Almas de Estorninhos(4)

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 2393 palavras
Data: 03/10/2022 08:59:31

O clima entre o Ethan e o Wade estava muito tenso, não é mesmo? Porém, a partir de agora isso começa a mudar já que os dois estão cada vez mais próximos. É uma história um pouco pesada mesmo. E sabe, eu tive minhas inspirações. E pra essa eu contei com a 2ª temporada de The Walking Dead. (Não que precise saber disso rsrs). Agradeço pelo carinho. Mesmo sendo um hobby, dediquei um tempo para escrever e entregar o meu melhor. É bom ver que isso é notado.

Capítulo 4: Frank

Wade não moveu seus lábios nos meus, então, não me atrevi a aventurar minha língua na boca dele. Foi um beijo curto, porém o suficiente para me deixar de pernas bambas e ferver o meu sangue.

— Eu... — gaguejei com o rosto corado. — Eu deveria ter apenas ter contado mas...

— Preferiu me mostrar — Ele parecia confuso ou caído na real.

— Está bravo? — perguntei, com um certo abatimento.

— Não, só preciso digerir isso — Wade falou, sério e pensativo, enquanto mantinha um olhar vago e longe dos meus.

— Eu sei que pra você isso não deve fazer muito sentido, mas sim... Esse tempo todo eu sempre gostei de você, Wade.

Ele virou o rosto tenso para mim. Era como se uma interrogação estivesse em sua cara.

Respirei fundo e prossegui:

— Sentir o que estou sentindo e não poder dividir isso com você — suspirei —, machuca muito. Não sabe como foi difícil me segurar. Você sempre tão gentil, sempre querendo se aproximar de mim. Isso só me irritava porque eu só me interessava mais por você. E eu não aguentaria ficar tão perto e não poder fazer nada, ou talvez eu faria… Eu não sei. Fiquei com medo.

Wade permanecia calado e com o olhar fixo em mim.

— Tentei ficar longe, mas você não desistia — Engoli em seco antes de choramingar: — E então eu... Eu meti uma faca em você. Oh, Deus! Eu sou um monstro.

— Você não é um monstro. Não diga isso, por favor — falou, enfim. Pôs sua mão atrás do meu pescoço.

— Quando o meu pai foi preso — continuei — , depois de tudo que passamos com ele... Eu sabia que minha mãe se sentia sozinha. Eu não podia arriscar e fazer ela perder você por minha causa. Eu tinha medo da sua reação. Não só medo, mas eu estava com raiva e ciúmes — Fitei minhas mãos. — Não sei lidar com isso. Ver você e a minha mãe juntos e não ser eu no lugar dela é... Estou assustando você?

Wade parecia confuso, assustado, preocupado.

— Merda! Wade, olha o que estou dizendo — zombei de mim mesmo, rindo nervoso. — Eu sou patético, não sou?

— Não. Isso não é verdade — Ele acariciou a minha cabeça e acrescentou: — Confesso já ter pensado nisso, sobre você gostar de mim. Porém acabei me convencendo de que você só não ia mesmo com a minha cara e... Sinto muito por você ter passado por tudo isso. Eu espero conseguir te ajudar, mas não sei como.

— Você sabe, Wade. Eu sei que sabe. Mas não vou te pedir isso.

Suspirei fundo e depois de um momento acrescentei:

— Me desculpa. Acredite, isto está sendo mais constrangedor pra mim do que pra você.

— Não, não. Está tudo bem. Fico feliz por você ter me contado tudo. Ethan, a verdade é que agora eu nem sei o que dizer — Ele coçou a barba.

— Não precisa dizer. Agora sabe o que sinto por você. Mas depois de tudo, prefiro engolir e afastar de vez meus sentimentos, ao invés de te fazer mal outra vez.

Como me doeu dizer isso. Iria abandonar definitivamente a minha paixão.

— Acho que não estou bem para continuar com isso, pra continuar falando disso agora — Falei. — Eu vou para o meu quarto.

