Recomeçar - Capítulo 2 - O Primeiro Beijo

Um conto erótico de Allana Prado
Categoria: Homossexual
Contém 3686 palavras
Data: 14/05/2017 00:25:44
Assuntos: Amor, Beijo, Gay, Homossexual

[Martin]

1 ANO ANTES...

Eu considerava o tédio a pior coisa existente na fase da terra, ainda mais quando se tem 17 anos e seus hormônios estão gritando por diversão. Mas todo final de semana era a mesma coisa, eu em casa, sem nada pra fazer e quase sempre em meu quarto pra tentar fugir da companhia opressora dos meus pais. Eu já estava cansado! Claro que boa parte da minha frustração vinha da semana decepcionante que tive no colégio, alias, todas elas eram bem decepcionantes não deixei de pensar. O motivo era que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia me encaixar e pertencer de verdade a alguma turma como todos os outros. Ás vezes os observava rindo de alguém ou de algo e me sentia um verdadeiro peixe fora d'água por não ser como eles, óbvio que isso me fazia questionar qual era o meu problema.

Naquele dia as coisas não foram muito diferentes dos outros dias, o motorista dos meus pais me deixou pontualmente no portão do colégio no sábado de manhã e eu entrei sob o olhar atento dele, fiquei imaginando se essa seria mais uma das funções estabelecidas pelos meus pais ou se tratava somente de cuidado. Aquele era um dos colégios mais ortodoxos da cidade, o que significava que as disciplinas eram mais puxadas e as aulas de sábado cedo quase sempre aconteciam, o que não era muito animador pra ninguém que eu conhecia. Corri pelo pátio em direção a minha sala, a fim de não perder nenhuma explicação do professor e consegui chegar a tempo.

-Ei Martin. – Cochichou meu amigo no meio da explicação do professor.

-Estou prestando atenção na aula, Murilo.

-É rapidinho... bora numa festa hoje a noite?

-Festa? – Aquilo me fez dar mais atenção.

-É pô, festa, meu amigo acabou de confirmar aqui e disse que vai ser top. É uma festa do pessoal mais velho, que já entrou na faculdade, imagina as gatinhas mais velhas que vão estar lá. Você não pode perder.

Essa seria a grande chance que eu queria pra não ter que ficar em casa outro final de semana e sair um pouco da minha triste rotina, então, deixei passar que pouco me interessava as meninas mais velhas presentes. Pensei antes de responder, eu teria que dar uma boa desculpa para os meus pais pra sair assim à noite, ainda assim, era capaz deles não permitirem. A menos que não soubessem...

-Eu vou! – Respondi animado.

O resto da aula eu permaneci empolgado e bolando mil planos de como iria naquela tal festa, eu teria que ser muito silencioso ao entrar e sair de casa para que eles não acordassem e, talvez, até a janela precisasse ser usada naquela ocasião. Nunca havia feito uma coisa dessas antes e confesso que estava começando a ficar apavorado com a idéia, mas eu não iria desistir assim tão fácil, pelo menos uma vez queria curtir essa sensação de fazer algo errado.

Quando cheguei do colégio, tentei agir o mais natural possível, eu sempre tive a suspeita de que meus pais podiam ler minhas reações e adivinharem o que eu estava aprontando antes mesmo de acontecer. Fui pro meu quarto e repassei o plano repetidas vezes na minha cabeça, nada podia dar errado. Fiz todo o ritual de sempre depois que chegava da escola e desci de novo pra disfarçar e fingir que nada estava acontecendo.

-Que cara é essa Martin? – Minha mãe perguntou, depois de um tempo, ao ver-me parado no balcão e comendo distraidamente. Será que eu era tão transparente assim?

-Nada, mãe.

Me atrapalhei todo quando meu celular vibrou no bolso e eu vi que era meu amigo confirmando hora e local da festa, meu coração disparou e eu tive que lembrar a mim mesmo que minha mãe estava presente, porem não conseguia ler o que estava escrito através do aparelho.

No jantar, eu já estava mais confiante e convicto de que ia dar certo, afinal, não tinha como eles suspeitarem de nada. Meu pai chegou da empresa logo depois e, como todos os dias, fingiu se importar com alguma coisa além dos seus papéis.

-Como foi a escola hoje?

-Normal. – Nunca tive muito assunto pra falar com ele, parecíamos dois estranhos.

