O outro capítulo 26 flashback parte 1

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 12091 palavras
Data: 24/02/2022 19:33:13
Última revisão: 24/02/2022 21:29:51

Capítulo 26

14 de março de 1986, data em que dona Dirce jamais se esquecerá. Até o dia de sua morte carregará consigo a dor da tristeza em ver o corpo de sua irmã ensanguentado no chão da cozinha. Deitado sobre ele, estava o corpo do seu cunhado, que em mãos carregava o revólver que ceifou a sua própria vida e da esposa.

Ciúmes era o motivo que o levou a cometer esses atos horrendos. Donato desconfiava que a esposa o traía com o seu amigo. Suas crises de ciúmes tornaram a relação insustentável, fazendo com que Sabrina desejasse pôr no fim na relação. Antes que ela tomasse essa atitude, Donato a matou. Não aceitava que a sua esposa, a qual ele não fazia destinação entre os objetos que possuía, o deixasse.

A traição nunca foi confirmada e nem negada. Permanece como um eterno mistério. A resposta foi levada ao túmulo junto com Sabrina.

O pequeno Júlio foi encontrado trêmulo diante dos corpos dos pais. Vestia apenas uma frauda e fitava a cena macabra horrorizado. O choque emocional o impedia de dizer qualquer palavra e derramar lágrimas.

Dona Dirce o tomou nos braços as pressas, o afastando daquela cena terrível.

O menino permaneceu dias sem pronunciar uma palavra. Devido ao trauma, a sua mente bloqueou o fato e até os dias atuais Júlio não se recorda do horror que presenciou.

Para poupa-lo de tamanho sofrimento, dona Dirce mentiu que os seus pais morreram num acidente de automóvel.

Dona Dirce vivia na solidão desde que seu esposo faleceu vítima de uma cruel leucemia. Como não teve filhos, dona Dirce deu a Júlio o seu amor e cuidado maternal, proporcionando ao sobrinho uma educação amorosa e segura.

Sempre priorizou a educação do pequeno Júlio. Ainda no ensino fundamental um, Júlio despertava a atenção das professoras por ser uma criança dotada de uma inteligencia acima da média da turma. Num exame, foi constato que o seu QI era de 100.

_ Julinho é inteligente demais para estudar nesta escola tão precária. Esse menino tem um futuro brilhante, dona Dirce. A senhora deveria investir mais nele._ disse a professora Ana.

_ Eu adoraria, professora. Se eu pudesse, o meu filho estaria estudando na melhor escola deste país. Mas o meu mísero salário de empregada doméstica não me permite pagar.

A professora Ana lamentava que o talento do menino fosse desperdiçado. Para ajudar, conversou com o padre da sua paróquia, convencendo o religioso que o conseguisse uma bolsa integral para que estudasse na escola que ele dirigia. A professora foi bem sucedida na sua tentativa. E aos dez anos de idade, Júlio daria um passo que mudaria a sua vida para sempre: conviver com pessoas ricas e passaria a desejar com veemência ter o mesmo padrão de vida delas.

O colégio Santa Barbara ficava localizado num prédio arborizado. Apesar da arquitetura antiga, o colégio se destacava pela alta qualidade de ensino e pela aplicação da tecnologia como auxiliar na aprendizagem dos alunos, o que no ano de 1994 era uma grande novidade para a educação brasileira.

O colégio também era conhecido pelo seu conservadorismo em questão da exigência do bom comportamento dos alunos e por manter a religiosidade presente na vida acadêmica dos discentes.

O uniforme dos meninos era composto por calça xadrez em diferentes tons de azuis, blusa social branca e uma gravata com a mesma estampa da calça. O que mudava para as meninas era a substituição da calça pelas saias, que mediam até os seus joelhos.

As aulas religiosas nunca despertaram o interesse de Júlio. Mesmo muito jovem, não via sentido nas histórias bíblicas e não fazia distinção entre elas e a mitologia greco-romana. Mais tarde, encontrou no ateísmo uma identificação. Não por revolta da igreja, deus ou qualquer ser sobrenatural. Simplemente por não ver sentido na existência dos dois últimos.

Na hora das rezas, Júlio fingia exercer o ritual, quando no entanto tinha pensamentos libidinosos desejando os seus professores e colegas mais bonitos.

Dedicava-se ao máximo aos estudos, sempre obtinha as melhores notas da turma.

Não tinha dificuldades em fazer amizades, o que foi um grande divisor de águas em sua vida. Através dessas amizades conheceu um mundo que o encantou, mas não era possível para ele.

Era sempre convidado para as festas nas mansões dos amigos, onde se deslumbrava com tudo que via. Ouvia os relatos das viagens dos amigos aparentando interesse comum, enquanto por dentro a inveja o corroía a alma.

Mergulhou fundo no desejo de mudar de vida. Já não olhava para a sua vida com a ingenuidade que tinha antes. Naquele momento, passou a repudiar a pobreza que o cercava, detestar o bairro em que vivia, a casa desprovida de conforto, a conta bancária sempre no vermelho e ausência de fartura nas dispensas.

Júlio prometeu a si mesmo que não seria um pobretão para sempre. Sua vida iria mudar para melhor e ele não mediria esforços para isso.

Tinha consciência da sua capacidade nos estudos, e viu neles uma porta de entrada para um novo mundo. Em meios aos livros que lia na biblioteca da escola, em que buscava uma profissão que lhe despertasse interesse, encontrou no curso de Direito o seu objetivo. A princípio, desejava ser juiz, pois o valor salário desse tipo de profissional o interessava muito.

_ Esse curso é muito caro, meu filho. Faculdade é coisa de rico._ era o que dizia dona Dirce. Ela não o desmotivava com má intenção, apenas repetia o que ouvira a vida inteira. Dona Dirce acreditava na segregação social, que os ricos escolheram os ambientes para habitar e excluíram os pobres, que isso nunca iria mudar.

Júlio não dava ouvidos a tia. Apesar de ama-la, detestava a falta de ambição que havia nela, e culpava a isso o fracasso em que ela viva, ignorando todo o contexto social e a falta de oportunidades para ela.

Os anos seguiram e a adolescência chegava ao fim. Com o avanço do tempo, as dificuldades financeiras cresciam na mesma proporção.

Júlio se inciou no mercado de trabalho aos quatorze anos, trabalhando em lojas do seu bairro para obter alguns trocados e poder sair com os seus amigos ricos, sem ficar totalmente dependente deles.

No entanto, percebeu que isso não seria o suficiente. A sua tia estava envelhecendo e necessitava do seu auxílio.

Conseguiu um emprego num restaurante localizado dentro de um shopping. As horas exaustivas de trabalho o prejudicou no rendimento dos estudos, não conseguindo a aprovação no vestibular para o tão desejado curso de Direito. O que foi o seu primeiro choque e a primeira raiva intensa.

A segunda raiva era de uma tal de dona Angela. Ele não conhecia a mulher pessoalmente. Mas se revoltava ao ver como ela explorava a sua tia.

Há seis meses, desde que começou a trabalhar na casa da família Toledo, dona Dirce saía de casa muito cedo e voltava muito tarde e cansada. Trabalhava de segunda a sábado. Em algumas ocasiões em que a família fazia uma reuniões familiares aos domingos com almoços e churrascos, dona Dirce era convocada a trabalhar e não recebia nenhum pagamento extra por isso.

O que ele sabia que a tal dona Angela era casada com um advogado dono do próprio escritório, o que levou Júlio a concluir que a família tinha condições financeiras o suficiente para remunerar melhor a sua tia.

Sabia também que dona Angela era arrogante, grosseira e mesquinha. Toda vez que, por acidente, dona Dirce quebrava algo era descontado do seu mísero salário.

_ É revoltante a senhora trabalhar na casa de um advogado e não ter a carteira assinada. É muita exploração._ dizia Júlio revoltado, já odiando uma família que nem conhecia pessoalmente.

_ Fazer o quê, meu filho? Eu preciso desse emprego. Dinheiro não cai do céu.

_ E aceita todas essas humilhações? Isso é um absurdo!

Dona Dirce era, até então, a única pessoa que Júlio amava na vida. Todas as humilhações e explorações que a tia sofria doíam muito, como se ele quem sofria na pele.

Júlio guarda essa mágoa até os dias atuais. Por isso, adorava retribuir aos sogros as humilhações que fizeram a tia sofrer, os tratando da mesma forma.

_ Mas nem tudo são espinhos, meu querido. O filho do casal é um anjo em forma de menino. Leandro é tão educado, gentil, inteligente. Tem um sorriso que faz você se sentir bem. Até me ajuda nas tarefas domésticas, você acredita? Escondido da mãe, é claro. Ah, eu o estimo muito! Ele toca piano tão bem! Adoro quando ele presenteia os meus ouvidos com a música. Se ele fosse uma moça, eu adoraria que se tornasse a sua esposa.

Júlio não achou graça na brincadeira da tia. E nem teve nenhum interesse nesse tal de Leandro. Imaginava-o como um menino gorduncho, chato, mimado e desinteressante.

Como não havia conseguido ingressar na universidade, Júlio não poderia desperdiçar um ano da sua vida ao ócio. Pesquisou alguns cursos técnicos, cujos valores das mensalidades cabiam no seu bolso e acabou escolhendo tecnologo em enfermagem.

