Gabriel... espera! EPÍLOGO

Um conto erótico de Mark
Categoria: Heterossexual
Contém 2603 palavras
Data: 21/01/2017 22:04:45
Assuntos: Heterossexual

Um mês havia se passado desde a conversa que tive com Gabriel no telhado do shopping. Um mês desde que tomei uma importante decisão: a de deixar as coisas acontecerem e seguir conforme o fluxo, mas não mais como uma marionete do destino. Se eu queria que as coisas fossem diferentes, sabia que deveria correr atrás.

Nossas rotinas voltaram ao normal, eu passei a dar mais atenção ao meu trabalho que, mesmo sendo estágio, eu levava muito a sério e com responsabilidade. Essa era a marca do profissional que eu esperava me tornar e uma frase que ouvi de um dos meus chefes uma vez me marcou bastante nesse sentido. Ele disse que nunca tinha visto um profissional ruim que não tinha sido um estagiário medíocre. Nas palavras dele, o estágio tem esse nome só por mera classificação, afinal ainda estamos no início do nosso aprendizado, mas as responsabilidades são as mesmas de um profissional ativo no negócio.

O fato é que eu não queria ser um profissional medíocre e toda aquela situação com o Gabriel serviu de inspiração para que eu pudesse me concentrar mais no trabalho. Meios tortos para um fim “direito”. Falando nele, não nos tornamos estranhos como eu imaginava que seria. Pelo contrário, ainda éramos capazes de sentar, trocar uma ideia ou outra sem parecer que já havia acontecido algo entre nós. Ele respeitava meu espaço e isso já estava de bom tamanho.

Na faculdade as aulas continuavam rolando, eu passei a me concentrar mais também e o Pedro estava respeitando meu espaço. Uma semana após aquela conversa com o Gabriel, ele [Pedro] me chamou para conversamos enquanto tomávamos um sorvete, e lembro bem como tudo transcorreu.

- Eu não quero ser invasivo, sei que o que quer que tenha acontecido entre você e o troglodita mudou alguma coisa aqui dentro... – disse apontando para o meu peito - ... mas você não acha que está na hora de me dar uma chance? Eu sei, eu sei que falei que não iria mais atrás de você, mas eu sinto, Mark, que você ta livre agora.

Eu o olhava curioso. Claro, não esperava nenhuma daquelas palavras. Sorri.

- Olha Pedro Henrique – falei de propósito e o vi trincar os dentes – você tem sido um perfeito cavalheiro comigo e eu agradeço bastante por tudo o que você fez e tem feito por mim.- agora ele parecia satisfeito com o elgogio.

- É, mas mesmo cavalheiros tem suas necessidades e eu posso pensar em várias maneiras pra você me agradecer. – dizendo isso, sorriu maroto. Corei. Sorri em seguida.

- Mas é um safado mesmo né?! – deu de ombros – Como eu ia dizendo, ainda não sinto que eu deva te dar outra chance. – ele engasgou com o sorvete.

- Porra, mas aí você me fode! Mané “outra” chance, você não me deu nenhuma até agora. – ele estava furioso e eu havia sido descoberto. Ops. Claro que eu não ia demonstrar isso assim, de bandeja, e logo dei um jeito de converter a situação em meu favor.

- Claro que dei! Me declarei pra ti e você me deu um fora. Não lembra? – ele sorriu envergonhado.

- Mas isso não pode contar como uma chance. Eu estava cego e agora posso ver. – revirei os olhos com essa frase clichê.

- O fato é que ainda não sinto que esteja na hora de me envolver, principalmente com você.

- Nossa, valeu mesmo, quer dizer que eu sou tão horrível que nem mesmo meu melhor amigo gay aka. crush é capaz de me desejar. Obrigado, me sinto bem melhor. – gargalhei.

- Deixa de ser demente, Pedro Henrique. Quis dizer que você é meu melhor amigo, gosto da amizade que temos e tenho medo de as coisas darem errado e até isso ser tirado de mim. Fora que eu não disse que você não é atraente.

- Ah não? – perguntou confuso.

- Claro que não! Pelo contrário... te acho um gostoso! – ele pareceu envergonhado, mas mantinha um olhar convencido.