-Que bom. Precisamos tratar sobre sua entrada na universidade, andei pesquisando as melhores em Administração. Você já pensou em estudar fora? – Ele quis saber

-Aaah pai, falta um ano pra eu terminar o colégio ainda e, alem do mais, você sabe que não é minha vontade fazer esse curso. E se eu quiser, por exemplo, cursar Artes? – Tentei iniciar aquele assunto novamente e pela milésima vez.

-Eu e sua mãe sabemos o que é melhor pra você, Martin, e se nós achamos que é isso que você deve fazer, melhor não discutir. Quem é que vai cuidar dos negócios da família?

-Tudo bem.

Mais uma vez fui abafado pela autoridade dele, eu já nem tentava mais discutir por aquilo, mas ainda tinha esperança de que quando chegasse a hora, eu saberia me impor e fazer o que queria.

Fui pro quarto antes da hora alegando estar com sono e torci para que eles não resolvessem checar pra ver se era verdade, me troquei rapidamente, colocando algo básico como jeans e camiseta e fui pra debaixo das cobertas até dar a hora exata em que eu ia sair. Contava os minutos muito ansioso, enquanto percebia que cada vez mais a casa estava ficando silenciosa, os empregados já deviam ter ido dormir. Esperei mais alguns minutos e sorrateiramente abri a porta do quarto para analisar o ambiente, o corredor estava todo apagado e eu deduzi que meus pais também já tinham ido se deitar. Resolvi arriscar, andei pé por pé até chegar a escada e a sala se encontrava vazia. Era minha chance!

Com a mão tremendo de nervosismo, destranquei a porta e tomei cuidado para que ela não batesse ao sair, agora eu já estava fora e nada mais era problema. Os seguranças não me preocupavam, pois sabia que eles sempre dormiam em serviço. Passei pela guarita com a maior facilidade e fui até o ponto mais próximo de taxi, orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido.

O local da festa já estava bem movimentado e alguns cartazes enfeitavam a fachada, supus por eles que deveria ser aniversário de alguém, tentei não ficar nervoso por estar ali sem conhecer o aniversariante. Desci do táxi e caminhei a passos rápidos, tomando coragem pra entrar num lugar onde não conhecia, se pelo menos eu encontrasse o Murilo, pensei. Já na porta, eu muito distraído, esbarrei em alguém que saia do local no mesmo tempo que eu entrava.

-Desculpa.

Pedi olhando pra ele que verificava sua roupa manchada pelo liquido que carregava, me preparei pra receber uma bronca por ter sujado sua camisa branquinha e provavelmente ter estragado seu resto de noite, mas ele só fez erguer os olhos pra mim e abrir um sorriso. Seu sorriso era bonito e fazia covinha em sua bochecha, achei fofo.

-Não foi nada.

Ele respondeu, ainda sorrindo, e sequer fez menção de sair do lugar, eu também permaneci ali olhando pra ele. Sua altura combinava mais ou menos com a minha e ele era tão magro quanto eu, mas deduzi que era um pouquinho mais velho, pois se tratava de uma festa de turma da faculdade. Sua pele era morena e seus olhos, assim como o cabelo encaracoladinho, eram negros e possuíam um brilho diferente. Antes que eu ou ele pudéssemos falar mais alguma coisa, fomos praticamente pisoteados pelo grande fluxo de gente que tentava entrar no local, então, eu segui porta adentro e ele continuou seu caminho para fora. Tentei não pensar muito naquilo, mas tinha que reconhecer que foi um pouco estranho.

Encontrei meu amigo alguns minutos depois de entrar e, pelo seu semblante, presumi que ele estava levemente alterado, mas como eu não bebia, apenas fiquei junto com ele curtindo a festa. Era bom pela primeira vez estar numa festa como aquela, era esse tipo de diversão que eu tanto queria e precisava para me distrair, nem consegui me sentir culpado por ter saído escondido de casa.

Pelas próximas horas eu me deixei esquecer de todo o resto, e mesmo que eu fosse muito tímido e não soubesse dançar, era legal poder ver as pessoas fazendo isso sem importar com nada. Imaginei ter visto aquele mesmo rapaz da porta de entrada do outro lado do salão, mas haviam muitas pessoas entre nós e eu não pude ter certeza, em um momento de loucura eu me imaginei indo falar com ele. Mas o que eu iria falar? Talvez eu devesse mais uma vez pedir desculpas pela camisa, mas achei melhor deixar pra lá.

