Louco Amor TP2 CP17

Um conto erótico de Lipe
Categoria: Homossexual
Contém 5602 palavras
Data: 18/12/2016 20:19:34

Boa noite minha gente, tudo bem com vocês? Espero que sim.

Bem, esse capítulo ficaria muito grande se eu decidisse colocar tudo, por isso decidi fazer essa bugiganga de dividir em duas partes, a segunda pretendo postar o mais rápido possível, não irei estipular dia pois como já devem ter reparado, não sou muito bom com metas kkk mas posso dizer que em uma ou no máximo duas semanas eu finalmente encerro esse conto que já faz mais de um ano kkk

Vocês não sabem o quanto fico feliz com os comentários de vocês, valeu mesmo gente.

Aline33, neterusso, Plutão, Ru/Ruanito, VALTERSÓ, Catita, William26, Cintia C, nayarah, fefehh e a todos aqueles que só lêêm <3 <3 <3 feliz natal adiantado haha

LOUCO AMOR TP2 Ultimo Capítulo - parte 1

Anteriormente:

Assim que adentrei na sala vi as flores em um vaso d’agua, minha mãe apareceu naquele estante vindo da cozinha e como se lesse minha mente foi logo se explicando.

_ Achei um desperdício deixa-las morrer.

Era interessante como aquela tarde com ele, me fez enxergar diferente o proposito daquelas flores. Apenas sorri para ela e balancei a cabeça.

Naquela noite, diferente das outras, eu tive algo que não era apenas passado, era algo que estava acontecendo no agora! Nem se eu tivesse mais mil anos de vida, passaria pela minha cabeça que ele me amasse daquela maneira e que estaria disposto a me esperar o tempo que fosse. Mas será que não seria burrice da minha parte, parti pra outro relacionamento, dada a minha ultima experiência? Se eu consegui me livra de todo esse sentimento por vocês sabem quem, eu vou me apegar muito rápido a ele, eu sei disso, sei como meu coração funciona. Estaria eu cometendo o mesmo erro de antes? Estaria eu dependendo novamente de algo que posso perder para ser feliz?

E foi assim a madrugada toda, Marcelo – eu te amo – Caio – sentimento – dor – lágrimas Etc. Etc.

Continuação:

Quando tomava café, isso as nove horas da manhã, quando há muito tempo desistira de dormir, Aquiles entrou pela porta e se sentou a minha frente na mesa.

_ Já em casa? Pensei que fosse passar mais dias com ele. Aconteceu algo?

_ Precisamos ajuda-lo, pai. – disparou.

_ Ajudá-lo?

_ Isso. Ontem fiz uma série de perguntas normais a ele sobre seu novo romance e ele se estressou comigo. A noite, peguei seu celular e sabe o que eu achei nele? Fotos suas. – disse apontando com empolgação para mim. – nenhuma de sua amada, sem contar que ele disse apenas da boca pra fora que gostava da garota misteriosa, ele nem conseguiu olhar na minha cara, pai, e hoje de manhã, me acordou cedo todo nervoso para me trazer de volta, pois havia aparecido algo urgente na fazenda, men-ti-ra, assim que ele me deixou aqui e se foi eu liguei para o tio Caique e ele nem sabia de nada.

_ Isso não faz sentido. – comentei intrigado com que acabara de ouvir.

_ E o mais intrigante é que enquanto estava lá tive a sensação de está sendo vigiado.

_ Está assistindo muito filmes. – disse sorrindo ao levar a xicara de café a boca, estava fazendo um esforço enorme para não pensar muito naquelas informações que foram jogadas em meu colo, pois sei que há uma explicação razoavelmente lógica que não conseguíamos enxergar, não quero criar esperanças e depois ter que vê-las sendo destruídas, vivemos na vida real, e sei que ela não é nada complacente. Sobre a mesa, vi meu celular vibrar, ao desbloqueá-lo vi que era uma mensagem de Marcelo no whatsapp, abri inocentemente e algo que não foi a mensagem me chamou atenção.

_ É sério pai, talvez essa garota nem exista, ninguém nunca a viu, nem sabemos o nome dela.

_ Débora.

_ Quê?

_ Débora é o nome dala. – disse lhe mostrando a foto e a frase de perfil de vocês sabe quem.