- Ah, a gente faz o que pode! – gabou-se. – e não vem com essa conversa fiada de amizade pra cima de mim não. Caralho! Qual o problema da gente se pegar?

- Problema nenhum... mas e se eu não beijar bem? E se você não gostar? Vai fazer o que, para de falar comigo?

- Acontece que eu não sei o que fazer pra te mostrar que esses teus medos são bobos...

- Não faça nada, manezão.

- Sou um mané mesmo que fica te consolando enquanto você ta aí todo caidão pelo outro lá que nem quer saber de você. – eu arregalei os olhos. Aquilo me acertou em cheio, mas por mais que fosse verdade eu ainda não estava pronto pra ouvir daquela forma.

Baixei a cabeça. Não estava triste, só chocado.

- Porra! Me desculpa, Mark, por favor, não fica assim. – havia um misto de medo e ansiedade em sua voz.

- Nada, Pedro. Você só fez dizer o óbvio. Eu vou ficar bem, juro. – sorri pra ele.

- Ah, caralho! Eu e minha boca grande. – ele ficou lá reclamando e eu refletindo sobre suas palavras.

Na minha cabeça eu estava fazendo um bom trabalho tentando esquecer o Gabriel e não me importando com as coisas que tinham passado. Mas eu merecia um desconto, acho. Só tinha passado uma semana daquele conversa com o Gabriel no telhado. Lembrei da minha resolução e deixei a dor daquelas palavras de lado.

- Para de viadagem, Pedro Henrique! – e gargalhei. Ele se assustou mas também riu. – espero que seu bolso esteja abastecido, porque eu quero ir no cinema e comer pipoca. Da grande ainda.

- Só pra isso que eu sirvo né?! – arqueei uma sobrancelha.

- Na verdade não... são poucas a vezes que nós saímos e mais raras ainda as que eu deixo que você me pague alguma coisa, cabeçudo. Dessa vez vai ser por sua conta sim, encare isso como um pagamento pelas duras palavras que você acabou de me proferir, fora que me chamou de mercenário. Eu lá tenho culpa que você é rico e eu não? Essa amizade aqui precisa de estreitamento de laços e eu estou permitindo que você me leve ao cinema. Dê-se por satisfeito. – ele riu e concordou. Não sem antes soltar uma pérola.

- O que essa amizade precisa é de cola branca e por coincidência eu tenho um tudo bem cheio aqui. – dizendo isso deu uma patolada no saco.

- Ei, eu sou difícil, moço. Não é assim que as coisas funcionam!

E no caminho para a bilheteria fomos trocando farpas amigáveis. Ele me fazia bem. Depois dessa conversa que serviu para esclarecer alguns pontos, ele realmente parou de ser tão incisivo, as mensagens diárias deixaram de ser frequentes, mas ele sempre estava comigo na faculdade. Confesso que sentia falta das mensagens, mas preferia que fosse assim. Eu ainda não podia oferecer a ele o que ele esperava que eu oferecesse e seria muita cara de pau da minha parte usa-lo com muleta para o meu coração manco. [Nossa, que brega!]

A Bárbara se tornou uma amiga inesperada. No meio dessa confusão toda, ela não sabia da história com o Gabriel, mas sentiu que algo estava acontecendo ou que aconteceu. Ela não forçou a barra e sempre ia tomar café com a gente de tarde. Isso quando eu não estava na companhia dela em alguma festa para a qual ela me arrastava, sob a desculpa de eu estar precisando espairecer. Vez ou outra ela falava do Pedro e eu não sentia como se ela estivesse tentando ser inconveniente, apenas uma amiga tentando ajudar.

Em casa meus pais continuavam daquele mesmo jeito mecânico de sempre. Seria lindo chegar aqui , neste ponto da história, e dizer que eu me assumi, eles me abraçaram e me compraram um carro, mas a realidade é outra. Eu não me assumi, não sentia que era a hora e nem sabia se algum dia seria. O fato é que minha mão se aproximou mais de meu irmão e eu, a ponto de sempre rir das nossas palhaçadas, coisa que antes ela abominava. Essa aproximação foi boa pro meu irmão que, por mais que tivesse a mim, ainda precisava de uma mãe. Existem valores que só construímos quando temos uma figura materna como nossa mentora.