Pra não cair em tentação de fazer algo impensado e depois ficar morrendo de vergonha, eu dei meia volta, deixei meu amigo que já iniciava uns passos com a galera e fui até a varanda do lugar. Ali o som era mais abafado e percebi que as pessoas estavam ali somente para fumar, mas não me incomodei com isso e permaneci. Dali dava pra ter uma visão incrível da noite quente e do céu estrelado, e mais uma vez eu me peguei pensando que estava deslocado mais uma vez, acho que não tinha jeito mesmo.

-Martin! Achei você, o que você tá fazendo aqui? – Depois de um tempo eu saí dos meus pensamentos com meu amigo aparecendo onde eu estava.

-Vim pegar um ar, Murilo.

Ele estava acompanhado de mais dois caras e um eu reconheci sendo aquele que esbarrei e derrubei bebida na porta de entrada.

-Esse daqui é o Nicolas, aquele meu amigo que avisou sobre a festa e esse outro é o Paulo, o aniversariante. – Murilo nos apresentou.

-Oi, parabéns viu.

Naquela hora eu só queria enfiar minha cabeça num buraco e desaparecer dali, tamanha vergonha de estar em uma festa que não fui convidado e sem presente.

-Olha só, eu e o Paulo vamos sair pra comprar mais bebida, quer vir com a gente?

-Não Murilo, tá de boa, pode ir. – Falei não me importando muito, afinal, eu tinha vindo sozinho mesmo.

-Você vem Nicolas? – Murilo perguntou.

-Também vou ficar.

Então vi meu amigo se distanciar junto com o aniversariante e fiquei pensando se não era melhor ter ido com ele do que ficar com um desconhecido. Nicolas, agora sabia seu nome, ficou parado a poucos passos de distancia de mim e olhava para um ponto qualquer e não me encarava, mas eu senti uma vontade absurda de puxar assunto com ele.

-Foi mal mesmo pela camisa.

-Imagina, lavou tá nova! – Ele disse com um sorriso aberto e olhando diretamente pra mim pela primeira vez. – Então... seu nome é Martin, né? Que diferente.

-Pois é, meio que foi inspirado em algum príncipe em algum lugar do mundo. – Falei sem me lembrar direito da história contada mil vezes pela minha mãe.

-Então combina contigo. – Fiquei sem saber o que responder pela surpresa de receber um elogio daqueles. Aquilo foi um elogio, certo? – Quantos anos você tem Martin?

-Quase 18 – Respondi satisfeito.

-Então você ainda tem 17!

-Falta só um mês... – Tentei argumentar, mas sua cara de deboche me fez parar. – E quantos anos você tem?

-19

Ele disse e minhas chances de zombar da cara dele foram totalmente por água a baixo, ele sorriu com minha cara de frustração e começou a emendar outro assunto. Nós então iniciamos uma conversa animada, e aos poucos eu fui me soltando com o jeito envolvente que ele tinha de conduzir os assuntos. Seu jeito engraçado e leve por diversas vezes me fez dar gargalhadas e minha barriga já doía por isso, acho que aquele havia sido o melhor momento da noite. Pela primeira vez eu me senti pertencente a um lugar de verdade, me peguei pensando nisso, de certa forma era estranho, mas sem duvida nenhuma era bom. Por incrível que pareça nossas histórias nunca acabavam e cada vez mais íamos achando coisas em comum, o que fez o tempo passar sem que percebêssemos.

-Eu preciso ir.

Eu disse sem imaginar quanto tempo tínhamos ficado ali conversando, mas ao olhar para meu relógio e a quantidade de pessoas que já tinham ido embora, eu diria que estava pra amanhecer.

-Poxa, que pena... me dá seu número? Tipo, então, eh... caso você queira manter contato.

Era impressão minha ou ele estava nervoso? Ditei meu número para que ele anotasse e peguei o seu também, seria legal poder reencontrá-lo novamente e talvez surgir uma amizade disso. Despedi-me dele as pressas e com uma certa sensação estranha e sai correndo pro ponto de táxi mais próximo, se eu vacilasse chegaria em casa depois que meus pais acordassem e isso seria um problema.

No caminho todo eu fui pensando em quão diferente havia sido minha noite, ao começar por eu ter feito uma coisa que jamais me imaginaria fazendo, fugir de casa pra ir numa festa escondido dos meus pais. Depois, encontrar um cara tão bacana quanto o Nicolas e ter, pela primeira vez, um conversa normal sem me importar com nada. Sem duvidas uma das noites mais maneiras até então. Por fim consegui chegar em casa e entrar sem que ninguém me visse, pela supervisão que meus pais sempre impunham, quem diria que seria tão fácil assim? Fui pro meu quarto e de lá sabia que ninguém poderia provar mais nada, então, me deitei e relaxei.

