Sua carne, meu sangue PARTE 2

Um conto erótico de vamp19
Categoria: Homossexual
Contém 1977 palavras
Data: 17/09/2016 01:04:00

Viajamos à cavalo. Nosso destino eram as grandes praias do leste.

A cidade que deixava para trás havia me demonizado, mas ainda senti tristeza. Sabia que se a história fosse outra, eu mesmo estaria no meio da multidão naquele dia em que quase fui enforcado. Pelo que sabia, era tão sedento por uma justiça sanguinária quanto meus conterrâneos. Faria questão de me ver enforcado, sairia da praça com uma estranha sensação de dever cumprido com o mundo e ignoraria a ferida na minha moralidade.

Cavalgando ao meu lado estava o responsável pela minha desgraça e também pela minha salvação. Eu o odiava, mas também o admirava. Sabia que ele gostava de mim, e estava começando a me afeiçoar, embora não gostasse de admitir. Ele me prometera viagens e uma vida menos monótona. Por que recusaria? O que restava para mim?

Eu acreditava que Franco iria deixar-me ir se eu parasse o cavalo naquele mesmo momento e virasse para a direção oposta. Primeiro porque ele havia me dito, segundo porque não encontrava nenhuma razão para que ele mentisse. Eu sabia do que ele era capaz e ele sabia que eu sabia.

“Eu não podia andar no sol até recentemente” disse Franco, no nosso primeiro dia de viagem. Não soube dizer se ele estava fazendo uma piada, ou uma figura de linguagem, ou se falava literalmente.

“Se escondendo de alguém?” perguntei.

“Alguém não. Apenas dele.”

“Do sol?”

“Eu o odiei por tanto tempo. Ele me feriu incontáveis vezes. Mas agora nossa relação é de apreciação. Ele me toca a pele, e eu o deixo. É como se ele me amasse, e eu o amasse de volta. Do ódio ao amor. Em tão pouco tempo.” A voz rouca de Franco não estremeceu. Eu não entendia o que ele queria dizer, do que estava falando. Mas começava a se acostumar em não saber quando se tratava dele.

“Apois pra mim o sol continua queimando que é uma beleza. Eu não acho que ele gosta de mim” eu disse.

“Está cansado?” ele perguntou.

“Não.”

“Claro que está. É humano, afinal.” Como em todas as vezes que ele arrumava um jeitinho de me lembrar nossa situação, eu me arrepiei.

“Eu ainda posso cavalgar.”

“Melhor não. Vamos parar.”

Eu olhei ao redor. Só havia árvores e mato. Pensando bem, deitar na sombra de uma e comer alguma coisa não seria uma má ideia. Eu olhei para Franco e dei de ombros, apertando os lábios. Claro que não iria admitir que estava cansado. Não deixei de notar que Franco gostava de se gabar por ser ‘melhor’ do que humanos em tudo.

Saímos da estrada, os dois a pé, Franco carregando os cavalos. Eu fui na frente e procurei um local sem grama por baixo das árvores, mas também distante o suficiente para não as queimar quando preparasse a fogueira. Havia carne seca na minha bolsa, achei importante trazer comida para a viagem, mesmo Franco dizendo que não precisava. Agora, ele me pediu para preparar a fogueira, pois não me deixaria comer carne seca.

“Vou caçar.” Ele disse, antes de desaparecer a passos largos. Reparei que ele usou o seu gingado. Senti uma mistura de impaciência e diversão, e virei a minha atenção para a fogueira. Depois de prepará-la, usei o isqueiro para acender.

Dois minutos depois do fogo estar ativo, Franco voltou com quatro pombos gordos. Meus olhos se arregalaram.

“Como você…” e depois me calei. Meu cérebro levava um momento para digerir a informação de com quem eu falava.

“Não, você vai comer essas belezinhas.” Franco se ajoelhou ao lado da fogueira. “Ou você pode me comer.” Ele sorriu. Começou a matar os pombos um por um, quebrando seus pequenos pescoços. Eram pequenos, mas ainda faziam barulho.

Eu me levantei do encosto na sombra onde estava antes dele chegar, descansando. Franco levantou uma mão aberta, dizendo-me para ficar onde eu estava.

“Vou fazer para você.”

“Não precisa.”

“Eu quero. Faz muito tempo que não preparo comida para alguém dessa forma.”

“Que forma? Em fogueira?” perguntei. Franco sorriu minimamente.

“De forma tão limpa.”

