Máquina

Um conto erótico de André Bevilacqua
Categoria: Heterossexual
Contém 1763 palavras
Data: 09/08/2020 17:05:56

B2 era um ser mecânico. Era do tipo que se parecia com um ser humano, ao menos no formato do corpo e nas proporções. Sobre alguns detalhes, entretanto, não havia muito o que fazer, como sua expressão facial, que era muito limitada pelo metal. Também havia várias outras estruturas que não pussuía porque não tinham utilidade para um robô, como os sistemas responsáveis por, por exemplo, a alimentação e o sexo.

Passava da metade do século vinte e muitas famílias de classe média e alta possuíam aparelhos humanoides como ele. Eram super-eletrodomésticos, que, na verdade, eram capazes de fazer quase tudo, de obedecer qualquer ordem, fosse de regar o jardim, consertar o carro ou ajudar na lição de casa das crianças. Sim, porque eram inteligentes, ou tão inteligentes quanto um computador pode ser. E B2 sabia que tinha consciência.

Para compensar a falta de expressão facial, o robô acabou desenvolvendo muito bem sua eloquência. Realmente, era bom de conversa, um bom companheiro, um amigo para se gostar de ter por perto. A sua senhora, por exemplo, uma jovem recém-casada, adorava trocar muitas palavras com ele à noite, antes de juntar-se ao marido, enquanto B2 escovava seus cabelos castanhos e lisos, numa quantidade de vezes que o robô às vezes achava até um pouco excessiva.

Todos os outros seres mecânicos imitavam bem os seres humanos a ponto de, de fato, aparentarem serem conscientes de si. Mas B2 se achava capaz de sentir, sem ter certeza se tal habilidade era real ou uma emulação de seu programa.

Ninguém perderia muito tempo, no entanto, preocupando-se com o bem-estar de um robô, ainda que sua família-proprietária o tratasse quase sempre com cortesia. Ser um robô era ser algum tipo de coisa a parte, um tipo de coisa artificial, nunca tão pura ou tão digna do mundo quanto um ser humano biológico. E B2 já havia sentido “na pele” o preconceito que poderia ser direcionado a ele. Procurara, por exemplo, emitir sua opinião a respeito de um assunto qualquer numa reunião da família, numa ocasião de muitas visitas, enquanto aguardava em pé, ao lado da mesa, esperando o fim da refeição. “Esse parece até humano”, disseram. “Pensa que é uma pessoa para falar desse jeito”, disse outro. “Onde estão os empregados de carne e osso?”, também ouviu. Não respondeu, ficou quieto até o fim da noite. Recolheu-se assim que pôde para recarregar sua bateria, mas não sem antes escutar ânimos alterados e palavras que achava feias vindo das pessoas reunidas, que tinham um curioso hábito de brigar após exagerar numa substância artificial que pareciam não poder viver sem – o álcool.

(Fonte: Forbidden Planet Publicity Photo)

O robô pensava muito sobre sua própria artificialidade em contraste com a suposta “naturalidade” das pessoas, quando via os seres humanos tão dependentes dessas coisas fabricadas por eles mesmos. O seu senhor, por exemplo, costumava ter de tomar uma porção de pílulas para dormir bem, como B2 percebeu, numa outra noite. Sua senhora também já havia demonstrado um carinho especial com certos equipamentos elétricos, durante as ausências do marido. Numa dessas ocasiões, acabou vendo pela fresta da porta.

A jovem mulher estava sozinha, após sair do banho. Vestia, ao que tudo indicava, somente o roupão. Lembrava-se que chamara-se a atenção a delicadeza de seus pés nus e a porção visível de suas pernas, claros indicativos de uma fragilidade intrínseca, mas, longe de parecer uma fraqueza daquele ser, era, sobretudo, fascinante. Sentou-se na beira da cama, passou algo na pele e, após olhar, aparentemente, para o nada por alguns instantes, abriu a gaveta do criado mudo e retirou um objeto que B2 não conseguiu identificar bem. Sua proprietária, então, sentou-se encostada na cabeceira e levou o objeto, que já fazia um ruído curioso, ao interior do roupão, entre suas pernas, gesto que permitiu que se vissem suas coxas. Fechou os olhos. Por um tempo, ficou quase parada assim, embora sutilmente mudasse a posição do objeto de pouco em pouco. Em alguns minutos, sua respiração ficou ofegante e passou a mover o objeto e a mover a própria pélvis cada vez mais, até o ponto em que contraiu o corpo todo, incluindo os dedos dos pés, por alguns instantes. Na sequencia, relaxou, e o robô pode perceber sua respiração normalizando-se.

B2 observou que, nas vezes em que a moça utilizava tal objeto, acabava adormecendo em seguida e não pedia pela companhia dele.

Além disso, B2 acreditava nutrir muitos sentimentos e admiração por várias pessoas (justo ele, um computador sem coração!), mas não percebia muito esse tipo de atitude entre uma pessoa e outra. Achava esquisito. Mesmo entre o casal que servia, não percebia verdadeira amizade nos gestos, nas palavras. Ele, no entanto, sabia gostar dos outros, e tinha um carinho especial, por exemplo, por sua senhora. Havia percebido há muito tempo que gostava bastante de passar aqueles inícios de noite sentado ao lado dela.

Passou a aguardar ainda com mais ansiedade por essas ocasiões desde que a jovem o chamou ao seu aposento e, por acaso, ainda não havia vestido a roupa de dormir. Estava cobrindo, como o robô observou rapidamente, somente a parte de baixo, enquanto podiam se ver a pele clara do colo, o belo formato dos seios e a cintura. B2 sentiu uma espécie de euforia, uma necessidade, um sentimento que não entendeu. Ficou curioso com aquilo e passou a querer vê-la novamente daquele jeito, apreciar, talvez sentir de uma maneira que ainda não conhecia aquela forma da natureza, natureza tão distante dele, tão arrebatadoramente bela.

