A Dupla Personalidade de Helena

Um conto erótico de Astrogildo Kabeça
Categoria: Heterossexual
Contém 2399 palavras
Data: 01/11/2016 11:27:05
Última revisão: 02/04/2018 16:11:36

Tedson e Abílio moravam em uma cidade de porte médio - cerca de 150 mil habitantes – e cresceram no mesmo bairro. Não eram lá muito amigos, mas jogaram muita bola juntos e participaram de outros eventos acompanhados. Quando tinha 12 anos, Abílio foi morar em uma cidade vizinha, já que seu pai ocupou durante cinco anos um alto posto em uma secretaria municipal. Ele retornou aos 18 para fazer cursinho pré-vestibular. Lá reencontrou Tedson. Como as pessoas que ele conhecia escaparam do seu convívio diário, se reaproximou do antigo vizinho e passaram a andar e estudar juntos.

A irmã de Abílio era líder de um grupo de jovens da igreja católica da paróquia onde morava e foi lá, durante uma quermesse, que ele conheceu Helena. Helena também tinha 18 anos e estava tentando ingressar na vida cristã. Esta durante um papo com Abílio, disse que queria levar uma vida mais calma, que estava muito agitada, querendo colocar a cabeça no lugar depois de um término de namoro traumático. Dias e meses se passaram até Abílio convidar Helena para sair e começarem um tímido namoro. Em razão das reuniões do grupo jovem e a insistência da irmã de Abílio em fazer com que aquele namoro não progredisse para que Helena focasse na construção de sua fé, pouco se viam, mas Abílio soube levar no papo aquela loira baixinha, com bunda redonda e coxas bem grossas – parte do corpo que chamava mais atenção por serem torneadas e bem roliças – a começar um novo namoro. Por ser um rapaz estudioso e bem conhecido, cuja irmã estava ajudando muito ela, Helena cedeu aos encantos do rapaz.

Um mês após o namoro se firmar, Tedson passou de carro e viu Helena conversando com Abílio em um ponto de ônibus. Ao parar o veículo o rapaz buzina, fala com Abílio e, surpreso, cumprimenta Helena:

- Ih! Olha quem está aqui! Helena, como vai você!

Helena ao ver aquele cara com cabelo farto, tipo surfista ou skatista, falando com ela, quase se engasgou. Tedson era bastante amigo do seu ex-namorado, o Aroldinho. Tímida, ela retribuiu o cumprimento e se calou séria. Abílio ficou surpreso como ambos se conheciam. Depois de um rápido papo, Tedson se foi deixando o casal no ponto.

- De onde conhece ele?

- Estudamos no mesmo colégio. Ele era muito amigo do meu ex.

- Você precisa me falar muito o que houve com esse ex.... O Tedson tem alguma participação nisso?

- Não! Não!!! Nada a ver!! A gente mal se falava!!

Abílio resolveu não prosseguir muito. O passado deixava Helena um tanto constrangida e ele resolveu dar tempo ao tempo.

Um dia, ele resolveu interpelar Tedson:

- Velho, o que você sabe sobre esse ex-namorado da Helena? Ela disse que com o tempo ela vai se abrir, mas já que você conhecia esse cara, você pode contar o que houve?

- Cara, eu não queria me meter nessa…Espera ela contar. O que posso adiantar é que ele fez realmente uma sacanagem da porra com ela, isso ele fez. Até parei de falar com ele.

- Mas quem é esse cara? É da nossa época de moleque?

- Não, não... Ele veio fazer um teste como jogador de Futebol aqui no time de nossa cidade. Estudou comigo, éramos da mesma série. Foram altos “babas”, ele joga bem, o sacana... Ele começou a namorar ela e os via de vez em quando.

- Mas qual foi a sacanagem que ele fez afinal????

- Isso deixa ela contar. O que posso dizer foi que ele foi um babaca. Agora deixa isso com ela, ok? Não vou me meter num assunto que não é meu.

Abílio teve que engolir essa. Mas o tempo passou, Abílio entrou pra faculdade de Administração, Tedson foi fazer curso técnico e passou a trabalhar em industrias, e Helena foi fazer secretariado. O namoro progrediu, e anos depois se casaram. Tedson foi o padrinho de casamento. Tempos depois nascia Ana Júlia, a filhinha deles.

Mas qual era o segredo que atormentava Abílio em relação ao ex-namorado de Helena???

Acontece que o tempo passava, o namoro progredia e Abílio achou por bem não forçar Helena a mais nada, embora Helena prometesse, de tempos em tempos, contar a verdade. Foi um dia em que Abílio estava em casa assistindo a uma partida de futebol quando o locutor grita gol

- E é dele: Aroldinho! O camisa 9 é artilheiro e marca mais um. Esse é fera!!

Nesse momento Helena adentra a sala e vê pela tela da TV aquele cidadão comemorando um gol que acabara de marcar. Ela range os dentes e diz:

- Olha onde esse desgraçado está! Fazendo sucesso, esse calhorda!

