Diário de um Hétero REAL - 06 [MILAGRES]

Um conto erótico de Tomas
Categoria: Homossexual
Contém 2635 palavras
Data: 03/08/2016 02:27:42
Última revisão: 03/08/2016 02:31:25

06.

Senti um alívio no peito quando soube que ele não tinha morrido. Mas ele estava em estado grave, na época o acidente foi até notícia no SPTV, pois a família dele é bem rica e conhecida em São Paulo. Mas naquele momento eu só queria vê-lo... Por que a vida estava sendo tão cruel comigo? O destino havia o colocado no meu caminho e tirado (devido a gravidez), depois voltou a colocá-lo no meu caminho e agora ameaçava tirá-lo (de novo!).

Encontrei a mãe dele na sala de espera do hospital. Ele estava na sala de cirurgia. Teve traumatismo craniano, e no local do acidente os bombeiros tiveram que reanimá-lo. Tudo estava tão silencioso quando eu cheguei que eu poderia ouvir o barulho de uma agulha se caísse no chão. Estavam na sala a mãe dele, Cláudia, e a (ex)futura esposa, Jaqueline. A mãe estava muito abalada mas a Jaque parecia calma, ou pelo menos aparentava estar.

Eu: o-o-oi... – falei quase que sussurrando.

Cláudia: Tomas... O Mateus... Meu filho... – nem completou a frase, veio e me abraçou e começou a chorar.

Eu a abracei e senti um olhar de raiva me fuzilar por trás das costas de Cláudia. Jaque nos observava e meio que mordia os lábios como se quisesse se conter. Ela então se levanta bruscamente e sai da sala. Só eu que percebi o jeito dela.

MIlAGRE 01.

Ficamos em torno de 5 horas. 5 horas angustiantes. Até que o médico vem e fala:

- O estado dele ainda é grave porém a cirurgia foi um sucesso. Conseguimos controlar a hemorragia e apesar de ter sofrido traumatismo craniano, foi um trauma leve. A parada cardiorrespiratória foi causada pela perda de sangue, o que ocasionou em um choque hipovolêmico, e o corpo reage aumentando os batimentos, porém eles se tornam fracos e o paciente entra em parada. Mas felizmente conseguimos reverter esse quadro. Agradeçam a Deus, pois foi quase um milagre ele ter sobrevivido ao acidente.

Eu: e quando poderemos vê-lo? – falei não contendo o choro, aquelas palavras me fizeram imaginar pelo que o Matt tinha passado e estava passando.

Médico: dentro de 30 minutos ele estará na UTI, como disse, o quadro dele ainda requer muitos cuidados. Vocês poderão vê-lo somente através de um vidro. Por enquanto o acesso ao quarto estará restrito a médicos e enfermeiros, até porque ele está sob efeito de fortes sedativos e medicamentos.

Não tínhamos o que contestar. Pelo menos iria vê-lo. Sentia um sentimento de culpa muito grande por tudo o que aconteceu. Queria muito voltar no tempo e não ter falado aquilo pra ele, falei que estava com Renan para feri-lo, machucá-lo e eu consegui. Meu peito doía, sentia um aperto muito grande, isso tinha um nome: R E M O R S O.

E fiquei pior quando o vi através do vidro. Ele estava todo entubado, aquele aparelhinho que mede a frequência cardíaca ao lado dele. O rosto dele estava com marcas roxas, a perna direita estava engessada. A mãe dele praticamente colou o rosto no vidro e o acariciava como se tentasse acariciar o próprio filho, que naquele momento estava a alguns metros de distância somente, porém estava inerte.

Deixei o corpo encostar na parede atrás da gente, e lentamente o senti cair, sem forças. A única coisa que fiz naquele momento foi rezar. Não conseguia nem pensar direito. Lembro de ter rezado em francês (como disse anteriormente quando ficava nervoso ou com raiva eu só conseguia pensar em francês, muito louco isso né?!?).

Jérémy chegou e me ajudou a levantar. Seu semblante era sério.

Jimmy: vamos pra casa, você já o viu... agora precisa descansar, tomar um banho...

Eu: eu vou ficar aqui... – falei em seguida.

Jimmy: negativo, você vai pra casa comigo.

Eu: Jérémy eu já disse VOU FICAR AQUI. DAQUI NĀO SAIO!! – praticamente gritei com ele.