Decidi que não queria mais fazer perguntas a esse ponto. Se ele queria fazer comida para mim, não iria reclamar. Eu olhei para o céu azul e depois respirei fundo, fechando os olhos.

Sentia-me calmo. Tão calmo. Era estranho. Tantas preocupações que carregava nas costas não significavam mais nada. Tantas pessoas deixaram de importar. Eu já via o mundo de forma diferente.

Eu bocejei.

“Vá dormir. Eu não deixo nenho monstro chegar perto de você” disse Franco. Eu abri um olho só e o encarei.

Ele sorriu.

“Durma, homem. Posso ver as manchas negras ao redor dos seus olhos aumentando e isso só porque está comigo por três dias. Sam, você não está dormindo. Você precisa. Se acha que pode dar um cochilo agora, faça isso.”

Fiquei alguns segundos com os olhos fechados e depois assenti lentamente.

“Tudo bem.”

“Ótimo. Acordo-o para que coma. Então o deixo dormir mais.”

Minha consciência já estava indo embora antes de Franco parar de falar.

Então ele estava tocando no meu ombro, trazendo-me de volta a vida, tirando-me de um sonho que já havia esquecido, cujo efeito ainda deixou meu coração acelerado. Franco não demonstrou nenhuma expressão de reconhecimento ou preocupação, então eu não havia falado enquanto dormia. Isso me deixou mais tranquilo.

O cheiro dos pombos estava incrível. Todos os quatro estavam bem assados. Seus pequenos corpos diminuíram no processo, mas agora pareciam suculentos nos espetos, brilhando dourados.

“Todos seu” disse Franco. “Eu não estou com fome.”

“Obrigado.”

Os pombos deixaram de existir em segundos, pareceu. Eu olhei para Franco.

“Obrigado” repeti.

Ele balançou a cabeça, como se estivesse olhando para um bobalhão, e apontou para o local na árvore onde eu dormia.

“Durma.”

“Já está anoitecendo” disse eu.

“E?”

“Eu não gosto de passar as noites acordado.”

“Iria se surpreender com as aventuras que a noite pode lhe presentear” disse Franco, bem humorado. “Eu aposto que você vai dormir direto, sem nem mexer um músculo sequer. Eu já disse, Sam, eu sei que você não dormiu muito esses dias. Volte a dormir. Não se preocupe com a noite. Eu cuido de você e dela.”

Eu engoli em seco e, colocando o chapéu no meu rosto, voltei a dormir. Pareceu que mesmo no sono podia sentir a presença enorme dele perto de mim. A sensação era de estar protegido. Por que então eu estava com medo?

Ainda era noite quando acordei, mas sentia nos meus ossos que o amanhecer estava próximo. Só ao me levantar que notei estar deitado, um cobertor em cima de mim, protegendo-me do frio. O fogo tinha ido embora. Eu realmente havia dormido demais, exatamente como Franco disse que seria.

Onde ele está?

Estava escuro. Só conseguia ver as silhuetas das árvores contra o céu estrelado. A lua estava estranhamente ausente. Um dos cavalos fez barulho no sono, não muito distante de mim.

Usei o isqueiro olhar ao redor. As cinzas da fogueira ainda esfumaçavam, embora nenhuma brasa pudesse ser vista. As duas bolsas de viagem estavam na árvore vizinha a minha, do lado direito de onde estava sentado. Eu peguei um cigarro no bolso, acendi-o e comecei a fumar.

Não sabia se estava irritado com Franco por ter mentido, ele disse que ficaria por perto. Eu certamente não precisava dele, mas ele disse.

“Eu posso sentir os seus batimentos acelerando daqui” ele disse, assustando-me.

“Por Cristo!” Eu comecei a tossir, sentindo a fumaça do cigarro invadir lugares no meu corpo que não deveria. “Não faça isso!”

Franco estava em algum lugar bem na minha frente. De alguma forma, eu o havia deixado passar. A luz do isqueiro era fraca demais, provavelmente.

“Você achou que eu tinha lhe deixado sozinho.” Não era uma pergunta.

“Estava tudo escuro e eu não consigo enxergar no escuro” eu disse. Havia recuperado a calma. “Só não o vi.”

“Ainda assim, no escuro, assumiu que eu não estava aqui” insistiu Franco. Sua voz na escuridão parecia em divertimento, imaginei um sorrisinho debochado no seu rosto. “Ficou irritado comigo, Sam?”

“Honestamente, eu estou sempre irritado com você.”

“Justo.” Franco ficou em silêncio.

