontecera, mas não por falta de interessa da minha parte. Era estranho admitir, mas cada segundo perto dele me fazia querer ficar ao menos um segundo a mais.

Todavia Miguel era visto falando com Sabrina o tempo todo e isso me preocupava, mas eu sabia que ele não iria me entregar assim, afinal ele fazia mais o tipo de pessoa que te obriga a contar algo errado a alguém e não a que vai lá e dedura.

Os motivos disso tudo foram explicados na sexta-feira quando Miguel me prendeu a tarde inteira na faculdade fazendo um simples trabalho parecer um grande espetáculo onde só faltavam dançarinas. Acabamos o trabalho e quando cheguei em casa me deparei com uma festa surpresa. Tiveram cuidado de fazê-la um dia antes do meu aniversário pois assim eu não desconfiaria.

Fora por isso as perguntas idiotas da Sabrina alguns dias antes mas dava para perceber que tinha mais atenção de Miguel naquela festa do que dela própria. Era impossível não perceber na combinação de cores, nas pessoas convidadas e na decoração toda que aquilo fora minunciosamente pensado por aquele garotinho que não parava de me surpreender. Eu o abracei antes de ir até Sabrina ou de agradecer a presença de alguém, não sei se Sabrina ficou chateada pois não reparei muito quando a agradeci.

Eu estava feliz por terem lembrado embora eu não seja muito ligado a comemorações e então passamos a noite toda bebendo até que em casa só tivesse o pessoal da república, Laura, Guilherme e Sabrina que de longe era a mais bêbada de todos. Percebi uma certa irritação quando ela dizia em alto e bom tom “meu namorado” como forma de demonstrar a alguém que eu pertencia a ela. Mas será que eu pertencia a alguém? E se pertencesse, será que seria a ela mesmo?

Foi então que percebi que ela dizia aquilo para Miguel, que embora estivesse lá fora conosco tinha se deitado em um banco bastante distante e contemplava as estrelas.

— Para Sabrina. Todo mundo sabe que sou seu namorado. — Eu disse irritado.

— Só estou lembrando amor. — Disse ela com a voz de bêbada. Sinceramente, aquilo já tinha me dado raiva.

Então Sabrina veio me abraçar por trás e eu afastei. Ela ficou imensamente irritada e já ameaçava a fazer escândalo.

— Ei Mau e Mig, eu já vou. Minha mãe logo logo fica preocupada. O Gui vai me levar. — Disse Laura.

Me apressei em acompanha-la a saída e nem percebi que deixara Sabrina sozinha com Miguel. Quando voltei ela cambaleava irritada para perto de Miguel enquanto dizia algumas coisas, poucas dela eu compreendi.

— Ele é meu tá entendendo? Acha que eu não vi você se engraçando para cima dele no começo da festa.

— Sabrina, você bebeu muito. Sabe que isso não aconteceu. — Miguel disse desinteressado, tanto que nem olhava diretamente para Sabrina pois o céu parecia mágico para ele.

— ACONTECEU SIM! — Sabrina gritou.

Então decidi intervir, segurei-a por trás e a tirei de perto.

— Sabrina, você está ficando doida? De onde está tirando essas coisas? Você está bêbada e falando merda já. É melhor eu ligar para seu irmão vir te buscar.

Eu a fiz ficar na cozinha enquanto ligava irritado para o irmão dela, expliquei toda a situação e ele se prontificou em vir busca-la. Eu estava com tanta raiva que poderia ter terminado com ela ali mesmo, mas preferi fazê-la enfrentar a situação enquanto tivesse lúcida.

Fui para fora e Miguel continuava assistindo a Lua. Sabrina esperava na cozinha.

— Desculpa Miguel, ela não devia ter dito essas coisas. — Eu disse bastante sentido.

— Faz tanto tempo que não admiro o céu. Acho que eu era pequeno a última vez que olhei com tanta atenção. — Ele disse parecendo não se interessar no assunto anterior.

Então me deitei no chão ao lado do banco onde ele estava e ficamos os dois admirando a Lua e as estrelas como duas crianças que vê o céu pela primeira vez e se encanta por ele, mas há como não se encantar? Se eu pudesse descrever Miguel o comparando com algo eu diria que ele seria o céu pois talvez pareça superficial, desinteressante ou sei lá o que quando você não dá muita atenção, mas é capaz de cativar o mais experiente dos homens quando este tira alguns minutos para admirá-lo. E eu não sei porque pensei em Miguel mais uma vez, mas posso dizer que não tivesse medo ao pensar poucos minutos depois, e não hesitei em voltar a procura-lo lá fora quando finalmente entreguei Sabrina ao irmão na porta de casa. Ele não estava lá, mas o encontrei na cozinha lavando a louça num momento perdi o controle, não sei se foi pela bebida ou por algum outro motivo, mas quando percebi eu o abraçava por trás.

