Almas de Estorninhos

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 2757 palavras
Data: 30/09/2022 07:48:03

Capítulo 1: O Lago

A maior parte das minhas férias de verão irei passar na casa de campo dos pais do Wade, o namorado da minha mãe. Eu não me dou muito bem com ele, por isso vamos viajar só nós dois para tentar melhorar a nossa relação.

Quem planejou isso foi a minha mãe, Isabelle. Ela e o meu pai se divorciaram há dois anos e namora há quatro meses com Wade Mason. Este, é um empresário de trinta e quatro anos, dono de algumas lojas de artigos esportivos espalhadas pelo estado da Geórgia, E.U.A. Além disso, ele é membro de uma grande academia — onde o casalzinho se conheceram.

"Ele é um bom homem, você vai ver... Ele não é como o seu pai... Dê uma chance a ele, Ethan", é o que a minha mãe sempre diz, tentando me convencer de como o Wade era tudo de bom. Ademais, ela disse que eu estava precisando ter mais contato com a natureza, alegando que a minha palidez e flacidez eram indícios disso.

Foi uma semana inteira de discórdia. Da minha parte houve gritaria, greves de fome e de comunicação. Enquanto isso, a minha mãe ameaçou cortar a minha mesada e me deu vários sermões de como eu estava sendo imaturo ao extremo. E enfim, ela conseguiu me convencer.

Então, chegou o dia da viagem. Eram quase nove horas da manhã, eu já tinha arrumado minhas coisas e estava na cama, com o meu Laptop, quando bateram na porta do quarto.

Era Jane, a empregada. Ela entrou e disse:

— O Wade chegou.

— Sério? — murmurei.

— Ele está esperando.

— Jane, venha aqui — Voltei minha atenção para a tela do Laptop.

Ela sentou ao meu lado e, animada e um tanto surpresa, indagou:

— Está num site de relacionamento?

— Entrei ontem. Alguns são bem interessantes. Olha esse — Cliquei no perfil de um bonitão de nome Dylan.

— Ele não é muito velho para você? — Jane comentou curvando os lábios.

— Velho? Ele só tem vinte e três — Falei vendo as poucas fotos do Dylan. Ele tinha um rosto alegre, pele chocolate e olhos mel.

— Não seria melhor alguém da sua idade? É.. a última vez... Bom — Os grandes olhos de menta dela não me encararam, pois ela sabia que eu não gostava de tocar naquele assunto.

Jane se referia ao meu último encontro com um cara que conheci online.

— Dessa vez vou tomar mais cuidado — continuei. — E esse Dylan parece legal.

— Isso se o perfil for verdadeiro.

— Jane, como você me anima — ironizei.

— Só falei isso porque me preocupo com você.

— Eu sei. Mas eu sinto que poderia dar certo com ele, sabe? Mesmo assim — Fiquei pensativo.

— Mesmo assim...? — Jane me induziu a terminar a frase.

— Você acha que eu deveria mandar um "oi"?

— Acho que sim — Ela disse ao colocar uma mecha do seu cabelo milho atrás da orelha.

— Será mesmo, Jane?

— Vai, Ethan, manda um "oi" para ele — ela tentou me incentivar. — Não vai saber se não tentar.

Fiquei pensativo por uns dez segundos antes de falar:

— Depois eu penso nisso, afinal, agora eu tenho que ir já que o... Wade! Está me esperando, não é?

Guardei meu Laptop na mochila e saí com a Jane. Esta meio que se tornou a minha melhor confidente aqui em casa, afinal, minha mãe e eu nos distanciamos um pouco — quando ela começou a namorar com o Wade. Além disso, ela divide o seu tempo com o trabalho e comigo, e agora com seu namorado.

Os dois estavam conversando na sala quando desci as escadas. Eles logo se levantaram do sofá.

— Olá, Ethan — Wade disse, me olhando com um sorriso tímido.

— Oi, Wade — respondi, um tanto áspero. Coloquei a minha mala no chão.

Mamãe me lançou um olhar repreensivo. Ela se parece comigo, com exceção dos meus olhos azuis e do meu cabelo castanho liso — o dela é ondulado. Estava vestida com seu uniforme médico, logo iria para o hospital. Apesar de tudo, o Wade estava fazendo muito bem a ela.

Ao me despedir de Jane, me abaixei para pegar a mala, porém Wade se adiantou.

— Eu levo — disse.

