Coração Ferido - Capítulo II

Um conto erótico de William26
Categoria: Homossexual
Contém 4236 palavras
Data: 21/05/2017 20:35:58

Boa noite leitores, como vocês estão? Esse capítulo apresenta dois novos personagens sendo que um é muito importante para o Fabrício além de tapar alguns buracos do primeiro capítulo. A partir do próximo ele já começa a ficar mais intenso. Agradeço a todos que leram e comentaram o primeiro capítulo assim como os que leem na surdina.

Boa leitura a todos. Dicas e críticas são sempre bem-vindas.

Resposta aos comentários.

Marceloveloz: Boa noite Marcelo, obrigado pelo comentário, realmente ela prende e te digo que foi difícil para mim escrever isso, pois não tenho experiência com cenas assim. João vai pagar, acho que o castigo dele será ver que não tem o controle e que ele não é o fódão. O mundo está cheio de João, mais à frente você verá como a história muda. Em relação ao Fabrício, é aquela velha história de se submeter a tudo por causa de alguém que as vezes nem vale a pena. Continue acompanhando.

Vitinho'66: Obrigado pelos elogios, sou bem detalhista, as vezes demoro muito para postar por que ou não tenho tempo ou então não está do jeito que eu quero. Esse conto surgiu na minha cabeça quando eu estava dentro do avião voltando da China, acho interessante abordar esses assuntos que as vezes passam despercebidos no universo LGBT. Darei uma lida em seus contos. Obrigado e boa leitura.

Grazy ❤: Obrigado Grazy, garanto que com esse não será diferente, você vaia adorar.

Alex curte peludo: Boa noite Alex, fico feliz que esteja me acompanhando nesse conto também. Esse conto não seguira a linha de Ação e Reação, acredito que será menor e mais intenso.

Atheno: Que bom que está me acompanhando nesse também e já respondendo sim, Fabrício vai divar, mas do jeito dele.

paiper trovao: Obrigado paiper, o conto será top mesmo, farei algo muito bom para vocês leitores.

Ru/Ruanito: Será feito algo pior com ele. João vai perceber que ele é substituível e que não é tudo isso.

Peludodf: Obrigado cara, esse vai ser bem mais intenso que Ação e Reação. Continue acompanhando.

Johnnathan: Obrigado pelo elogio e respondendo a sua pergunta se não tiver nenhum imprevisto tentarei postar uma vez por semana.

VALTERSÓ: Olá Valter, primeiramente eu fico muito feliz por você estar comentando e votando esse conto. Lhe peço desculpas pelo constrangimento que tivemos em Ação e Reação, se te ofendi de alguma maneira de coração não foi minha intenção. Em relação ao conto você logo de cara já percebeu que Fabrício colheu o que plantou, mas será que é justo a violência, será que só ele é o problema? Ele tem a auto estima baixa como milhares de outros por ai, ele vai dar a volta por cima, vai ser bem legal, vou tratar desse assunto nesse conto e te garanto você vai odiar Fabrício e mais ainda o João, amor, ódio dominação e submissão, o que os separa? Continue acompanhando.

arrow: Que bom que está gostando, fico feliz. Amor e obsessão são algo muito parecidos, se como você diz que João gosta de Fabrício por que ele fez isso? Estupro é algo sério, não é não. Continue acompanhando, acho que você vai gostar muito.

Martines: Talvez você esteja certo, mas isso não justifica o que João fez não é mesmo? Fabrício tem que mudar senão ele sempre vai ser um objeto para esses enrustidos.Eu agradeço o elogio, garanto que você não vai se decepcionar.Boa leitura.

Coração Ferido – Capítulo II

Nada justifica a violência sexual, física ou psicológica. João havia passado dos limites que ambos havíamos imposto no início dos nossos encontros, não dava mais. Mesmo sendo submisso deixando me dominar se me impor ele não tinha o direito de fazer isso. Voltei para casa me sentindo um lixo, usado, humilhado, violentado.

Me olhar no espelho do banheiro e ver meu reflexo foi assustador. Era humilhante me ver machucado, meus olhos vermelhos e as marcas dos dedos dele marcados. Eu por muito tempo fui dele, ele fez o que bem entendeu, tudo que estava acontecendo comigo foi por que eu havia permitido, me fazer de vítima não adiantaria. O engraçado é que a humilhação de me olhar naquele estado foi maior do que sair do hotel e ver as pessoas me encararem com graça ou sorrirem em deboche. A noite Belo Horizontina perdeu sua graça. Eu preferia passar por uma traição do que por isso tudo.

