O outro capítulo 27 Flashback parte 2

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 8151 palavras
Data: 23/03/2022 19:57:13

Capítulo 27

A saudade apertava no peito toda vez que Júlio via as fotos de Leandro pelo seu perfil no Orkut. Foi pela rede social que Júlio pode acompanhar a evolução da aparência do namorado. Em dois anos, Leandro perdeu muito o aspecto de menino, tendo o corpo e o rosto se moldando ao de um homem adulto, mas ainda com o frescor da jovialidade.

Leandro completaria 18 anos em poucos meses. Pelas conversas via MSN, o casal combinava a chegada do garoto e a união do casal.

Júlio já pesquisava a casa para alugar, e alertava a Leandro que o imóvel não oferecia o conforto, o qual Leandro estava acostumado. Leandro não se importou. Estava tão apaixonado, que a única coisa que desejava era a liberdade para poder reencontrar Júlio e viver o seu grande amor. Sonhava com a vida perfeita, que a união proporcionaria a eles a eterna felicidade conjugal.

O planejado seria a sua chegada em janeiro. No entanto, Leandro decidiu se antecipar, tendo como a intenção de prestar vestibular no Brasil. Optou por Direito para agradar aos pais.

Ele sabia que os genitores não aprovariam a sua união com Júlio e isso poderia balançar a relação familiar.

Apesar de tudo, a família era muito importante para ele. Leandro amava os pais e só de pensar num rompimento, sentia uma tristeza imensa. Imaginou que o orgulho por cursar Direito supliria a insatisfação do seu casamento e, quem sabe assim, os pais o daria uma chance.

Decidiu não avisar a Júlio sobre a sua chegada, estava empolgado em fazer uma surpresa.

Leandro foi recebido pelos pais e Valéria no aeroporto.

Em casa, os parentes e amigos íntimos o esperavam num jantar surpresa. Ele ficou irradiante de felicidade ao vê-los. Estava morrendo de saudades dos seus entes queridos, da sua terra natal, da sua cultura e de falar português com frequência.

O ensopado de camarão com chuchu, arroz branquinho e feijão abriram o apetite de uma forma satisfatória. O sabor da refeição causava nele o mesmo efeito de um abraço em alguém querido que não via há tempos.

A única coisa que lamentou foi não poder matar a saudade do homem amado. Ao olhar para todos na sala da sua casa, conversando e sorrindo, desejou que Júlio estivesse ali como integrante daquela família que ele tanto ama.

Teve que se conter em esperar até o amanhecer para ver Júlio. Passou a madrugada ansioso, imaginando como seria a reação de Júlio ao vê-lo. Em sua mente formava a imagem do sorriso ousado do namorado, fechava os olhos sentindo os braços de Júlio envolvendo o seu corpo e o aquecendo com o seu calor.

Ouvia os sussurros de Júlio ao pé do seu ouvido, dizendo palavras obscenas o deixando arrepiado. Para aliviar o tesão, trancou a porta do seu quarto e se despiu por completo.

Deslizava a mão sobre o seu corpo, imaginando ser Júlio que o tocasse. Masturbou-se, imaginando o namorado nu diante de si, com o membro ereto sentando com as pernas abertas.

Enquanto uma mão, tocava o pênis, as pernas foram se abrindo e invadida pelos próprios dedos, imaginando ser o pênis de Júlio que o penetrava.

Gozou gemendo com os lábios fechados para não fazer barulho e acordar os pais.

Olhou para o teto sorrindo. Durante dois anos, Leandro só teve na masturbação o prazer sexual, preservando-se fiel ao namorado, acreditava que Júlio fazia o mesmo.

Resistiu as tentações das propostas sexuais que recebera, tinha na fidelidade ao namorado como um princípio sagrado e a maior prova de amor que pudesse dar ao amado.

Algumas vezes, o sexo virtual com Júlio era praticado via webcam. Era o seu momento preferido.

_ Amanhã isso vai acabar. Finalmente vou poder transar com ele._ Leandro dizia a si, mordendo o lábio inferior, como sempre fazia quando estava excitado.

Júlio também ardia de desejo quando pensava em Leandro. Estava louco para possuir o namorado e saciar o seu prazer naquele corpo que tanto ansiava.

Mas, ao contrário de Leandro, Júlio não se aliviava somente com a masturbação. Procurava em outros corpos matar o seu apetite sexual.

Na mesma madrugada em que Leandro se tocava pensando em Júlio, este penetrava os dedos entre os cabelos de um jovem, enquanto metia com força no rapaz de quatro.

Com a outra mão, Júlio estalava tapas na bunda do rapaz que, excitado, rebolava cada vez mais.

_ Isso vadia, rebola na pica do seu macho. Não era pica que tu queria? Agora toma, piranha.

_ Ah que picão gostoso. Me come, vai. Mete tudo em mim, seu gostoso!

Eles se conheceram horas antes num bar e nunca mais se viram depois da transa.

....

Ao descer do táxi, Leandro sorriu para a dona Dirce, que saía do portão da sua casa, portando uma sacola de feira.

Surpresa em vê-lo, ela não conteve a felicidade. Leandro se atirou em seus braços, a abraçando com força.

_ Que saudades de você, meu menino! Quanto tempo! Está cada vez mais lindo!

_ Digo o mesmo da senhora._ Leandro disse, distribuindo beijos pelo rosto da sogra.

_ Mas o Júlio disse que você só voltaria ao Brasil em janeiro! O que aconteceu?

_ Além da saudade do meu amorzinho, eu decidi vir em novembro mesmo para prestar o vestibular.

_ Ah, que bom! É isso aí. Você é um rapaz muito inteligente. Deve sim dar continuidade nos estudos. Vai cursar o quê? Já sei. Será advogado igual ao seu pai e o seu avô?

Leandro confirmou com a cabeça, não demonstrando muita satisfação.

_ Olha só, teremos uma família de advogados! Você, o seu pai e o seu futuro esposo. Eu também estou tão orgulhosa do Júlio. Ele está estudando muito. Vai ser um grande advogado. Confesso que no começo não levei fé. Eu sempre soube que Júlio era inteligente, mas para mim, essa coisa de faculdade era só pra rico. Mas ele me provou o contrário. Júlio sempre foi assim, quando quer algo não mede esforços para conseguir. Fica quase obcecado.

