Gabriel... espera! Cap. 20 - FIM

Um conto erótico de Mark
Categoria: Homossexual
Contém 3023 palavras
Data: 21/01/2017 22:02:29
Assuntos: Gay, Homossexual

No outro dia não havia mais jeito: eu precisava voltar para a faculdade e para o estágio. Estava nervoso, ansioso, e não sabia o que encontraria dali em diante e, enquanto estava no ponto de ônibus, perdido em pensamentos, um carro muito familiar parou em frente e abaixou o vidro.

- Opa, e aí, quer uma carona?

Minha vontade era de responder que não, mas minha mão latejava e o dia ameaçava ser quente. O que eu fiz?! Aceitei a carona.

- Bom dia, Pedro! – sorri tímido.

- Não vai mesmo parar de me chamar assim, né?! Esse caralho... – sorriu nervoso.

- Nada. Você sobrevive! – ele sorriu e deu partida no carro.

Conversamos amenidades, falamos sobre minha mão, sobre a Bárbara ter ficado preocupada e sobre como meus pais reagiram à minha chegada tardia. Assistimos à aula, sem trocar nenhuma palavra, a não ser sorrisinhos discretos e involuntários. Almoçamos juntos e ele queria me levar para o estágio. Dessa vez eu recusei porque seria muito abuso da minha parte faze-lo de chofer. Agradeci, caminhei em direção ao ponto de ônibus.

Dentro do ônibus eu me concentrava em ouvir a boa musica que tocava em meu celular, sentado no sol, cortesia de uma pessoa bondosa que viu a situação da minha mão e se compadeceu. Ou simplesmente estava cansada de ficar sentada no sol e cedeu o lugar. Enfim, mal ou bem eu estava ali sentadinho e sem correr o risco de algum esbarrão do meu machucado, que lateja a todo instante. Que coisa horrível!

Sei que desci do ônibus e caminhei em direção ao prédio do escritório sem muito ânimo, torcendo para que aquele dia terminasse sem nenhuma outra tragédia da qual eu me envergonhasse. Tomei o elevador, de cabeça baixa, até que uma mão interrompeu sua subida. Você pode imaginar que em mim criou-se um misto de medo e ansiedade, pois acreditava que poderia ser ele. Gabriel, nome de anjo... e quem sabe do que mais. Mas não era ele.

Voltei resignado aos meus pensamentos e não disfarcei a lágrima que escorregou pelo meu rosto. Diferentemente das outras vezes, entre no ambiente de trabalho sem nada dizer a ninguém, apenas me sentei em silencio enquanto ligava o computador, esperando a lista de tarefas que estava no meu e-mail aguardando para ser resolvida. Pelo menos assim minha mente pensaria em outra coisa e teria uma ocupação razoável por algumas horas.

Estava divagando em pensamentos quando olhei para aquela bela paisagem que antes me fazia sorrir. A janela com vista para o mar. Fixei meu olhar em algum ponto aleatório até que ouvi alguém falando comigo e me concentrei em receber a mensagem do meu interlocutor.

- Oi, Mark, como se sente? – “como eu deveria me sentir?” Pensei.

- Bem, eu acho! – respondi objetivo. Não estava para conversas.

- Entendo. Podemos conversar após o expediente? – pensei em negar.

- Não sei se seria uma boa ideia, Gabriel. – respondi firme, olhando dentro dos seus olhos.

- Não importa, de alguma forma eu sinto que preciso falar contigo.

- Que diferença isso faz? Agora você quer falar? – não fiz questão de reconhecer meu ressentimento.

- Olha, esse não é o ambiente pra esse papo. Eu vou insistir mais uma vez que preciso falar contigo e vou esperar que você não me negue essa oportunidade.

- Você não está em posição de me pedir ou esperar nada de mim! – respondi incrédulo.

- Tudo bem, mas a gente vai conversar, como pessoas maduras, eu espero!

- Não sou eu que precisa de maturidade por aqui.

- Foda-se! Vou entender isso como um sim.

Não respondi mais, estava atraindo olhares inquisidores que com certeza iriam querer saber a origem dessa conversa inusitada. Virei as costas e o vi sair de cabeça baixa. Droga! Ele sentou bem no meio da minha tela viva.

Isso me fez rememorar o início da minha história até aquele momento, me pensar em como no começo aquela paisagem só estava completa se ele também estivesse sentado lá, em como meus pensamentos confusos e aleatórios me levavam para lugares inexplorados até então. Sempre me disseram mesmo que eu era bastante criativo. Não que esses adjetivos viessem em forma de elogios.

Naquele momento eu precisava tomar uma decisão interna. Vocês que acompanharam a história sabem que a essa altura eu estava nervoso, ansioso e não me cabia em mim de tanta agonia. Antes eu estaria mega feliz por saber que ele queria conversar comigo. Agora não me agradava em nada a ideia de tê-lo falando comigo.