“Sabe quando você quer que um momento dure para sempre? Então, é assim quando estou com você. Debora, te amo”

Na foto eles estavam em uma casa, provavelmente o ninho de traição deles, e o pior: pareciam felizes. Minha mão apertou tão forte o copo que por um momento pensei que poderia quebra-lo apesar de meus poucos músculos, naquele momento fiquei tão cego de raiva que imaginei mil e uma formas de tirar o sorriso daqueles rostos, aliás, era a primeira vez que conseguia sentira raiva dele depois de ter me contado sobre a traição.

_ Não pode ser. – ele disse tomando o celular de minha mão. Seus olhos percorriam cada pixel da foto em busca de uma explicação, de alguma espécie de conspiração. – Essa frase não faz o tipo dele, nem muito menos essa, essa, esse ser aqui e que sorrisos forçados são esse?

Ela realmente não era um símbolo de beleza feminina, tinha os dentes meio amarelados, cabelos desgastados e uma pele de uma idosa de sessenta anos, apesar de não ter mais de vinte e cinco.

Sorri de lado e com as mãos tremulas levei novamente a xicara de café a boca, minha mente gritava: “Não pensa nisso, não pensa...”, mas não deu para segurar, a dor veio com tudo e com ela, lágrimas e mais lágrimas de raiva por ele está fazendo aquilo. Ouvi quando uma cadeira foi arrastada e quando passos hesitantes vieram em minha direção para logo em seguida me acolher em um abraço caloroso.

_ Pai, ele não a ama, ele ama o senhor, tá, essa mulher existe, mas existe várias outras pontas soltas, não deve desis...

_ Não! – disse me levantando abruptamente. – Não ama, não quero nunca mais que você toque no nome, ou faça menção a ele perto de mim, seja lá o que estiver acontecendo ele me deixou de fora, então chega! Pra mim já basta. Não vou deixar a vida me passar uma rasteira sempre que quiser rir da minha cara.

_ Já basta porque o senhor já tem outro pra lhe consolar não é? Marcelo? É sério isso? Olha o que ele foi capaz de fazer com o senhor.

_ Pelos menos ele está tentando se redimir, quer me ajudar. E não, ele não é meu premio de consolação, ele não tem nada a ver com isso, eu só cansei de ter esperança, cansei de chorar por ele, cansei de ouvir o nome dele, cansei!

_ Que gritaria é essa gente? – indagou minha mãe entrando na cozinha. O que ela falou foi como um clique em minha mente, estávamos brigando e eu nem percebera.

Suspirei fundo e arrependido pela maneira e tom que falei disse:

_ Desculpa.

_ O senhor vai ter que escolher, Marcelo ou a sua família. – ele disse e se retirou me deixando pasmo com aquele ultimato repentino.

_ Marcelo? O que Marcelo tem a ver com isso, Lucas? – minha mãe perguntou desconfiada.

Apenas balancei a cabeça e segui atrás dele, ele não abriu a porta e nem me respondeu, então decidi deixa-lo em paz e saí pra caminhar, arejar um pouco a cabeça. Na pracinha do bairro me sentei em um dos balanços vazios, não tinha muitas crianças àquela hora, então acho que não estaria impedindo ninguém de se divertir, peguei novamente o celular e abri a mensagem de Marcelo pela primeira vez, a mensagem que fez com que Aquiles tirasse conclusões precipitadas.

“Oi, passando só pra dá bom dia. Não sei porque, mas não paro de pensar no dia de ontem, seu cheiro ficou em minha camisa, acho que não vou lava-la nem tão cedo.” Recebida as nove e quinze.

Bem sugestiva por sinal, não foi a toa que Aquiles reagiu daquela forma.

“Daqui a pouco estou indo para a escola, reassumir meus compromissos. Minha mãe está melhor, meu pai lhe fará companhia esses dias”. Recebida as nove e dezesseis.

“Está tudo bem contigo? Falei algo errado? Não sei lidar muito bem com vácuos, ainda mais de você rsrs” Recebida as nove e vinte e um.

Provavelmente todas visualizadas por Aquiles, como não foi respondida, ele também acabou tirando conclusões precipitadas. Já era dez horas.

“Estou chegando ai”. Recebida agora.

Whats? Como assim, só por causa de um vácuo?

“Aquiles acabou vendo as mensagens antes de mim, tirou conclusões precipitadas e ficou furioso, não precisa vir.” – expliquei.

“Tarde de mais, já estou na esquina da sua rua.”

“O que? Está louco? Eu não estou em casa e meus pais te odeiam”.

