Na hora do intervalo, fui até o local marcado, é um lugar onde poucos alunos ficavam, havia uns bancos de concreto, era iluminado, mas as pessoas preferiam ficar mais próximos das lanchonetes. Em alguns minutos vi que aproximavam algumas pessoas, logo os reconheci.
Eu: Agradeço por terem vindo – Ali estavam: Sara, Talita, Pedro, Bruno e Otávio – Antes de qualquer coisa, quero pedir desculpas pelo que houve no sábado.
Sara: Você não deve nos pedir desculpas, só queremos entender o que aconteceu.
Talita: Exatamente. – Os demais ficaram me encarando, não pareciam bravos, ou com raiva.
Contei tudo para eles, desde minha infância com Caio até o ocorrido na festa, tudo nos detalhes e com mais tranquilidade, eles ficaram sérios todo o tempo, apenas assimilando o que eu disse, no final, permaneceram em silêncio por um tempo, até que Bruno disse:
Bruno: Então você é gay? Mas você pega garotas, eu vi, todos vimos – Sara deu uma cotovelada nele.
Eu: Eu sei que parece estranho, mas sim, sou gay, aliás, não gosto de rótulos, mas sim, estou namorando um cara. Para mim também é tudo novo, estranho posso dizer. Eu gostava de garotas, apaixonei por Caio, fiquei com garotas e agora estou namorando um cara.
Sara: Mas porque você nunca nos disse?
Eu: Porque eu ainda não havia encarado a realidade, depois de tudo que aconteceu, resolvi parar de negar e agora estou apenas vivendo. Porém não podia deixar de conversar com as pessoas que eu gosto. Hoje conversei com meus pais, agora com meus amigos.
Otávio: Olha cara, não vou mentir que é estranho, eu nunca pensei que você fosse gay, mas o que posso dizer é que você é nosso amigo, passamos por muitas coisas nestes anos da faculdade, provas, trabalhos, e tudo mais. Iremos acostumar, mas tem que entender que é novidade para nós também.
Eu: Entendo perfeitamente, a mesma coisa está sendo com meus pais, não posso obriga-los a entenderem de uma noite para outra, mas agradeço se puderem tentar. Não quero perder a amizade de vocês.
Pedro: Cara, sinto muito, não consigo levar numa boa como os outros. Não consigo entender como você pode gostar de homem, isso é errado. Para mim não dá, eu vou nessa.
Talita: Pedro, onde vai, calma aí. Eu vou atrás dele, mas saiba que estamos contigo, ele logo entenderá.
Para mim foi uma surpresa, de certa forma eu já esperava que alguém não fosse entender, mas ao mesmo tempo, sentia que isso poderia acontecer. Todos ficaram pasmos com a atitude de Pedro, porém era compreensível.
Sara: Não se preocupe, ele só precisa de um tempo. Mas, e você, está bem? Digo, depois do ocorrido em sua festa.
Eu: Estou sim, estou tentando acostumar com tudo que aconteceu, minha rotina voltou ao normal, porém as coisas não são mais as mesmas.
Ficamos ali conversando por um tempo, até que fomos embora, eles voltaram para a sala e eu fui para casa, Rafael ainda estava em aula, avisei a ele que eu iria embora, pois precisava conversar com Vanessa. Peguei um táxi, já que havia ido com o Rafael, no caminho, avisei para Vanessa que me encontrasse lá em casa. Quando cheguei, encontrei-a em meu quarto.
Vanessa: Oi, como foi? – Falou um pouco apreensiva.
Eu: Até melhor do que esperava, apenas o Pedro que não reagiu muito bem, mas não posso culpa-lo.
Vanessa: Entendo. Mas, e com seus pais?
Eu: Estão me apoiando, na deles é claro, mas estão do meu lado, a conversa com Rafael foi tranquila. Eu entendo a preocupação deles.
Vanessa: Olha Luiz, eu quero que me desculpe, eu não esperava aquilo do Caio, mas – Eu a interrompi.
Eu: Por favor, não quero ouvir este nome, você não teve culpa nenhuma com o que ouve, mas não quero lembrar da existência do seu irmão. Eu nunca que esperaria uma atitude como aquela – Falei segurando o choro – Mas, o que posso fazer agora é viver com o que ele me causou, por sorte está sendo melhor do que eu esperava.