_ Ele está em casa, dona Dirce?

_ Está sim, meu querido. Ele tá nessa luta para conseguir um emprego. Tá difícil a situação. Mas, se Deus quiser, logo logo, ele vai conseguir. Júlio está no quarto dormindo.

_ Ah, que pena.

_ Que isso, menino?! A casa é sua. Pode ir lá. Acorda ele. Júlio vai ficar tão feliz em te ver. Eu adoraria te dar atenção, mas tenho que ir ao banco pagar alguns boletos e depois ir á feira. Mas pode entrar e fique á vontade._ dona Dirce disse a última frase piscando o olho, o que deixou Leandro mais empolgado e ao mesmo tempo envergonhado._ Daqui a algumas horas, estarei em casa. Vou preparar um almoço delicioso para vocês.

A mulher se despediu com um beijo no rosto e seguiu o caminho rumo ao ponto de ônibus.

Quando Leandro entrou no quarto, encontrou Júlio adormecido. As cortinas blecautes impediam que a luz solar invadisse o ambiente.

O seu coração bateu acelerado de felicidade por finalmente poder rever o seu amado. E a essa alegria foi expressada com um sorriso.

Júlio adormecia vestindo apenas uma cueca boxer branca. Devido aos maus modos para dormir, o lençol estava caído entre a cama e o chão, deixando o seu corpo descoberto.

Leandro se despiu rápidamente. Deitou ao lado do namorado, o abraçando por trás.

Júlio despertou sentindo um braço envolvendo o seu corpo e lábios macios beijando a sua nuca.

Assustado, olhou para trás e se surpreendeu com Leandro ao seu lado. Abraçou-o com força, assassinando com gosto a saudade que sentiu durante todos aqueles anos de distância.

Suas bocas se saudaram num beijo quente e molhado e trocaram palavras carinhosas. O abraço foi afetuoso e as mãos se exploravam, fazendo com que seus corpos se arrepiassem e o desejo despertasse com força.

Leandro deslizou a língua pelo peito de Júlio, chegando onde mais desejava,, no pênis. Chupou-o com grana, despertando gemidos no ativo.

Percebendo que Júlio revirava os olhos para cima, se contorcendo de prazer, Leandro interrompeu o sexo oral, subindo até o ouvindo e disse:

_ Eu te quero todinho dentro de mim.

Júlio o olhou faminto pelo seu corpo nu, segurando o seu rosto com as duas mãos e o beijando em seguida.

Colocado de quatro, Leandro gemia mordendo os lábios, sentindo a língua de Júlio penetrar o seu ânus. Sentia-se em inebriado de prazer, sendo devorado por aquela língua hábil, que dançava dentro dele, sugando cada detalhe. As penas estavam bambas e o corpo se arrepiou por inteiro.

Entregou-se por completo á paixão, rebolando na língua, deixando o pau de Júlio pulsando, gritando para penetrar naquele cuzinho rosado e quente.

Leandro foi posto de frente a Júlio e teve uma das pernas suspensas, o que facilitou na abertura do seu orifício.

Júlio entrou com vontade, levando Leandro á loucura, gritando de prazer, enquanto, tinha o pescoço devorado por beijos e chupões.

Percebeu que Júlio não tocou em seu membro, mas não quis comentar nada. Ele mesmo decidiu se masturbar.

As estocadas aumentavam no ritmo e em intensidade, e os gemidos de Leandro seguiam no mesmo ritmo.

_ Que saudade desse cuzinho. Você me deixa louco! Não faz ideia do poder que tem sobre mim. Aaaah...eu te amo, Leandro._ Júlio dizia com a voz rouca e ofegante, beijando os ombros do amado.

_ Quero ir por cima.

Júlio sorriu, satisfeito com a proposta do namorado. Sentou na cama com as pernas abertas, e Leandro foi se encaixando devagarinho, o olhando com desejo, mordendo os lábios.

Rebolou com os braços envolvidos no pescoço de Júlio, e esse segurava as suas nádegas, afundando os dedos naquela carne macia.

Leandro teve o pênis entre a sua barriga e a do namorado, com o movimento da sua sentada, ele se roçava entre ambas simulando uma penetração, o que o levou ao orgasmo em alguns minutos.

Júlio gozou em seguida, gemendo como uma fera, que devorava com prazer a sua presa.

Permaneceram abraçados por um tempo, Leandro apoiava a cabeça no ombro dele, recebendo um afago nos cabelos negros e beijos pela face.

Júlio o abraçava com força, como se não o deixasse escapar.

_ Nunca mais ninguém vai nos separar. Você é meu pra sempre, minha delícia.

Leandro sorriu e o beijou, interpretando o sentimento possessivo do namorado como um lindo ato de amor.

_ Eu tava com muita saudades, Júlio. É tão bom estar contigo.

Júlio o olhou com seriedade, se perguntando se Leandro ousou, ao menos uma vez, a ter se entregado a outro. Só de imaginar a possibilidade, sentiu vontade de mata-lo ali mesmo, em seus braços.

Leandro o olhava com ternura, acariciando o seu rosto, narrando animado os planos que tinha para o futuro do casalO dia de completar dezoito anos se aproximava. Eram tantos questionamentos que Leandro fazia a si mesmo, que se encontrava confuso. Não seria uma entrada a maior idade como acontecia com os seus amigos. A sua vida mudaria para sempre.

Olhava em volta do seu quarto, sentado na cama, com as pernas cruzadas em forma de borboleta. Em pouco tempo, aquela casa, onde cresceu e passou a maior parte da sua vida, deixaria de ser o seu lar. Havia a grande possibilidade de perder o afeto dos pais e ter a relação familiar rompida, e isso o assustava. Passaria a ser responsável pelas próprias decisões, e sabia que se desse um passo em falso poderia sofrer uma queda brusca. O futuro era nebuloso, não sabia como resultaria as consequências de suas escolhas.

Enquanto muitos de seus amigos comemoravam a entrada da maior idade, visando poder curtir baladas, consumir bebidas alcoolicas, ter carteira de motorista, entrar na faculdade; Leandro estava assustado, se perguntando se estava apto para o futuro.

Sair de casa para viver com Júlio era um passo muito importante que iria dar na vida. Sentia que deveria estar feliz, por finalmente poder viver um grande amor. No entanto, uma voz interior o enchia de dúvidas e incertezas.