“Onde então? Não vai me deixar dá viagem perdida não é :/”.

Por insistência acabei lhe informando onde estava, dois minutos depois, ele já descia do carro e caminhava em minha direção ao mesmo tempo em que tentava disfarçar um sorriso. Ele se sentou no balanço ao lado, toda estrutura rangeu e se envergou um pouco por causa de seu peso.

_ Se quebrar você que vai pagar. – eu disse dando um sorrisinho de lado.

_ Cê é louco? O salário que me paga não dá pra isso não. – Brincou.

_ Ah, vai reclamar agora é. – disse sorrindo.

Não fazia nem um minuto que ele chegara e já me fizera rir.

– Veio até aqui só por causa de um vácuo seu louco? – continuei.

_ É o mesmo caminho para se chegar em casa, só fiz um pequeno desvio. E como te disse não sei lidar muito bem com vácuos, não queria ir embora pensando que está com raiva de mim ou que precisa de um salvador. – ele disse sorrindo.

Vê-lo ali com tanta determinação em não me perder me fez lembrar de um episodio que ocorreu há vários anos; estava prestes a acabar o que tinha com Caio quando ele com medo de me perder, me surpreendeu ao dizer que ficaria só comigo, indo totalmente contra sua natureza de não ser de uma pessoa só, naquela tarde ele pegou o carro e saiu determinado a acabar o namoro com Teresa, e assim – como vocês sabem – o fez.

_ O que foi? – ele perguntou quando notou minha expressão. – Foi por causa da briga com seu filho? Me desculpa, eu não tive a intensão...

_ Não foi por causa disso, quer dizer, não só por causa disso, mas você nem te culpa de nada, não poderia imaginar que ele iria ver.

_ Então o que mais te aflige?

_ Levei outro soco da vida hoje e decidi que ao invés de deixa-la me destruí aos poucos, destruiria eu mesmo de uma vez só qualquer resquício que me faça ter essa tosca esperança dele de ainda sentir o mesmo que eu. – nisso meus olhos já se enchiam de lágrimas. Ele me ouvia atentamente – Não dá, não dá Marcelo para continuar alimentando isso, dói, dói bastante.

_ Você tomou um passo importante e ousado quando resolveu por um fim as suas esperanças, Lucas, saiba que não vai se fácil apagar essa dor que você sente, e pode parecer clichê, mas é verdade; o tempo é a resposta pra tudo, mas claro, você tem que contribuir com ele para poder se libertar o quanto antes e saiba que pode contar comigo, como um amigo que quer o seu bem...

Era interessante como podemos dizer uma coisa só, usando tantas palavras distintas, sei que quando decidi esquece-lo, estava automaticamente dizendo que mataria o amor por ele de dentro de mim, mas usar palavras mais suaves ajudava a encarar melhor as coisas e acho que era isso que eu pretendia até aquele momento quando ele jogou a verdade nua e crua para meus neurônios processarem. Como posso matar esse amor? Um amor que nasceu mesmo antes do dele, um amor que moldou minha personalidade ao longo de todos esses anos e me tornou o que sou hoje e que me deu um filho, Como eu posso fazer isso? Era uma parte vital pra mim, onde arrumar tal coragem? Engoli em seco.

_ ...sei que não tem cabeça pra pensar nessas coisas agora e nem tão cedo, por isso te prometo que sem cantada besta ou olhares maliciosos, serei cem por cento hétero enquanto você desejar que eu seja. – ele olhou pra mim quando terminou e viu a minha expressão um pouco amedrontada e como se lesse meu pensamento, falou exatamente o que eu queria ouvir. – Eu passei dias sem querer matar o que eu sentia por ela, Lucas, porque era, meu Deus – ele colocou as mãos na cabeça em um movimento dramático. – a coisa mais bonita que um homem poderia sentir na vida, ela conseguiu trazer a tona o melhor de mim, Lucas, mas os dias foram se passando e foi natural o que eu sentia por ela ir diminuindo à medida que eu não a via, não falava com ela e não tinha notícias, então não tente pensar muito nisso.

_ Por favor, me fala que não foi eu que lhe corrompi. – disse para descontrair.

Ele sorriu.

_ Não, eu sou bi, já tive várias experiências sexuais com outros garotos na adolescência.

_ Amorosa não?