Sempre tão gentil. Ele nunca vai se cansar de tentar me agradar? No entanto, a bagagem estava pesada, então não contestei.

— Ethan — minha mãe chamou, quando eu ia para a porta.

— Aqui — Ela me estendeu uma maleta de primeiros socorros.

— O quê? Mãe, eu preciso mesmo levar isso? — contestei.

— Claro.

Não adiantaria contestar a Dra. Joy, já que, desde quando eu era criança, ela já me ensinava a respeito de ferimentos e como tratá-los.

— Vou sentir saudades — Ela me abraçou.

— Eu também, mãe.

Me entregou a maleta e acrescentou:

— Se comporte e por favor dê uma...

— Sim, dê uma chance ao Wade — Suspirei.

— Sério, filho, nunca vou entender porque você o detesta tanto. Ele não fez nada. Ele é um bom homem, você vai...

— Ah, mãe, sério?

— Sim, você vai ver isso. Por isso se comporte.

Revirei os olhos e a abracei novamente.

"Oh, mãe. Se você soubesse porquê sou assim com o Wade, não me deixaria viajar com ele", pensei, com o coração mergulhado em culpa.

— Eu vou tentar — eu disse. — Prometo que vou tentar.

E então, saímos.

Wade já tinha colocado a minha mala no banco de trás do carro, um jipe de cor abelha. Entrei nele e pela janela observei os pombinhos se despedirem. Revirei os olhos para aquela cena.

Apesar da divergência entre nós, eu não negaria que o Wade é um homem muito atraente. Alto e musculoso, com o cabelo baixinho e todo arrepiado no alto da cabeça. A barba dele é cerrada e falha nas bochechas. Parecia um personagem de vídeo game de ação, ainda mais se estivesse usando algum uniforme, ao invés de uma regata branca e uma bermuda creme.

Com as janelas do carro abertas, seguimos pela rodovia e saímos de Atlanta. Campo e árvores, campo e árvores, era tudo o que se via ao redor da estrada. Senti o vento balançar os meus cabelos. Através dos meus óculos escuros, eu fitava a mata e o céu sem nuvens. O sol brilhava forte.

Wede e eu não conversamos muito. Ele tentou, de um jeito animador.

— Contente com a viagem?

— Sim.

— Eu também. Você vai gostar de lá. O ar, as árvores... Você vai amar o clima do campo.

— Se você está dizendo — Foi a última coisa que eu disse para o Wade, antes de pôr fones de música nos meus ouvidos.

Campo e árvores, campo e árvores. Suspirei.

Foi quase uma hora de viagem até chegarmos próximo de uma cidade chamada Greenville. Saímos da rodovia e seguimos por um curto caminho de terra entre árvores.

Paramos na entrada da propriedade. Wade desceu do carro para abrir o cadeado das correntes de um grande portão metálico. Depois, passamos por um bosque e percorremos um grande campo, até chegarmos em casa. Ela era grande e rústica, com uma varanda na entrada. A madeira das paredes eram brancas e as do telhado verde escuro, além disso, estava vazia, pois os pais do Wade estavam viajando.

Assim que desci do jipe, eu logo senti o cheiro daquele lugar. Do campo, das árvores, ar fresco. Era muito bom, como o Wade disse.

Fomos para o segundo andar com as nossas malas.

— Sinta-se em casa — Wade disse, antes de me deixar sozinho arrumando minhas coisas no meu quarto, que por sinal era bem confortável. As paredes eram brancas e tinha uma poltrona junto a uma mesinha no canto.

Acomodei minhas roupas na cômoda perto da cama, depois desci para o andar de baixo.

Depois de comer sanduíches, deixei o Wade sozinho na cozinha e fui para a sala. Deitei no sofá e liguei a TV.

— Eu vou dar uma volta — Wade apareceu na sala. — Quer vir comigo?

— Não estou com vontade — E fitei a TV.

Wade ficou parado me olhando, acho que esperando eu mudar de ideia, porém, saiu desapontado pela porta da frente.

Por que era tão importante para ele tentar ter um relacionamento harmônico comigo? Ele deveria estar muito apaixonado pela minha mãe. Será que já pensavam em casamento? Será? Merda. Aí sim tudo ficaria mais complicado.

Um tempo depois, Wade apareceu outra vez na sala e subiu para o andar de cima. Ele voltou em seguida, com uma toalha no ombro e vestindo somente um fino short vermelho.

— Eu vou dar um mergulho no lago, você vem? — me perguntou, esperançoso.