Wade segurou o meu braço quando me levantei da mesa.

— Espera, vamos conversar melhor.

— Eu sei que não quer falar disso, Wade. Tá tudo bem. É sério, eu não quero mais falar disso.

Wade engoliu em seco, me soltou em seguida.

— Está bem. Mas tudo bem se quiser conversar em outro momento. Agora o que acha de assistirmos TV?

Pensei por um minuto, então, assenti.

E, num instante, Wade me tirou do chão e me levou para a sala. Eu fiquei todo vermelho nos braços dele.

— Pronto — Wade me pôs no sofá. — O que quer assistir?

— Qualquer coisa.

Enquanto Wade escolhia um programa na TV, liguei para a minha mãe.

— Oi, querido!

— Como foi no trabalho? — perguntei.

Mamãe me contou como foi todo o seu cansativo dia, então perguntou como estavam as coisas entre mim e o Wade.

— Ah... Eu e o Wade?

Ele virou o rosto para mim. Estava sério, porém sorriu quando eu disse:

— Estamos bem. A gente já está se entendendo.

— O quê? Sério, filho?

— Você tinha razão, o Wade é... Ele é um cara legal — Fitei ele nos olhos, sorrindo.

— Ethan, está mesmo falando sério?

— Ele está aqui do meu lado. Quer que ele confirme?

Estendi o celular para o Wade.

— Oi, Isabelle. O Ethan e eu estamos bem!

— Viu só?

— Que bom, querido. Não imagina como estou feliz.

Conversei mais um pouco com a minha mãe e quando me despedi, Wade me disse sério e de cabeça baixa:

— O seu pé está doendo muito?

Ele segurou o meu pé.

— Um pouquinho. Mas está bem melhor agora, estava mais inchado.

Wade engoliu em seco e disse:

— Vou te levar ao médico.

— Wade, não precisa. Ele nem está tão torcido assim.

— O médico precisa vê-lo. E se estiver quebrado? — Ele apalpou o machucado.

— Não está quebrado, Wade — dei uma risadinha.

Ele ainda insistiu para me levar ao hospital, porém consegui convencê-lo a esperar.

— Se amanhã o meu pé estiver ruim vamos ao médico, ok?

Wade refletiu por um momento.

— Está bem. Mas você precisa ficar em repouso e não ficar andando por aí.

Ergui as sobrancelhas.

— Hoje você até mergulhou no lago — Wade acrescentou.

— Sério? Você é quem deveria estar em repouso e está me dizendo isso? — falei rindo, indignado.

— Eu só andei um pouquinho — ele tentou se justificar. — Só fui até a cerca dos cavalos e ao lago. Aliás, você me deu um susto daqueles hoje.

— Sério?

— Eu te vi indo para o lago e fui também. Você mergulhou, então me sentei debaixo de uma árvore. Fiquei lá por um tempo e de repente vi que tudo estava quieto demais. Fui até a margem do lago e não te vi mais. Eu teria visto se você já tivesse saído — acrescentou ele. — Te chamei várias vezes e quando eu estava a ponto de mergulhar no lago, você apareceu.

Fiquei sem jeito, senti o sangue ferver atrás do meu pescoço e subir até minhas bochechas. Ele realmente se preocupou comigo, realmente se importava comigo.

Eu ri.

— O que foi?

— É... Obrigado, Wade. Obrigado por se preocupar comigo.

Ele assentiu, sorrindo timidamente. Me deixou emocionado em seguida:

— Quero cuidar de você, Ethan. De verdade.

Ficou sério novamente e acrescentou:

— E depois do que fiz, como posso me redimir com você?

— Já fez isso quando me perdoou. Você me perdoou, não foi? — questionei, ansioso.

— Achei que isso já estivesse claro — Sorriu.

— Está sim. Eu só não esperava que você fosse se comportar dessa maneira. Sei lá... Até parece que sou eu a vítima da história.