_ Nunca tive vontade, pra mim era apenas diversão, não conseguia criar laços afetivos com nenhum cara, era só com mulheres. Isso até alguns meses atrás.

_ De uma forma ou de outra, lhe corrompi. – disse sorrindo.

_ Pois é. – disse também sorrindo.

_ Mas diz aí, porque terminaram?

Ele fez um sinal de chifre com a mão e disse:

_Bem vindo ao clube.

Sorri de lado.

_ Obrigado por tudo Marcelo.

_ Me agradeça quando seu coração estiver livre.

Ficamos conversando ainda por um bom tempo até que tivemos que ir embora, ele para o interior, para poder dá aula e eu, para minha nova casa há algumas quadras dali. Quando cheguei, Aquiles me esperava na sala, estava arrependido do que tinha dito, conversamos e acabamos por nós entender, ele respeitou minha decisão de não querer mais falar sobre vocês sabem quem, mas não prometeu em parar de continuar investigando as pontas soltas.

Quando consegui ficar sozinho no silencio do meu quarto, peguei novamente meu celular e por uma ultima vez, contemplei as mesmas fotos que Aquiles disse ter visto no celular de Caio antes de em único suspiro de determinação apaga-las em definitivo, depois de uma pausa para respirar, conter o choro e revigorar minha determinação, me agachei e peguei uma caixinha onde eu guardava algumas lembranças que me faziam sorrir, como o primeiro desenho de Aquiles; um desenho perfeito – para uma criança de cinco anos – de toda sua família, agora imagina a confusão que isso deu na escola? Um casal gay em um desenho de uma criança, havia também a ultima foto minha, de Teresa e... dele reunidos lá na festa de formatura do ensino médio, por um segundo fiz menção em rasgar a sua parte, mas eu não poderia danificar aquela foto, era especial, foi a ultima que ela tirou em vida.

Ela estava linda, parecia tão feliz e tão cheia de vida, e então aconteceu aquilo. Apesar de não cita-la muito nessa narração, não houve um dia sequer desde sua morte que eu não pense nela, não pense em como estaria tudo se ela ainda estivesse aqui.

_ Sinto tanto sua falta minha amiga. – disse deixando escorrer a primeira lágrima antes de coloca a foto junto ao desenho de Aquiles na cama.

O terceiro item que tirei de lá era outro desenho, dessa vez dele, Caio, aquela do dia em que brigamos e ele me passou por debaixo da porta “Me desculpa?”, novamente fiz menção em rasgar, mas minhas mãos simplesmente não obedeciam, só faziam tremer e nada mais, na quarta tentativa mal sucedida já estava o colocando junto aos outros itens a salvos, o quarto era a minha aliança de casamento (não erámos legalmente casados, mas para nós não importava muito, para ele não importava na verdade, eu sempre quis, mas ele sempre dificultava, então depois de um tempo acabei deixando para lá também), passei meia hora rodando aquilo entre meus dedos sem saber o que fazer com ele até que me levantei, abri a janela e me preparei para arremessar bem longe, mas não consegui, era como se eu tivesse usado toda minha força para apetar um único botão de delete que eu ainda por cima já me arrependia de ter o feito, até tentei restaurar o cartão no dia seguinte, mas não deu em nada. Olhei de relance para a caixa vazia em cima da cama e para toda aquelas lembranças amontoadas sobre a cama e me toquei que a maioria tinha sempre ele no meio, ele era parte da minha vida. Passei aquela noite toda frustrado comigo mesmo.

Alguns dias após comecei a sair com Marcelo a festas e a eventos no que ele chamou de missão “Anti-sofrencia”, ele me tratava super bem, me fazia sentir especial, feliz, e por algumas horas eu conseguia sair da fossa em que me encontrava, mas quando chegava em casa e não tinha sua companhia e apenas Aquiles e meus pais para me fuzilarem “disfarçadamente” com os olhos já que reprovavam essa minha amizade com Marcelo, era Caio quem eu desejava está ali comigo, era Caio quem eu desejava está me levando para sair, era ele quem eu desejava que estivesse no lugar de Marcelo me fazendo bem, acabava por me odiar por isso e como resultado voltei a me isolar em casa. Nesse tempo comecei a perder bastante peso, pois não comia e nem dormia direito, logo meus pais, Aquiles, Marcelo, Fagner, Vini e até amigos da minha mãe – que provavelmente já sabiam de toda a história, o que só aumentava minha vergonha – me aconselharam – para não usar a palavra: pressionaram – a procurar um psicólogo. Nem preciso dizer que desfaçar que estava bem para os meus pais até está realmente bem não foi um plano que deu muito certo. Semanas após fiz o que pediram e procurei um especialista que me passou alguns remédios para dormir e tarja preta, nem acreditei quando li esse nome, tomei um verdadeiro choque de realidade, será que eu chegara ao ponto de ser tachado como louco?