Decidi que não ficaria ansioso, que faria meu trabalho da melhor forma possível, que não daria espaço para distrações e que o ouviria de forma madura e consciente de que ele nunca me prometeu nada. Quanto ao trabalho estava difícil digitar sem uma das mãos, mas eu me esforçaria para dar o meu melhor.

Quando meu chefe retornou de onde estava e viu que eu estava sentado na minha cadeira me chamou até sua sala, pediu que eu me sentasse e fechasse a porta. Eu, sem ideia alguma do que ele poderia me dizer, sentei aflito esperando algum tipo de repreensão. Ele me ofereceu um café, perguntou como eu estava, se estava me sentindo bem.

- Olha, doutor, sendo muito sincero com o senhor, minha mão dói e lateja. Então não, não estou bem. – ele me olhou espantado e nem eu mesmo sabia de onde tinha tirado tanta sinceridade.

- Aprecio sua sinceridade. Bem, considerando que o trabalho que você deixou pronto supre sua carga de trabalho por alguns dias sem maiores prejuízos, considerando ainda que você não se sente bem, vou liberá-lo das suas atividades de hoje e amanhã. – agora quem estava incrédulo era eu.

- Ah, doutor! Por favor, não pense que fui insolente e nem que estou fazendo corpo mole para o trabalho. – e se ele me demitisse?

- Rapaz, você é muito agitado. Fique calmo! Entendo perfeitamente sua posição e estou satisfeito com o trabalho que você desempenhou até aqui. Não se engane... se não fosse por isso eu não teria problemas em dispensá-lo. Então volte para casa, descanse, cuide dessa mão e nos vemos na quinta.

- Obrigado, doutor! Mesmo. – ele sorriu e eu me retirei de sua sala.

Voltei para minha mesa, terminei uma e outra pendência e comecei a juntar minhas coisas, pronto para deixar o prédio e retornar para minha casinha. Eu precisava mesmo daquele tempo. Quando estava quase na porta de saída ele veio em minha direção, segurou meu braço e disse:

- Mark... espera! Esqueceu o que a gente combinou? – me olhava como se implorando.

- Olha, Gabriel, meu chefe me liberou e eu não sei se é um bom momento para termos essa conversa.

- Foda-se! – só sabia falar isso agora. – Vou pegar minhas chaves e te encontro na entrada, pode ser?!

Como assim? Ele ia deixar o estágio no meio do expediente sem nenhuma autorização? Tudo bem que ele não precisava mesmo do dinheiro, mas e a responsabilidade? Bem, eu estava ali de prova que ele não era lá uma pessoa muito ligada a responsabilidades. Ou eu o estava julgando baseado na minha experiência negativa?! Ahh muitos pensamentos.

Ele me alcançou na entrada e pediu que eu o acompanhasse até o carro.

- Claro que não!

- Vei, você acha mesmo que eu vou fazer alguma coisa contra você?!

- Não, eu que não quero mesmo. Vamos caminhando até algum lugar e se dê por satisfeito.

- Porra de moleque teimoso! Vai andar nesse sol com essa mão desse jeito?

- E você se importa?! – disse isso e saí andando.

Como eu disse em outro momento tinha o privilégio de trabalhar próximo à orla, e mesmo com o sol quente, era lá o meu destino. Queria sentir o vento do mar acariciando meu rosto e não me importava se não houvesse sombra por ali.

Comecei a andar e percebi que ele estava caminhando ao meu lado, em silencio. Eu esta começando a achar que aquela não havia sido uma boa opção considerando que eu ainda estava de calça e com uma roupa nada confortável. Como não tinha muito tempo que estávamos andando, fiz algo que não queria fazer.

- Ta bom. Pega o carro! – ele sorriu sem entender nada, voltou até o prédio do escritório e me encontrou novamente no ponto em que eu tinha ficado.

No carro nada se ouvia, nem mesmo o som, íamos em direção ao shopping ao invés de para a praia, como eu havia dito. Esbravejei com Gabriel e ele disse que não ia ficar no sol com aquelas roupas porque eu decidi bancar o engraçadinho louco por água. Me irritei profundamente, mas eu disse que seria racional. Então apenas concordei e entramos pelo estacionamento.

Fomos caminhando em direção a lugar nenhum, aparentemente, mas tudo mudou quando ele me guiou ao telhado do shopping. Que vista linda era dali!

- Você quer me matar? É isso? Eu imaginei minha forte diferente.

- Mark, dá um tempo! – revirou os olhos – Que tipo de pessoa fica imaginando a própria morte? – “esta pessoa”, pensei eu, “cuja vida é chata e vazia”.