— Me desculpa por ser tão idiota — eu disse baixinho — e muito obrigado pela festa, eu percebi cada detalhe planejado por você.

Miguel suspirou e por um momento pareceu não oferecer resistência, mas segundos depois me respondeu.

— Você sabe que isso não está certo, não sabe Maurício?

— Porque não Miguel? Eu só estou fazendo o que tive vontade de fazer.

— E nem sempre o que temos vontade de fazer é o que fará o outro feliz. Eu seguro minhas vontades todos os dias para não perder sua amizade, não quero cometer uma burrada agora e depois não conseguir olhar nos seus olhos sem me sentir culpado, ou rejeitado ou algo pior. Você tem namorada e é hetero! As coisas sempre foram assim. — Miguel disse enquanto eu me afastava. Ele estava chorando.

— Eu sei. Mas... — Foi só o que consegui dizer. Ele me interrompera.

— Não fala! É melhor cortar o assunto por aqui para que eu consiga fingir que nada aconteceu amanhã e continuar sendo apenas seu amigo como sempre fui. A Sabrina está certa, ela é sua namorada e não eu!

Então eu também o interrompi, mas não foram com palavras e sim com o toque dos meus lábios no dele, com o toque das minhas mãos em sua cintura. Não sei se ele sentira os mesmos calafrios que eu senti, não sei se ele fora preenchido com a mesma alegria, ternura e calma! Sim, calma!

Eu sentia que estava tudo bem e não pensava em mais nada a não ser nele, no sorriso dele, na inocência que tínhamos quando estávamos juntos. Na verdade, ele me fazia me sentir como criança, me dava sensações que eu tinha experimentado apenas na infância e que naquele momento eu não sabia que eram tão únicas, e eu sequer imaginava que eram sensações bastante íntimas e que depois dele ninguém me preencheria de alegria daquela mesma forma.

Enfim o beijo terminou depois de parecer que eu refletira toda minha vida. Ele estava assustado e aparentemente se desesperara ao pensar que depois disso nossa relação ficaria abalada, que eu me arrependeria ou sei lá o quê. Eu precisava acalmá-lo. O abracei.

— Vamos para o quarto, amanhã eu te ajudo com isso. Você precisa descansar! — Sussurrei em seu ouvido e o puxei pelo braço até o meu quarto. Ele dormiu aninhado em meu peito, dessa vez me abraçando forte como se tivesse medo de que na manhã seguinte estivesse sozinho e isolado. Eu sentia seu cheiro e refletia sobre o que nem lembro mais até cair num sono tranquilo e aconchegante.

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Comentários

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Nossa que fofo gente!

Amei o capítulo

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Concordo com prireis822 ele gosta do Mauricio como amigo e parece começar a gostar de outra forma, porem ele não quer acabar com tudo por causa de desejo

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Amei. Entendo o miguel o medo de perder uma amizade e de se magoar o faz parar e fingir que nada aconteceu mas nessa historia tem dois lados e o mauricio estar se descobrindo e começando a perceber o que senti pelo miguel. Espero que ele faça a coisa certa que é terminar com a sabrina e ficar com o miguel. :-bjos :)

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O pior do preconceito são quando os próprios gays fazem homofobia do tipo "é gay, mas não precisa ser assim" "esse tipo gay acaba com a imagem dos gays" affffffffffffff eterno. Voltando ao conto, achei fofo tudo que tá acontecendo, e tipo, entendo um pouco a situação do Mauricio por ele ainda não ter agido de fato a relação entre os dois e também do Miguel que está entre a paixão e amizade

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Uau muito bom lagtimei aqui. . . Contemplar o ceu estrelado e com uma lua lindo é a melhor coisa do mundo momentos como esse eu gosto de fazer isso pq são mentos simples como esses que valem muito a pena. . . Miguel é muito fofo e conciente. . . O melhor do seu texto é que eu me identifiquei muito!

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Estou em êxtase por dentro, simplesmente perfeito!

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F O D A, continua ligeiro pelo amor de Deus kkk 👌👌👌👌👌👌👌

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Perfeito esse conto! Amo sempre! Se pudesse, passaria o dia lendo. bjs

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