Seja o que fosse, minha mãe foi uma excelente mãe quando eu era pequeno e até que aquela mudança toda ocorresse me preocupava com o futuro e a imagem que o meu irmão teria da figura materna em nosso lar. Mas há males que vem pra bem e ela está construindo uma confiança bem resistente entre ele e ela.

E assim eu seguia a minha vida.

Em um belo dia ensolarado, (mentira! Chovia.), estava mega concentrado numa petição de reconsideração de multa por descumprimento de sentença, quando meu celular vibrou. Pela cor do led era uma mensagem do whatsapp. Ignorei. Poderia ser algum dos grupos que faço parte, e aquele não era o momento para eu me perder lendo aquelas besteiras.

Terminei a petição, enderecei ao meu chefe e finalmente pude dar uma pausa nas minhas atividades. Fui à cozinha e enquanto mexia no celular, Gabriel entrou. Eu não tirei a tela do celular, mas sabia que era ele porque ele ainda mantinha aquela mania irritante de ficar me olhando. Decidi fazer o casual e levantei os olhos lentamente.

- Ah, ei Gabriel. Tudo bem? – ele se espantou.

- Ué, achei que você não fosse falar comigo, já que não tem mais ninguém aqui. Sim, porque o que eu senti nesse último mês é que sempre tem alguém aqui que acaba intermediando nossa conversa.

- Deixa de ser besta, rapaz. Realmente tem sempre alguém aqui, mas acredito que seja mera coincidência. Somos colegas de trabalho e não tem porque eu trata-lo como um desconhecido. Certo? – ele não conseguia espantar a cara de surpresa.

- Hum. Tem razão. Talvez tenha sido só impressão minha. – sorri e voltei a ler minhas mensagens, enquanto ele se sentou na cadeira à minha frente.

Uma das mensagens me chamou atenção, sorri com o cenho franzido antes de respondê-la.

“Hey, vai rolar uma social lá em casa. Ta afim? Foda-se, você vai.” Era a Bárbara. Como ela podia ser tão incisiva daquele jeito?! Respondi confirmando minha ida, enquanto ele ainda estava lá me analisando.

- Err – ele quebrou o silêncio – essa mensagem parece interessante ein?! – eu o olhei confuso.

- Ahan...

- Mark, será que a gente podia...

- Não, Gabriel, a gente não pode nada porque eu preciso voltar ao trabalho. – disse sorrindo.

- Porra, mas você nem sabe o que eu ia pedir.

- Tem razão! O que você quer? – o encarei sorridente.

- Será que a gente pode sair qualquer dia desse? Hoje? – me espantei. – Como bons amigos, po.

- Bem, eu acho que nós não somos amigos. – ele me olhou espantado – Mas hoje eu vou na Barbs, era sobre isso a mensagem, então a gente vê qualquer dia desses...

- Ah, beleza então.

- Vou indo nessa. Até breve. – disse isso e saí da cozinha antes que aquela conversa tomasse outros rumos.

O dia passou, fui para casa me arrumar, pedi para dormir fora ou pelo menos chegar um pouco mais tarde. Meu pai, sempre muito severo, foi direto ao ponto.

- Mark, não me interessa o que você vai fazer, afinal você já sabe o que quer da vida. Dependendo da hora que for voltar é melhor que você fique por lá mesmo para evitar correr riscos.

Eu estava embasbacado com aquelas palavras, mas muito contente. Levante, fui até meu pai, beijei sua testa e disse “então tá”. Subi em direção ao meu quarto para me arrumar e Gabriel entrou porta a dentro fazendo drama outra vez.

- Irmão você vai me abandonar de novo? – cruzou os braços frente ao peito e fez um bico. Me abaixei para ficar da sua altura e disse:

- Oh meu amor! Eu jamais te abandonaria. Eu te amo duas vezes o tamanho do shopping – vi seus olhos se iluminarem e ele me abraçou – mas é que eu preciso mesmo ver meus amigos. – pedi que ele sentasse na minha cama e expliquei, baseado na amizade dele com o Caio, a importância que tinha esses momentos com meus amigos, e que isso jamais seria um obstáculo entre eu ele, assim como o Caio não era um obstáculo entre ele e eu.