_ Não achamos que esteja louco Lucas. Isso vai lhe auxiliar em sua depressão. – disse minha psicóloga quando a indaguei a necessidade daquilo.

Ela e minha mãe passaram um bom tempo a sós, conversando depois que sai do consultório e tenho quase certeza que a ideia de me cercar de cuidados havia partido dali, depois desse dia não conseguia mais sair sozinho para caminhar, – a única coisa que eu ainda tinha vontade de fazer – nem ao menos ter a privacidade de meu quarto para chorar sem ter alguém me vigiando, não sabia do que tanto tinham medo, talvez fosse uma tática para reprimirem meu chororô. Eu era muito ingênuo mesmo.

Mas nem a visita semanal com a psicóloga, nem os remédios e muitos menos a vigília constante ajudou em algo, logo a pressão para que eu ficasse bom rápido se intensificaram até o ponto de eu não aguentar mais e pegar uma navalha e aponta-la na direção de meu pulso esquerdo, talvez eu esteja realmente ficando louco.

Mas e o medo de sentir dor? Bem, terei de suportá-lo.

Comecei a passar a faca bem lenta e fortemente pelo meu pulso. As forças eram ambíguas; se por um lado eu tinha medo de me ferir, por outro, queria acabar logo com aquele desespero...

E eu continuei... Tentei manter a mente o mais vazia possível para evitar que algum pensamento me fizesse mudar de idéia.

A sensação era de que eu estivesse em transe. Esforcei-me para manter a mente vazia. Aquela mesma mente tão cansada, tão sofrida... Cansada de tanta dor, de tanta humilhação, de tanto ódio de mim mesmo, de tanta vergonha por deixar que todos vejam que eu não consigo superar o termino de um maldito casamento de dezesseis anos.

Foi então que ouvi batidas na porta, de primeira pensei em ignorar, mas quando ouvi: “Pai. Abre aqui, pai”, minha sanidade pareceu voltar naquele estante, vi o quanto estava sendo egoísta, lutei tanto para ter seu amor e ouvi-lo novamente me chamando de pai... Não posso desperdiçar essa minha conquista.

Olhei para o pulso. Ainda não estava totalmente lacerado, mas já apresentava um corte.

Cai em mim. Corri para o banheiro, joguei a navalha na pia, lavei o pulso, o rosto e disse a mim mesmo; vou lutar mais um pouco.

_ Oi. – disse ao abrir a porta com a melhor expressão que consegui arrumar.

_ Porque a trancou? – ele perguntou desconfiado ao passar por mim.

_ Por nada ué.

Ele se jogou no colchão no chão e colocou as mãos atrás da cabeça e ficou me olhando. Esqueci de dizer que ele havia se mudado para o meu quarto há alguns dias para me vigiar a mando de minha mãe, eles negam, mas ah, quem eles querem enganar!

_ Quero uma festa. – ele disse do nada.

_ Festa? Você nunca gostou de festas de aniversário, porque isso agora?

Ele iria completar dezessete anos logo mais.

_ Quem não gostava de festas de aniversário era o antigo eu, esse gosta. – ele disse com um sorrisinho de quem estava aprontando.

_ Pulando a parte em que eu lhe pergunto o que está aprontado e você diz que não e eu insisto para você me falar até eu cansar e desistir, tá ok, vai ser legal ocupar minha mente planejando algo.

_ Ótimo. – ele disse.

_ Boa noite filho. – disse me agachando e lhe beijando a testa.

_ Pai. – ele disse segurando em meu pulso direito. Por um momento levei um susto ao pensar que ele poderia sentir o leve corte na região, mas logo me tranquilizei ao notar que não era aquela mão. – Eu sei que pediu para não perguntar como estava a cada dois minutos, mas já faz quase vinte quatro horas que não lhe faço essa pergunta, estou preocupado com o senhor, todos que lhe amam estão, ainda mais depois do que vovó falou. Putz, falei de mais.

_ Aquiles, fala.