O curso não era o seu principal objetivo, ainda tinha esperanças de cursar Direito e se tornar, futuramente um respeitável juiz. Mas a enfermagem não era nenhuma tortura. Além do diploma, conseguiu boas amizades e deliciosas transas.

No entanto, conseguir emprego na área se tornou difícil. Como havia pouco tempo que foi despedido do último emprego de vendedor, Júlio teve que aceitar a contra gosto a oferta da tia em prestar serviços para a família Toledo, limpando a piscina da casa.

Finalmente iria ter o desprazer em conhecer a família que tanto odiava. Como precisava de dinheiro, teria que se conter em esconder a sua antipatia pelos patrões da tia.

A odiada família Toledo daria um churrasco no sítio da família para parentes e amigos íntimos.

Dona Dirce foi recrutada para ajudar a mulher do caseiro nas atividades domésticas. A Júlio coube o serviço de limpar a pscina e servir os convidados.

O sítio fez os seus olhos brilharem desejoso pelo local. O pomar era farto com frutas diversas, o verde da grama bem aparada era uma visão agradável.

Devido ao arvoredo, o local era fresco, com uma temperatura agradável. As velas flores diversificadas enfeitavam e perfumavam o sítio. Esse foi herança da avó do patrão de sua tia, o doutor Genaro Toledo, como gostava que os empregados o tratavam.

A casa era encantadora, de arquitetura portuguesa, possuia dois andares, mobília antiga e de bom gosto, paredes pintadas com cores claras: Branca e janelas e portas coloniais azuis.

A grande pscina e a área gourmet davam um toque de modernidade na casa. Um grande mesa de sinuca garantia a diversão dos mais velhos e jovens amigos de Leandro se divertiram na piscina.

No meio da sala havia um piano com calda, que veio da Europa no começo do século XX. outrora, a família Toledo possuía uma grande fortuna. Era uma família bem conceituada no Rio de Janeiro. Contudo, com a má administração da fortuna por seus herdeiros resultou na diminuição do poder aquisitivo da família. De pertencentes a elite carioca, agora desfrutavam o que restou vivendo como uma família de classe média alta.

Genaro herdara dois escritório de advocacia do pai também advogado. Sonhava no dia em que o único filho Leandro se tornasse advogado como ele e desse continuidade ao negócio da família.

Porém, Leandro não tinha o menor interesse na profissão do pai. Era inclinado para a admiração das Letras. Era tão apaixonado pela literatura, que o seu lugar preferido da casa era a biblioteca particular que pertenceu a sua avó.

Tinha por ela um carinho intenso e uma grande admiração. Enquanto o seu avô se dedicava ao ofício de advogado, a avó se dedicou aos estudos da literatura, se especializando e conquistando os títulos de mestre e doutora. Lecionou por anos na universidade federal do Rio de Janeiro, se destacando na publicação dos seus livros de crítica literária.

Foi com a avó que Leandro aprendeu a admirar os clássicos brasileiros e universais, a amar aprender novas línguas e admirar poesias.

Sua avó falecera quando ele tinha apenas d0z3 4n0s. Foi um dos momentos mais dolorosos de sua vida. Além dos livros, ela o deixou como herança o amor pela literatura e o interesse pelo magistério.

_ Isso é besteiras Professor no Brasil morre de fome. Eu tenho total respeito pela profissão e pelos profissionais que se dedicam a ela. Mas temos que admitir que isso não dá futuro._foi o que Genaro disse, quando, pela primeira vez, Leandro anunciou o seu interesse em cursar Letras._ Eu gasto muito dinheiro para bancar os seus estudos. Você deve cursar Direito assim como os nossos antepassados. Nós somos uma família de advogados. Você tem um escritório para herdar. Não pode perder tempo com bobeiras.

Leandro não contrariou o pai. Apenas abaixou a cabeça e concordou.

Assim que chegou no sítio, Júlio foi apresentado pela sua tia o casal de caseiros. Em seguida, ela o levou até a cozinha.

_ Espere aqui, que vou te apresentar a dona Angela.

_ Eu tenho zero interesse em conhecer essa mulher.

_ Não seja turrão, Júlio. Nós precisamos de dinheiro.

_ Até parece que ela quer conhecer o sobrinho da empregada, que ela tanto explora.

_ Aí que você se engana. Ela me disse que quer falar com você. Acho que vai te orientar sobre o serviço. Espere aqui por um momento. Eu já volto.

Do lado de fora, um grupo de jovens fazia barulho na piscina, gargalhava, se jogava na água felizes.

Júlio os observava pela janela, apoiando as mãos na pia e inclinando o peito para frente.

_ Isso que é vida. Alá, um bando de desocupados, sem ter nenhum motivo para se preocupar. Desfrutam do bom e do melhor. E eu aqui, tendo que servir a esse bando de play boys e patricinhas por uma mixaria.

A música tocada era Musa do verão, de Felipe Dilon.

_ Olha a merda que esses jovens gostam de ouvir._ reclamou Júlio.

Ouviu passos corridos se aproximando da cozinha e junto com eles uma gargalhada de jovem casal.

As pressas, mudou a postura, imaginando ser os donos da casa. Ficou de pé, ereto, olhando para a porta.

Seu coração bateu em disparada ao ver o belo jovem de cabelos pretos, olhos brilhantes e sorriso iluminado. As bochechas de Leandro se avermelharam quando pôs os olhos em Júlio pela primeira vez. Sentiu uma atração que nunca sentira antes. Leandro havia tido algumas paqueras, mas ele sabia que naquele momento, o seu coração estava sendo desvirginado.

Júlio percebendo o desconcerto do menino com a sua presença, sorriu de um jeito malicioso, mordendo um dos cantos dos lábios. Leandro sorriu de volta, com timidez, o que deixou Júlio fascinado.

_ Bom dia._ Leandro cumprimentou envergonhado. Júlio respondeu balançando a cabeça.

Valéria estava tão agitada para pegar as bebidas na geladeira, que ignorou por completo a presença de Júlio.

_ Caralho! Nenhuma cerveja nesta porra!

_ Os meus pais não me deixam consumir bebidas alcohólicas.

_ É...pelo visto vou ter que apelar para o contrabando.

_ Como assim, Val?

_ Vou comprar as bebidas e pôr nas garrafas de refrigerantes.

_ Você ficou maluca?!

_ Maluca eu vou ficar se ficar com a garganta seca._ nesse momento ela olhou para Júlio._ Aí, o carinha, boca de siri. Vê se não vai nos dedurar.

_ Da minha boca não sairá nada.

_ É...mais tarde a gente conversa. Te desenrolo umas biritas também.

_ Valéria! Desculpe a minha amiga, moço. Ela é meio maluquinha assim mesmo.

_ Bora!_ Valéria puxou Leandro pelo braço, o levando para o quarto, onde se trancaram.

Jogaram-se na cama gargalhando.

_ Trouxe o esquema?_ Leandro perguntou arqueando a sobrancelha e esfregando as mãos.

_ Lógico. Sou uma ótima traficante.

Valéria pegou a sua mochilinha de pano e desperdiçou na cama muitos os tipos de chocolates que havia dentro dela.

_ Caralho! Só coisa boa.

_ Cai de boca, Bijuzinho.

Leandro sorriu a beijando na face. Abriu um dos bombons e comeu com gosto, gemendo.

_ Huuuum. Muito bom! Uma delícia._ disse com a boca cheia._ Isso aqui é gosto do paraíso na terra.

_ A sua mãe é um saco! Porra! Não te deixa comer nada de bom.

_ É um porre mesmo, Val! A minha mãe é uma ditadora da comida. Só quer me obrigar a comer legumes, frutas e verduras. Diz que é para o meu bem. Eu detesto isso. Quando eu tiver os meus filhos, não serei assim. Vou deixá-los aproveitar o melhor da comida.

_ E você, hein. Cheio de fogo no cu pelo carinha lá da cozinha._comentou Valéria sorrindo, dando um leve tapinha no ombro de Leandro.

_ Tava nada._ Leandro disse com um sorriso que dizia o contrário das suas palavras.

_ Deixa de ser sonsa, bixa.

_ Ele é muito gatinho, né. É o filho da dona Dirce...na verdade é sobrinho, mas ela o criou como se fosse filho. Ela já havia me mostrado a foto dele antes.

_ Ele até que é bonitinho. Mas eu não gostei dele não.

_ Por que, Val?

_ Sei lá. Senti uma energia ruim emanando daquele sorriso cínico. Ele tem pinta de mau caráter.

_ Ai credo! Você nem conhece o garoto e já tá julgando.

_ Falando em macho, e o André? Quando tu vai parar de palhaçada e liberar pra ele? Qu1nz3 anos e virgem é muita pagação de mico, Bijuzinho.

_ Uh, é! Não é assim. Eu gosto um pouco dele. A gente tá conversando.

_ Tem que conversar pelado, fodendo na cama.

_ Credo! Você me deixa envergonhado! Você já fez, Val?

_ Não. Estou com a boceta intocável, esperando no senhor. Só vou perder a minha virgindade depois do casamento.

_ Debochada.

_ Cabaço.

"Leandroooooo"! Filhooo." A voz de Angela ecoava pelos corredores, indo em direção á porta do seu quarto.

Leandro sentiu o medo dominar o seu corpo e o coração bater mais forte. Imediatamente, junto com Valéria, puseram os doces de volta na mochila.