— Quem errou ou não... Vamos deixar isso quieto, ok?

Assenti.

Eu bocejei assim que o documentário na TV acabou.

— Eu já vou pra cama — falei.

Fiz uma careta de dor ao me levantar com a mão sobre minha barriga.

— Vou te levar.

Ele desligou a TV, em seguida me levantou.

— Não, Wade, o seu ombro.

— Ah, lembrei… você pode trocar o meu curativo? — disse, rapidamente, sem relevar o meu comentário.

— Wade, é sério, eu posso ir andando.

Ele só deu uma risadinha e seguiu até o seu quarto comigo nos braços. Me deixou em sua cama.

— Você tem ataduras aqui ou quer que eu pegue na minha maleta? — perguntei.

— Não, eu tenho.

Wade esticou o braço e pegou uma maleta em cima do guarda-roupa, depois tirou sua camisa e sentou-se ao meu lado.

Com líquido anti séptico e algodão, limpei a ferida, em seguida colei uma gaze nela.

— Prontinho — Acariciei o peito dele e simplesmente deixei um pequeno beijo no ombro dele.

— Obrigado.

— Está doendo muito agora? — perguntei.

— Dói mais quando mexo o ombro de um jeito.

— Tipo me carregar? Wade, você precisa tomar mais cuidado.

— Não se preocupe, eu estou bem.

Então, ele olhou duas vezes para a minha barriga e para o meu rosto.

— O que foi? — indaguei.

— Deixa eu ver.

— O quê?

Ele não respondeu. Então tentou levantar a minha camisa, porém eu o impedi.

— Deixa eu ver — insistiu.

— Não precisa. Está tudo bem. Eu já vou indo — Me levantei da cama.

Wade me encarou por uns dez segundos.

— Está bem — falou.

Em seguida, me acompanhou até a porta do seu quarto.

— Boa noite — me despedi dele. Segui pelo corredor, contudo parei no meio dele, pois Wade me chamou.

— Durma bem — Ele sorria.

— Você também — respondi.

Vi algo nele. Era como se ele quisesse me dizer algo, porém não disse. Eu podia ficar ali a noite toda olhando para o Wade, mesmo de pernas bambas e sabendo que ele nunca seria meu.

E então, entrei no quarto. Suspirei e disse baixinho:

— Sinto muito por cobiçar tanto o seu homem, mamãe. Mas hoje vou dormir pensando nele. Vou dormir nos braços dele. — Sorri, contente.

Encontrei o Wade na cozinha. Ele parecia bem melhor, lavava a louça suja. Usava apenas calças moletom.

— Bom dia — Ele se virou e me cumprimentou primeiro.

Andei até a mesa.

— Como está o seu pé? — Wade perguntou. Fechou a torneira e se virou para mim.

— Ainda dói um pouco quando piso no chão, mas já está bem melhor — respondi.

Não só o meu pé estava melhor mas também a minha garganta e voz.

— Precisa de muletas?

— O quê? Não — Eu ri. — Estou bem.

Wade pareceu não estar satisfeito com a minha resposta, enquanto secava suas mãos em um pano. Ele veio até a mesa e puxou uma cadeira para mim.

— Ethan, tem certeza de que não quer ir ao hospital? — insistiu.

— Eu estou bem — garanti. — Wade, você deveria estar na cama.

— Achei que a gente já tinha discutido sobre isso.

— Sim, mas não pode fazer esforço. É sério.

— Eu não estou fazendo muito esforço — Ele sentou ao meu lado antes de acrescentar: — Agora vamos comer.

Wade fez deliciosas panquecas. Uma vez ou outra ele me olhava parecendo querer dizer algo, como ontem no corredor. Enfim, falou:

— Ethan, eu estive pensando — Ele pigarreou antes de se aventurar: — Você nunca teve um namorado?

Fiquei vermelho e fiz que não com a cabeça. Limpei a garganta e falei:

— Mas tem uma pessoa, o nome dele é Dylan. É de um aplicativo de relacionamento e... Eu nunca conversei com ele mas... Eu não sei.