O pior da noite foi quando tomei banho e vi meu corpo com marcas da violência ocorrida horas antes. O momento mais dramático foi quando o sangue misturado com esperma nas minhas pernas e anus que estava seco desceu com a água, água essa que desceu pigmentada de vermelho e me fez entrar em desespero, pois ali tive a certeza que sua intenção foi de me machucar, e não de dar ou receber prazer. Por mais que esse mundo seja cruel, nunca imaginamos que algo irá nos acontecer, até que acontece. Sai do banho, me sequei e pelado mesmo cai na cama e dormi.

O sábado amanheceu bonito, o céu azul e ensolarado mostrava que seria mais um dia agitado na capital mineira, cidade essa que já chamava de lar. Tomei banho e ao me olhar no espelho me certifiquei que algumas das marcas haviam sumido ou então diminuído, as olheiras estavam ali, mas a noite não foi mal dormida. Reparei em meu corpo, eu era bonito e não precisava de macho para me dizer ao contrário, tinha que me valorizar, ou some ou soma.

Como teria que trabalhar na parte da manhã decidi ir de jeans, camisa social e sapa tênis mesmo, já que hoje não faria visitas ao canteiro de obra e nem a fornecedores.

- Está tudo perfeito... – me dei uma última olhada no espelho e sai.

O escritório onde eu trabalhava ficava há 15 minutos de caminhada de onde eu morava, era quase ao lado da faculdade e ficava em um bairro conhecido por ser o setor financeiro de BH.

- Bom dia Tatiana – cumprimentei a recepcionista assim que entrei no escritório.

- Bom dia Fabrício – disse ela com um entusiasmo de velório – senhor Valmir está te esperando na sala, acho bom você correr – disse se fazendo de preocupada.

- O que aconteceu? – Perguntei preocupado.

- Ressaca... – ela massageou a têmpora – muita ressaca – disse ela baixando a cabeça.

- Até depois então...tome uma aspirina – sai e deixei ela lá.

A sala do Valmir ficava mais ao fundo, passaria primeiro em minha sala e depois eu iria conversar com ele.

- Bom dia Fabrício – tomei um susto quando ele entrou na sala de supetão.

- Que susto... – botei a mão no peito – bom dia Valmir, como o senhor está? – Forcei um sorriso, mas Valmir me conhecia.

- Está tudo bem Fabrício? – Ele me analisou.

- Sim, está... – tentei, mas foi em vão.

- Foi ele, não foi? – Ele me fitou, meu choro foi a resposta que ele queria.

- Vem – Valmir me puxou pelo braço e me levou para a sala dele – Tatiana, estou em reunião com o Fabrício, não me interrompa, ok? – Ele desligou o telefone e me encarou.

Valmir Cazarotto era Engenheiro civil, era bem mais que meu chefe, era meu amigo, meu padrinho e o mais próximo que eu tinha de uma família aqui em Minas Gerais. Gaúcho de Farroupilha ele cresceu junto com meu pai e com isso viraram grandes amigos. Seus traços bem evidentes de um descendente de italiano o deixavam um paizão muito tesudo com seus 55 anos. Com 1.85m, 103 kg, corpo grande sem ser gordo e sarado, estava começando a ficar calvo e por isso mesmo estava meio que na crise da meia idade. Valmir tinha olhos castanhos, e uma feição um pouco carregada, mas era o típico paizão amoroso.

- O que aconteceu Fabrício? – Não era uma pergunta, era uma ordem. Valmir era pior que o meu pai quando queria, mas era em quem mais confiava fora da minha família, nele o no Luciano, seu filho mais velho.

- Valmir, não quero falar sobre isso, se você não se importa, só quero voltar para minha mesa e trabalhar – me levantei, mas ele impediu minha saída da sala.

- Você vai me contar ou terei que ir atrás daquele babaca miserável e peça para ele me contar hein? – De braços cruzados me dei por vencido.

Então contei tudo o que tinha acontecido, mesmo com vergonha eu não poupei detalhes, conhecia muito bem Valmir, ele não iria me julgar, nem mesmo se eu fizesse algo grave.

- Puta que pariu Fabrício, olha o que você acabou de me contar – ele respirou fundo, estava nervoso – eu sabia que aquele maldito não era de confiança, que não valia nada, mas você parece que não vê... – Valmir deu um tapa forte na mesa me assustando.