Na manha de domingo tudo foi exatamente normal, acordei um pouco mais tarde por ter ido dormir na madrugada e logo que me dei conta, escondi minhas roupas cheirando a festa para que minha mãe não as visse. A todo o momento reprimia que um sorrisinho se formasse no canto da minha boca ao lembrar a noite de ontem, isso aconteceu por diversas vezes também quando me lembrava do Nicolas e eu já nem tentava mais parar de pensar nele. Lembrei que tinha seu numero e por um momento me veio uma vontade enorme de ligar, mas, mais uma vez, eu não tinha idéia do que falar e resolvi esquecer.

À tarde, como de costume, nada pra fazer e eu resolvi jogar no meu mais novo Xbox, perdi algumas horas entretido com aquilo que nem fiz questão de descer pra comer alguma coisa. Distraído tentando acertar a cabeça de um zumbi, eu ouvi que meu celular tocou e atendi-o sem nem ao menos olhá-lo:

-Alô.

-Oi... eh... Martin?

-Quem é?

-Aqui é o Nicolas da festa de ontem, tudo bem? – Imediatamente larguei o jogo pra lá e dei total atenção a conversa.

-Oi, tudo si..sim e você?

-Bem também... Tô te ligando pra perguntar se você não tá a fim, sei lá, sair pra dar uma volta e comer alguma coisa? – Aquilo havia me pegado de surpresa, demorei um tempo pra encontrar minhas palavras e ele voltou a falar. – A gente pode conversar mais... a menos que você não queira...

-Não, eu quero sim – Me arrependi de ter parecido tão desesperado. – Estou livre agora, pode ser?

Tudo bem, eu definitivamente tinha parecido um desesperado com aquela ultima frase. Esperei que ele sorrisse daquilo, mas ao contrário, ele só fez confirmar que poderia e marcou um local no calçadão da praia. Assim que desliguei o telefone uma estranha e horrível sensação de dor de barriga tomou conta de mim, não sabia o porquê, mas coisas do tipo o que eu iria vestir e uma ansiedade do que iria acontecer passavam pela minha cabeça. Era só mais um encontro entre amigos, afinal, porque então eu estava tão nervoso assim? Respira, Martin!

Peguei alguns trocados guardados da minha mesada que quase sempre não era usada e mais uma vez optei por sair de casa sem que meus pais me vissem, não queria que essa péssima rotina virasse habito, mas assim evitaria algumas discussões já tão conhecidas. Parti pro lugar onde havíamos combinado de se encontrar com a cabeça pensando mil coisas, mas nenhuma delas fazia realmente sentido ou valia à pena considerar. Chegando no local, mesmo de longe, avistei-o sentado num banco próximo ao lugar que havíamos combinado e ele olhava para o alto, parecendo admirar alguma coisa. Aproximei-me, meio receoso, e por um momento deu vontade de dar meia volta e ir embora, mas como não havia motivos plausíveis pra essa atitude, eu continuei andando.

-Oi. Desculpa a demora. – Cheguei falando e fazendo com que ele notasse da minha presença.

-Que nada, acabei de chegar também. – Ele disse sorrindo e eu pude me lembrar de como seu sorriso era bonito. – Achei que você não iria se lembrar de mim.

-Ah, foi mal ter atendido daquele jeito, estava distraído. E como não iria me lembrar de você!? Na noite de ontem eu não estava bêbado nem nada.

-Até porque você não tem idade pra beber!

Ele acabou dizendo só pra provocar e eu, pra não sair perdendo dessa, dei um soco em seu braço, o que o fez dar mais risada ainda. Nicolas me indicou uma barraquinha ali próxima e que, segundo ele, vendia o melhor hot dog da cidade e nós fomos caminhando e conversando até lá. Nesse percurso pude conhecer mais um pouquinho dele que ainda não tinha sido contado na noite anterior, também contei sobre a minha vida, mesmo que não tivesse muito o que contar, e notei que ele ficou pensativo quando eu disse onde morava.

-Que foi? – Perguntei.

-Nada... bom, é que você é diferente de todas as pessoas da Zona Sul que conheci. Geralmente eles não gostam de se "misturar" com alguém como eu e morando onde eu moro. – Ele desabafou.

-Eu não ligo pra isso! E, aliás, você é um cara muito bacana e é gostoso estar perto de você.

-Você acha?