Deitou em posição fetal, chorou baixinho por alguns segundos.

Contudo, decidiu sufocar a voz interior da dúvida e se entregar a fundo no desejo de viver ao lado do homem que amava, mesmo que isso custaria uma grande mudança na sua vida.

Enxugou as lágrimas quando ouviu Angela bater na porta do seu quarto, chamando pelo seu nome.

Levantou-se rápido, pondo a mochila nas costas. Ela sorriu ao vê-lo, e o abraçou orgulhosa.

_ O bebezinho tá crescendo! Eu estou vivendo um momento mágico na minha vida, vou levar o meu menino para prestar vestibular. Ah, como eu sou orgulhosa de você, meu amor.

Leandro recebeu um beijo acolhedor e demorado na bochecha.

_ Eu não gosto que você e o meu pai botem tantas expectativas assim em mim. Isso me assusta.

_ Ora, por quê?!

_ Eu não sei se vou passar. Só vou fazer uma prova.

_ Claro que vai passar, meu bem! Você se preparou a vida inteira pra isso. Estudou numa escola competente, sempre foi um aluno dedicado e bem compenetrado. Dificilmente tirava nove. Era só dez. É lógico que você vai passar. E mais, vai ser um excelente advogado. E não um medíocre como o seu pai. Você vai transformar aquele escritoriozinho numa grande firma.

_ Mamãe..._ Leandro parou para respirar fundo._ o papai é um advogado nato. Ele é muito profissional. Ele consegue separar os próprios princípios do trabalho. Durante o dia, o meu pai consegue a absolvição de um assassino e a noite ele dorme tranquilamente, mesmo achando assassinato errado. Eu não seria capaz disso.

_ Vivemos num mundo onde todos têm direito a defesa certo? Os advogados precisam existir e precisam viver. Isso é normal. Um policial mesmo, troca tiros com um bandido, pode vir a matar um inocente sem querer e nem por isso a profissão deve deixar de existir.

_ Mas nem todos têm vocação para ser policial ou advogado...talvez eu seja uma dessas pessoas. Eu sempre me senti pressionado a ser advogado. Não é algo que eu escolhi.

Angela pôs as mãos nos ombros do filho e olhou docemente.

_ Meu amor, eu sou a sua mãe. E ninguém melhor do que eu para saber o que é melhor pra você. É por isso que nós mães estamos no mundo, para guiarmos os filhos para o caminho certo.

"Querido, eu sofri muito nesta vida. Você não faz ideia das coisas que passei e o que tenho que suportar para que você tenha uma vida completamente diferente do que eu tive. Você acha que não vai conseguir, mas eu sei que vai. O escritório é um patrimônio seu. É nele que você deve focar e fazer prosperar. Como disse Jordan Belfort "Não há nobreza na pobreza". Entende, meu amor?"

_ Jordan Belfort é um péssimo exemplo de caráter. Um cara que enriqueceu dando golpes nas pessoas.

_ Isso não tira a validade da frase. Eu já fui muito pobre e sei muito bem o quão ruim é. Você quer ver um ente querido seu morrer no corredor de um hospital público por não receber atendimento? Você quer sentir pânico toda vez que a polícia entra na sua comunidade e com isso ocorre trocas de tiros? Você quer ser humilhado numa loja por vendedores que te julgam mal pelo modo como você se veste? Você quer ver um filho chorar de fome não poder fazer nada para ajudar?

_ Claro que não!

_ São essas coisas pobres sofrem. Você é um privilegiado, Leandro. Então, pare de reclamar e agarre a sua oportunidade.

_É... Você tem razão._ Leandro respirou fundo, o que não aliviou o seu sufoco emocional, se sentindo ainda mais coagido._Mamãe, você fala tanto que teve um passado ruim, mas nunca o conta. Eu não sei nada da sua vida antes de se casar com o meu pai, não sei quem são os meus avós maternos, onde estudou o que fez da vida.

_ E nem vai saber. Todas essas informações estão onde devem estar, no passado. Agora vamos logo de uma vez. Você não pode se atrasar. Tem que chegar com uma hora de antecedência para não precisar ficar como um louco correndo antes que os portões sejam fechados.

A caminho da universidade federal, onde Leandro prestaria vestibular, ele passou a maior parte do tempo olhando para a janela sentindo-se infeliz. O Direito não o atraía em nada. Mas deseja a aprovação para obter o orgulho dos pais. Tinha a esperança que isso amenizaria o coração deles, quando soubessem da sua decisão de viver com Júlio.

Valéria já estava no local a sua espera.

_ O que você está fazendo aqui, garota? Pensei que tivesse ido á praia?_ Leandro perguntou a beijando no rosto. Estranhou ver a amiga vestindo uma saída de praia branca, que realçava a alça azul do biquíni, usava o óculos escuro e um pequeno chapéu de palha.

_ Eu estou a caminho. Só passei aqui para dar um beijinho de boa sorte.

_ Aaaah, obrigado, amorzinho.

Leandro a abraçou com força, como se pedisse ajuda.

_ Está tudo bem, Léo?

_ Está sim, Val._ Leandro mentiu.

_ Amor, eu vou indo. A esteticista marcou de ir lá em casa hoje. Boa sorte, vidinha. Eu tenho certeza que você vai arrasar.

_ Esteticista em pleno domingo, Angela. Hum...sei.

_ Era o único dia e horário que ela estava disponível._Angela respondeu de forma grosseria, não gostou nada da desconfiança de Valéria.

_ E o tio Genaro? Tá em casa?_ Valéria perguntou em tom de malícia.

_ Não. Ele não está. Talvez esteja na cama da sua mãe, como esteve há uns anos atrás.

_ A minha mãe é talarica, o seu marido um safado e você é tola de ter perdoado os dois. Mas a vida é sua.

_ É isso mesmo. A vida é minha e deixe que eu tomo conta dela.

_ Ok.

Angela se despediu de Leandro com um beijo no rosto e se afastou, indo em direção ao carro.

_ Você também, hein! Precisava abrir a boca?

_ Ah, Bijuzinho, você sabe que eu sou puta Velha de guerra. Zero a favor de conservadorismo, mas eu sou solteira. O que os nossos pais fazem foi errado. A minha mãe foi uma pilantra de ter dado pro marido da amiga, o seu pai um safado de comer geral, sendo um homem casado e a sua mãe, que vive julgando os outros bota amante dentro de casa.