_ Lave a boca. Está suja de chocolate._ Valéria ordenou e Leandro obedeceu, indo correndo, lavar a boca no banheiro da sua suite.

_ Filho, o André já chegou. Tá todo mundo perguntando por você na piscina.

_ Já vou, mãe.

_ O que você tá fazendo com essa porta trancada? Já te falei que não gosto disso. Abra agora.

Leandro a abriu sorrindo.

Angela olhou desconfiada para o casal de amigos. Valéria estava cama, fingindo ler uma revista.

_ O que vocês estavam aprontando?

_ Nada, mãe.

_ A gente ia foder, mas aí você chegou e impatou.

_ Tá querendo dar a cura gay para o meu filho, Valéria? Já vou logo avisando que sou contra. Prefiro o André._ Angela brincou, piscando o olho para o filho, realçando mais uma vez o gosto que fazia de um namoro de Leandro com o filho da sua melhor amiga.

_ Venham.

_ Sério, Angela? Tá tão bom aqui no ar-condicionado.

_ Valéria, o churrasqueiro já está servindo as carnes.

_ Então, vambora!

Angela não acompanhou Leandro e Valéria até a piscina. No caminho, foi abordada por dona Dirce que disse que o sobrinho a aguardava na cozinha.

Ela entrou no cômodo em cima dos saltos altos e barulhentos. Estava séria, com o nariz empinado e ar arrogante que costumava usar com os empregados.

_ Bom dia, dona Angela._ Júlio a cumprimentou tentando ser o mais cortez possível. No entanto soou com muita humildade. Como um servo cumprimentando a sua senhora, e ele sentiu raiva de si por isso.

_ Você sabe comandar uma churrasqueira?

Júlio a detestou por não retribuir o seu cumprimento. "Que mulher mal educada."

_ Sei, sim, senhora. Não sou um grande churrasqueiro, mas sei me virar.

_ Pois bem. Dirce, dê a ele o avental do seu Zé. Ele não poderá ficar na churrasqueira hoje. O idiota foi inventar de pegar peso ontem e hoje amanheceu com a coluna toda ferrada. Menino, espero que seja bem atencioso. A casa está cheia e os meus convidados devem ser servidos com o melhor. Caso queime alguma carne, será descontado do seu pagamento.

_Fique tranquila. Darei o meu melhor._ Júlio disse com um sorriso que usou como máscara para esconder a vontade de pular no pescoço daquela mulher arrogante.

_ Assim espero. E Dirce, vê se não demore. Da última vez você demorou uma eternidade para preparar uma salada de maionese. E não exagere no sal. A última ficou uma bosta.

_ Pode deixar, dona Angela. Vou tomar cuidado desta vez.

Angela saiu da cozinha com a mesma arrogância que entrou.

Júlio pode libertar a sua expressão de ódio que escondeu no sorriso falso.

_ Que puta desgraçada! Olha só como ela fala conosco só porque somos empregados.

_ Calma, meu filho. É só pensar no dinheiro e ignorar ela.

_ Que dinheiro, tia? Aquela mixaria que ela vai pagar? Essa vaca não é nem rica! Se tem uma raça que tenho nojo é essa classe média. Gente sem consciência de classe. Pensam que são ricos. Esses imbecis tão é perto da pobreza. O escritório do marido dela nem é grande coisa. Se aquela merda falir, essa vaca vai ter lavar privada para sobreviver. Nem diploma ela tem.

_ Júlio, não ligue para isso. Vá cumprir com as suas obrigações.

_ Eu ainda vou te tirar dessa vida, tia. Você sim, será madame de verdade, porque ao contrário dessa gentinha soberba, eu sim, serei rico.

_ Deus te ouça, meu amor. Agora vá trabalhar._ Dona Dirce não acreditava na ascenção social do sobrinho. Mas resolveu não o desmotivar.

Diante das trocas de olhares entre Júlio e Leandro morria qualquer tipo de interesse que Leandro sentia por André ou por qualquer outro garoto presente.

Tímido, Leandro procurava ser o mais discreto possível. Olhava de canto. Ao perceber que Júlio sorria para ele, abaixava a cabeça, corando envergonhado.

Angela percebeu o clima romântico entre o filho e Júlio.

_ Bonitinho ele, não é, meu filho?_Angela perguntou sorrindo, como se o flagrasse. Leandro arregalou os olhos assustado. Não imaginava que a mãe percebia o seu interesse por Júlio.

_ Ele não para de te olhar . Sinto que aí tá rolando algo, né, meu amor.

_ Que isso, mãe?! Nada a ver.

_ Ah, tá bom!_ Angela cruzou os braços, olhando com desconfiança para Leandro.

_ Eu nem penso em namorar.

_ Mas eu não tô falando em namorar. Eu digo uma paquerinha. Como vocês dizem "dar uns pegas". Você é jovem, meu amor. Precisa se divertir. Realmente para namorar esse rapaz não serve pra você.

_ Por que você tá dizendo isso?_ Leandro perguntou já sabendo a resposta.

_ Ora. Vocês são de mundos diferentes. Você é um rapaz muito bem educado, é habilidoso em muitas coisas, já tem um futuro brilhante traçado. E ele, coitadinho, é só um trabalhador braçal. Dar uns pegas, tudo bem. Você precisa se divertir. Mas namoro mesmo, faço gosto do André. Ele é tão compatível contigo.

_ Ah, mãe! Nada a ver. Isso é preconceito.

_ Não é preconceito. É ser realista. O que um homem como ele pode te oferecer? Nada. Muito pelo contrário. Se você se casa com um cara desses vai passar a vida inteira o sustentando.

_ Mas você também era pobre quando o papai se casou com você. Nem ele e nem os meus avós foram preconceituosos contigo devido a sua classe social.

_ É diferente, meu amor. Eu sou mulher. E uma mulher nunca pode ser classificada como encostada. Nós somos muito úteis num casamento: cuidamos da casa, educamos os filhos, impulsionamos os homens a evoluirem na vida. O seu pai mesmo, antes do casamento, não queria nada com nada. Graças a mim deu um gás na vida. Eu que organizava os jantares, em que ele fez grandes negócios, o orientei como se comportar com mais ambição nos negócios. A sua avó mesmo era muito grata a mim. Já um homem pobre não tem nada para oferecer a um rico. Vai virar um enfeitinho seu.

_ Mãe, estamos em 2004._ Leandro pôs a mão no ombro da mãe._ Supere que o século XX já acabou há três anos.

Ao terminar de dizer isso, Leandro a beijou no rosto e foi se reunir aos amigos. Angela permaneceu o olhando com admiração, orgulhosa do belo filho que tinha.

A família Tavares era amiga da Toledo há muitos anos. Genaro cuidava dos trâmites legais do consultório médico do doutor Victor Tavares, pai de André.

Homofobia não era algo comum na família de Leandro. Genaro recebera uma educação de valores progressistas e nada religiosa. Não via com maus olhos as diversidades de identidade de gêneros e orientação sexual. Para ele a homossexualidade do filho não era algo visto como anormal. Nem mesmo a bissexualidade da esposa. Quando conhecera Angela, ela namorava uma de suas amigas.

Dois meses depois Angela foi trocada por uma outra mulher, tendo nos braços de Genaro o consolo para a sua dor de cotovelo. No entanto, vamos deixar essa história para ser narrada detalhadamente nos próximos capítulos.

A família Tavares compartilhava da mesma visão progressista que os Toledo, e não via com desaprovação a sexualidade de André.

Lucia Helena, mãe de André e também amiga de Angela, era a presidente do grupo de pais antihomofobia do colégio de elite em que os filhos estudavam. Por serem amigas, ambas sonhavam com um casamento entre os seus filhos.

André era um rapaz altivo, tinha as feições alegres e um pouco arrogantes. Sua face era corada, seu corpo se caminhava para um físico com músculos definidos, devido as horas que se dedicava a academia. Cada vez mais, admirava-se a si mesmo pelo corpo que estava conquistando. Adorava falar de si, exibindo uma autoestima exagerada.

Leandro tinha apreço pelo amigo, mas não o desejava como homem. Comparava-o a Narciso.

_ Se eu me casar com André, terei o espelho como rival._ era o que respondia á mãe, quando ela sugeria um romance entre os dois.

As conversas de André o entediava. Fingia prestar atenção por educação, mas a sua mente viajava em coisas triviais, não dando a mínima atenção para os assuntos narcistas de André. Esse começava a cobiçar Leandro com desejos sexuais. E acreditava veemente que Leandro cederia ao seu belo corpo e par de olhos verdes brilhantes. A vaidade não o permitia enxergar a falta de interesse de Leandro por ele.

_ Eu tenho certeza que André toca punheta imaginando que tá comendo ele mesmo._ Era o que Valéria dizia, arrancando risadas de Leandro.

A falta de interesse de Leandro era como um desafio para ele. Não aceitava uma rejeição. Convencia a si mesmo que se tratava de joguinhos amorosos, e que, no fundo, Leandro era louco por ele. André gostava de se iludir.

Durante o churrasco, investiu pesado na conquista do amigo. Abraçava-o, beijava-lhe a face, sem se importar com o desconforto que causava ao amigo.

No entanto, o que o incomodou foi perceber que Leandro trocava olhares com o churrasqueiro, o reles filho da empregada, como André.

Revoltou-se. Era um absurdo que Leandro tivesse a discrepância de desejar o serviçal ao invés dele. Tinha, assim como os Toledos, o mal que afligia muitas pessoas da classe média: síndrome de elitismo.