Abílio consola a esposa e então com toda franqueza ele pede a Helena que aproveite a oportunidade e desabafe:

- Querida... tantos anos depois, será que não seria a hora de desembuchar sobre o assunto?

Helena respira fundo:

- É, já passou tanto tempo, ele tá fazendo sucesso, não adianta ficar guardando rancor…É o seguinte: quando namorávamos, eu era muito novinha, 16 anos, e ele já jogava no time de base daqui. Porém, eu não era fácil. Eu já havia namorado alguns garotos, saia com amigas, ia pra festinhas, essas coisas que toda menina se deslumbra fácil. Quando eu comecei a namorar ele, ele sabia que eu era meio assanhadinha, ele tinha uma moto linda! Um dia ele me convidou a dar uma volta com ela e transamos como loucos pelos entornos da cidade. Daí eu fui ficando apaixonada por ele, apesar de saber que eu era uma espécie de troféu, ele me levava aos jogos, me apresentava aqueles amigos falsos dele. O Tedson era colega de sala no colégio, e eu lá na escola sempre fui bem discreta. Eu não via Tedson com ele pra cima e pra baixo, apenas jogavam bola juntos e por vezes encontrávamos ele naquele bar no Centro. Um dia, porém, Aroldinho me levou pra conversar com alguns dirigentes do clube e o papo ficou meio estranho. Os caras me elogiavam muito, e eu não entendia muito bem aquela situação. Foi quando um dos homens disse “Aroldinho... E aí? Lembre-se de que sua convocação pode sair a qualquer momento. Seleção brasileira, cumpadi! Agora é com você e essa gostosinha…” e caíram na gargalhada. Sem entender, o verme disse que se eu participasse de uma “festinha” com eles, ele seria convocado pra seleção de base e poderia fazer sucesso, e daí nós poderíamos ter tudo que quiséssemos. Eu não acreditava no que ouvia, ele queria que eu me entregasse aqueles homens! Quando tentei sair, fui agarrada pelo gordo que começou a passar a mão em mim. Pisei no pé dele e saí de lá correndo e chorando muito. Aroldinho foi atrás me pedindo desculpas, eu não queria vê-lo, fiquei com nojo dele. Eu sentada em frente da minha casa e ele querendo se desculpar, e eu mandando ele embora. Nisso, um amigo dele passava de bicicleta e parou pra ver o que acontecia. Esse amigo percebeu que ele havia dado uma mancada e persuadiu ele a ir pra casa e me deixar em paz. Ele compreendeu e foi embora. Esse amigo sentou-se a meu lado me consolando. Eu contei tudo a ele, apesar de não ter a mínima intimidade, eu precisava desabafar e mostrar que eu estava namorando um traste que me usava. O amigo falava palavras de conforto que me deixaram mais calma. Me senti melhor e o convidei pra entrar e beber alguma coisa. Ele entrou e daí começou a me elogiar, o cara tinha lábia, o papo ficou bom....Nisso ele começou a acariciar meus cabelos, eu estava fragilizada e vulnerável pela situação e fui deixando me envolver. O rapaz era muito bonito e quando fui ver estávamos nos beijando muito. Daí pra frente... Bem, não sei porque estou lhe contando essa parte, é bem íntima, já contei o suficiente sobre esse traste que tá nesse jogo aí.

Abílio se mostrou fascinado pelo segredo revelado e sentiu muita raiva de Aroldinho por ter proposto algo aquela mulher. Mas no fundo, viu que todo esse imbróglio serviu para Helena rever sua vida, procurar ajuda até se conhecerem e firmarem um relacionamento que se aprofundou até gerar uma filhinha. Sabendo de tudo, refletiu bem e viu que era realmente uma história dramática que Helena soube superar. Quanto ao fato que Helena iria contar e acabou cortando, na hora ele percebeu que parecia não fazer parte daquele contexto e não queria obter mais detalhes, aquela não era hora.

Porém, Abílio ficou com isso na cabeça. Quem seria esse amigo? O que ocorreu depois do intenso beijo descrito por sua amada? Somente meses depois foi que Helena, muito a contragosto, revelou que ela e esse amigo do Aroldinho transaram muito.

- Eu nesse dia estava totalmente vulnerável, a mercê de tudo. Olha.... Esse amigo dele fez o que quis comigo!! Na verdade, aquele ato todo foi em parte uma vingança que ambos estávamos de comum acordo pregando naquele verme! Eu dei pra esse amigo dele... bem... eu... acho que meio por instinto, ele era muito gato, mas a forma como ele me tratou e me elogiou depois de Aroldinho quase me fazer de puta foi fundamental pra que rolasse tudo.

- Mas quem é esse amigo???

- Você não conhece!! Eu nunca mais o vi! Acho que ele saiu da cidade, não sei... Acho que não era daqui.... Nunca mais o vi... O via muito pouco, acho que ele frequentava os jogos do Aroldinho, não me lembro bem agora. A situação é tão constrangedora pra mim agora que nem lembro o nome dele, nem sei se soube o nome dele algum momento! Pra você ter ideia de como eu era! Depois dessa você sabe. Conheci sua irmã e ela me ajudou muito. Sei que esse amigo dele me pediu desculpas depois do nosso sexo. E nunca mais o vi. É isso.