— Como assim não sabe? — Wade tomou um gole de café.

— Eu já conheci outro cara na internet e não acabou bem. Bom, é claro que não é a mesma coisa que sinto por você mas... Estou com medo de tentar e me decepcionar outra vez.

Wade ficou vermelho com o meu comentário sobre ele. Limpou a garganta e perguntou:

— E o que aconteceu foi tão ruim assim?

Balancei a cabeça.

— Muito ruim — acrescentei. — Faz quase um ano. O nome dele era Frank, era fortinho e tinha vinte e cinco anos.

Suspirei antes de prosseguir:

— Nos encontramos num bar, em uma noite de sábado. No início estava tudo indo bem. O Frank era legal, mas na metade do encontro ele disse: "Vamos embora, quero te comer agora". No início eu me assustei porque a gente só tinha marcado para se conhecer. Eu tinha deixado isso claro pra ele, queria apenas conhecê-lo e... Alguns beijos. Algo a mais seria apenas em outro encontro, sabe?

— E o que você fez?

— Perguntei se ele estava falando sério e ele me devolveu a pergunta. Eu fiquei sem entender, pois a gente já tinha conversado. Mas ele se irritou com a minha reação — Tomei um gole de leite e completei: — O deixei sozinho no bar mas ele me pegou lá fora, me arrastou para o carro dele.

Senti um calafrio ao me lembrar daquele momento. Wade percebeu e expressou um gesto de afeto, ao pôr sua mão em cima das minhas sobre a mesa.

Continuei:

— Não estou dizendo que sou inocente e isso deve parecer bobagem. Mas eu não quero que a minha primeira vez seja como daquele jeito e com qualquer um.

— Querer isso não é bobagem — disse Wade.

Eu sorri com os olhos marejados.

— Eu fiquei com tanto medo quando o Frank fez aquilo. Mas eu gritei e alguns motoqueiros que estavam no bar vieram me ajudar. Eles deram uma surra nele, aí consegui fugir.

Parei.

— E depois?

— Contei tudo pra minha mãe. Ela me deu uma bela bronca — Fiz uma careta. — E ela nem sabe que estou outra vez num site de relacionamento, mas de qualquer forma isso nem importa muito porque... Com certeza eu não vou conversar com o Dylan.

— Não, ao menos conversa com ele. Só precisa tomar mais cuidado. Foi ruim o que aconteceu, mas não pode deixar isso te abater. Tem outros caras legais por aí.

— Mas eu gostava do Frank, confiei nele. Aí tudo terminou daquele jeito. E também, dois dias depois ele me mandou várias mensagens. Me fez várias ameaças e dizia que queria me ver. Desde então tenho um pouco de receio — Dei um pequeno sorriso. — O Frank parou com as mensagens, mas isso me deixou mal. Eu quase não saía de casa, tinha medo de me encontrar com ele na rua. Acho que ainda tenho.

Wade me olhou com ternura e disse:

— Sinto muito por tudo o que aconteceu. Mas dê uma chance a esse Dylan, dê uma chance a você mesmo. As coisas vão ficar bem, não deixe o passado te dizer o contrário.

Nesse momento percebi algo. Wade, com aquela pose de terapeuta, estava tentando deixar claro que nunca poderia haver algo a mais entre a gente. Gentil da parte dele, porém, eu não queria conversar sobre aquilo.

— Vou descansar um pouco. E você deve fazer o mesmo — falei ao me levantar da cadeira.

Deixei o Wade na cozinha e me tranquei no quarto. Como doía saber que ele nunca me desejaria, que nunca me possuiria. Bom, ainda era o que eu pensava.

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Comentários

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Feliz, a coisa ficou mais leve e embora não tenhas parado de forma tensa continuo ansioso pelo que vem por aí. Comportamento perfeito do Wade, parabéns e obrigado pelo conto.

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