_Vai demorar muito, churrasqueiro?_ perguntou a Júlio com ar de superioridade, o que o deixou ainda mais furioso.

_ Não. Daqui a pouco, estará pronto.

_ Então, se apresse. Trabalhe mais e paquere menos.

Leandro não gostou do modo como André se referiu a Júlio. Detestava comportamentos elitistas com os mais pobres. Fez questão de ralhar com André, demonstrando a sua insatisfação.

_ Você vai mesmo me dá um esporro por causa de um reles churrasqueiro? Justo eu, que o seu amigo e futuro namorado!

_ Tenha dó, André. Você sabe muito bem que eu odeio esse tipo de comportamento. Até deixei de sair com você por causa da forma que trata os funcionários dos lugares onde íamos. A sua arrogância me envergonha.

_ Então, já que a minha arrogância te envergonha, creio que é melhor interrompermos a nossa amizade.

_ É uma boa ideia.

André se assustou com a resposta que recebeu. Imaginava que Leandro temeria perder a sua amizade e imploraria pelo seu perdão. Visto que isso não aconteceu, André se retirou da festa, para desgosto de Angela.

_ Boa noite._ Leandro cumprimentou Júlio com timidez, enquanto esse terminava de limpar o sítio, após a festa.

_ Boa noite._ Júlio respondeu sorrindo, fazendo Leandro tremer de nervosismo.

_ Eu sinto muito pelo que aconteceu hoje. Não foi justo o André te tratar daquela forma._ Leandro dizia segurando as mãos, para não demonstrar os tremores.

_ Não precisa se desculpar. Ele é o babaca e não você.

_ Fico feliz que pense assim. Tive medo que pensasse que eu fosse como ele, já que o André é o meu amigo.

Júlio pôs a vassoura de lado e mirou Leandro com ternura. Observava a boca avermelhada, desejoso por ela. Olhou em volta e viu que não havia ninguém além deles.

_ Sabe que a minha tia fala muito bem de você?

_ Sério?!_ Leandro perguntou sorridente.

_ Sério. Ela falou tantas coisas boas a seu respeito, que até duvidei que fossem verdade.

_ E o que ela disse?_ Leandro perguntou com um tom de voz pueril, deixando Júlio ainda mais encantado.

_ Olha...se eu fosse enumerar todos os elogios que ela te faz, ficaria aqui por anos.

_ Aaaah! A dona Dirce é tão gentil! Eu a estimo muito. É uma fofa.

_ Um desses elogios era sobre a sua beleza. Ela disse que você tem aspectos angelicais.

_ Eu?! Tô bem longe disso.

_ Ela me disse que gosta de poesia. Curte Gregório de Mattos?

_ Mais ou menos. As poesias de escárnio me deixam com vergonha alheia.

_ A minha tia elogiava tanto a sua beleza, que cheguei a duvidar. Agora te vendo, concluo que ela tem toda razão.

Leandro sorriu corado de vergonha. Ficou travado sem saber o que dizer.

_ Você me lembra o poema "Á mesma dona Angela", do Boca do inferno.

Leandro se sentiu mais envergonhado, entendo a referência do poema. O tesão foi inevitável. Mas teve medo que o seu membro o envergonhasse dando sinal de vida. Foi o que ele fez.

Júlio percebeu a excitação que causou no menino. Aproximou-se tocando em seu queixo. O seu olhar invadia o de Leandro como uma onda misteriosa, que prometia um mistério gigantesco.

_

"Anjo no nome, Angélica na cara!

Isso é ser flor, e Anjo juntamente:

Ser Angélica flor, e Anjo florente,

Em quem, senão em vós, se uniformara:

Quem vira uma tal flor, que a não cortara,

De verde pé, da rama fluorescente;

E quem um Anjo vira tão luzente,

Que por seu Deus o não idolatrara?

Se pois como Anjo sois dos meus altares,

Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,

Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que por bela, e por galharda,

Posto que os Anjos nunca dão pesares,

Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda."

_ Acho que temos um engano aqui. Angela é o nome da minha mãe e não o meu. E de anjo não tenho nada._ Leandro respondeu sorrindo.

_ Mas causa em mim o mesmo efeito que a dona Angela causa no eu lírico. Você me faz desejar algo que eu não poderia desejar. Pela sua idade, pelo seu jeito angelical, eu deveria te olhar com respeito, mas na verdade quero te foder. Você tá me levando a pecar, menino.

Leandro gargalhou ainda mais envergonhado. Foi puxado pela cintura e beijado como nunca foi beijado antes.

Sentiu o desejo dominar cada parte do seu corpo, ia ao céu louco de prazer.

Os dois permaneceram juntos por um bom tempo. Foram para um lado mais escuro do sítio, onde puderam se tocar com mais privacidade.

Dos beijos e carícias, o clima esquentou com o fogo da paixão. A mão de Júlio invadiu por dentro da sua calça e pela primeira vez foi masturbado por alguém que não fosse ele mesmo.

Era delicioso ter essa sensação, enquanto foi beijado. Quis fazer o mesmo em Júlio, se viu hipnotizado diante do pênis grande e duro do homem.

Depois de chegar ao céu com o orgasmo. Júlio sentou em um dos bancos, e pediu para Leandro sentasse sobre ele, encaixando as pernas nos seus quadris e e envolvendo os braços no seu pescoço.

As suas bocas se saciavam com beijos. Leandro sentia uma sensação gostosa ao ter o pescoço devorado por Júlio.

A mão de Júlio foi em cheio nas nádegas do menino.

_ Calma! Aí não!

_ Por que não?_ Júlio perguntou dócil, acariciando o rosto de Leandro.

_ É...que alguém pode chegar e...

_ Podemos ir para o celeiro._ sugeriu Júlio.

_ Não! É que..._ Leandro estava temeroso em dizer que ainda era virgem. Temia que Júlio o visse como uma aberração.

Júlio sorriu, segurou em sua face e o beijou.

_ Já saquei. Você nunca fez.

Leandro confirmou com a cabeça.

_ Beleza. Eu tenho paciência para esperar um momento mais apropriado.

Leandro o admirou ainda mais naquele dia. Geralmente, os meninos que ficava perdiam a paciência quando isso acontecia.

_ Eu não sou como os moleques da sua idade. Sei preparar o terreno._ disse mordendo levemente a orelha de Leandro, o deixando todo arrepiado.

_ Eu também sou um moleque.

_ Não é não. Você é diferente dos outros. Não é babaca, nem infantil. A sua companhia é agradável.

_ Eu digo o mesmo de ti._ Leandro respondeu encantado, sem esconder o quanto estava apaixonado.

Sobre o céu estrelado e ao som do grilo, eles conversavam e se beijavam. Contavam um sobre o outro, conhencendo-se.

Os encontros sempre ocorriam depois das aulas de Leandro. Júlio trabalhava num hospital próximo ao colégio.

A cada encontro o desejo e o afeto um pelo outro aumentavam ainda mais. A relação evoluiu para um namoro oficial, que Leandro fez questão de ocultar dos pais, por medo que esses estragassem a sua relação devido ao preconceito de ele namorar alguém menos favorecido financeiramente.

Júlio insistia para os toques ultrapassassem as masturbações e sexo oral. Por amor e desejo a flor da pele Leandro resolveu ceder.

A primeira vez do casal aconteceu na casa de um amigo de Júlio. O rapaz morava só e viajaria no final de semana, deixando as chaves com Júlio.

Júlio e Leandro entram no quarto de mãos dadas. Seus dedos finos estavam entrelaçados. Júlio pode perceber a tensão do parceiro. As mãos de Leandro estavam frias e úmidas.

Era a sua primeira vez. Leandro temia não agradar o companheiro experiente. A sua mente adolescente estava tomada de inseguranças.

Júlio viu nisso um certo charme, algo que o deixou ereto imaginando o quão apertada seria a intimidade do namorado. Era um território inabitável, onde ele colonizaria para o seu bel prazer.

Segurou-o pelo queixo, erguendo a cabeça para que pudesse fitar sorrindo os olhos tímidos de Leandro. Beijou-lhe a boca com ganas, sentindo o fogo do desejo arder em seu corpo. Aproximou a boca ao pé do ouvido de Leandro, onde deu uma leve mordida, o deixando todo arrepiado.

_ Tira as roupas, deite nu na cama e se toque pra mim, coração._ Júlio pediu, sussurrando com a voz rouca.

Leandro arregalou os olhos envergonhado. Já estava acostumado a se tocar desde o início da pubertade. Mas fazia isso a sós. Era o seu momento íntimo com o seu corpo de auto descoberta.

Exitou, alegando vergonha. Mas Júlio o convenceu a ceder com beijos e carícias.

A lâmpada principal foi apagada, ficando apenas a luz vermelha do abajur.

Júlio sentou na poltrona que ficava em frente a cama, apoiou o pé no joelho e o queixo na mão. Sorria, olhando Leandro se despir, faminto pelo seu corpo juvenil.

Leandro tinha a pele macia, o corpo em formação como um botão de rosa, anunciando a bela flor que se tornaria ao desabrochar.

O peito liso e magro, os mamilos rosados, a barriga reta e braços finos. As coxas nem grossas, nem finas, peludas como de um homem em formação. O pênis ereto, com a cabeça rosada e brilhante, acompanhado de testículos de mesma cor.