- Gabriel me fala logo o que você tem pra me dizer e vamos embora! – ele respirou fundo e parecia desapontado. Sério?!

- Olha, eu sei que não há nada que eu diga que vai mudar o que aconteceu. Porra, foi ótimo estar com você!

- Não começa com o vitimismo barato! Pontue. – ordenei. Ele me olhou assustado.

- Eu sei que te magoei, Mark, mas eu nunca te prometi nada, nunca disse que teríamos algo além daquilo, e não vejo porque você não pode aceitar de forma casual o que aconteceu entre nós.

- Casual?! Gabriel, eu me senti uma vagabunda de esquina... você sabe como é se sentir usado? Não deve saber. Eu sei que você não me prometeu nada e eu mesmo nem te cobrei, tenho plena consciência disso, mas você poderia ter me dito que tinha uma namorada, que eu seria apenas seu brinquedinho de uma noite e que as coisas não precisavam ser da forma como foram.

- Ei, quem disse que você é só mais um brinquedinho? Eu me entreguei ao momento, estava 100% com você, só não podia me apaixonar por você. Sério, eu não sou gay, mas não é por isso que eu não posso me distrair de vez em quando.

- Então é isso, saí do brinquedinho para distração. Muito bem, Gabriel, excelente!

- Não é isso! Caralho, para de fazer isso.

- Eu não posso porque é mais forte que eu! – nesse momento as lágrimas desceram e eu não queria impedi-las. Eu precisava daquele confronto. – Eu me entreguei a você, de corpo e alma, fui idiota o bastante pra acreditar que alguém como você fosse olhar pra mim e deu no que deu. Na minha cabeça toda vez que eu deito pra dormir fica passando um filme daquele noite que era pra ser mágica e a sua namorada está lá, me olhando, como se estivesse me julgando. São por pessoas como você que todos pensam que os gays são promíscuos.

- Não, não, não. Olha, eu e ela estávamos brigados há alguns dias. Quando te chamei pra minha casa eu e ela estávamos pouco nos falando e eu me encantei com você.

- Gabriel, você só ta piorando as coisas! CALA A PORRA DA SUA BOCA. – esbravejei e comecei a chorar fortemente.

- Por favor, olha pra mim, eu não quis te magoar. A troco de que eu faria isso?

- Me diz, Gabriel, foi bom pra você ter o viadinho fácil que cai com um sorriso, na sua cama? Vai contar pra todos os seus amigos como foi fácil me comer?

- Assim você até me ofende! Não sou esse tipo de pessoa.

- Você não me parece muito diferente desse tipo de pessoa! Eu não vou mentir, no fundo do meu coração eu dizia a mim mesmo que eu devia me envolver, dar essa chance, mesmo sabendo que aquilo não iria a diante. A quem nós queremos enganar? Da forma como as coisas foram feitas tudo indicava que, no fim, alguém sairia ferido.

- Não fala assim! Tudo o que nós vivemos foi real e foram experiências maravilhosas. Você é uma pessoa maravilhosa e, mesmo não gostando de usar esse argumento, eu nunca te prometi nada. Me desculpe! – ele abaixou a cabeça e fitou o chão por um momento.

Eu parei um pouco e olhei para o horizonte. Eu mesmo já tinha dito aquilo para mim, como uma espécie de alerta do caminho que as coisas estavam tomando. Ele realmente não tinha me prometido nada, não prometeu romance, não prometeu fidelidade, nem exclusividade. Convenhamos, era hora de agir racionalmente, mesmo estando com o coração partido em mil pedaços. Sim, porque eu nunca me imaginei numa situação dessas, onde eu poderia facilmente ser comparado a uma pessoa fácil (sem ofensas às pessoas fáceis, mas não era um estilo de vida no qual eu me via).

- E agora? Como as coisas serão, Gabriel? – falei após ficar momentos a fio olhando o vasto horizonte que já demonstrava a chegada da lua para assumir o posto de luminar.

- Eu não sei e estaria mentindo se dissesse que sei. Acho que as coisas tem que continuar como eram... quer dizer, nós ainda podemos... você sabe... continuar com as nossas aventuras... – inacreditável, pensei.

- Você está sugestionando que eu seja seu amante fixo? Cara, o que você tem de beleza tem de estupidez. Enfim, não quero continuar nossas aventuras. Não é o tipo de vida que eu queira levar.

- Você quem sabe! – falou convencido.

- É, eu não sabia, mas agora definitivamente sei. No estágio eu vou manter o profissionalismo enquanto o contrato durar, sua namorada jamais ficará sabendo do que aconteceu, eu faço questão de lacrar essa história e deixar pra lá.

- Eu não me preocupo que ela saiba. – disse respirando pesado.