Após esse singelo acontecimento, no entanto, seu senhor e sua senhora logo embarcaram numa viagem de alguns dias e ele soube que teria de esperar por ela durante esse tempo. Mas pôde pensar durante suas noites e concluiu que a razão de sua existência dali para a frente, ou, pelo menos, aquilo que deveria buscar para que conseguisse um norte para sua vida de servente, seria a confirmação verbal, pela sua querida senhora, de que não era menos do que um homem, de que era tão digno da vida quanto um. Em resumo, de que, ainda que artificial, de alguma forma, era tão bom ou melhor do que um ser biológico.

O casal retornou de viagem, mas B2 observou que não estavam mais conversando entre si. Nos momentos da jovem senhora com o robô, à noite, seu relacionamento com o marido passou a ser um tema recorrente, ainda que as verdadeiras queixas da moça só pudessem ser percebidas nas entrelinhas. Ela parecia ter, ainda que pouca, alguma reserva para abrir-se totalmente para B2. A sensível máquina percebeu, entretanto, que, em vários aspectos, sua dona era infeliz enquanto casada.

O robô sentiu que também se entristecia, porque tinha um grande respeito e também admiração por seu senhor. Claro, nada que se comparasse com sua amizade pela jovem mulher, mas certamente não achava aquilo bom. Seus transistores pensaram então que ele deveria suprir tudo o que faltasse naquele lar. Quem sabe, assim, obtivesse, finalmente, seu reconhecimento!

Numa das noites seguintes, o marido não voltou. E a moça estava muito quieta durante o jantar. B2 achou que deveria puxar assunto para tentar ajudar.

“Quer conversar, senhora?”

A moça, mesmo que de um jeito triste, olhou com carinho para ele.

“Ah, B2, você é um amor. Não, não precisa falar comigo. Eu sei como você gosta de um bom papo, mas hoje não sou a pessoa ideal para isso.”

“Eu insisto! Foram raras as vezes em que vi um ser humano sair de uma conversa mais triste do que entrou.”

“Está bem… É que… Você sabe, meu marido não anda muito satisfeito. Eu mesma não sei explicar, mas seu tempo é todo tomado pelo trabalho e, quando ele me vê, é muito impaciente e mal-educado. Acho que ele não tem interesse em voltar para casa. Hoje mesmo, não voltou porque disse ter um jantar de negócios. Acho que vai se tornar recorrente. E tem aquela colega dele… Ele está interessado nela, só pode ser! E ainda tem aqueles remédios todos…”

O robô teve a impressão de que ela começava a chorar.

“Senhora, o que posso fazer? É insuportável vê-la triste assim.”

“Você já abraçou alguém?”

“Não.”

A moça levantou seu corpo delicado da cadeira, alisou o vestido por costume e andou um passo até B2, que também se levantou. Abraçou-a da maneira que achava que humanos faziam. Ela demorou-se e suspirou. O robô sentiu algo dentro de si.

“Ninguém me transmitiria tanta calma, B2! Obrigada! Se importa se eu ficar aqui mais um pouquinho?”

A jovem apertou-o forte. Sua cabeça descansava sobre o peito largo da máquina, que era mais alta do que ela. B2, então, analisou o abraço e julgou que o mesmo seria mais eficiente se ele se abaixasse um pouco para que ele e a moça ficassem no mesmo nível. Para isso, dobrou um dos joelhos mecânicos e apoiou-o no chão.

“Ai, que gostoso!”, disse a moça distraidamente, visivelmente mais alegre. “Agora sim, estou abraçando de verdade meu amigo.”

A garota, então, fez uma manobra curiosa. Passou uma das pernas para o outro lado, de forma que a coxa da perna não-ajoelhada do robô ficasse entre suas duas coxas. A moça, perdendo a recente descontração, abraçou B2 forte mais uma vez e deixou seu peso cair sobre a perna do robô, permitindo contato da mesma com sua região pubiana. Soltou um gemido baixo. Parecia diferente da jovem que B2 conhecia. Sussurrou, então, no ouvido do robô:

“Segure meu bumbum. Me ajude a roçar devagar em você.”

O robô sentiu algo novo, mas, ao mesmo tempo, parecido com a sensação do outro dia. Não entendeu direito, mas queria fazer aquilo mais do que qualquer outra coisa. Começou.

“Isso… Isso!”, disse a garota, um pouco ofegante. “Um pouco… Mais rápido…”

A sensível máquina segurou a jovem com mais firmeza, dessa vez pela cintura, e continuou o movimento. Preocupou-se por um momento se a estava machucando, no que ouviu:

“Não pare…”

Continuaram. B2, ainda tentando compreender o que surgia dentro dele, sentia cada vez mais a necessidade daqueles movimentos. A respiração e os gemidos contidos da garota eram sua referência, e se fosse capaz de ler pensamentos, saberia que estava guiando seu prazer como ninguém. Percebeu que a cabeça de sua dona inclinava-se para trás e suas costas, também; apoiava no chão somente os dedos dos pés, nus.

De repente, o corpo da jovem ficou tenso. Ela segurou-se no robô, tentando esfregar-se ainda mais forte; a lubrificação já havia há muito atravessado sua calcinha. B2, então, ouviu sua senhora gemer um som breve e, finalmente, relaxar em seus braços metálicos.

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Comentários

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Conto gostoso! Dá uma lida nos meus também, espero que goste.

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