Leandro pousou o corpo na cama com as pernas abertas, deixando o ânus liso a amostra. Nota-se, pelas pregas, que nunca fora violado.

Júlio acompanhava com o olhar apaixonado, as mãos de Leandro percorrer ao seu corpo, deslizando sobre o peito, passado pela barriga até chegar ao pênis.

A masturbação era feita com lentidão, embalada por gemidos, se contorcendo de prazer com os olhos fechados.

A ponta da sua língua deslizava pelos seus lábios, os umedecendo, fazendo Júlio ir ao delírio, ficando ainda mais sedento por ele.

Não resistindo. Júlio se despiu. Caminhou até cama, subindo nela de quatro, explorando as pernas de Leandro aos beijos.

_ Agora deixa comigo._ Foi que disse a Leandro segurando o seu pênis, e beijando a sua boca em seguida.

Leandro fez o mesmo. Vibrou de tesão ao sentir o pênis ereto e avantajado de Júlio.

Tocaram-se entre beijos e troca de olhares ardentes, até que atingissem o gozo.

Júlio não estava satisfeito. O desejo dominava o seu corpo e gritava por mais...muito mais.

Virou Leandro de bruços, beijou seu pescoço, descendo pelas costas, esfregando o seu membro ainda rígido entre as nádegas do namorado.

Apesar de tenso e temeroso pelo dor, Leandro sentia o corpo se arrepiar e o desejo latejar.

Lembrou-se das palavras de Valéria.

_ Bijuzinho, doer vai doer pra caralho. A primeira vez sempre dói. Ainda mais anal. O jeito é relaxar e deixar entrar.

As palavras não foram nada acolhedoras. Leandro não queria sentir dor. Mas também não queria desistir para não decepcionar Júlio.

Fechou os olhos, mordeu a fronha para conter os gritos, enquanto era invadido por 22 centímetros de pênis duro e faminto.

Mesmo lubrificado, a dor era latente. Leandro sentiu vontade de desistir, mas resistia por amor. "Com o tempo não vai doer mais." Era o que dizia a si mesmo como forma de consolo.

Júlio estava em transe, dopado de prazer. Não se importava com a dor do parceiro e sim com o próprio prazer. Metia fundo e com vontade, fazendo a cama tremer, e despertando lágrimas em Leandro.

_ Você é uma delícia!_disse sussurrando ao pé do ouvido de Leandro, beijando o seu rosto em seguida.

Quando Júlio gozou, Leandro se sentiu aliviado por acreditar que a sua dor teria fim. Estava enganado. O seu ânus permaneceu doendo por algumas horas.

Júlio o olhava com ternura, sorrindo e acariciando a sua testa.

_ Eu te amo muito. Você é o homem da minha vida.

Leandro o respondeu com um beijo e um abraço acolhedor. Permaneceu entrelaçando os dedos nos cachos de Júlio, enquanto esse apoiava a cabeça em seu peito.

Os encontros do casal passaram a ser frequentes. Júlio aproveitava o horário de almoço para buscar o amado no colégio e curtiam o pequeno tempo aos beijos e carícias no carro de Valéria. Ela cedeu o automóvel ao amigo para que esse pudesse namorar mais á vontade.

Aos fins de semana eles ficavam juntos. Passeavam em cinemas e praias. Mas esses eventos só ocorriam quando Júlio tinha dinheiro, pois ele nunca permitia que Leandro arcasse com nada, mesmo que Leandro insistisse muito.

Na maioria das vezes, Leandro passava o dia na casa do namorado, assistindo um filme abraçados no sofá da sala ou namorando no quarto.

Dona Dirce não via a relação com bons olhos. Apesar de gostar de Leandro, ela sabia que quando o pais do garoto tomasse conhecimento do namoro, não aprovariam a relação devido a diferença social entre eles.

_ Tia, eu vou ao mercado comprar algumas carnes para um churrasco. A senhora poderia preparar aquela salada de maionese deliciosa, que só essas mãos de fadas sabem fazer?_Julio perguntou beijando as mãos enrugadas da tia.

_ Por que você quer fazer churrasco? Alguma ocasião especial?

_ O Leo e a Val virão, além dos meus amigos daqui da rua e do hospital.

Dona Dirce o olhou com desaprovação.

_ Você acha que aqueles dois ricos vão gostar de comer churrasco de carne de segunda, feito numa churrasqueira de tijolos e comer a minha comida de pobre?

_ Relaxa, tia. Você sabe muito bem que nem o Leandro e nem a Val ligam pra isso. O meu amorzinho não é soberbo como os pais.

_ Eu sei disso. Conheço o Leandro. Ele vem aqui em casa e me trata muito bem. Até mesmo na sua própria casa, Leandro é muito gentil comigo. Mas esse garoto ainda não é responsável por si. Os pais dele nunca vão aprovar esse namoro.

_ Mas terão que aprovar._ Júlio respondeu com firmeza._ Eles querendo ou não, eu vou me casar com o Leandro.

_ Casar?! Casar! Casar, Júlio? Você tá se ouvindo? Uma coisa é namorar pobre, dar um beijinhos, fazer o que tem que fazer neste barraco e ir embora, voltar para o luxo e o conforto da sua casa. Outra totalmente diferente é casar. Você acha mesmo que Leandro, um rapaz acostumado com tudo do bom e do melhor, vai querer se casar com você? Abrir mão de tudo que tem para viver contigo? Os pais dele nunca vão permitir uma coisa dessas. E não vão liberar um centavo. Eu conheço o doutor Genaro.

_ Eu quero que o doutor Genaro engula tudo que tem. Eu só quero o Leandro e não o dinheiro dele. Eu terei muito mais do que ele. Serei um advogado muito melhor do que ele. E além do mais, Leandro me pertence. Ele é meu. E ninguém me tira o que é meu.

_ Eu não gosto da forma como você se refere ao Leandro, como se esse menino fosse a sua propriedade. Isso é doentio, Júlio.

_ Eu vou ao mercado, antes que feche.

Júlio saiu da sala com a expressão revoltosa, batendo a porta com fúria.

A sexualidade de Júlio não era segredo para ninguém. Todos os seus amigos tinham conhecimento disso, e ele procurava manter a amizade somente dos que o respeitava.

No churrasco, pode ficar á vontade com Leandro, abraçando e beijando o seu belo namorado.

Valéria e Leandro não se importaram com a pobreza em volta, com as carnes postas em potes de sorvete, na cerveja sendo servida em copos de plásticos e de ficarem na laje da casa de Júlio.

Aquela foi a última vez que Valéria viu Júlio consumir cerveja. Pois depois de enriquecer, Júlio tomou aversão a bebida, que o lembrava dos seus tempos de pobreza, e a trocou por drinks e whiskies.

Além dos amigos/vizinhos, alguns colegas de trabalho compareceram ao churrasco. Entre eles, Felipe, um enfermeiro técnico que tivera uma noite quente com Júlio há alguns meses.

_ Tô com sede, amor. Posso pegar água na geladeira?_ perguntou Leandro.

_ Nem precisa perguntar, coração. A casa é sua._ Júlio respondeu, beijando o namorado.

Aproveitando-se que Leandro desceu para a cozinha, Felipe se aproximou de Júlio. Olhava-o com tesão, mordendo os lábios. Júlio entendeu o recado e sorriu, sentindo o pau pulsar dentro da cueca.

_ Bonitinho esse seu namorado. Você tem bom gosto, Júlio. Apesar do gosto dele ser bem melhor que o seu._ Felipe comentou olhando Júlio de cima a baixo.

_ Modéstia parte tem ótimo gosto pra homem. Não é atoa que te comi.

Felipe sorriu com o canto da boca.

_ Foi muito bom. Pena que não podemos repetir a dose.

_ E por que não?

_ E o seu namorado?

_ Ele não precisa saber. É o nosso segredinho._ Júlio disse piscando o olho e Felipe retribuiu com um sorriso.

Um pouco distante, enquanto era flertada por um dos amigos de Júlio, Valéria observava os dois e não gostava das expressões faciais deles.

Comentou com Leandro quando foram embora.

_ Será que ele faria isso comigo?

_ O que você acha? Bixa, fica de olho. Eu tô te falando que esse macho não presta.

Leandro sentia algo ruim, que não sabia explicar. Estava desconfiado. Cogitar uma traição era doloroso demais, pois estava muito apaixonado.

Comentou com Júlio que não se sentia bem com a amizade dele com Felipe.

_ Você não tem com o que se preocupar. Felipe é só o meu amigo. Eu nunca seria capaz de te trair. Não sou louco de depois de ter você, me deitar com qualquer um._ Júlio mentiu o beijando. Em seu íntimo, estava feliz e orgulhoso de si mesmo por ter conseguido enganar Leandro. Não sabia como explicar, mas sentia prazer em ludibriar o rapaz.

Mesmo desconfiado, Leandro quis acreditar nas palavras de Júlio e ignorar todos os alertas da amiga. Sentia medo da dor da traição, preferindo a ignorar.

Júlio havia mudado o horário do trabalho, com isso não poderia mais buscar Leandro no colégio.

Contudo, conseguiu uma folga inesperada e decidiu fazer uma surpresa ao namorado.

Aguardou-o na porta do colégio as escondidas. Tinha a intenção de surgir por trás, cobrir os olhos de Leandro com as mãos. E quando esse adivinhasse o seu nome, o surpreender com um beijo.