_ Que amante dentro de casa? Ficou louca?

_ Vai me dizer que você não sabe que ela cola velcro com a estecista?

_ Ah, Valéria. Vai curtir a sua praia, que é melhor coisa que você faça.

_ Venha comigo. Eu trouxe sunga no carro.

_ Tá louca?! Eu tenho prova.

_ Mas você não quer fazer Direito. Tá fazendo só pra agradar os seus pais. Qual é, Leo? A vida é sua. É você que tem que decidir.

_ Eu preciso passar na universidade de Direito. Quem sabe assim os meus pais não ficam tão chateados com o fato de eu ir morar com o Júlio?

_ Porra, Leandro! Eu não acredito que você vai mesmo morar com aquele safado! Puta que pariu!

_ Claro que vou. Eu gosto dele.

_ Júlio é um pilantra! Eu já te disse que houveram pessoas confiáveis que me disseram que Júlio come geral e mesmo assim você vai se casar com ele? Caralho, você quer viver um casamento de merda igual aos dos nossos pais? Quer ser infeliz, caralho?

_ Isso são fofocas! Eu confio no Júlio.

_ Confia porque é uma bixa burra!

_ Se você me acha uma bixa burra, por que é a minha amiga?

_ Porque eu sou mais burra do que você. A sua burrice tá me contagiando.

_ Então vai embora. Se afasta de mim.

_ É o que eu vou fazer. Fique com a merda do Júlio, que vai te encher de chifres. E quando isso acontecer, não me procure.

_ Pode deixar que não vou procurar.

_ Vai á merda... aliás, você mesmo, porque a sua vida com aquele pilantra vai ser uma merda. Você prefere acreditar nele do que em mim que sou a sua melhor amiga.

_ Ex melhor amiga.

_ É... vá se foder, Leandro!

Leandro fingiu que não se importou com o afastamento de Valéria. Tudo já estava tão tenso e perder a melhor amiga foi doloroso. No entanto, também estava com raiva pela perseguição a Júlio, o que ele achava que era injusta. Chegou até mesmo cogitar, que no fundo, Valéria era tão preconceituosa quanto os seus pais. Acreditou em Júlio quando ele o disse que Valéria não aprovava a relação por não querer que o amigo namorasse alguém mais pobre.

_ É por isso que ela inventa que sou infiel a você. Valéria não é diferente dos seus pais.

Ainda faltava uma hora para a aplicação da prova. Leandro decidiu aguardar num canto isolado do campus, pois não queria estar perto de nenhum dos seus amigos que também prestariam vestibular.Quis chorar só, sem que ninguém perguntasse o motivo.

Para a sua surpresa, recebeu uma ligação de Júlio, que disse que estava no local.

Leandro o disse onde estava, e Júlio chegou em questão de segundos.

Atirou-se nos braços de Júlio, o abraçando forte.

_ O que houve, coração?

Leandro desabafou, falando sobre a briga com Valéria e as aflições por prestar vestibular para um curso que não queria.

_ Puxa, amorzinho, eu vim até aqui te dar boa sorte imaginando que você estaria feliz. Mas na verdade não. Eu amo o Direito, ele me fascina, mas se não é o que você quer, não deve prestar vestibular para esse curso.

_ Eu não quero desapontar ainda mais os meus pais.

_ Que se foda! Você deve fazer o que você quer.

_ Não. Vai ficar tudo bem._ Leandro disse enxugando as lágrimas._ Eu vou lá e fazer o que deve ser feito.

_ Qual é o curso que você realmente desejar prestar vestibular?

Leandro teve vergonha de dizer Letras, por isso mentiu dizendo que ainda não sabia.

Júlio o abraçou e o beijou na testa.

_ Você não precisa fazer isso. Você não vai mais viver com os seus pais. Logo vai fazer 18 anos e poderá ser dono da própria vida.

_ Eu preciso ter uma profissão. Vou precisar trabalhar.

_ Não vai mesmo. Trabalhar é algo que você não vai fazer._Júlio disse com tanta firmeza, que soava como uma ordem._ Eu não vou permitir que trabalhe. Faço questão de te dar uma vida de luxo...digo luxo de verdade e não o conforto de classe média como os seus pais te proporcionaram. Eu quero esfregar na cara dos seus pais que eu não sou nenhum derrotado, que sei cuidar de você, melhor do que eles cuidaram.

_ Eu não sou mais uma criança, Júlio. Ninguém deve cuidar de mim. Nós somos um casal. Temos que ser parceiros e nos sustentarmos juntos. É por isso que preciso ter um emprego.

_ Não. Eu não vou admitir isso. Eu te amo e devo te proteger.

_ Proteger?_ Leandro perguntou sorrindo.

_ Não deboche de mim. Ou você acha que não tenho capacidade de subir na vida?

_ Não é isso...eu...

_ Você é como eles. Porque sou um pobre agora, me julga como um coitado. Não leva fé em mim. Você acha mesmo que não vou ser ninguém a vida inteira.

_ De jeito nenhum, meu amor! Eu confio em você. Sei que tem potencial...eu só disse que não acho justo só você batalhar e eu ficar com os braços cruzados...

_ Ah, Leandro, pelo amor de Deus! Eu não sou nenhum idiota! É para isso que quer trabalhar. Na sua cabeça, terá que me sustentar como o seu pai sempre diz.

_ Não! Júlio, não!

_ Se não fosse isso, você confiaria em mim e me deixaria cuidar de você.

_ Tudo bem...tudo bem, meu amor. Eu confio em você. E vamos fazer do seu jeito tá bom? Eu não trabalho. Ok? Agora não fique chateado comigo.

_ Então, você não precisa prestar vestibular. Pra quê? Pra o seu diploma virar item de decoração na parede da nossa casa? Meu amor, você não quer fazer isso e nem precisa. Meu bem, eu tô te oferecendo liberdade e conforto. Confie em mim. Largue essa porra de prova e venha comigo. Podemos pegar um cinema. Curtir a tarde juntinhos. Vamos?

_ Mas eu...