_ Bem, seus pais estão com medo que você atente a sua própria vida.

O tempo parou naquela hora pra mim, meu coração parecia que iria saltar pela garganta. Era difícil admitir, mas eles estavam certos.

_ Claro que eles não falaram tão diretamente. – ele continuou. – mas foi o que eu entendi e o que quiseram dizer, por isso essa vigilância constante.

_ De onde tiraram essa ideia?

_ Eles falaram com sua psicóloga e ela falou que nesses casos de depressão é fácil uma pessoa chegar a pensar nisso, mas claro que o senhor não tentaria isso não é?

Como havia imaginado. Então era isso do que tanto tinham medo.

Forcei um sorriso e tentei soar o mais convincente possível quando minha boca se abriu.

_ Claro que não. Tenho o muito que viver ainda. Agora vamos dormir tá bem, estou um pouco cansado.

_ Boa noite.

Deitei em minha cama, desliguei a luz e sobre a penumbra fitei aquela pequena marca avermelhada em meu pulso esquerdo e me dei conta que eu tive medo da coisa errada o tempo todo, não deveria temer em matar o que sentia, e sim, se era possível tornar o que sentia em uma doença que me deixaria tão cego ao ponto de tirar a minha vida.

Mais uma noite de pouco sono.

Os dias seguintes foram exclusivamente dedicados a essa festa de Aquiles, espaço físico, bufet, decoração etc., ainda faltava um mês, mas me senti muito feliz e ansioso com essa permissão dele, desde que ele era criança que eu não tinha esse prazer, pois ele sempre detestava por mais simples que a comemoração fosse, e foi procurando no Google um espaço legal na cidade para montar a festa que algo me veio a cabeça; ele não estava fazendo isso porque mudou seus gostos e sim porque sabia que eu iria curtir planejar tudo e quem sabe “melhorar”, ele felizmente estava certo. Então era isso que ele estava aprontando. Esses dias também foram marcados por uma constante frustação que Aquiles teve que enfrentar pelo descaso de Caio em relação a ele, seu próprio filho. Desde aquela vez em que o levou para pescar, não tem aparecido mais e se limita a dá desculpas e mais desculpas pela sua ausência sempre que o mesmo lhe liga, é notório para mim a saudades e o ciúmes que Aquiles vem sentido do pai desde que soube da existência de Débora, assim como eu, ele se sentiu passado para trás, e apesar de usar a desculpa para quem o pergunta e para si mesmo de que só está tentando me ajudar, eu já sabia o real motivo e era doloroso vê-lo daquele jeito. Certo dia, já cansado daquilo tudo, tomei o celular de Aquiles depois da enésima vez ele perguntar o porque daquele final de semana não dá.

_ Qual o seu problema? Faz meses que você vive com a mesma história, o que é, só porque arrumou uma nova família, se sente no direito de esquecer do filho? Deixa de ser babaca! Ele está com saudades de você. – falei irritado sem dá chance para que ele se defendesse, pois logo devolvi o celular a Aquiles e subir para o meu quarto.

Narrado por Aquiles:

Ainda estava de boca aberta quando peguei o celular, na verdade até meus avós estavam diante daquela atitude inesperada, porém plausível.

_ Lucas? Lucas? Tá aí? – fui desperto com ele praticamente gritando no celular.

_ Oi, é o Aquiles.

_ Foi o seu pai que falou aquilo?

_ O próprio.

_ Estava irritado. – comentou.

_ Pois é. – me limitei a dizer.

Depois disso ele ficou em silencio, só ouvia a sua respiração e acho que ele a minha, estava incomodo, então decidi que era hora de dá tchau.

_ Bem, acho que é isso!

_ Ele está certo, eu não podia ter atrasado sua mesada e agora com essa greve dos bancários ficará bem complicado eu depositar a tempo de você pegar.

_ O que? – perguntei confuso. – Mas...

_ Tenho uma ideia, irei mandar pelos correios. Na sexta feira deve chegar.

_ Do que você está falando?

_ Só confie em mim tá certo. Só te peço que não comente mais nada com seu pai sobre isso até o dinheiro chegar tá certo? Ele pode se estressar ainda mais. Não se esqueça, sexta, na sua caixa de correios.

E então ele desligou.

Ele não estava louco como estava pensando, bastou apenas alguns minutos pensando no que ele dissera para as coisas fazerem sentido para mim, era muito surreal se o que estou pensando estiver acontecendo. De qualquer forma, algo me diz que descobrirei sexta. Como me foi pedido, decidi não contar nada ao Lucas antes de ter certeza de tudo.