Jimmy: tudo bem, não vou insistir. Então eu ficarei com você também.

Eu: negativo. Preciso ficar sozinho. Por favor... (mais um momento introspectivo).

Jimmy: Então tá bom... amanhã eu volto pra ver vocês (se referindo a Matt e eu). Fica bem... Beijo... – e saiu com um olhar de tristeza.

E eu entendia bem aquele olhar. “Perdi você”. Do jeito que eu conhecia o Jérémy, era isso que ele estava pensando. Mas eu nem estava pensando com quem eu iria “ficar”. Eu estava preocupado com o estado de saúde do Matt. Voltei a ficar olhando pelo espelho. Se não fosse pelo seu estado, eu diria que ele estava com o semblante sereno, parecia uma criança dormindo depois de um dia de peraltice. Foi quando eu me assustei com uma voz amarga atrás de mim: TUDO ISSO É CULPA SUA! – vociferava a voz.

Era a Jaque.

E continuou: - seu viado de merda, olha o que você fez. Por sua culpa estamos nessa situação, por sua culpa eu perdi meu filho! – quem entrasse ali poderia sentir a energia pesada se se sobrepôs ao ambiente.

Eu: minha culpa? – questionei.

Jaque: sim sua culpa sua bicha... não se faça de besta! O Matt quis terminar comigo por sua causa, SUA CAUSA. – gritou.

Nisso veio uma enfermeira saber se estava tudo bem, e pediu que falássemos mais baixo.

Eu: eu acho que você tá abalada pelo que aconteceu então não vou levar nada disso em conta. – tentava permanecer calmo mas o meu rosto já queimava por aquelas acusações que até minutos atrás eu mesmo me fazia.

Jaque: ele quis terminar comigo por sua causa. Ele me disse que estava apaixonado por VOCÊ! Como pode isso? O pai do meu filho viado?!?!

Então ela narrou os fatos. Matt a procurou para desfazer o noivado. Ele assumiria a criança porém não haveria mais casamento. De início ele não queria falar por quem tinha se apaixonado, mas dado a insistência dela em saber, ele acabou por contar. E foi ai que ela teve uma crise de hipertensão, passou mal, teve sangramento. Ainda foi levada ao hospital, porém ela havia perdido a criança. E ela me culpava por isso.

Agora eu entendia a reação do Mateus quando me viu com “outro cara”. Entendi a raiva dele. Ele havia jogado tudo pro alto por minha causa e eu simplesmente estava com outro. Lógico que isso não era verdade. Renan era meu amigo/irmão. Só tinha falado aquilo para ferir o Mateus. Mas acabou em tragédia.

Minha vida parece novela mexicana. Dois homens apaixonados por mim. Um deles a beira da morte. Uma mulher se sentindo traída e com sede de vingança. E uma criança perdida. Morta. Essa palavra rondava nossas vidas. Não queria pensar nisso.

Depois das revelações da Jaque eu me senti pior do que já estava (se isso era possível de acontecer).

Jaque: eu soube da briga de vocês dois através da Carlinha (a amiga que foi com Matt a festa do Jimmy) e liguei uma coisa com a outra. Francamente, você não presta! O cara deixa a família dele e vê você se esfregando com outro. Esse foi o motivo do acidente: VOCÊ!

Pensei melhor em não rebater nenhuma daquelas acusações, pois no fundo eu me sentia realmente culpado. Não pela perda do bebê, mas meu objetivo tinha sido alcançado quando falei que estava com o Renan, eu realmente feri e machuquei o Mateus, mesmo que involuntariamente. Passei a noite em claro pensando. Não consegui dormir aquela noite, era como se estivesse à espera de um milagre, esperava que o Matt se levantasse daquela cama e tudo ficasse bem. Poder ver aquele sorriso com aqueles dentes tão brancos que iluminavam qualquer ambiente. Ver o brilho nos seus olhos castanhos novamente. Aquele olhar que me conquistou pelo espelho da academia, aquele olhar que me encarava de forma insistente, aquele olhar que me atraía tanto que me deu coragem de chegar e tomar a iniciativa de conversar com ele. Estava à espera de um milagre!

No dia seguinte nada de mudanças. Seu quadro continuava estável mas ainda era crítico. Dei de cara com a Jaque, que apesar de todos os acontecimentos parecia não estar abalada. Chegou bem vestida e maquiada, cabelos escovados que parecia que ia a um desfile. Mas se ela achava que eu ficaria na defensiva, ela estava muito enganada, sou de escorpião meu bem!!!