- Calma... – gritei.

- Calma! – Exclamou pasmo – você me pede calma Fabrício, você foi violentado e me pede calma – ele estava vermelho de tão nervoso que ficou – as vezes acho que você merece isso... – ele se calou.

- Eu mereço isso? – Ele me olhou apavorado, sabia que tinha falado besteira.

- Desculpa – pediu sem graça, eu sabia que era no calor do momento – por favor, me desculpe disse ele de costas.

- Tudo bem... – assenti.

- Mas você pelo menos bateu nele né? – Perguntou com esperança, como se violência resolvesse tudo.

- Sim – respondi – acabei tudo com ele também, mas acredito que não volte a me procurar mais – disse com pesar.

Alguns minutos de silêncio constrangedor abateu-se sobre nós, eu sabia onde a cabeça dele estava, era no mesmo lugar que a minha.

- Fabrício, eu estou pensando aqui e pelo que você me relatou ele te fazia de fêmea, mas você nem mesmo é afeminado, é totalmente discreto, nem trejeitos tem, sempre discreto se dando ao respeito, por que você se submeteu a isso para um cara que não vale o feijão que come, só me explica isso? – Ele estava inconformado.

- Por que eu amava o João – ele ficou surpreso – e olha a minha aparência Valmir? – dei uma voltinha. Ele me olhou sério.

- O que que tem de mais? – Perguntou.

- Eu não sou o estereótipo perfeito que os ativos procuram, pelo menos que a maioria dos gays visualizam, eu sou gordinho e não tenho pinta de modelo e nem sou saradinho de academia... – ele me interrompeu.

- Para Fabrício – ele chegou perto de mim – você está me dizendo que ficou com ele por medo de não achar alguém melhor... – agora eu queria me enfiar em um buraco no chão.

- Valmir não foi só por isso, como já te falei eu amei aquele babaca e do jeito torto achei que ele me amava também, mas descobri que ele não passava de um “hétero” metido a fodedor que só queria me usar e me botar para baixo, aquele desgraçado, eu quero que vá para o inferno – disse com raiva.

- O pior é que um babaca desses poderia ter feito algo pior – meu tio ficou de costas para mim – eu moro de medo de um dia receber uma ligação que você foi encontrado morto em um hotel um em qualquer lugar abandonado – disse ele com pesar – eu perdi um filho assim, não quero perder meu afilhado desse jeito, eu não vou aguentar – ele chorou.

- Padrinho, eu prometo que vou tomar mais cuidado, o João não faz mais parte da minha vida – tentei acalma-lo.

- Por favor, não deixem que te usem, me prometa que você não acabara como o Adriano, me prometa? – Ele me segurou pelo braço apertando, o desespero era visível.

- Padrinho, eu prometo, mas o Adriano não fez nada de errado, ele não merecia morrer daquele jeito – meus olhos marejaram.

- Eu sei que não – Valmir admitiu.

Adriano era o filho mais novo de Valmir e foi meu melhor amigo. Eu sempre soube que ele era gay assim como ele sabia de mim também. Aos 17 anos ele se assumiu para a família e ao contrário do que muitos acharam a família não expulsou, humilhou ou fez algo do gênero, muito pelo contrário, a família apoiou.

Adriano era praticamente uma menina, seus traços leves, seu jeito inocente e delicado atraia a atenção de muitos homens, eu por outro lado sempre fui mais masculino, era um menino que gostava de meninos, mas na época eu ainda não tinha tido a coragem que ele teve para se assumir.

Adriano foi encontrado morto em seu quarto. Seu pescoço tinha sido quebrado e ele usava roupa de colegial e estava amordaçado.Segundo e empregada que encontrou ele foi uma cena horrível de se ver. Adriano tinha sido estuprado e morto pelo vizinho, um cara bonzinho, que era um exemplo de pessoa, pai de família, religioso e que ainda por cima era membro ativo de sua igreja. O erro dele foi deixar cair sua identidade e não se dar conta do seu erro. Foram três dias para descobrir e lembro que nesse meio tempo foi constatado que Adriano sofreu abuso sexual mesmo quando já estava morto. Lembro que a polícia o prendeu em sua casa quando ele recebia o pastor de sua igreja e a mulher, era o aniversário de um de seus filhos e a casa estava cheia.