“Vamos continuar assim que o sol nascer?”

“Eu gostaria disso, sim.”

O cigarro foi diminuindo, meu corpo se arrepiou com a gelidez daquela noite.

“O que você fez enquanto eu dormia?” perguntei.

“Esperei você acordar” disse Franco. Eu encarei o escuro, com a respiração paralisada por um momento. Ele pareceu mais necessitado do que nunca. Às vezes ele era desse jeito, mas agora foi algo especial.

“Eu estou acordado.”

“E o sol está quase subindo. Eu já consigo ver a luz flamejante surgindo no horizonte.”

“Eu não vejo nada.”

“Claro que não” ele fungou. “Humanos…”

“Pare. Pare com isso” disse eu. Era a primeira vez que levantava a voz para ele, estava ressecada por causa do sono e o cigarro, mais amargurada do que eu gostaria de demonstrar. Franco não deixava nada passar. Porém não consegui conter. “Eu não sou burro. Não sou sua mula pra vigiar a noite inteira. Eu sei a minha situação. Não precisa me lembrar.”

Eu acabei o meu cigarro.

“Franco?”

“Pois não, Sam.” Franco não demonstrou nada. Não fiquei surpreso.

“Você está olhando para mim?”

“Estou, Sam.”

“Olhando nos meus olhos?”

“Sim.”

Com o coração acelerado, eu acendi outro cigarro.

“Venha cá pra perto” eu disse. “Se quiser.”

Com a mão na escuridão eu mostrei o espaço ao lado.

“Eu amo o jeito que você me deixa confuso” disse Franco, com uma honestidade risonha. Ele se levantou, eu pude escutar.

Franco veio até mim e sentou-se ao meu lado. O cobertor cobriu as nossas pernas sem dificuldade, elas se tocaram, nossos ombros também. Franco era mais alto que eu, mais forte, mesmo para aqueles que não o conheciam tão bem quanto eu. E eu mal o conheço.

“Lá, consegue ver agora?”

“Agora sim.” O horizonte sangrava. O sol se aproximava.

Franco estava todo arrepiado. Eu nunca, nunca havia presenciado essa reação nele.

“Está tudo bem, Franco?”

“Muito bem.”

Eu podia enxergar agora mesmo que dificilmente, tudo tinha um tom azulado e cinzento. Franco e eu continuamos de ombro a ombro. Ele observava encantado o nascer do sol enquanto eu estava fumando. Sua barba crescia muito rápido, havia um rastro de fios menores e rebeldes onde ele sempre cortava bem. Ele gostava da barba volumosa. O que eu mais gostava nele eram seus olhos castanhos, principalmente, e eu não sabia disso até agora, quando olhava o nascer do sol. Tinha a sensação de que Franco estava quase chorando, a lágrima desceria pela sua bochecha pálida a qualquer momento. Meu peito ficou apertado de apreensão.

Ele virou o rosto para mim, um sorriso genuíno nos lábios úmidos.

Eu lhe beijei calmamente. Ele parou de sorrir num instante, encarando-me com intensidade. Quando nossas bocas voltaram a se tocar, não largamos por muito tempo, usei as mãos para puxar seu rosto para mais perto. Nunca havia beijado com tanta necessidade.

Descansei com o rosto na sua bochecha, sentindo sua barba me pinicando. Era uma sensação boa.

“É hora de ir, Sam.” O dia já estava claro. “Eu tenho lugares para mostrá-lo.”

Era impressão minha ou Franco teve um leve tremor quando alisei seu rosto?

“E o café da manhã?”

Franco fechou os olhos, envergonhado. Mais uma emoção que me surpreendia. Eu ainda não sabia de nada a seu respeito, percebi naquele momento.

“Eu esqueci. Desculpe-me. Eu posso arranjar algo.”

“Eu estou falando de você.” Eu lhe mostrei o pescoço. O que mais me agradou foi sua reação, Franco ficou sem palavras. “Não vai querer, grandão?”

“Tá falando sério?”

“Apenas faça logo.”

Ele me deitou no chão, agarrei na sua costa e puxei sua camisa, enquanto ele me imprensava no chão e chupava meu sangue. Eu podia sentir sua vontade, assim como o seu controle.

Eu não senti nenhuma dor que não fosse bem vinda.

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Comentários

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Que bom que vai continuar, está ótimo e não demore pra postar.

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OMG! Não tô acreditando que vc vai continuar! Está perfeito como sempre! Não demora tanto a postar se não eu morro de ansiedade!

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