No começo ele fez uma cara de confuso, mas no fim entendeu, sorriu e me abraçou. Fui para a casa da Bárbara e já via algumas pessoas que a convivência com ela trouxe para meu círculo de conhecidos. Cumprimentei alguns e fui até ela que estava linda em um macaquinho rosa pastel. Enquanto a festa rolava ela veio em minha direção e saiu me arrastando para o jardim.

- Me desculpe por isso, mas você precisa seguir em frente! – dizendo isso, ela sorriu e me deu as costas.

Fiquei ali vendo ela sair, sem entender nada, até que uma cutucada no ombro me fez virar abruptamente.

- Ah, é você! Que susto ein!? Quer me matar do coração?

- Porra, ta devendo? – disse sorrindo.

- Na verdade não. Pelo menos acho que não.

- Vamos nos sentar ali? – apontou para um banquinho no meio do jardim.

- Olha, eu não acho que seja uma boa ideia.

- Mas eu acho que é. Vamos! – depois dessa ordem, porque não.

Nos sentamos e ele me olhava curioso. Ninguém falava nada. Eu e meu coração já estivemos nesse palco antes, mas era como se fosse um estreante. E de repente ele me beijou. Não me segurei e beijei-o de volta. Fomos ficando empolgados e paramos com selinhos cálidos.

- Melhor do que eu me lembrava! – escondi meu rosto em seu peito, aspirando seu perfume.

- Então você acha que é assim, Pedro Henrique, que você vai chegar me beijando e as coisas vão ser como em filme de romance?

- Na verdade sim. O que eu estou te oferecendo aqui vai além de um romance brega de televisão. Eu quero cuidar de você, quero fazer você se sentir como se ninguém mais pudesse te fazer feliz, por mais egoísta que isso seja. – eu estava receoso.

- Olha, temos muito que pensar e tem toda essa situação com a minha família, eu não posso me assumir e...

- Porra! Para de falar, de arrumar desculpas e dá uma chance pra gente. Eu não estou te pedindo pra contar nada pra sua família, até porque tem a minha também e o objetivo desse momento nem é esse. É sobre eu e você. – ele tinha conseguido me quebrar. Comecei a chorar, mas não sabia se de alegria ou medo de que tudo se repetisse. – Ei, não chora! – ele me abraçou.

- E se não der certo, Pedro? E se o seu amor por buceta falar mais alto? – disse sentindo o amargor dessas palavras na minha boca juntamente com a lembrança do dia em que me declarei para ele.

- Poxa, assim você até me ofende! Eu sei que não dá pra mudar o passado, mas eu estou disposto a construir um futuro com você. – e, como eu descobriria dali em diante, tudo só dependia de mim.

- Estou com medo, Pedro. Aterrorizado, pra dizer o mínimo, mas eu vou dar essa chance a nós dois. – ele me olhava incrédulo. – é nessa parte que você me beija... – sorri.

Nos beijamos novamente e ao longe percebi Gabriel assistindo àquela cena. Não interrompi o beijo e decidi que seu eu queria mesmo que aquilo desse certo era hora de afastar Gabriel do posto em que esteve recentemente. Era isso. Eu faria de tudo para que eu o Pedro déssemos certo como um casal.

Evitar a vida não impede que ela aconteça. Esse seria meu lema dali em diante. Aceitaria as oportunidades que viessem e lutaria para ter um futuro mais cheio de esperança. Eu não mais esperaria por ninguém, a não ser por mim mesmo.

Fim.

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Comentários

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Que foda mana. Amei tudo. Só desculpa pela demora em ler o seu conto. Mas o conto é foda.

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Aaah, que droga! Só agora que vi que vc continuou... Olha, vou ser sincero, eu quis te bater muito por vc ter sumido. Eu não tô mais tão ligado aqui na CDC, leio às vezes um conto por aqui, bem poucos, por isso ainda não tinha visto que vc continuou o conto... O final dessa história não foi como eu imaginei, não foi parecido em absolutamente nada. O lado bom disso é que vc não fez mais uma história repetida, certo?? Rss... Não foi da maneira que eu esperei, mas ficou muito bom msm!

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Não fiz comentários, mas, amei o conto espero que tenha a segunda temporada!!! Felicidades!!!

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Acabouuuuu 😢😢😢Queremos Segunda temporada ❤

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