Mistérios Noturnos 02

Um conto erótico de Demitre96
Categoria: Homossexual
Contém 1042 palavras
Data: 17/09/2018 22:32:16

Toda vez que a senhorita Leeds ligava para o escritório, perguntava se Addantinha encontrado algum homem bom. O que era agradável. Enfim, outra geração. E a mulher aceitava os nãos de Addan com elegância... Talvez por que ela mesma nunca tivesse se casado.

Evidentemente tinha uma veia romântica não satisfeita ou algo assim. E, para Addan, francamente, todo aquele assunto sobre relacionamento era enfadonho. Não, ele não odiava os homens. Não, o matrimônio de seus pais não tinha sido infeliz. Não, de fato seu pai tinha sido uma figura masculina bastante frequente. Não, não houve nenhum fim de relação problemático, nenhum problema de autoestima, nenhuma patologia, nenhum histórico de abuso.

Ele era inteligente, amava o trabalho e estava agradecido pela vida que tinha. Era só que todo aquele assunto sobre casamento era adequado para outras pessoas. Concluindo? Ele respeitava completamente as mulheres e homens que se tornavam esposas e maridos e ser mães e pais dedicadas(os), mas não sentia inveja ao ponto de querer assumir um casamento e filhos.

E, na manhã de Natal, não sentia nenhum buraco no coração pelo fato de estar sozinho. E não precisava de partidas de futebol, nem de desenhos na geladeira, nem de presentes feitos à mão para se sentir realizado.

O Dia dos Namorados e o Dia das Pais eram simplesmente duas datas no calendário. O que amava era a batalha no tribunal. As negociações. As sofisticadas dobras e voltas da lei.

A responsabilidade energizante de representar os interesses de uma corporação de dez bilhões de dólares – fosse comprando ou alienando bens ou demitindo um CEO que tivera oito dígitos de gastos pessoais ilícitos.

Todas essas coisas eram sua força matriz. Com pouco mais de trinta anos, ele estava no topo da carreira e em uma posição muito confortável na vida. O único problema que tinha era com as pessoas que não entendiam um homem que é gay como ele.

Era um caso típico de duplo padrão: homens heteros podem ter uma vida inteira dedicada ao trabalho e serem vistos como bons profissionais, mas os Homens homossexuais acabam como tios solteiros e antissociais com problemas de relacionamento.

Por que eles simplesmente não podiam ser vistos da mesma forma?Quando finalmente avistou a extensão da ponte de Caldwell, Addam já estava prontp para levar a cabo a reunião, retornar ao seu apartamento na Park Avenue e começar a se preparar para a reunião da terça-feira com os representantes da Technitron.

Quem sabe talvez até tivesse tempo suficiente para voltar ao escritório...

A propriedade dos Leeds consistia em quatro hectares de terra, quatro edifícios anexos e um muro que só poderia ser escalado por pessoal treinado, com o físico forte de treinador de rapel. A mansão era uma enorme pilha de rocha localizada em uma elevação, um magnífico empreendimento de novo rico erguido durante o período do Renascimento Gótico da década de 1890.

Para Addan, a propriedade parecia com algo pelo qual Vincent Price1 teria pagado bastante dinheiro para possuir. Dirigiu pela entrada circular para carros, estacionou em frente à entrada digna de uma catedral e colocou o celular no modo vibrar. Pegou sua bolsa e aproximou-se da casa, pensando que talvez devesse levar uma cruz em uma mão e uma adaga na outra. Céus! Se tivesse a riqueza dos Leeds, viveria em algum lugar um pouquinho menos funesto.

Um mausoléu, por exemplo.

Um lado da porta dupla abriu-se antes que ela chegasse ao batedor em forma de cabeça de leão. O mordomo da família, que teria uns 108 anos, fez uma reverência.

– Boa tarde, senhor Stroughton. Posso lhe perguntar se o senhor deixou as chaves no automóvel? Chamava-se Fletcher? Sim, era isso mesmo. E a senhorita Leeds gostava que o chamassem pelo nome.

– Não, Fletcher.

– Poderia entregá-las para mim, por favor? Para o caso de precisar manobrá-lo – quando ela franziu a testa, ele disse em voz baixa: – Receio que a senhorita Leeds não esteja muito bem. Se uma ambulância precisar ser chamada...

– Sinto muito por ouvir isso. Ela está doente ou... – Addan deixou que a pergunta desvanecesse enquanto lhe entregava as chaves.

– Está muito fraca. Por favor, acompanhe-me.

Fletcher caminhava com o tipo de dignidade vagarosa e cadenciada que se esperaria de um homem vestido com o uniforme de mordomo britânico. E ele combinava muito bem com a decoração. A casa estava mobiliada ao estilo das tradicionais famílias ricas; as paredes lotadas com quadros e mais quadros de obras de arte colecionadas ao longo de gerações.

A miscelânea incalculável de pinturas e esculturas de diferentes períodos, todas dignas de museus famosos, aglomerava-se em cômodos enormes. Certamente seria um trabalho hercúleo fazer a manutenção daquilo tudo. Tirar o pó daquelas coisas seria como cortar oito hectares de grama com um cortador manual... Nem bem terminava, teria que começar tudo outra vez.

Ele e Fletcher subiram as imponentes escadas curvadas em direção ao segundo piso e caminharam pelo corredor. De ambos os lados, pendurados nas paredes forradas com seda vermelha, havia retratos de vários Leeds; seus pálidos rostos brilhavam sobre fundos escuros e seus olhos bidimensionais perseguiam os visitantes. O ar cheirava a lustra-móvel de limão e madeira antiga.

Quando chegaram ao final do corredor, Fletcher bateu em uma porta esculpida. Ao ouvir uma débil saudação, ele abriu-a amplamente.

A senhorita Leeds estava escorada em uma cama do tamanho de um carro e parecia tão pequena quanto uma garotinha, tão frágil quanto uma folha de papel. Havia renda branca por toda parte, brotando do dossel e dependurando-se até o piso ao redor do colchão, cobrindo as janelas.

Era uma completa cena glacial com pingentes de gelo e bancos de neve, salvo pelo fato de que não fazia frio.

– Obrigado por vir, querido Addan– a voz da senhorita Leeds era frágil a ponto de parecer um sussurro. – Desculpe-me por não poder recebê-lo apropriadamente.

– Assim está perfeitamente bem – Addan se aproximou-se temendo não fazer algum ruído ou movimento brusco. – Como a senhorita se sente?

– Melhor do que ontem. Talvez tenha pegado uma gripe.

– Ela anda por todos os lados, mas me alegro por estar melhorando – Addan pensou que não seria apropriado mencionar o fato de que ele mesmo tivera de tomar antibióticos para se curar de algo parecido. – De toda forma, serei breve, assim, pode continuar o descanso.

Continua....

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