Ele perguntou e, sem saber o motivo, tive vergonha de afirmar isso novamente. Comemos nosso lanche conversando sobre variados assuntos e nos identificando cada vez mais, sua companhia era agradável demais e nunca nos faltava assunto, poderia facilmente passar a noite inteira ali com ele. Enquanto falava, ele me olhava diretamente nos olhos e a intensidade deles fez com que eu ficasse encabulado, e em quase todas às vezes desviasse o olhar.

Depois que acabamos de comer, ainda não queríamos nos despedir e ir pra casa, então, resolvemos ir pra outro lugar que ele conhecia e dizia ser muito bonito pra se admirar a noite, não contestei, apenas fui. Caminhamos por cerca de 20 minutos pela praia, tirando nossos tênis e erguendo as barras da calça quando entramos na areia e chegamos a parte mais alta e afastada da margem, nos sentamos ali mesmo no chão e deixamos nossas coisas de lado. Realmente tudo era muito bonito visto ali de cima, as estrelas brilhavam no céu e a lua mais parecia estar em nossas cabeças de tão próximas da gente, haviam poucas pessoas ali por perto e tudo estava bem calmo. Fiquei por alguns minutos em silencio, esperando que ele trouxesse algum assunto para conversamos, mas isso não aconteceu tão depressa e eu acabei notando certa tensão estranha nele.

-Tô adorando estar aqui contigo.

Ele acabou falando por fim com sua voz se misturando ao som das ondas batendo nas pedras, algo estava errado, ele não parecia o mesmo de poucos minutos atrás, eu quase podia apostar que estava envergonhado.

-É, eu também estou gostando muito.

Disse olhando pra ele que já me observava, a pouca luz não ajudava, mas percebi que algo no seu rosto também estava diferente. Ele então sorriu ao ouvi-me dizendo isso e assim que eu o retribui, senti-o se aproximando mais e pegar na minha mão. Estranhei aquele toque gelado e inesperado, mas de alguma forma era bom e diferente, voltei para seu rosto e vi que aquele seu sorriso tinha sumido, dando lugar ao um ar mais sério que eu ainda não tinha visto.

Lentamente, e me deixando sem saber o que fazer, ele se aproximou mais de mim, me pegando pela nuca e fazendo com que nossos lábios de encostassem. Seus lábios eram tão macios e moldáveis aos meus que eu podia jurar que tinham sido feitos um para o outro, sua boca era doce e o cheio que ele tinha deixava tudo mais gostoso. Aquele era o melhor beijo que eu já tinha dado em toda a minha vida e era com outro menino, talvez, no fundo, eu já soubesse que um dia aquilo iria rolar. Mas com o Nicolas? O garoto que até poucos minutos atrás eu pensava ser somente meu amigo, e se nós estivéssemos nos precipitando? Com que cara eu iria olhá-lo novamente? Cessei o beijo e me afastei rápido dele, ignorei o fato de que no mesmo momento meu corpo pediu por mais.

-Desculpa... eu achei que você também queria. Eu achei que... Desculpa.

Suas desculpas eram suplicantes, ele claramente estava envergonhado por ter feito aquilo e imediatamente eu me senti mal por ter tomado aquela atitude.

-Eu gostei! – Acabei falando sem nem perceber como as palavras atropelavam umas as outras. – Eu só... só fiquei meio sem jeito...

-Você ficou com vergonha, é isso?

-Nã... Não. É que... é... talvez sim. – Eu disse e ele deu risada de mim, voltando a pegar em minha mão e a acariciando, eu já começava a ficar mais solto.

-Sabe, eu gostei de você desde o momento que te vi. Eu estava indo embora daquela festa quando a gente se encontrou na porta, mas não consegui tirar seu rosto da cabeça e resolvi voltar. – Ele confessou.

-Você é gay?

-Desde que nasci. – Sua resposta veio rápida e certeira. – Você gostou mesmo?

Apenas concordei, balançando a cabeça e morrendo por dentro, ainda tinha vergonha de encará-lo ao me lembrar do beijo e sentindo a enorme vontade de repetir tudo de novo. Eu ainda era novo naquele assunto, mas, como se me conhecesse há muito mais que apenas dois dias, ele se aproximou mais do meu ouvido e cochichou:

-Eu acho que com o tempo eu posso acabar com essa sua vergonha.

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Comentários

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MUITO INTERESSANTE. MAS JÁ PERCEBI QUE ESSES PAIS VÃO FAZER MARCAÇÃO CERRADA. SINTO PROBLEMAS VINDO PELA FRENTE.

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