Sem escapatória ele deixou a máscara cair, o vizinho até então bonzinho era um psicopata necrófilo, ele acompanhava as vítimas se fazendo de amigo, depois matava suas vítimas que geralmente eram garotos afeminados e travestis e os estuprava dizendo que ele tinha sido escolhido para fazer um serviço especial que era livrar a humanidade de viados imundos e que o através do estupro ele purificava a alma das vítimas já que ele era puro e casto.

O pior foi que um cara desses foi preso e no dia do julgamento foi considerado doente por uns e herói por outros. Lembro que ele passou por mim algemado e disse baixinho.

- Você será o próximo... – ele ainda sorriu para mim, eu reagi e cuspi em sua cara.

- Morra na cadeia seu doente – ele sorriu – tomara que façam o mesmo com você, te façam de menininha na cadeia, seu enrustido – ele sorriu em deboche.

Quando estavam encaminhando ele para a saída do fórum já na entrada três tiros foram ouvidos. Após o tumulto, gritaria e desespero vi ele caído no chão com os olhos esbugalhados e um tiro na testa. Logo mais à frente Luciano, irmão de Adriano e filho mais velho de Valmir na época com 21 anos acertou um tiro certeiro na testa dele e depois jogou a arma no chão.

- Meu irmão foi vingado pai – Luciano se rendeu e então a os policiais o prenderam.

Nunca vou esquecer da cara do padrinho, era como se um peso tivesse sido tirado de suas costas. Nada justifica tirar a vida de alguém, mesmo que esse alguém seja um doente que tirou muitas outras, mas naquele dia eu comemorei por dentro, aquele maldito nunca mais iria tirar a vida de ninguém.

Luciano foi condenado a 6 anos de prisão por homicídio doloso e porte ilegal de arma. Essa pena logo foi reduzida para três anos por bom comportamento e por ele ser réu primário. A justiça entendeu que ele não apresentava perigo a sociedade e diria que ela até olhou com bons olhos o que ele fez, era menos um lixo no mundo. A igreja do psicopata processou Valmir e seu filho e dois anos após o início do processo a justiça deu ganho de causa a família de Adriano.

O Luciano saiu da cadeia e hoje mora aqui em Belo Horizonte com os pais, hoje está com 31 anos e é uma cópia quase idêntica de seu pai, só muda que ele tem cabelos castanho claro e é mais alto, cerca de 1,89m e pesa 120 kg, é um cara grande e peludo assim como seu pai, só que ele tem a feição mais fechada que as vezes dá medo. A vida com ele não foi justa, se casou e logo separou e desde então vive sozinho, hoje é um dos meus melhores amigos.

- Já fazem 10 anos né padrinho? – Me encostei nele, ele suspirou.

- Eu as vezes me pego pensando que se eu tivesse prestado mais atenção naquele miserável tudo seria diferente, se eu tivesse ficado em casa ele não teria matado meu filho, judiado dele – Valmir respirou fundo.

- A culpa não foi sua e nem de ninguém a não ser daquele verme que a essa hora deve estar no inferno sendo fodido pelo capeta e deve estar gostando ainda por cima – ele riu.

- Você vai denunciar o João, ele te estuprou Fabrício – Valmir esperou minha posição.

- Não – ele me olhou surpreso, mas acredito que entendia o porquê – não quero me expor e seria constrangedor minha família lá no Sul ficar sabendo e seria minha palavra contra a dele – justifiquei.

- Não concordo, mas sei que para você seria se expor demais – ele alisou meu ombro - me prometa que nunca mais vai deixar um babaca daqueles te encostar a mão e que se acontecer você vai me avisar, estamos entendidos? – Ele me perguntou.

- Prometo – abracei ele – vamos voltar ao trabalho, pois ainda tenho que finalizar aquele levantamento que o fornecedor solicitou – sorri e me direcionei a porta – Valmir? – Chamei ele.

- Oi – ele me deu atenção.

- Tome uma água e vá para casa, tire o dia para distrair, está uma manhã bonita, não fique aqui, eu e Tatiana damos conta do recado. Leve dona Carmem no cinema e na lagoa caminhar, essa hora o aeroporto da Pampulha deve estar movimentado, tem como ver os aviões pousando e decolando. Vá com o Luciano jogar boliche, andar de bicicleta, aproveite sua família, ela não acabou e se eu bem conhecia o Adriano ele odiaria ver o senhor assim, cabisbaixo - ele sorriu e assentiu.

- Farei isso, mas promete que vai jantar com a gente, a Carmem está me enchendo o saco a semana inteira, ela quer fazer polenta brustolada e espinhaço em molho para você, segundo o que ela e sua mãe comentaram você anda comendo mal – disse ele com graça.