_ O seu mal é esse. Você deixa os seus pais te manipularem. É por isso que está infeliz. E se continuar assim vai ser para o resto da vida. Daqui a pouco você vai romper comigo porque os seus pais e a cobra que finge ser a sua amiga vão dizer para fazer isso.

_ Não é que...

_ É que o que, Leandro? Você não confia em mim? Eu vou me formar e vou ser um ótimo advogado, o melhor, vou ganhar muito dinheiro e tudo vai ficar bem.

_ Mas faltam dois anos pra você se formar. Por enquanto eu posso...

_ Por enquanto, eu dou um jeito de te sustentar. Consegui um emprego de enfermeiro particular. Começo em breve. O salário é bom. Vai dar pra viver. Agora você decide: ou você confia em mim e joga essa porra toda para o alto, ou você vai lá e faz a vontade dos seus pais.

Leandro o olhou tenso, se sentia sufocado, acuado como um animal diante do seu predador. Abaixou a cabeça antes de dizer sim a Júlio e sair da universidade sem nunca ter feito a prova.

Quando Angela chegou no final da tarde, ela estava acompanhada do marido. Leandro os aguardava na porta da universidade, com a expressão de tristeza.

_ Que cara é essa, campeão?_ Genaro perguntou dando um tapinha nas costas do filho, seguido de um abraço.

_ Eu não sei se fui bem na prova._ Leandro tinha a voz trêmula, estava com a consciência pesada por ter mentido.

_ Claro que foi, futuro doutor Leandro Toledo. Já até mandei reservar uma sala no escritório pra você, já até encomendei a plaquinha com o seu nome. Você é o meu garoto. Sempre foi inteligente. Não precisa se sentir inseguro.

Angela percebeu que algo estava errado com o filho.

_ Aconteceu alguma coisa, meu amor?

_ Não, mãe. Tá tudo bem. Eu só estou com um pouco de dor de cabeça.

_ Deve ser fome. Quatro horas sem comer nada resulta nisso._ respondeu Genaro._ Bom, vamos comemorar, que tal irmos aquela churrascaria gaúcha que você adora? Afinal você merece, depois do dia de hoje. Ligue para a Valéria, filho. Peça que venha conosco.

_ Não vai dar. Eu e a Valéria brigamos.

_ Uh, é! Por quê?_ Angela perguntou preocupada.

_ Ah, coisa nossa, mamãe. Nada demais.

_ Mas...

_ Deixa ele, Angela. Isso é fogo de palha. Eu conheço esses dois desde que eram crianças. Eles brigam e daqui a pouco estão colados de novo. Vamos logo, que a minha garganta está sedenta por um shope.

Como Genaro havia previsto, não demorou muito para que Valéria e Leandro restasse a amizade.

Alguns dias depois, Leandro sentiu saudades da amiga e foi procurá-la em sua casa. A princípio, Valéria foi fria, fingindo indiferença, mas no fundo, estava morrendo de saudades dele.

_ Eu trouxe um DVD para assistirmos. É De repente 30. Lembra quando assistimos no cinema e disse que não sabia se tinha mais tesão no Mark Ruffalo ou no guarda-roupa da Jenna Rink?

_ Hum!_ Valéria gruniu, com os braços cruzados não querendo demonstrar empolgação para rever ao filme.

_ Posso pôr o filme?

_ Tanto faz.

Leandro sorriu.

_ Do jeito que você vacilou comigo deveria ter me presenteado um vestido igual ao da Jenna Rink, aquele que ela usou na cena que dançou Thriller. Mas eu me contento com uma pizza tamanho família.

_ Sabor portuguesa, a sua favorita.

_ Com Coca-Cola...e zero para dar o equilíbrio.

_ Sei..._ sorriu.

Durante o filme, o gelo entre eles foi derretendo, e já assistiram as gargalhadas comentando as cenas.

_ Esse Mark Ruffalo é mesmo um gostoso, né Bijuzinho? Se eu pego um homem desses sento no pau dele e nada me tira dali.

_ Ele é uma delícia mesmo.

_ Este ano eu fui ver Zodíaco só por causa dele.

_ Bem a sua cara ir assistir a um filme só por causa do ator.

_ Olha, vai começar a cena que ela dançaThriller. Ah, meu sonho é fazer isso.

_ E você já fez. Lembra daquele show que você deu no aniversário de oitenta anos da sua avó evangélica? Você pediu para o DJ pôr funk, ficou rebolando essa bundinha pequeninha no meio da pista?

_ Ah, isso não vale. Eu estava bêbada.

_ Trebata, né? Agora como você conseguiu levar bebidas na festa da dona Laura eu não sei.

_ Levei e coloquei na minha garrafinha de água. Aaah, e naquele eu perdi a linha. Só lembro que acabei dando muito pro garçom lá no jardim...ah foi fodaaaa.

Os dois gargalharam.

_ Só sei que você conseguiu ser banida das festas do lado paterno da sua família.

_ Tô nem aí. Era um porre mesmo. Um bando de gente hipócrita, naquelas festas chatas. Meu tio mesmo, pastor, todo metido a defensor da moral e dos bons costumes, casado era louco pra me comer. Pra ele parar de me perturbar, tive que sentar a mão na cara dele.

_ Você é muito doida.

_ E você me ama mesmo assim.

_ Amo muito.

Um sorriu para o outro e se abraçaram.

....

Após assistirem ao filme, o casal de amigos passou o resto da tarde juntos aproveitando a praia, que ficava localizada próximo á casa de Valéria.

Leandro voltou para a casa no final da tarde. Estava tão feliz por ter reatado com a amiga.

Mas foi surpreendido ao ver que os pais o aguardava sérios no sofá da sala.

Ele se recordou que aquele era o dia do resultado do vestibular. Logo, chegou a conclusão que, como sabia o login e a senha da sua página de vestulando, Angela acessou o resultado e descobriu a verdade.

Leandro sentiu o corpo gelar dos pés a cabeça, um nó se formava na sua garganta e coração começou a bater mais forte.

_ Leandro, o que você tem a me dizer sobre isso?_ Angela perguntou, entregando a ele um papel impresso, escrito "Candidato não compareceu a aplicação da prova."

Sem saber o que dizer, Leandro apenas abaixou a cabeça, sentindo o peso da vergonha.

_ Como você não compareceu a porra da prova se eu te deixei lá?_ Angela perguntou gritando._ Me diga!