Abílio ficou invocado como sua atual esposa era uma putinha. Deu pra um cara que mal conhecia e que nem sabia o nome! E parece que a coisa foi bem quente. Mas dada as circunstancias que esse fato aconteceu, ele não tinha porque julgá-la. Mas Abílio não esqueceu isso. Vez por outra ele se pegava imaginando sua esposa mais nova em uma trepada desenfreada com um homem sem rosto...

Tudo corria bem até que veio a famosa crise na economia brasileira e Abílio perdeu o emprego que mantinha a 4 anos. Com uma filha de um ano, não podia ficar desempregado. Helena trabalhava como assistente administrativa em uma operadora de planos de saúde e não ganhava tanto assim para sustentar a casa. Ela deu a ideia de pedir ajuda a Tedson

- Mas Tedson é fiscal de tubulação. O que ele pode fazer por mim?

- Fala com ele, homem! De repente ele conhece algumas pessoas

Tedson queria ajudar o amigo, mas a vaga que sobrava não era nada nobre, digamos assim

- Porra, Abílio, sua situação tá complicada, eu quero lhe ajudar, mas a questão é o seguinte: a vaga que eu tenho é pra auxiliar de manutenção de equipamento hidráulico. Nada a ver com você, velho!

- Mas eu tenho que pegar por enquanto, não aparece nada na minha área, a coisa tá russa!

- Eu sei, você tá com filha pequena, pagando carro, prestação de casa, eu sei, o bicho pegou pro seu lado. Mas o serviço, pai... É de madrugada!

- Tedson, porra, alivia a minha barra! A situação tá feia, eu tenho que pegar qualquer desgraça pra manter minha família!!

E assim não teve jeito. Abílio teve que trabalhar cinco dias na semana entre 23 horas e 7 da manhã. O salário até que razoável, com adicionais, insalubridade, essas coisas... Mas era um tormento pra quem trabalhava de segunda a sexta em horário comercial dentro de um escritório ter que se acostumar com mudança tão brusca.

Um dia, ao sair pra mais uma madrugada de trabalho, a filha de Abílio estava queimando de febre. Tedson foi chamado pra fazer companhia para Helena não ficar sozinha caso a menina piorasse. Pouco depois de chegar ao serviço, recebeu uma ligação de Helena avisando que a febre havia baixado e a menina estava dormindo tranquila.

Quando Abílio chegou em casa, foi ver a filha. O que ele estranhou foi Helena roncando ainda, já que essa hora ela era pra estar de saída para o trabalho. “Deve ter dormido bem tarde monitorando como estava nossa filha”. O sono de Helena era profundo e ele ligou para o trabalho dela justificando um possível atraso. Helena acordou quase nove horas, louca de preocupação, atordoada por ter acordado tarde e perdido a hora. Abílio informou sobre a atitude que tinha tomado, mas Helena estava estranhamente agitada...

Um dia de domingo, Abílio foi visitar Tedson. Os dois há muito não curtiam juntos um dia. Passaram a beber, e beber muito, contando casos e relembrando fatos do passado. Até que, completamente bêbado, Abílio contou sobre o fato que atormentava Helena e, levado pela bebida, até contou sobre a transa de Helena com o tal amigo de Aroldinho. Tedson ouvia tudo calado, soltando baforadas e mais baforadas de seu charuto.

- Agora, Tedson, vozê disse que sabia que ele tinha sacaneado com Helena. Ele contou foi?

- Contou, disse que se arrependeu, eu o chamei de babaca e não mais o vi

- E esse cara que comeu ela??? Você sabe quem era???

- Não. Não sei nada sobre disso. Você contou agora

- Naaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaão. Vozê, sabe, sabe sim! Contei tudo e vozê nem (soluça) nem ficou surpreso!

- Olha, cara, eu não vou ficar impressionado... bem... ela é sua esposa você n]ao devia tá contando essas coisas, cara

- Nem vem com essa!! Vozê.... Vozê zabe sim!

Abílio estava embriagado como nunca ficara e passou a cobrar ostensivamente de Tedson uma posição sobre esse fato

- Vozê ficou esse tempo todo morando aqui, alguma coisa tem que saber!

Tedson, que também estava pra lá de Bagdá, começou a rir. Rir muito. Altas gargalhadas. Abílio não entendia

- Vai contar? Por que a risada?

Tedson parou, ficou pensativo e resolveu falar.

- Olha, Abílio... Tô sentindo que você ficou meio obcecado por essa história. Cedo ou tarde você ia ficar sabendo mesmo. Sou bem franco, você se tornou meu irmão e portanto não posso esconder mais nada. Você tá bebão agora, eu também tô, você falou demais e eu também vou desembuchar logo de uma vez. O tal amigo do Aroldinho que comeu Helena de tudo que foi jeito...SOU EU!

(continua)

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Astrogilldo Kabeça a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de Jota,S

Muito Bom! Fiquei curioso para ver o final e é uma pena que eu tenha que sair pra trabalhar agora

0 0