- Imagina se eu comece bem então – tive que rir.

Acabamos ficando somente eu e Tatiana no escritório e depois de algumas horas fiquei sozinho. Trabalhei tanto que consegui esquecer do episódio com João e até dele mesmo. Olhei no relógio e já se passavam das 16:00h, era hora de ir embora, mas antes eu passaria no shopping para comprar algumas coisas lá para casa que estava faltando.

Quando estou saindo meu telefone toca. Olho no visor e vejo que é meu pai. Resolvo me sentar e atender logo o telefone.

- Oi pai – atendo nervoso.

- Oi filho, o que aconteceu, está tudo bem? – Perguntou ele com a voz calma que sempre fazia para falar comigo.

- Desculpe não ter te ligado antes, acabei agarrado na faculdade e na hora de voltar para casa eu esqueci de carregar o celular, mas e aí está tudo bem? – Perguntei tentando desconversar, ontem não tive aula, mas ele não precisava saber disso.

- Bah, que susto meu filho, liguei até para o Valmir para ver se estava tudo bem, mas ele me garantiu que estava – meu pai e sua preocupação – você não está me trovando não né, sabia que mentir para o pai é pecado – ele com seu regionalismo já era estranho para mim.

- Barbaridade pai, está tudo ótimo! – Exclamei - mas então o que o senhor queria falar comigo? E a mãe, está bem, o Guilherme também? – Perguntei da minha mãe e do meu irmão.

- A sim estão – garantiu ele – guri te liguei ontem para saber você vem mesmo para casa, tua mãe está louca, as vizinhas pedem todo dia de você e teu irmão quer que tu conheças a nova namorada dele, barbaridade aquela guria é fogo, diz que tu vem para casa logo assim eles ficam mais calmo – ele esperou uma resposta.

- Sim pai – confirmei, seria bom ir para casa, nada como colo de pai e mãe – eu vou daqui duas semanas, passo a páscoa com vocês e volto para casa, pois não posso ficar perdendo aula – justifiquei.

- Vem que eu te busco no aeroporto – disse ele, o aeroporto até a minha casa dava algo em torno de 15 minutos.

- Está bem pai, você me busca no aeroporto – eu disse a ele.

- Que bom – disse animado - teus tios lá de Porto alegre também devem vim para cá, inclusive teu primo Maxuel está perguntando muito de você ultimamente, fique de olho aberto, não quero aquele moleque dando em cima de você... – meu pai e seu ciúmes sem fundamento.

- Tá bom pai, agora eu tenho que ir, vou jantar com o Valmir e a tia Carmem, se cuida e manda um abraço para a mãe e pro Gui – sempre era ruim me despedir.

- Se cuida filho, o pai te ama tanto, não vai aceitar nada de estranhos, e cuidado, o mundo é perigoso, ainda mais pra ti...tu sabes né? – Ele sempre se enrolava quando se referia a minha orientação sexual.

- Eu entendi pai, mas se cuida o senhor também, vê se não fica se machucando quando for jogar futebol, está bem, tu tá deixando a mãe louca desse jeito – Ele demorou para responder.

- Tá bom filho, eu vou me cuidar, tchau – ele finalizou a ligação.

Eu me pareço muito com ele, meu pai é descendente de italianos que vieram para o sul plantar uva e trabalhar. Já minha mãe não, ela é morena e nasceu em Porto Alegre, meus avós eram descendentes de portugueses. Seu Rafael tem 53 anos, 1,81 m, 95 kg, está bem com seu corpo já que joga futebol duas vezes na semana, mas esses dias caiu e quase quebrou a perna. Seus olhos e cabelos são castanhos começando a ficar grisalhos e com entradas. Apesar de toda a preocupação que ele tem comigo hoje em dia nem sempre fomos tão ligados assim.

Meu irmão Guilherme tem 29 anos e quando éramos pequenos ele era o preferido do meu pai, já minha mãe sempre me defendeu, meu pai nunca chegou a me bater, mas sempre foi severo comigo. Quando decidi fazer curto de técnico de edificação e não seguir a agronomia que nem ele e Guilherme ele não gostou nem um pouco da notícia. Valmir me apoiou.