Ah, o lago. Ouvi falar tanto dele, a propósito, se tornou um dos motivos que me convenceram a vir para cá.

Pensei um pouco antes de responder:

— Talvez eu apareça por lá depois.

— Certo — Wade disse. — O lago fica nos fundos — acrescentou antes de seguir pela cozinha.

Eram quase quatro horas da tarde, estava fazendo um grande calor. Um banho no lago cairia muito bem. Subi pelas escadas até o meu quarto e troquei meu short jeans por um fininho azul.

O caminho até o lago era por uma trilha com árvores ao redor. Wade estava sentado no cais quando cheguei. Me sentei na borda da madeira e tirei minha camisa. Wade sorriu ao olhar para mim. Água pingava do cabelo e escorria pelo corpo bronzeado dele.

— Quer que eu passe protetor nas suas costas?

Ah, sempre tão solícito.

— Não, obrigado — respondi e logo pulei no lago.

Ele era extenso e rodeado por uma floresta de coníferas. A água parecia chá preto e media quase na altura do meu peito (eu media 1,70), e se aprofundava à medida que seguia para o centro. Nadei por vários minutos e, então, mergulhei fundo. Estava tão agradável lá embaixo, refrescou todo o meu corpo.

Quando emergi olhei para o cais, Wade não estava mais lá. Observei ao meu redor, o lago estava calmo e a floresta silenciosa atrás de mim. Wade parecia ter ido embora, porém ele deixaria alguém de 17 anos sozinho num lugar desconhecido? Bom, eu não era mais criança, mas isso não era a cara dele.

— Wade! — A minha voz ecoou ao redor.

Meus pés não tocavam o fundo do lago.

Se passou mais de um minuto. De repente algo me puxou para o fundo do lago. Acabei engolindo água. Ainda submerso me debati e logo me livrei das mãos do Wade. Voltei para a superfície junto com ele e, enquanto eu tossia sentindo uma grande ardência no nariz, o panaca ria.

— Ei, você está bem? — Ele logo parou de rir, pareceu preocupado. Suas mãos estavam no meu ombro e pescoço.

— Por que fez isso? — indaguei, bravo e confuso.

— Ethan, eu só...

— Sai! — Tirei suas mãos de mim e tossi outra vez. — Não toque em mim!

— Ethan, qual é? Só foi uma brincadeira — disse, enquanto eu me distanciava dele.

— Me desculpa, Ethan — Ele me seguia nadando, mas parou.

O deixei falando sozinho, nadei até o cais e saí da água. Peguei minhas coisas e olhei para o Wade, ele estava lá parado, me olhando com tristeza. Voltei para casa, quase tropeçando nos meus próprios pés, cheio de raiva.

Ao entrar no quarto, encontrei o meu celular tocando. Era minha mãe. Eu havia combinado de ligar quando chegasse, contudo, ela já deveria ter ligado para o Wade. Por que me preocuparia?

Mamãe falou assim que atendi:

— Oi, filho. Faz um tempo que te ligo, eu...

— Como pôde me deixar com aquele idiota? — exclamei. — Só namora com ele há uns meses e acha que ele já pode ter algum tipo de responsabilidade sobre mim?

— Ethan, o que aconteceu? — ela perguntou, preocupada.

— Eu quero ir embora, eu não quero ficar aqui com ele!

— O quê? Ethan, se acalma e me diz o que foi.

— Eu nunca vou te perdoar por isso — Encerrei a ligação. — Droga! — exclamei ao me sentar na cama. Foi quando senti um volume no meu short, me apertando. Era o meu pau, estava duro.

— Merda — Suspirei.

Passei o resto da tarde no quarto. Mamãe não ligou mais. Ouvi música, conversei com alguns amigos e gastei um bom tempo decidindo se iniciava uma conversa com o Dylan e... Não conversei com ele. Da janela do quarto, sentado na poltrona, observei o pôr do sol.

Eu já tinha tomado um banho e estava jogado na cama, quando Wade bateu na porta do quarto.

— O jantar está pronto — ele disse, aparentando receio. Entrou no quarto e parou em frente à passagem da porta.

Não dei-lhe atenção.

— Ethan, o que aconteceu no lago, eu...

— Esquece, Wade — falei.

— A sua mãe ligou. Ela estava preocupada e... Chateada. Eu expliquei tudo a ela. Eu não queria que vocês brigaem por minha causa.