- É, mas eu não quero meu nome envolvido nessa história toda. Obrigado, Gabriel, por tudo o que você fez por mim até aqui. Eu sou do tipo de pessoa que acredita que tudo nessa vida acontece por uma razão, que obviamente ainda não está muito clara, mas serviu de lição para eu fortalecer meus valores e mostrar o tipo de pessoa que eu não quero ser. Foi bom? Foi ótimo! Tudo. Mas você é um luxo ao qual eu não posso me dar. – eu olhei o longe mais uma vez e decidi ir embora.

Quando ia caminhando em direção à porta, uma lufada de vento me fez sentir que ainda estava vivo e que aquilo, cedo ou não tarde, não seria nada além de memória. Me deixei sentir aquele ar gelado ante de prosseguir meu caminho. Então eu o ouvi.

- Mark... – ele segurou meu braço - ... espera! – ele me olhou fundo nos olhos, como se analisasse, e eu senti como se estivesse vulnerável. Ele então me beijou, um beijo suave e tranquilo. Inesperado. Correspondi. Paramos com um selinho. Passei a mão por seu rosto, a barba crescendo, ele fechando os olhos ao meu toque. Naquele momento nada foi dito. Nenhuma palavra parecia ser suficiente para finalizar um momento como aquele. Tomei o rumo da porta e fui descendo.

Não chorei. Só senti que a hora era chegada. Aquele momento da minha história tinha sido o melhor e o mais intenso até ali. Fui em direção ao ponto de ônibus, mas antes cortei caminho rumo ao mar. Precisava sentir aquela brisa marinha por entre meus cabelos e sentir a água salgada tocando minha pele.

Me aproximei da água, tirei meus sapatos e permiti que a água gelada molhasse meus pés. Fiz daquele o meu caminho em direção ao nada. Cabeça vazia. Olhar distante. Nada. Nada a declarar. Fiquei ali um longo período sem fazer uma reflexão sequer. O que havia de ser feito, então? Nada. As coisas aconteceram, foram intensas (eu já usei esse adjetivo), mas acabaram. Eu devia seguir em frente, sem arrependimentos.

Mas, de repente, um fio de pensamento brotou daquele emaranhado de coisas que não me permitiam pensar. E se eu pudesse ter negado tudo aquilo? E se eu tivesse escolhido não me envolver? E se eu, ao invés de colocar meu coração a prêmio, fosse tão despreocupado quanto Gabriel estava sendo? E se eu fosse capaz de tomar outro caminho? E se... e se... e se... eu pudesse responder a tudo isso? Mas não, eu não poderia responder a nenhum desses questionamentos e era até bom que assim o fosse.

Cheguei em casa e meu irmão já estava dormindo, o que era estranho já que eu nem tinha chegado tão tarde assim. Não era estranho conviver com uma criança que tinha o mesmo nome do meu algoz, ainda mais se tratando do meu irmão, por quem eu nutria o mais profundo e sincero amor fraterno.

- Espero que você seja um rapazinho comportado quando for grande. Te amo! – sussurrei essas palavras, beijei sua testa e já ia levantando quando ele acordou, agarrou meu pescoço, beijou meu rosto e com aquela vozinha confusa e rouca de sono falou:

- Eu sou um rapazinho comportado, irmão. E eu também te amo do tamanho do shopping.

Ali, naquela situação tão simples e imaculada, naquele gesto involuntário, eu me senti em paz. A vida continuaria, de qualquer jeito, os problemas continuariam a acontecer e eu já tinha me permitido viver tempo demais daquele jeito entregue às circunstâncias de uma vida miserável e em cor. Exceto pelo meu irmão, claro. Ele era meu pequeno sol em meio àquele enorme nevoeiro.

No fim das contas, toda a aventura que eu vivi ao lado de Gabriel, por menor que tenha sido a duração, serviu para me mostrar que as escolhas erradas quem estava fazendo era eu. Eu era e continuarei sendo meu maior obstáculo rumo à felicidade e só cabia a mim fazer com que as coisas que vivi se tornassem experiências ou fazer com que fossem marcas de dor e vergonha.

Deitei ao lado do meu irmão e ali dormi. Me sentia leve. Entregue ao que quer que pudesse vir em seguida.

-

Gratidão a prireis822 pelos votos de feliz ano novo e por ter se mantido fiel à leitura, mesmo com os meus claros problemas de cumprir com as datas prometidas. Que seu novo ano seja repleto de conquistas, alegrias e muita energia positiva; também a Jé pelo elogio... espero que a história tenha te agradado e obrigado pelo voto de confiança :).

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive M(a)rcelo a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Final triste mas creio que é só mais um passo para sua felicidade! Obg por compartilhar seu conto ^^

0 0

Listas em que este conto está presente