Era dia de pagamento do seu salário. Planejou levar Leandro para almoçar no restaurante italiano preferido do garoto e depois passarem a tarde juntos em sua casa.

Júlio estava completamente apaixonado. Leandro era o tipo de homem que sempre sonhou, era lindo, educado, culto, gentil e não promíscuo. Via nele como um excelente companheiro para a sua futura vida de rico, que tanto almejava. Também tinha carinho peli menino, amava-o e ia á loucura com o sexo.

Com o decorrer do tempo, Leandro foi se soltando cada vez mais na cama. Cavalgava, rebolava de quatro e dava o seu melhor no boquete. Como tinha medo de ser traído e perder o homem que amava, Leandro se dedicava ao máximo para agradar ao companheiro.

Júlio o aguardava ansioso, o coração batia em alegria.

Porém uma tormenta de ódio dominou o seu coração ao ver que Leandro saiu do portão do colégio acompanhado de André.

Os adolescentes conversavam sorrindo. Com o decorrer dos dias retomaram a amizade. André se convidou para fazer um trabalho de literatura com o ex ficante.

_ Você é tão bom nessa matéria e eu não entendo patavinas. Bem que você poderia me dar uma força.

_ André, você não aprende a matéria, porque não tem interesse em aprender.

_ Leo, vamos combinar que essas novelas de cavalaria são um saco. Eu tô pouco me fodendo para Amadís de Gaula.

_ Ah, não são tão ruins assim. Eu pelo menos, gosto muito. Apesar de preferir Tristão e Isolda.

_ Iiiih. Tá falando em grego. Já é fazermos o trabalho juntos? A gente vai lá pra casa, faz tudo que tem que fazer, depois a gente cai na piscina e..._ André o olhou com cara de safado, mordendo o canto do lábio inferior._ Aí pode até rolar uns amassos.

_ O trabalho tudo bem, a piscina é um caso a pensar, mas os amassos sem chances.

_ Aaaah que pena._ André lamentou fazendo beicinho.

_ Você sabe que tenho namorado.

_ E daí? Não sou ciumento.

_ Mas o Júlio é.

_ Problema dele.

Leandro sorriu e se despediu do amigo, tocando em seu ombro, o que foi o suficiente para provocar a ira de Júlio que se aproximou dos dois aos berros.

_ Que porra é essa, Leandro? Tá achando que sou algum palhaço?

Leandro e André o olharam assustados. Era a primeira vez que o vía nervoso.

_ Calma, Júlio. Eu não quero confusão. Só tô combinando com o Leo de fazer um trabalho com ele... é só isso._ André se justificou com a voz trêmula.

_ Ah, não mete essa, babaca. Você pensa que eu não sei que você tem olho comprido no meu namorado?

_ Júlio, calma. Olha o mico. Tá todo mundo olhando._ pediu Leandro, envergonhado com os olhares curiosos e rostos sorridentes direcionados a eles.

_ Eu tô pouco me fodendo pra esses playboys filhos da puta! Eu só te digo uma coisa, seu merdinha: não chegue perto do Leandro, que eu te mato!

_ Vai amarelar, André? Vai deixar o cara falar assim contigo?_ gritou um dos colegas de classe dos garotos, com a intenção de pôr mais lenha na fogueira.

Apesar do medo, André não queria ser taxado de covarde e resolveu enfrentar Júlio. Acreditou que esse não o faria mal perto do seu colégio.

_ Eu não tenho medo de você. Eu vou ficar perto do Leandro sim. E você não me impedir. Acho melhor você se pôr no seu lugar e voltar para o seu posto de serviçal.

_ Uuuuuiiiiiii._ gritaram os adolescentes em volta, fazendo com que André sentisse prazer em enfrentar Júlio.

_ André, não piore as coisas._ pediu Leandro desesperado.

Tomado pela ira, Júlio avançou no menino, agarrando com força o seu pescoço.

Leandro tentava separa-los, mas a força do namorado era descomunal. Ele gritava pedindo por ajuda, mas ninguém o atendia. Somente gritavam, pedindo mais brigas.

_ Porrada! Porrada! Porrada!

André agonizava, sentindo faltar o ar. Estava desesperado com a língua para fora e a pele arroxeada.

Alguns professores e funcionários do colégio se juntaram a Leandro para retirar as mãos de Júlio do pescoço de André.

O lado racional havia desaparecido de Julio, se deixou dominar por um ódio animalesco, e almejava cometer um homicidio com as próprias mãos.

Esse episódio rendeu muitas confusões. Os pais de André não se conformaram com a agressão e Júlio recebeu em casa a sua primeira intimação de um processo judicial.

Como era amiga de Angela, Lucia Helena, mãe de André, relatou o episódio a ela, que foi dessa forma que teve conhecimento do relacionamento do filho com o sobrinho da empregada.

Leandro não tinha o hábito de discutir com os pais. Sempre que levava um sermão, ouvia de cabeça baixa, contendo as respostas que gostaria de dar.

Não foi diferente quando eles o confrontaram sobre o seu namoro. Genaro e Angela gritavam, não admitindo que o seu único filho desperdiçasse a vida com um pobretão qualquer.

_ O que você tem na cabeça, Leandro?_ Angela perguntou brava._ Olhe pra você! Você é um menino educado, bem nascido e bem criado, tem tudo o que quer. Vai mesmo jogar a sua vida fora se metendo com a ralé?

Leandro a olhou assombrado. Nunca aprovou o preconceito da mãe, mas desta vez se sentiu ofendido, já que se tratava do homem que amava.

_ Mãe, você não o conhece. Eu acho injusto vocês atacarem o Júlio desta forma só porque ele é pobre! Isso é preconceito! Eu me admiro vocês se comportarem desta forma. Puxa, eu cresci ouvindo vocês me dizendo o quanto racismo é errado, que a homofobia não deve ser admitida, que toda forma de amor é válida, que devemos respeitar o próximo. Agora atacam um rapaz, que vocês nem conhecem só porque ele é pobre?! O papo antipreconceito é de faxada?

_ Você não responde a sua mãe, moleque! Não se trata de preconceito! Se trata de bom senso. Esse rapaz é mais velho que você, é um oportunista. Se aproveita de um rapaz rico e ingênuo para subir na vida. Ele quer te fazer de escada. Desde o dia em que pus os olhos naquele prego, já percebi que se tratava de alpinista social de meia tigela. Se ele quer dinheiro fácil, que vá conseguir com outro otário. Não as minhas custas.

_ Pai, o Júlio não é interesseiro! Ele gosta de mim de verdade! Ele não me deixa pagar nada e até recusou um presente meu. Pai, ele trabalha muito e estuda na mesma proporção. Vai prestar vestibular para Direito e vai passar. Júlio é muito inteligente.

_ Leandro, você é muito inteligente para diversas coisas: tira notas altas, toca piano muito bem, fala vários idiomas, mas como homem é um asno! Mais burro que a Dirce, que é quase uma analfabeta.

_ Não fale assim da dona Dirce, pai! Mais respeito!

_ Esse tal de Júnior...

_ Júlio._ corrigiu Leandro.

_ Que seja! Esse moleque é um aproveitador. Ele sabe que tenho um escritório de advocacia, que futuramente será seu. É lógico que ele quer cursar Direito, quer te usar de escada. Sentar na cadeira do dono sem fazer esforço pra isso.

_ Pai, eu...

_ Não diga mais uma palavra, Leandro._ordenou Angela._ Vá agora mesmo para o seu quarto. A partir de hoje, acabaram as saídas de fins de semana. Eu mesma faço questão de ser a sua motorista. Vou te buscar e levar da escola, da natação, do karatê e das aulas de francês. Não quero mais que se encontre com esse aproveitador. Além de interesseiro é violento. Ele quase matou o André. Esse tipo de ciúmes não é saudável. Se você investir numa relação com esse canalha, terá sérios problemas no futuro. Acabou.

_ Eu gosto dele._ Leandro disse quase choroso.

_ Pois trate de deixar de gostar. Ah, tome vergonha na cara, Leandro._ disse Genaro furioso._ Agora suma da minha frente. Vá para o seu quarto.

Leandro obedeceu contrariado.

Durante a discussão, ocorrida na sala, dona Dirce permaneceu na cozinha cuidando dos afazeres, sem conseguir conter as lágrimas. Sentia-se humilhada por ter sido chamada de burra pelo patrão e temia perder o emprego.

Tremeu da cabeça aos pés, ao ouvir os saltos de Angela, em passos, se aproximando da cozinha.

A patroa a olhou com seriedade, empinando o nariz.

_ Dirce, precisamos conversar.

Dona Dirce enxugou as lágrimas no avental. Desculpava-se por algo que não tinha culpa.

_ Apesar da sua incompetencia, eu tenho um pouco de apresso por você e pelos seus serviços. Mas não vou admitir que nem você e nem o delinquente do seu sobrinho se aproveitem da inocência do meu filho para tentarem subir na vida.

_ Dona Angela, eu sei que a senhora está brava com tudo isso. E tem toda razão de estar. Eu sou como uma mãe para o Júlio, e assim como mãe também não aprovo essa relação. Não tenho nada contra o Leandro. Gosto muito desse menino. Mas eu sei que ele e o Júlio são de mundos completamente diferentes. Eu sempre deixei isso bem claro para os dois.