_ Eu sinto muito.

Genaro levantou revoltado, dando um soco na mesa da sala.

_ Você sente muito, moleque?! Você sente muito?!_gritou, ficando vermelho._ Você ouviu isso, Angela? O seu filho sente muito. Que merda você tem na cabeça, Leandro? Como você pode ser tão canalha de enganar os seus pais dessa forma tão sórdida?

"Meu Deus do céu, o que eu fiz para merecer uma porra dessas?! Você tem noção da merda que fez? Sabe o quanto eu investir na sua educação para que tivesse o melhor? Você acha que tudo caiu do céu? Que eu não tive que trabalhar muito para bancar os seus estudos? A própria prova do vestibular. Você acha que foi de graça, Leandro? Tanto esforço pra quê? Pra você nos passar pra trás e nem entrar naquela sala e fazer a maldita provaaaaa!"_ Genaro socava a mesa com mais força.

_ Me desculpa, pai._ Leandro pediu com a voz chorosa._ Eu não queria fazer Direito...acabei desistindo na hora e...

_ Ah, você não queria fazer Direito? Queria fazer o quê? Letras? Não esqueceu essa palhaçada de querer brincar de proferssorzinho? Você sabe quanto ganha um professor? Sabe o que eles passam dentro de uma sala de aula aturando desrespeito e agressão de alunos?! É isso que você quer pra sua vida? Deixe de ser um panaca romântico, Leandro. A educação não é valorizada neste país e os profissionais dessa área muito menos. Você não vê os noticiários? Eles vivem em greves! Nem Paulo Freire, que foi um grande homem e teve muita importância para a educação brasileira não foi valorizado aqui no Brasil. Ele foi exilado da própria pátria, a qual ele contribuiu muito. Fingem que o valorizam por causa do reconhecimento que ele conquistou no exterior, porque se isso não tivesse acontecido, a sua memória já tinha caído no ostracismo há muito tempo. Se Paulo Freire não foi valorizado, você que será?! Se enxerga, Leandro.

"Eu não sou palhaço, mesmo que você ache que eu seja um. A sua festa de 18 anos acaba de ser cancelada."

Leandro o olhou com espanto. Não queria perder a festa, a via como uma despedida da sua vida com os pais, a qual sentia muita dor em ter que abandona-la.

_ Pai, eu não te acho um palhaço...

_ Como não?! Você me fez investir muito dinheiro nos seus estudos, pagar pela prova, para chegar na hora e fazer o que fez?!

_ Eu fiquei nervoso. Tive medo...eu não quero cursar Direito e...

Angela tomou as rédeas da situação com a intenção de inverte-la. Interrompeu o filho, anunciando em tom de ordem:

_ Para mim é muito ruim ter que cancelar a festa. Eu passei meses programando tudo para que saísse perfeita. E sem contar que ficarei mal diante dos convidados. Mas esse cancelamento será necessário. O que você fez foi imperdoável. Mas, você vai nos recompensar. Ano que vem acabou festinhas, cinemas, teatros, praias e qualquer tipo de passeios com os amigos. Você passará a maior parte do tempo no quarto, estudando para o vestibular. Eu vou fazer questão de te deixar na porta da sala de aula no dia da aplicação da prova.

_Por mim, eu não gastaria mais um centavo com esse aí. Ele que vá trabalhar no MC Donald's.

Leandro aproveitou o momento turbulento e golpe de coragem para revelar sobre ir viver com Júlio.

_ Vocês não vão mais precisar se preocupar em gastar nada comigo. Semana que vem eu vou embora.

Ambos os olharam surpresos. Angela sentiu uma raiva tão grande que partiu para cima do filho, despejando tapas.

_ Eu não vou deixar que destrua a sua vida morando com aquele crápula! Não vooooouuuu!

Angela o agredia em fúria. Leandro cobria o rosto para se defender e Genaro tentava conter a mulher, a segurando pela cintura.

_ Angela, se acalme! Olha o que você fez com a sua mãe.

Leandro a olhava preocupado.

_ Isso não é justo! Você vai acabar com a sua vida, Leandro! Além da pobreza imunda que você vai viver, aquele homem não vale nada!

_ Você é preconceituosa! Vocês dois são! Estão julgando o Júlio mal sem o conhecê-lo direito. Só se importam com dinheiro! Nem ricos nós somos e vocês têm essa soberba toda.

Genaro o olhou com ódio, apontando o dedo indicador.

_ Quer dizer que nós somos preconceituosos? Sabe o que você merece? Pais homofóbicos. Daquele tipo que põe o filho gay pra fora de casa! Você é um ingrato isso sim. Mas, você quer viver com o Júlio? Então, vá. Não precisa esperar fazer dezoito anos. Pode ir a hora que quiser. Eu autorizo.

Angela o olhou com espanto.

_ Isso não! Não mesmo.

_ É o que ele quer. Não há nada a ser fazer. Já o mandamos á Europa e mesmo assim ele continua com essa teimosia. Então, vá. Mas, não levará nada desta casa, a não ser roupas e objetos pessoais. O carro que ia ganhar, esqueça, celular, computador, cartão de crédito e todos os benefícios adquiridos com o meu dinheiro esqueça.

"Vá trabalhar para sustentar aquele filho da puta. É o que você quer? Então, que assim seja.

Eu sabia que essa história de fugir do vestibular tinha dedo do enfermeirinho mequetrefe. É claro! Você desiste do Direito, e ele se forma na área. Você herda o escritório e ele assume. Eu conheço gente como ele. Eles têm inveja de pessoas como nós. Nos culpam pela miséria que vivem. Preferem se vitimizar ao invés de se esforçarem para crescer.

"Júlio pensa que é esperto, mas não passa de um pilantrinha. Eu lido com bandidos e golpistas há anos. Não vou dar mole para ele. Diga ao seu namorado que pode ir tirando o cavalinho da chuva. Eu vou vender o escritório e você não herdará nada. Aí eu quero ver se esse amor que ele diz sentir por ti vai durar muito tempo."

_ Júlio não se importa com isso...e nem eu.

Genaro gargalhou.

_ Você não se importa?_ Genaro gargalhou tanto, que teve que sentar no sofá para recuperar o equilíbrio das pernas._ Você ouviu, Angela? Ele não se importa. Diga ao seu filho que quando a fome bate na porta, o amor sai pela janela. Eu te conheço, moleque. Você é um play boy, conheço os seus gostos. Duvido que vá aguentar aquela pobreza.