— Esquece isso também — Saí da cama — Depois eu resolvo com ela — acrescentei.

Passei pelo Wade, porém ele segurou o meu braço.

— Ethan, eu sei que você não queria estar aqui, mas nós poderíamos tentar resolver logo as coisas. Você não acha? — Ele parecia otimista.

— Não, não acho. Pode me soltar agora? — contestei, encarando-o.

— O que eu fiz pra você? O que eu fiz para me odiar tanto?

— Eu não te odeio, Wade.

— Mas não gosta de mim. Vai, me diz o que eu fiz para merecer tudo isso?

Respirei fundo e falei:

— O que você fez? Você está namorado a minha mãe. Você não é bom para ela.

— É sério que pensa isso? Pois você está completamente errado — Ele apertou o meu braço e completou: — Queira ou não, você vai ter que aceitar o meu relacionamento com sua mãe.

Com os olhos lacrimejantes eu fitei o Wade.

— Pode me soltar agora? Está me machucado — pedi.

Ele engoliu em seco e me largou.

Na cozinha, se sentou na cabeceira da mesa, enquanto eu fiquei a uma cadeira de distância dele. Macarrão, brócolis e coxas de frango fritas, Wade preparou isso para o jantar. Ele fez uma grande bagunça, a pia estava cheia de louça suja.

Eu já tinha comido metade do prato quando ele puxou assunto.

— O que achou da comida?

Nossa, ele não se cansa mesmo. E eu estava sendo insuportável.

— É... — Fiz pouco caso. Estava uma delícia. — Dá pra comer — acrescentei.

— Aqui — Wade pegou um frasco de azeite e me ofereceu.

— Não, obrigado — Não fui rude, só me sentia deprimido.

— Vai, coloque no brócolis. O sabor ficará melhor — ele insistiu.

Como o Wade me irrita. O jeito dele tentando ser sempre legal comigo. Ele queria mesmo ser bom comigo ou queria apenas agradar a minha mãe?

De repente, o meu coração pegou fogo. Peguei o vidro de azeite, encarei o Wade e falei lentamente:

— Eu disse que não quero.

Estendi o braço e virei o frasco em direção ao chão, derramando o líquido.

— Por quê? — Wade questionou, inconformado. Ele inclinou na cadeira e logo arrancou o frasco da minha mão.

Pela primeira vez vi o Wade tão zangado.

— Ethan, eu já estou farto das suas atitudes. Limpe isso agora!

— Não vou limpar — zombei.

— Limpe agora!

— Vai se ferrar!

Wade respirou fundo e fechou os olhos, pareceu tentar controlar a raiva. Ao abri-los, disse:

— Eu tentei ser legal com você o tempo todo, mas você só me menosprezou.

— Se quase me afogar no lago foi uma tentativa sua de ser legal...

— Só foi uma brincadeira — ele falou, irritado.

— Não importa.

Me levantei e levei o meu prato para a pia.

— Ethan, entenda de uma vez que sua mãe e eu nos apaixonamos. Mas olha, eu entendo você.

Eu estava de costas para ele.

— Sei como o seu pai foi um babaca, um desgraçado — prosseguiu —, mas eu não sou assim.

Ele acha que entende mesmo o que passamos com o meu pai?

— Você não entende nada! — Quebrei o prato no chão e me virei para o Wade. — Você não sabe nada sobre mim e o meu pai.

— Já chega — Ele deu um pulo da mesa. — Limpe essa bagunça, seu muleque!

Foi então que peguei um copo da pia e atirei no Wade. Ele se desviou do objeto, que se espatifou no armário.

— Ei! Ethan, você está louco?

Então, ele veio em minha direção. Atirei talheres nele.

— O que deu em você? Ai! Ethan, pare! — E quando ele estava a ponto de me segurar, sem pensar, enfiei uma faca grande no ombro esquerdo dele.

Wade soltou um gemido de dor. Deu alguns passos para trás, olhou para a faca no ombro em seguida para mim. Parecia atordoado.

— Ethan, você... você...

Fiquei sem reação, só olhando o Wade ferido. Ele me olhava com espanto, como se eu fosse um monstro. Continuou se afastando de mim. Foi quando escorregou no azeite derramado no piso e bateu a cabeça na mesa. Caiu desacordado no chão.

Então, a minha voz aterrorizada ecoou pelo silêncio na casa:

— Wade?

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Caraca. Como para assim? Depois de um conto tenso. E agora vai demorar muito pra continuar?

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