'Mas apesar de tudo, o meu sobrinho não é nenhum interesseiro. Ele não é mau caráter. Muito pelo contrário, é um menino muito batalhador. Trabalha com afinco naquele hospital, estuda muito para ser alguém na vida. E eu posso garantir a senhora, que Deus me leve se for mentira, mas o meu sobrinho nunca tirou um real do Leandro. Ele realmente gosta do seu filho."

_ Gosta? Gosta mesmo, Dirce? Será que se o Leandro não tivesse tudo que tem, o seu sobrinho teria por ele esse amor todo?

_ Sim.

_ Você além de cínica é irresponsável. Leandro é menor de idade. E mesmo assim você o permitiu que ele se enfiasse escondido na sua casa para se deitar com o seu sobrinho. Você sabia muito bem que Leandro não tinha a minha permissão para isso.

Dona Dirce abaixou a cabeça, chorando, envergonhada.

_ Eu sinto muito, dona Angela. Me desculpe?

_ Te desculpar é o caralho, Dirce! Eu sei muito bem o que o seu cunhado fez. Ele matou a esposa e depois se matou.

Dona Dirce a olhou espantada, se perguntando como Angela tinha conhecimento daquela informação.

_ Eu investiguei a sua vida antes de te pôr para trabalhar aqui dentro da minha casa. Não boto qualquer pessoa perto da minha família. Prezo muito pela segurança do meu filho. Mas, apesar disso, você recebeu ótimas recomendações. Me disseram que, apesar da má índole do seu cunhado e do mau gosto da sua irmã, você é uma boa pessoa.

'mas pelo visto, a fruta não caiu longe da árvore. O seu sobrinho herdou o mau gênio do pai. O que ele fez com o André foi assustador. O ciúme dele é doentio! Eu não quero esse psicopata perto do meu filho, Dirce. Não quero! Ou você dar um jeito desse marginal se afastar do meu menino, ou eu te ponho no olho da rua. Estamos entendidas?"

Dirce a olhava indignada. Achava injusto demais Júlio ser comparado ao pai. Ela sempre se dedicou a dar a melhor educação moral ao sobrinho. Queria que ele fosse um homem de bem, diferente do pai. Além disso, foi doloroso para ela que Angela tocasse na sua ferida. Falar da morte da sua irmã daquela forma tão arrogante.

_ Eu te perguntei se estamos entendidas?_ gritou Angela.

Dona Dirce quis gritar de volta, dizer umas boas verdades para Angela. Mas se conteve para não piorar ainda mais as coisas. Ela precisava do emprego. Respondeu que sim com a cabeça, mas sentia tanta dor pela humilhação, que não conseguiu conter as lágrimas.

_ O menino não é como o pai! A senhora está sendo injusta, dona Angela!_ Dirce respondeu chorando.

_ Não se faça de besta, Dirce. Você o conhece muito bem. Toda mãe conhece o filho. Você sabe que Júlio tem uma má índole. Só não quer admitir. Quero esse louco longe do meu filho!Espero que não tenha que ter problemas novamente. Agora termine logo esse maldito almoço. Hoje eu não estou com paciência para a sua lerdeza.

Júlio ouvia o relato da tia sentindo muito ódio. Cortava-lhe o coração saber que a tia foi humilhada pelos patrões, devido ao seu namoro.

Mesmo a contra gosto da tia, ele resolveu não deixar barato. Estava decidido a ir até á casa dos Toledo tirar satisfações. Dona Dirce implorava aos prantos para que o sobrinho não fosse, mas Júlio estava decido.

_ Eu tenho o meu trabalho. A senhora não vai mais aturar humilhações dessa gente por causa desse emprego merda.

Todos da casa acordaram assustados com os gritos raivosos de Júlio vindo do portão.

Leandro ficou assustado com a situação. Temia que aquilo não acabasse bem.

Genaro e Angela ficaram indignados com a ousadia de Júlio.

_ O que você quer, seu desgraçado? Isso são horas e jeito de bater no portão de uma família de bem? Isto aqui é um bairro familiar e não aquela favela imunda que você vive._ Genaro disse revoltado, sem sair de trás do portão.

_ Família de bem é o caralho! Quem é de bem não maltrata uma senhora idosa! A minha tia não é o lixo da casa de vocês. Ela merece respeito! Eu não admito que nem você e nem vagabunda da sua mulher maltrate a minha tia.

_ Vagabunda não. Respeite a minha esposa!

_ Júlio, pelo amor de deus! Se acalme. Não precisa desse escândalo todo, meu amor. Você tá certo em defender a sua tia. Mas podemos entrar e conversar como pessoas civilizadas._Leandro sugeriu, tentando amenizar a situação.

_ Nunca que esse psicopata vai pôr os pés na minha casa. Fora daqui, antes que eu chame a polícia. E pelos insultos que está fazendo a mim e o meu marido, você sabe que pode ser processado por isso.

_ Ah, quer me processar, vaca? Então vamos todos ao fórum. Vocês me processam por sei lá o que. E a minha tia os processa por assédio moral e por não regularizarem a legalidade dela como funcionária desta casa. E a carteira não assinada? E as horas extras não pagas?

_ Saia já daqui!_ Gritou Genaro.

_ Eu vou sair sim. Mas não sem antes dizer que isso não vai ficar assim. Eu vou processar vocês. E a minha tia não volta mais.

_ Ah, vá pro raio que o parta._ gritou Genaro._ A sua tia não volta mesmo. Não quero vocês aqui. E nem chegue perto do meu filho. Tá pensando que vai usá-lo para dar o golpe? Arranje um trabalho, vagabundo.

_ Pai, pelo amor de deus, pare com isso. Que situação constrangedora.

_ E você? Se quiser ficar comigo, vai ter que escolher, ou eu, ou essas merdas de genitores.

Leandro abaixou a cabeça. Não queria escolher entre ninguém. Só queria que tudo se acertasse.

A confusão se prolongou por alguns minutos. Júlio retornou para a casa furioso.

Angela cumpriu com que prometeu. Controlava cada passo que Leandro dava. O celular foi tomado, o computador monitorado. Ele só poderia usar o aparelho na sala de estar e para as atividades do colégio.

Além disso, ela sempre o levava e buscava dos cursos e colégio, o que dificultou muito os seus encontros com Júlio.

O casal se comunicava através de Valéria, que servindo de carteiro, levava e trazia cartas e bilhetes de um para o outro. Valéria não gostava de Júlio, mas ajudava o casal por amor a Leandro, que implorava em prantos.

Júlio mudou o turno do emprego, deixando as manhãs livres para se encontrar com Leandro.

O menino era deixado pela mãe na porta do colégio. Fingia que ia conversar com os amigos antes de entrar, quando Angela ia embora, Leandro partia para a casa de Júlio.

Os seus rendimentos escolares caíram muito. Por ser um bom aluno, os professores se preocuparam com isso e com o grande número de faltas do menino.

Angela foi surpreendida com a ligação da coordenadora do colégio, que perguntava o motivo pelas faltas de Leandro.

_ Deve estar acontecendo algum engano, dona Rose. Eu sempre deixo Leandro na porta da escola.

_ Aqui dentro da escola ele não entra. E muito menos na sala de aula.

Angela gelou de raiva concluindo o que estava acontecendo. Desejou invadir o quarto do filho e partir para cima dele aos tapas. Culpou Júlio pela má conduta do filho.

Leandro não tinha o hábito de mentir, sempre foi responsável nos afazeres escolares e agora mentia e negligenciava os estudos. Isso para ela era inadmissível.

Decidiu se controlar e agir com prudência. Queria pegá-lo no pulo do gato.

No dia seguinte, o levou ao colégio como sempre. Reparou que Leandro estava mais sorridente e radiante, e sentiu raiva da felicidade do filho.

Júlio havia sido aprovado no vestibular para Direito. Conquistou o terceiro lugar na vaga numa universidade federal. A sua tia faria um almoço para comemorar.

Dias antes, Júlio havia comprado um aparelho celular e o deu de presente para que pudessem se comunicarem melhor. Leandro ocultou o fato dos pais, guardando o aparelho pequeno em seus bolsos e sempre no vibrador para que o toque não fosse ouvido, quando Júlio ligasse.

Foi via SMS que Leandro soube da aprovação de Júlio.

"Parabéns, meu amor. Eu sabia que você iria conseguir. Você é tão esforçado! Ah, como eu me orgulho de você, meu futuro doutor Júlio Medeiros." Júlio lia a mensagem cheio de ternura.

_ Mãe, hoje eu vou sair um pouco mais tarde. Tenho que fazer um trabalho de Geografia e eu vou precisar ficar na biblioteca com os meus amigos. Mas não se preocupe, o motorista do Marcelo vai levar a mim e os outros para casa.

Angela sentiu muito ódio da mentira do filho. Mas fingiu que acreditou.

_ Tá bom, meu amor. Só não vá ficar com fome. Coma algo na cantina. Mas nada de comer besteiras. Compre um sanduíche natural e beba suco também natural.

_ Pode deixar._ Leandro abria a porta do carro sorridente, quando Angela agarrou em seu pulso com força e permaneceu o encarando por alguns segundos.

_ O que foi, mãe?_ perguntou Leandro preocupado.

_ Cadê o meu beijo?

Ele sorriu e a beijou no rosto antes de sair.