A sexta- feira pareceu que nunca chegaria, mal dormi esses três dias – incansáveis dias – de tão ansioso e principalmente preocupado que eu estava. Ele iria me contar o que estava acontecendo – era evidente isso depois daquela atitude – e a depender do assunto, ele voltaria para o meu pai adotivo e seriamos uma família novamente, eu, ele, Lucas, Vini e meu tio Caique.

Quando finalmente a sexta chegou, o céu parecia que desabaria a qualquer momento, o dia estava tão escuro que parecia noite, estava tão frio que não me surpreenderia se começasse a nevar pela primeira vez em solo nordestino, mas nem isso me impediu de ficar esperando o carteiro no lado de fora, mesmo ainda faltando uma hora para o horário que ele costumava passar.

Assim que ele chegou tive que conter a ansiedade para ele não sair correndo pensando que eu poderia ser um ladrão, esperei de longe ele colocar as cartas na caixa de correios e fui lá pegar, passei para trás todas as outras que não me interessavam e quando já me desanimava, lá estava ela, a ultima entre todas as outras.

De: Caio.

Para: Aquiles.

Não podendo esperar nem mais um segundo, a abri ali mesmo e li. Uma tarefa que ficava difícil a cada palavra escrita ali, era muito mais do que eu havia imaginado.

Narrado por Lucas:

_ De jeito nenhum! – berrou meu pai quando Aquiles disse no café da manhã que convidaria Caio para a festa.

Não havia pensado nessa possibilidade até então, mas era meio que obvio, afinal ele iria querer seu pai presente.

_ Ele é meu pai, vô.

_ Ele tem razão pai. – me limitei a dizer.

_ Então iremos estipular um horário para cada um naquele espaço para não terem que se esbarrarem.

_ Isso é ridículo. – protestou.

_ Seu pai ainda não está bem. – disse minha mãe, para logo em seguida se arrepender. – desculpe querido.

_ Não, tudo bem, é verdade mesmo. – me virando pra Aquiles disse – Tem razão, é ridículo, mas é melhor assim, não estou preparado para vê-lo novamente, ainda.

E então só ouve o barulho dos talheres contra o prato e o mastigar da comida até o final da refeição.

***

_ Como estou? – perguntei ajeitando a gravata borboleta em frente ao espelho.

_ Está bom pai. – Aquiles disse pela milésima vez.

_ Está crescendo. – disse me virando para encara-lo.

_ Ah não começa. – ele disse rindo.

Me aproximei dele e pousei minhas mãos nas laterais de seu braço.

_ Parece que foi ontem que te peguei pela primeira vez nos braços. – não queria chorar, mas foi inevitável deixar cair uma ou duas sobre meu terno, ele estava lindo com aquele terno preto levemente fechado sobre xadrez que combinava com a tonalidade da gravata. _ Sua mãe iria ficar muito orgulhosa de você.

Ele sorriu e então me abraçou.

_ Tem certeza que não quer ir agora conosco?

_ Desculpa filho, é... só... ah...

_ Está tudo bem, sério. Sei o quanto ainda é difícil. Mas as coisas vão mudar hoje, confie em mim. – disse me dando duas tapinhas nas costas antes sair do abraço.

_ O que você quer dizer com isso? – perguntei intrigado.

Quando ele iria abrir a boca, ouvi algumas batidinhas na porta aberta, era ele, Marcelo.

_ Posso? – ele disse apontando para dentro.

_ Oi Marcelo, entra aí.

_ Aff. – Aquiles disse ao olhar para trás e vê-lo – Vou indo lá pai. – ele disse já se encaminhando pra sair.

_ Feliz aniver... – Marcelo disse estendendo a mão para que ele pegasse o presente que ele havia trazido, mas foi numa atitude extremamente grosseira que Aquiles o ignorou e foi embora.

_ Aquiles! – gritei constrangido para que ele voltasse, mas quem disse que ele me obedeceu? Fiz menção em ir atrás dele, mas Marcelo segurou em meu braço.

_ Relaxa. Tá tudo bem, deveria imaginar, ele não vai muito com minha cara.

_ Ele não pode fazer isso com você! – disse querendo mais uma vez ir atrás de Aquiles, quando fui surpreendido com seus lábios grossos pressionando os meus, um selinho de mais ou menos dois segundos de duração.