Eu: parece que você errou o ponto. Acho que você deveria ter descido na Augusta queridaaa... (rua Augusta é conhecida por ter vários night clubs que na verdade são prostíbulos e onde há grande quantidade de travestis fazendo programa na rua).

Vi seus olhos se apertarem de raiva e ela rebateu:

Jaque: você tem é inveja, pois eu tenho buceta e você não. – que baixa. Ela queria descer o nível, então bora descer!!!

Eu: realmente no seu caso só usando a buceta pra ver se sai dessa vida, porque se depender do seu cérebro e da sua astúcia, você vai morar debaixo do minhocão.

Ela: pois é com essa buceta que eu quase garanti meu futuro se não fosse uma bichinha ter se metido entre meu homem e eu...

Quando eu ia retrucar, Cláudia entrou na sala e ficou nos olhando estranhamente e pergubtou se estava tudo bem.

Jaque: está sim “sogrinha”... – falou com ar de deboche olhando pra mim.

Cláudia: vou tomar um café...

Jaque: vou com você! – se prontificou.

Cláudia: não! – e se dirigindo a mim falou: “venha preciso conversar com você!”.

Notei um ar de vitória no rosto da Jaque, com certeza ela achava que a Cláudia fosse pedir pra eu me afastar, pois o normal naquela situação seria permanecer somente a família no hospital. E o que eu era para o Mateus? Nada. Além de um amigo da academia.

Mas foi aí que tudo aconteceu!

MILAGRE 02.

Sentamos em uma mesa mais afastada na cafeteria e me olhando fundo nos olhos ela começou:

Cláudia: eu vou ser bem direta: O QUE VOCÊ SENTE PELO MEU FILHO?

Até hoje lembro da pergunta, não foi “o que você tem com meu filho?” e muito menos “o que você quer com meu filho?”. A pergunta foi: “O QUE VOCÊ SENTE PELO MEU FILHO?”. Então pensei em articular bem uma resposta, porém em vão, pois a emoção e meu amor falaram mais forte. Só lembrei do Renan me dizendo: “siga seu coração!”

Eu: eu o amo... – e uma lágrima caiu de meus olhos.

Cláudia: eu sei disso, porém precisava ouvir DE você! – falou calmamente.

Eu: co-co-mo assim você sabe? – fui surpreendido por aquela mulher que até então não passava de uma perua escandalosa; parecia que ela estava lendo meus pensamentos pois falou em seguida:

Cláudia: muitos me acham uma perua que só liga para coisas da sociedade e etc. Nunca julgue um livro pela capa! Eu ralei muito pra chegar onde cheguei, sei o que é passar necessidade e cada centavo que eu tenho hoje foi fruto do meu trabalho e do meu estudo. Nada caiu do céu. E eu não sou burra. Conheço meu filho como a palma da minha mão, sei de olhos fechados se ele está bem, feliz, triste, com raiva ou outra coisa. E eu sabia que a angústia que ele sentiu ao ver você entrar em casa naquele dia dizia que ele não queria te fazer sofrer. Ele não demonstrou felicidade com o casamento, ele estava feliz sim porque iria ser pai mas não pelo casamento. Meu filho... (ela me chamou de filho? Confirma produção! Ele me chamou mesmo de filho?) ... eu sinto o cheiro de golpista, de rapariga de beira de estrada de longe. E essa daí (se referindo a Jaque) só tem interesse em uma coisa: se dar bem na vida! Mas quando vi a angústia do meu filho em perder você naquele dia e vi essa mesma angústia em você ontem, percebi que o amor de vocês é verdadeiro e quando meu Mateus acordar eu quero que você esteja ao meu lado.

Me amarrota que eu tô passado! Gente o que que era aquilo que eu estava ouvindo. Parece que uma venda me foi tirada dos olhos e eu via Cláudia agora em toda sua essência. Verdadeira! Aquele olhar forte de mãe que cuida da cria. O universo começava a conspirar ao nosso favor. Ela estava praticamente apoiando nosso relacionamento.

Eu: você não sente raiva por seu filho estar se relacionando com outro homem? Você não liga pro que vão falar? O que vão pensar?