Lembro que nossa relação era quase fria, forçada, mas alguns meses após a morte de Adriano tudo mudou. Me assumi para minha mãe, depois me assumi para ele, pois eu devia isso ao meu amigo, ele teve a coragem que eu não tive, mas era hora de mudar. Minha mãe logo de cara aceitou a ideia e me apoiou, me deu força, já meu pai não. Ele me expulsou de casa, eu só tinha 17 anos e quando me impus ele apontou uma arma para mim seu próprio filho. Sai com a roupa do corpo e prometi para mim mesmo que nunca mais olharia na cara dele de novo.

Foi uma confusão, acabei ficando na casa do Valmir, meu pai não gostou nem um pouco disso, minha mãe levou meus pertences para lá e disse para mim relevar que ele era desse jeito, mas que ia passar, não relevei porra nenhuma, meu próprio pai me ameaçar, me apontar uma arma como se eu fosse bandido, não mesmo. Ficamos 8 meses sem nos falarmos, passei natal e pascoa sem olhar para ele, não liguei, mas minha mãe disse que ele perguntava por mim disfarçadamente. Meu pai é orgulhoso que nem eu, não procuraria ele de jeito nenhum. Descobri que ele estava com início de depressão e realmente comecei a me preocupar.

Quando eu já tinha iniciado o curso de edificações em Caxias do Sul acabei me afastando um pouco da minha família, tive que ir morar em Porto alegre, na verdade escolhi ir para lá, Caxias do Sul não tinha um bom curso então decidi mudar de instituição de ensino. Alguns dias depois quando já estava ficando em Porto alegre na casa de um primo meu pai aparece lá todo errado. Lembro que assim que ele me olhou e viu que não baixei meu semblante ele me abraçou e chorou, eu nunca vi meu pai chorar até aquele dia, o dia em que ele me pediu perdão por tudo que tinha feito comigo, tudo, desde a maneira fria que me tratou durante a infância e adolescência até quando me expulsou de casa por causa da minha orientação sexual.

Foram alguns dias para mim engolir tudo isso e voltar de novo para Caxias do Sul onde vivi até os 22 anos, logo depois fui convidado para acompanhar o Valmir e Luiz para acompanha-los em sua empresa e vendo uma boa chance de conhecer novos lugares cá estou eu em Belo Horizonte.

Sou retirado dos meus pensamentos quando ouço um barulho no escritório.

- Tem alguém ai? Tatiana é você? – Perguntei, mas ninguém respondeu.

Não estranhei, era um prédio no com outros escritórios então era normal haver pessoas no mesmo andar que a gente, peguei minhas coisas e sai para a recepção. Quando estou cheguei lá dou de cara com alguém que não queria ver nem pintado de ouro.

- Você! – Exclamei incrédulo, minha vontade era pular no pescoço dele – o que está fazendo aqui João? – Perguntei já pegando meu celular.

Lá estava ele me olhando sério e apreensivo ao mesmo tempo. Sua pose altiva que antes me admirava agora me dava nojo, era como se fosse alguém superior aos outros. Pude notar que ele deu uma espécie de sorriso quando me viu.

- Nós precisamos conversar... – disse ele largando seu capacete de segurança na cadeira de Tatiana e sentando na outra. Isso não estava acontecendo.

Continua...

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive William28 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

ESPERO QUE VC DEIXE DE SER BABACA E DENUNCIE JOÃO POR ESTUPRO SIM. ELE MEREC CADEIA.

0 0
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Nossa 😳 quase chorei aqui com a história do Adriano,coitado.Mas continua viu,seu conto é ótimo

0 0
Foto de perfil genérica

Esse João é muito cara de pau. Fabricio não pode ceder a seja lá o que for que ele vai propor. Manda ele se foder!!

0 0
Foto de perfil genérica

Nossa to chocada.. Acho q o João não se aceita ta vivendo uma guerra interna. Aconteceu muito com caras q se acham q são heteros mas na vrdd são gay que precisam de ajuda

0 0
Foto de perfil genérica

Gostei muito do sr Valmir e da família dele, que bom que ele é apoiado e amador por essas pessoa. Esse Maxuel será um problema? Esse João ainda quer conversar, manda se fuder e sai gritando, falando que ele quer te estuprar... kkk De resto, to louco pra ver esse jantar na casa da dona Carmem! João tem que sofrer muito ainda, e vai....

0 0
Foto de perfil genérica

Só falta ele ficar com o João. Luciano ou maxuel? fica com o q parecer mais com um urso.

0 0
Foto de perfil genérica

Não tem mais conversar com o João, agora tem que impor o seu respeito e dignidade....

0 0