Leandro se retirou da sala, subindo as escadas correndo como Vanessa sempre faz nos dias atuaisAquela foi uma das conversas mais difíceis que Leandro teve com os seus pais. Não conseguiu dormir, rolava pela cama pensando em tudo que aconteceu.

"Seria tão mais fácil se os meus pais aceitassem a minha relação." Era o que pensava. Não conseguia mais chorar. No entanto, sentia um aperto no peito, uma sensação ruim.

No dia seguinte, foi até á casa de Júlio e relatou o acontecido. Dona Dirce havia preparado o café da manhã para recebê-lo. Sentia pena do genro, enquanto o ouvia desabafar.

_ O meu pai disse que vai vender o escritório. Ele acha que você só quer ficar comigo por causa dos negócios da família.

Júlio surpreendeu a todos dando uma gargalhada. Leandro o olhava interrogativo. Não tinha coragem de perguntar o motivo da gargalhada. Ao contrário de dona Dirce, que se indignou com a atitude do sobrinho.

_ O que é isso, Júlio?! Puxa, o seu namorado nervoso desse jeito e você rindo! Não vejo graça nenhuma.

Júlio gargalhava cada vez mais, tentando recuperar o fôlego para falar.

_ O Genaro disse que vai vender o escritório para eu não me aproveitar._ Júlio gargalhou mais._ Oh, velho sonso. Ele vai vender porque está na merda. É tão incompetente que está quase falindo.

_ Do que você está falando?_ perguntou Leandro, surpreso.

_ Coração, os seus pais só têm pose, a conta bancária mesmo está quase no vermelho. Eu tenho amigos advogados que trabalham no escritório do seu pai... aliás trabalhavam. Esses meus amigos não estão mais comparecendo ao trabalho e processando o escritório, porque não estão sendo remunerados há tempos. Eles não te falaram sobre isso?

_ Não...eles nunca falam sobre dinheiro comigo. Acham que ainda sou criança. Nossa! Fiquei surpreso agora.

_ Já que o velho deu o braço a torcer, venha viver comigo agora.

_ Bom...

_ Eu ainda não aluguei a nossa casa, mas você pode ficar aqui comigo. Semana que vem eu começo a trabalhar novamente. Vou ser enfermeiro particular de um idoso. A grana vai ser boa, vai dar para dar um up na nossa vida.

_ Eu não acho uma boa ideia. Não quero incomodar a dona Dirce.

_ Ah, meu querido. Não se preocupe com isso. Você nunca incomoda. A casa é isto aqui que você está vendo. É tudo muito simples, nenhum luxo e nenhum conforto o qual você está acostumado. Mas é tudo limpinho e aconchegante.

Leandro sorriu para ela de um jeito carinhoso, segurou em sua mão e agradeceu pela gentileza.

Júlio prosseguiu insistindo. Leandro acabou cedendo. Mudou-se dois dias depois.

Enquanto fazia as malas, sentia o coração bater mais forte. Apesar de não ser preconceituoso, lamentava em pensamento perder as mordomias, as quais estava acostumado.

Angela entrou no quarto em prantos, abraçando o filho, implorando para que não fosse embora, o que deixava Leandro ainda mais angustiado.

Ele tentava conter o choro. Sabia que sentiria muitas saudades dos pais.

_ Meu filho, pelo amor de deus fique. Você não precisa viver com aquele sujeito. Vocês podem namorar...eu dou o meu braço a torcer e até tolero o namoro. Mas não precisa sair da sua casa. Aqui você está protegido. Esse homem não vale nada. Ele ainda vai te fazer muito infeliz.

_ Mãe, eu te amo muito, mas abomino o seu preconceito. Você julga mal o Júlio sem o conhecer direito. Por que não dá uma chance pra ele? Você vai ver que ele é uma pessoa maravilhosa.

_ Júlio não é uma boa pessoa. Não é só a classe social. Eu sinto que...

_ Já chega, mãe. Pelo visto você não quer melhorar. Logo, não vamos chegar a lugar algum com essa conversa.

Leandro virou as costas para Angela, e recomeçou a arrumar as malas.

_ Pelo visto você está mesmo decido.

_ Estou sim.

Num ato de raiva e desespero, Angela disse:

_ Se você sair por aquela porta, para viver com aquele homem abjeto, pode esquecer que tem mãe.

Leandro a olhou assustado. Não desejava de jeito nenhum perder contato com ela.

Angela saiu porta a fora, se trancando no quarto para chorar.

Júlio chegou alguns minutos depois. Estacionou o carro (que pegou emprestado com um primo) em frente á casa. Mandou um SMS avisando a Leandro que o aguardava.

Leandro desceu as escadas carregando as malas nas mãos e a tristeza no coração. Despediu-se da empregada, que lhe deu um beijo na testa e o desejou boa sorte.

Genaro estava sentado no sofá da sala, assistindo TV.

_ Tchau, pai.

Leandro não obteve respostas. Saiu olhando para a piscina lamentando não poder ter mais acesso a ela.

No portão, olhou a faixada da casa com os olhos lacrimejando, lamentando a saudade que sentiria.

Entrou no carro cabisbaixo, sendo recebido com um beijo e um abraço caloroso.

Angela os observava da sacada da varanda do seu quarto, no segundo andar da casa. Com os olhos vermelhos de tanto chorar, despediu-se do filho em pensamento. "Tchau, meu amor. Pena que você não será feliz... você merece muito mais que a pobreza que esse infeliz vai te submeter."

Ao perceber a presença da sogra, Júlio sorriu vitorioso, acenando para ela, piscando o olho, dizendo com gestos "Eu venci."

Angela notou a sua presunção, e o praguejou sussurrando, entrando em seguida.

Leandro foi recebido com muito carinho por dona Dirce e Júlio. Para o jantar, eles pediram pizza, o que Leandro estranhou um pouco, já que não estava acostumado a comer alimentos não saudáveis no meio da semana.

No entanto, não expressou o seu estranhamento para não causar uma impressão ruim.

Para ele foi desconfortável fazer amor naquela noite quente e naquele quarto pequeno.