Cláudia: meu filho se eu fosse ligar pra tudo que pensam e falam de mim, eu nem levantaria da cama... o que mais me importa hoje é ver a felicidade do meu filho e isso inclui você. Quer dizer, antes de mais nada, o mais importante será a recuperação dele e sua presença aqui será fundamental!

Gente, para o mundo que eu quero descer! Onde estão as câmeras? Só pode ser brincadeira. Essa mulher não existe!

Cláudia: posso te dar um abraço??? – veio e me abraçou forte nem esperando minha resposta. – obrigada por estar aqui!

Aquele gesto me deu uma força tão grande, me encheu de esperanças de ver o Mateus bem e recuperado. Voltamos para a salinha de visitas em seguida, entramos de braços dados e vi a Jaque de boca aberta. Não consegui deixar escapar um sorrisinho de deboche pra reação dela ao nos ver.

Cláudia: que foi querida vai ficar aí me admirando com meu genro? – falou com um sorriso mas ao mesmo tempo uma postura que impunha respeito.

Jaque: como assim genro? Você bebeu? Fumou? Tá surtada? – disse não escondendo o nervosismo.

Eu só observava a leoa defendendo o território e a cria de uma hiena que queria se aproveitar da situação para se dar bem.

Cláudia: primeiramente, olha como você se dirige a mim, meça suas palavras! Segundo, não estou surtada! Terceiro: ele é meu genro pois é quem meu filho escolheu para amar.

Jaque: ele é um viado que arruinou a vida do seu filho e arruinou a minha também. Seu filho só está naquela cama por causa dessa bichinha de quinta, você deve tá louca ou no mínimo bêbada para falar desse jeito!!! – e de repente BLAFFF!

Vi a cara de Jaque vermelha como tapa que Cláudia lhe deu.

Cláudia: saia daqui A-GO-RA!

Seus olhos estavam vermelhos de ódio e ao passar por mim ela disparou: você vai se arrepender amargamente de ter se metido no meu caminho!

A ameaça estava feita porém nem dei trela para o que ela falou. Queria ver como a Cláudia estava depois dessa discussão.

Cláudia: estou bem, já enfrentei piores do que essa. E nem se preocupe com esse tipo, só ficam na ameaça.

“Será que ficaria somente na ameaça mesmo?” Não queria pensar nisso agora.

MILAGRE 03.

Passaram-se 3 semanas e Matt foi transferido para um quarto individual porém ainda não havia acordado. Os sedativos foram sendo retirados aos poucos e a qualquer momento ele poderia acordar. Eu quase não ia em casa. Ir pra Jundiaí então nem pensar. Cláudia e eu nos revezávamos no hospital, algumas vezes permanecíamos juntos. Porém, eu estava em casa quando recebi uma ligação sua: “vem pra cá, ELE ACORDOU!”.

Senti meu coração bater forte. Minhas pernas trêmulas. Minhas mãos suavam frio. Os corredores do hospital nunca me pareceram tão longos. Aquele lugar que já estava mais do que familiar para mim. “Deus obrigado!” – eu repetia baixinho.

Parei na porta do quarto e minhas mãos tremiam. Relutei em abrir a porta. Senti medo de ele não querer me ver ali e ficar agitado. Temia pela sua reação. Contudo, me enchi de coragem e resolvi entrar. Entrei e Cláudia estava ao seu lado, de costas pra mim, impedindo a visão. Ao perceber que alguém entrara no quarto ela se afastou e então nossos olhares se encontraram mais uma vez. Aquele olhar penetrante. Olhar de menino-homem, que me encantou e roubou meu coração. Ficamos nos olhando por alguns segundos que pareceram horas. Seu olhar era indecifrável...

(Continua)

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Comentários

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quero uma mãe assim, ou pelo menos uma sogra assim...! :P 10!

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Queria que minha mãe fosse como a Cláudia, mas ela prefere pensar no que os outros vão falar e tal... Tô namorando há 5 meses com um menino e estamos muito apaixonados, nosso sonho é poder apresentar as nossas famílias... Mas não sei se isso vai ser possível... A mãe dele é igual à minha...

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A sua história é muito boa, espero q não suma. Tadinho do Jimmy, é personagem q mais gosto na história kk

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É Vc Para Agora Na Melhor Parte 😱😱😱😱 Mds Não Demore A Postar Por Favor. Tá Muito Bom Seu Conto 😉

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