Angela o observou agir do mesmo jeito de sempre. Leandro se aproximou de alguns amigos que estavam no portão da escola e ficou conversando com eles.

Para não levantar suspeitas, Angela saiu de perto, deixando o carro num estacionamento próximo, que ela havia reservado uma vaga com antecedência. Entrou num táxi e ficou a espera do filho.

_ A senhora deseja ir para aonde?_ perguntou o taxista.

_ Espere um momento, estou aguardando uma pessoa.

_ Mas o taxímetro vai ficar ligado, senhora.

_ Sem problemas.

Leandro chegou ao ponto de táxi alguns minutos depois. Tomou o que estava em frente ao de Angela.

_ Siga aquele táxi.

_ Por quê? A senhora não vai me pôr em nenhuma enrascada?

_ Eu vou seguir o meu filho. E além do mais você vai receber por isso. Anda logo!

Ao chegar no portão da casa de Júlio, Leandro saiu do táxi sorridente, se atirando nos braços do amado e o beijou.

O portão de ferro cinza com resíduos de tinta azul estava aberto. No quintal da casa, havia algumas pessoas reunidas para o que deveria ser um almoço comemorativo, mas que acabou se tornando um churrasco.

O som estava ligado no volume máximo tocando um pagode e as pessoas falavam e gargalhavam alto.

Angela sentiu repulsa pela pobreza, que a fazia recordar da sua juventude.

Saiu do táxi furiosa, gritando por Leandro e o puxou pelo braço, quando se aproximou dele. O menino sentiu que o coração saltaria para fora do peito. Estava trêmulo e assustado com a aparição inesperada da mãe.

_ Vamos embora agoraaaa!_ gritava distribuindo tapas no filho.

A discussão entre ela e Júlio deu início no mesmo instante. O que deveria ter se tornado uma comemoração virou uma troca de insultos e ameaças.

_ Seu abusador! Eu vou te pôr na cadeia!

_ Eu não abusei de ninguém. O seu filho está comigo porque me ama. É a mim que ele quer e você terá que aceitar isso!

_ Eu não tenho que aceitar nada, seu bostinha. Você não se enxerga, seu miserável? Olha o moquifo onde você mora, olhe essas suas roupas vagabundas, este lugar decadente. Você não tem nada para oferecer ao meu filho, que é tratado como um príncipe.

_ Eu não tenho hoje, mas eu vou ter. Para o seu governo eu passei no vestibular. Vou ser um juiz.

_ Juiz? Você? No mínimo um advogadozinho de porta de cadeia. O meu filho tem um escritório de advocacia para herdar. É nisso que você tá de olho. Mas não vai conseguir arrancar um centavo da minha família.

_ A única golpista aqui é você. Eu sei de onde você veio, sapatona. Sei que largou a caminhoneira para dar o golpe da barriga num homem mais velho e com grana. Você sim lavava privada de madame para sobreviver. Eu não sou como você. Vou subir pelo meu esforço e não com golpe baixo. Eu tenho inteligência para ir aonde quero e você só tem a boceta.

_ Não fale assim comigo, seu louco! Me respeite.

_ Não respeito quem não me respeita. E essa pose de madame não se sustenta comigo. Eu sei muito bem que os negócios do seu marido não andam bem das pernas. Incompetente do jeito que ele é, vai virando o meu funcionário.

_ Já chega dessa confusão! Eu não aguento mais isso. Que vergonha! Não tem necessidade dessa briga toda. Tudo isso está me fazendo muito mal!_ Leandro gritou.

_ Tudo isso é por culpa sua, seu desnaturado. Agora deu de matar aulas e mentir pra mim?! Isso não vai ficar assim. Vamos embora agora.

Leandro não fez resistência e aceitou ir embora com a mãe. Pediu desculpas a Júlio e Dirce pela confusão e partiu chorando.

_ Você passou de todos os limites! Acabou a tolerância contigo._ Genaro esbravejou na sala, quando havia tomado conhecimento do acontecido._ Eu gasto rios de dinheiro para arcar com os seus estudos para você jogar tudo para o alto por causa de macho?! Burro! Você é burro!

_ Eu vou recuperar as minhas notas, pai. Semana que vem começam as provas do último bimestre e eu vou conseguir a aprovação.

_ Espero que consiga mesmo. A sua única obrigação é se dedicar aos estudos. Eu nunca fui a favor da violência. Mas se não passar de ano, vou te dar uma surra. Aliás, eu deveria ter feito isso desde que você era criança. Quem sabe assim você não seria tão irresponsável?

Angela cruzou os braços. Olhava-o séria de um jeito que nunca o olhou antes.

_ Eu conversei com o seu pai e chegamos a seguinte conclusão: como o ano letivo está acabando, você vai terminar os dois últimos anos do ensino médio em Amsterdã , na casa da sua tia Petúnia.

Leandro arregalou os olhos espantado.

_ Vocês não podem fazer isso.

_ Não só podemos como vamos fazer. Eu sou a sua mãe e sei o que é melhor para você. Júlio é uma péssima pessoa. Está te levando para a destruição. Se continuar com ele terá uma vida muito infeliz. Por causa dele as suas notas na escola caíram, enquanto ele passou no vestibular. Leandro, escute o que estou te falando. Júlio vai subir na vida sim. Apesar de odia-lo, tenho que admitir que ele tem competência para isso. Mas ele vai subir e te pôr pra baixo só pra te dominar. Você será muito infeliz com ele.

_ Como você sabe disso, mãe? Virou vidente?_Leandro gritou revoltado.

_ Eu sinto que esse homem não presta. Se ele se importasse com você, não admitiria que você se prejudicasse na escola. Meu filho, não podemos nos entregar de corpo e alma as paixões. Elas nos cegam e nos levam para o abismo.

_ Mas eu não posso ir para Amsterdã! Eu tenho a minha vida aqui! Eu prometo que vou me comportar. Mas eu não quero ir! Por favor._ Leandro implorou chorando, mas de nada adiantou.

_ Já chega, Leandro. Já está decido por mim e pela sua mãe. Vamos se com a distância esse seu fogo pelo salafrário se abaixa.

_ Eu gosto dele! Não vai ser a distância que vai mudar isso.

_ E ele? Será que com a distância ainda vai continuar gostando de você? Na certa, vai se engraçar com um outro riquinho otário._ Genaro disso com deboche.

A família partiu para Amsterdã antes do Natal. Mesmo Leandro conseguindo a aprovação na escola, os pais não voltaram atrás da decisão.

Chorou por não poder se despedir de Júlio pessoalmente, somente por uma carta entregue por Valéria.

A partida de Leandro deixou Júlio ainda mais revoltado. Prometeu não desperdiçar a chance de um dia se vingar dos sogros.

A comunicação ficou dificultosa com a distância. Durante os dois anos de separação o casal se comunicava por MSN e, às vezes, telefonemas. Os encontros aconteciam as escondidas, quando Leandro vinha ao Brasil passar as férias de fim de ano.

Eles estavam decidos a ficarem juntos. Combinaram que Leandro retornaria ao Brasil assim que completasse 18 anos, e viveriam juntos na mesma casa.

Júlio trabalhava muito para isso. Juntava a quantia de dinheiro que conseguia para poder viver com Leandro.

Para a sua infelicidade, foi demitido do hospital e não conseguia um estágio remunerado como advogado.

Certa tarde, enquanto caminhava pelas ruas do Rio de janeiro a procura de um novo emprego, Júlio encontrou um ex colega de trabalho que o convidou para tomar uma cerveja. Júlio relatou que estava desempregado.

_ Olha, hoje é um dia muito estranho. Não sei dizer se o seu dia de sorte ou azar.

_ Por quê?

_ Eu sei de uma vaga de emprego. Um senhor muito rico e muito doente está a procura de um enfermeiro para cuidar dele. A remuneração é muito boa. O triplo do que você ganhava no hospital. Eu posso te indicar.

_ Lógico. Eu não vou perder essa oportunidade de ouro!

_ O problema é que o velho é do caralho. Ninguém para lá. Nenhum enfermeiro aguenta aturar o cara.

_ Não me importa. Eu preciso de dinheiro e muito. Não posso recusar. Tô dentro.

Júlio sorriu esperançoso, sem imaginar o que o esperava.

Notas do autor

A sessão túnel do tempo continua no próximo capítulo. O que será que vai acontecer com Júlio quando for trabalhar na casa do idoso? Como será que o nosso detestável vilão enriqueceu? Tudo isso será respondido no Próximo capítulo. 😉

Por enquanto, deixem nos comentários teorias do que vocês acham que vão acontecer. Vamos ver se acertam.

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Comentários

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O processo judicial do Julio não deu em nada? Um homem adulto espancando um de menor. Sendo que a vitima era de família com dinheiro. Não consigo ver como isso simplesmente foi deixado pra lá. O Júlio já escapava da Justiça mesmo quando era pobre?

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Ele respondeu o processo como foi narrado, mas eu tenho que avançar com a narrativa. Mas entendo o seu desejo de ver o Júlio se ferrar. Só peço que espere até os próximos capítulos. 😉 Como diz a minha mãe "Quem planta vento colhe tempestade."

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Juli irá fazer a Elza com o velho rico e dar um.cha de piroca no belho

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Ângela era mesmo muito arrogante no passado, nossa... Tô mesmo muito curiosa com o desenrolar desse flashback rsrsrsr. Ótimo capítulo.

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