Teve dificuldades para dormir, o calor estava sufocante e o pequeno ventilador barulhento não dava conta da refrigeração. Lamentou, em pensamento não haver ar condicionado na casa.

Durante os dias, percebeu que os alimentos não eram fartos como na sua casa e muito menos saudáveis. E os produtos alimentícios não era das qualidades que ele estava acostumado.

A TV não era a cabo, tinha que se contentar com os poucos canais abertos e com a imagem repleta de fantasmas, o que incomodava muito.

Devido a falta de espaço, Leandro não pode levar todos os seus livros, escolhendo apenas os favoritos.

_ Você tem algum livro, meu amor? Estou querendo ler algo._ Perguntou a Júlio, envolvendo os braços nos seus ombros e o beijando o rosto.

_ Tenho sim, mas creio que não vão te interessar. São todos sobre Direito e gestão de negocios.

_ É... realmente não são temas que me interessam.

Júlio estava sentado na cama, estudando, envolto de livros e cadernos.

_ Amor, será que você poderia me dar licença? Eu tenho prova amanhã.

_ Ok. Me desculpe.

Leandro se afastou, indo em direção á prateleira de madeira, onde Júlio guardava alguns livros. Pegou um em mãos e o observou.

_ Engraçado, meu bem. Apesar de cursar Direito, você também ler sobre Administração de empresas. Pretende fazer uma segunda graduação nessa área?

_ Não._ Júlio respondeu sem tirar os olhos do caderno._ Mas gosto de estudar por conta própria. Um dia pretendo ter o meu próprio escritório, aliás uma grande empresa. Por isso quero me dedicar a aprender como administra-la. Não quero ser um empresário de merda como o seu pai.

_ Não gosto que fale assim do meu pai.

_ A verdade deve ser dita.

Leandro pôs o livro de volta na prateleira e saiu do quarto chateado. Júlio não se importou. Sentiu-se aliviado por ficar só no quarto e poder estudar sossegado.

Leandro se sentia envergonhado por não contribuir em nada com as despesas da casa, já que dona Dirce era a única responsável por isso naquele momento.

Além disso, ele sempre recusava as saídas com os amigos com dó no coração, já que, pela primeira vez, não tinha dinheiro para nada.

O seu aniversário de 18 anos aconteceu num domingo ensolarado. Para não passar branco, dona Dirce resolveu comemorar oferecendo um almoço especial com feijoada como cardápio. Leandro ficou grato pela gentileza da mulher, mas não conseguiu comer devido ao alto nível de carnes gordurosas.

Lamentou em pensamento pela ausência dos pais e de Valéria. No dia anterior ele havia ligado para a sua antiga casa, mas os pais se negaram a comparecer.

Valéria havia brigado com Júlio uns dias antes e só passou para entregar o presente e dar um abraço no amigo.

_ Vamos, amiga. Entre.

_ Não vai dar, Bijuzinho. Do jeito que tô com ódio de Júlio sou capaz de perder as estribeiras.

_ Ignore-o. Não precisa discutir.

_ Discutir? Eu tô com tanto ódio de Júlio, que nem tenho dicionário interno para bater boca com ele. Eu só capaz de sentar três tapas na cara daquele pilantra.

...

Carolina, uma das primas de Júlio, trabalhava como coordenadora em uma escola de idiomas.

_ O meu primo me disse que você é fluente em inglês, Leandro._ Carolina comentou dando uma garfada na feijoada, que estava num pratinho de plástico que ela segurava.

_ Não só em inglês como em espanhol, italiano, alemão e francês. O meu amorzinho é muito inteligente._ Júlio disse orgulhoso, beijando a face de Leandro, o deixando muito envergonhado, já que esse não sabia lidar com elogios.

_ Ah, que legal! Lá na escola abriu uma vaga para professor de inglês, se você tiver interesse, eu te encaixo, Leo.

Leandro sorriu animado. Um emprego seria ótimo naquele momento. Mataria o tédio dos seus dias ociosos e ainda poderia contribuir para as despesas da casa. Abriu a boca com a intenção de aceitar. Mas, antes de dizer uma palavra, Júlio respondeu:

_ Obrigado pela proposta, prima, mas Leandro não está a procura de emprego. Eu prometi que vou cuidar dele.

_ Ah, que pena. Bom eu achei que...

_ Eu sei que você teve a melhor das intenções, prima, mas é melhor não.

_ Tudo bem.

Leandro permaneceu em silêncio, mas estava irritado com a atitude do namorado.

Antes de dormir, deitado ao lado de Júlio expressou o seu descontentamento com as atitudes do namorado em falar por ele, o que resultou na primeira grande briga do casal.

No dia seguinte, Leandro se desculpou com a dona Dirce pelo transtorno causado pela briga.

_ Realmente, eu não gostei de todo aquele escândalo aqui dentro da minha casa. Eu sou uma senhora idosa. Foi desrespeitoso.

_ Eu sinto muito. Me desculpe.

A partir daquele dia, Leandro passou a evitar discordar de Júlio com intenção de que não ocorressem mais situações constrangedoras.

O casal se reconciliou dois depois. E Júlio partiu no dia seguinte.

_ Eu vou sentir saudades._ Leandro lamentou abraçando o namorado.

_ Eu também vou. Mas vai ser necessário dormir no trabalho.

_ E a faculdade, meu filho?_ dona Dirce perguntou.

_ Tia, estamos em férias. Vou ficar lá durante Janeiro e fevereiro, depois retorno para á casa.

Notas do autor.

Olá, galera! Há tempos eu não aparecia por aqui. Moro no RJ e o calor por aqui estava insuportável. Tenho problemas de saúde e com o clima muito quente isso piora! Por isso escrevi a passos de tartaruga. Mas enfim, consegui concluir. 🙌🏽

Para recompensar vocês pela minha demora, hoje postarei dois capítulos em sequência. O capítulo 28 tbm está postado.

Como já começou o outono, o clima por aqui melhorou muito, e assim poderei postar com mais frequência.

Beijos a todos e boa leitura!

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 18 estrelas.
Incentive Arthur Miguel a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Este comentário não está disponível
Foto de perfil de Ana_Escritora

Muito bom mesmo. A manipulação do Júlio começou desde o primeiro dia deles morando juntos aliás no dia da prova do vestibular. Coitado do Leandro. Indo ler o próximo.

1 0