Vanessa: Entendo, só que me sinto com muita vergonha, minha mãe não está conversando com ele, ela está muito envergonhada, pois, querendo ou não tudo foi descoberto, e desde o início, Caio era o errado. Ele não apareceu lá em casa, e acho que ele não volta a trabalhar com seu pai. Mas, pode deixar, a partir de hoje não falaremos dele mais, só não quero que nada de ruim lhe aconteça – Ela me abraçou.
Eu: Não se preocupe, e para mostrar que temos que seguir em frente, vamos assistir um filme?
Vanessa: Vamos sim – Falou rindo.
Resolvemos assistir convergente, da série divergente, fomos para a sala, conectei meu computador na televisão e ficamos no sofá, estouramos pipoca e fizemos suco. Ali passei um tempo com minha prima. Ela estava diferente, percebia que ainda se sentia de alguma forma constrangida, por isso eu precisava agir como se nada houvesse acontecido, para que ele pudesse se sentir normal, pois ela sempre esteve comigo.
Após o filme, conduzi ela até sua casa, já que era em frente. Voltei para casa e fui dormir, o dia tinha sido cheio de emoções. Acordei no outro dia, tomei um banho e fui para o estágio. À tarde, fui ao encontro de Sara, que queria conversar comigo. Falei um pouco com Rafael pelo telefone, ele me disse que falaria com os pais hoje, fiquei meio receoso, mas era o que ele queria, então, só podia desejar sorte e coragem, avisei-o que se precisasse de qualquer coisa ele deveria me ligar, depois, fui ao encontro de Sara.
Peguei-a na casa dela e fomos para uma sorveteria.
Eu: Oi. Vamos?
Sara: Oi, vamos sim.
No caminho fomos conversando sobre coisas naturais, faculdade, músicas (tínhamos os mesmos gostos). Sara foi a primeira pessoa com quem conversei dentro de sala que não conhecia antes. Desde então, fomos ficando mais amigos e nosso grupo foi crescendo até ser o que é hoje. Ao chegar na sorveteria, fizemos nosso pedido e sentamos na mesa para esperar, enquanto isso começamos a conversar sobre o verdadeiro motivo daquele encontro.
Sara: Fiquei muito chateada em saber que você guardava um segredo de mim, achei que éramos amigos?
Eu: Mas somos amigos, porém, você tem que entender que não era fácil, eu ainda não tinha certeza que era isso que eu queria, eu ainda negava mesmo sabendo que não devia.
Sara: Eu até entendo, mas queria que tivesse conversado comigo, eu não ia te julgar, até pq não tenho nada contra e você sempre soube disso.
Eu: Sei sim, mas não achava que devia, sei lá, eu ainda lutava contra isso.
Sara: Mas, e o Caio? Você ainda gosta dele?
Eu: Não, na realidade não sei, eu gostava muito dele, mas agora sinto raiva, ainda bem que não encontrei com ele, pq acho que sou capaz de fazer uma besteira, mas, não, no momento, o que posso dizer é que tenho ódio. Não esperava uma atitude dele como essa, e também, tem o Rafael agora.
Sara: Entendo, e você gosta do Rafael?
Eu: Estou cada vez mais, encantado por ele, ele está do meu lado, não que outros também não estejam, mas é diferente. Ele é atencioso, romântico e estou gostando dele, ele está até disposto a conversar com a família, fará isso hoje. Já foi lá em casa, conversou com meus pais.
Sara: Sério? Não sabia, e seu pai, como está reagindo?
Eu: Melhor do que eu esperava. Ainda distante, mas não acho que será o problema, só está tomando o tempo para digerir.
Sara: Estou feliz que esteja dando tudo certo, e se precisar, espero que confie em mim, pq estarei sempre aqui.
Ficamos ali por mais um tempo, depois, levei até sua casa e fui para minha, tinha aula ainda. Não encontrei com Rafael na faculdade, ele talvez não viria, pois conversaria com os pais. Após a aula não consegui conversar com ele. Mandei msg e liguei, mas ele não atendeu e nem respondeu. Fiquei preocupado, não consegui dormir direito, ficava olhando o celular o tempo todo.