_ Esquece. Tá tudo bem.

Eu fiquei tão perdido com aquela atitude que não lembrava mais porque queria tanto sair dor quarto, na verdade não lembrava de praticamente nada num raio das ultimas vinte quatro horas.

_ Bem, vai ficar aqui por quanto tempo? – disse ao passar por mim para colocar o presente sobre minha cama como se nada de mais tivesse acontecido, talvez realmente não tivesse acontecido nada de mais, foi só um selinho pra me acalmar, afinal era século XIX, selinhos são normais não é? Se ele não estava estranho com aquilo, decidi também que não ficaria.

Era a primeira boca que eu beijava há dezessete anos que não fosse a de Caio, se tivesse parado naquele dia pra pensar, com certeza veria que foi estranho, mas nem se compara ao que iria se seguir.

_ Não sei, provavelmente uma hora. Sabe, até ele ir embora.

_ Posso te fazer companhia então?

_ Se não me surpreender novamente.

_ Ah, sabe, é que estava muito nervoso. Prometo não fazer mais.

_ Tudo bem. – disse sorrindo ao me encaminhar para me sentar na cama, ele sentou em seguida ao meu lado e ficamos meio que sem assunto por alguns segundos.

_ Bom, que tal um filme enquanto esperamos? – sugeri já me levantando.

_ Ah, por mim tudo bem.

E foi assim que passamos uma hora e meia assistindo a um filme que teria sido chato sem seus comentários engraçados. Em determinado momento ele se calou e pareceu prestar atenção no filme, fiquei o encarando de soslaio sem que percebesse, ele estava lindo, usava calças jeans e camisa social ambas justas ao corpo, carregava no pescoço uma corrente fina dourada com uma cruz na ponta, continuando a subi, reparei em sua barba cheia ao redor de sua boca farta, a mesma que havia me dado aquele selinho há poucos instantes, pela primeira vez o vi mais do que um amigo, fiquei excitado com aquela montanha de músculos largado em minha cama com aquela cara tão séria prestando atenção no filme, foi como se seu beijo tivesse desencadeado algo dentro de mim que não pude conter, ainda mais quando ele se virou pra mim já rindo para poder fazer outro comentário a respeito do filme. Colocando a mão na lateral de sua bochecha, foi minha vez de pega-lo de surpresa, fui pra cima e colei seus lábios nos meus que se abriram sem nenhuma relutância, com meu peso sobre seu tronco ele acabou deitando de costas em minha cama e como num movimento involuntário, seu braço deu a volta em minha cintura me apertando ainda mais contra seu corpo enquanto sua mão direita penetrava em meu coro cabeludo pela parte de trás forçando ainda mais sua boca contra a minha que roçava em sua barba me deixando ainda mais excitado.

CONTINUA...

Qualquer erro encontrado no texto, me falem, pois não tive muito tempo de revisar, espero que tenham gostados :)

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Comentários

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Olha não aguentei e li toda a serie entre ontem e hoje... Louco para saber o final dessa historia.. Acredito que há algo de errado nesta historia do Caio... Espero ansioso o final.... bjs no coração

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cara eu tava com uma saudades imensa de vc, da sua escrita e dessa série q infelizmente chegou ao final, queria muito q o lucas melhorasse e ao msm tempo q queria ele com o marcelo prefiro ele com o caio pq sl esse negócio da traição n me desceu. bom e isso muito obg e volta logo pf

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😡Quer ver só o Marcelo ir curar a carência do Lucas...Tomará que o Aquiles ou Caio chegue e atrapalhe.FELIZ NATAL

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Show continua por favor mas ainda torco pro lucas ficar com caio a quimica entre eles nao tem igual ♥♥

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Continua pelo amor de Deus!!!!!🙏👏👏👏👏✊🙌😍💓👀😈😋

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Ai muito triste essa depressão do Lucas, mas ainda prefiro que fique com o Caio...

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Huuum, curiosopara ler o que Caio mandou para Aquiles. O mistério, finalmente, revelado. Um abraço carinhoso,

Plutão

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MUITO DRAMÁTICO. LUCAS MUITO DEPRE. ESTIMA BAIXA. ACHO QUE TÁ CHEIO DE AUTOPIEDADE.

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Ameiii , quero que ele fique com o marcelo. Demora pra postar nao kkk...bjs

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