O outro capítulo 43 Fernanda

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 18201 palavras
Data: 23/11/2022 19:54:25
Última revisão: 23/11/2022 21:55:11
Assuntos: Amigos, Beijo, ciúme, Gay, Viagem

Capítulo 43

Atenção: o capítulo de hoje contém cenas fortes de abuso sexual, podendo ser gatilho para alguém.

Júlio permaneceu em silêncio com o celular no ouvido. O ódio triturava o seu coração. Respirava fundo, quase ofegante.

_ Júlio? Júlio?_ Fernanda chamava, tendo como resposta o silêncio.

Diante de tanta raiva, ele arremessou o iPhone 14 na parede. Treze mil reais despedaçados com o impacto. No entanto, Júlio sentia tanto ódio que não se importou com isso.

Sentou no sofá atordoado. Apoiava a cabeça nas mãos trêmulas e sentindo os olhos umidecerem.

Na mente, veio a imagem de Abner e Leandro nus, aos beijos e amassos. Abner por trás, sussurrando algo no ouvido de Leandro que o fez gargalhar. Estavam debochando dele, o chamando de corno.

As lágrimas desabaram como chuva na tempestade. Chorava de soluçar. Gritava desesperado. A raiva o corría.

Chorou até cansar e amaldiçoou o dia em que conheceu Abner. Maldito prostituto! O miserável levou o Leandro para sempre.

Pegou um copo de uísque para se acalmar. A casa estava cheia de convidados e por sorte ninguém o ouviu. A música estava alta no andar de cima. Os convidados estavam reunidos na piscina, para o almoço de natal.

Precisava se recompor. Caso contrário despertaria a curiosidade de Luciano. E como ele explicaria o porquê dos seus ataques? Luciano não poderia saber que ainda gostava de Leandro, que o fato de ele estar com o outro o enfurecía de ciúmes.

_ Você precisa manter a calma, Júlio. Falta pouco! Falta pouco._ Júlio disse a si mesmo diante do espelho, enxugando as lágrimas dos olhos avermelhados.

Contratara Fernanda há um tempo. Era uma das secretárias ambiciosas que fazia de tudo para subir na vida.

Numa tarde, após o almoço, Júlio foi até a sala do RH com Rubens para conversarem com Sandra, que além de funcionária, era amiga. Em meio as conversas, ela mostrou os currículos das candidatas a secretárias, até que Rubens reconheceu a foto de Fernanda.

_ Eu conheço essa daí. É uma biscate que faz tudo para se dar bem. Sem um pingo de caráter. Ela trabalhava para um empresário, além de secretária, ela era amante e fazia uns servicinhos sujos para ele.

_ Qual empresário?_ quis saber Júlio.

_ O Esteves, veado!

_ Aquele que foi assassinado ano passado?_perguntou Sandra.

_ Esse mesmo. Aí depois do assassinato, a mulher do Esteves descobriu sobre o caso dele com a Fernanda e a pós no olho da rua.

Sandra olhou para o currículo, ajeitando os óculos redondos e grandes.

_ Acho que vou descarta-la. Não preenche tanto os requisitos.

Sandra se inclinou para por o currículo no triturador de papéis, até que Júlio a deteu com um grito.

_ Espere! Quero que a contrate. Ela pode me ser útil.

_ Quer mudar de time, Júlio? Se for, eu me candidato._ Sandra brincou e Júlio sorriu para ela, piscando um dos olhos.

Fernanda começou a trabalhar na semana seguinte. Para mostrar serviços, sempre se mostrava solicita e competente. E Júlio a tratava com a maior das gentilezas, até mais do que os outros funcionários do escritório.

Isso fez despertar o interesse em Fernanda. Ela achou Júlio bonito, um homem de trinta e oito anos, com um corpo saudável e bem cuidado, com as práticas de exercícios físicos em dia e a pelada das quartas-feiras sagrada, o que o fez desenvolver um porte físico. Sempre bem vestido, cabelos bem cortados e alinhados, ternos de grifes, pele limpa e bem perfumado.

Tudo isso acompanhado com um sorriso gentil que era sempre direcionado a ela.

A moça começou a ter fantasias eróticas com patrão. Imaginava-se sendo comida com força no escritório, em cima da mesa. Ela sabia que Júlio gostava de se relacionar com homens, mas ele não aparentava ter o estereótipo do homem gay. Falava, andava e se comportava como um hétero, o que fazia aumentar ainda mais o seu interesse.

"Vai que ele seja bi?" Era o que Fernanda desejava.

Além da atração física, pensava na vida financeira. Soube da beleza e do luxo da cobertura de Júlio pela descrição dos colegas de trabalho, uns até mostraram fotografias que a deixaram fascinada. Soube que ele também possuía um belo sítio, uma mansão em Angra e uma bela casa em Orlando, próxima dos parques da Disney, onde costumava passar as férias com a família.

Ela não se incomodava com o fato de Luciano ser o namorado do seu objeto de desejo. Namoros acabam e outros se iniciam, era o que pensava.

Júlio também alimentava as suas fantasias. Diariamente, a moça encontrava uma rosa vermelha em sua mesa, com bilhetes carinhosos. Sempre a convidava para almoçar. Cedia a Fernanda a honra de escolher o restaurante, onde conversavam por muito tempo,e Júlio se mostrava muito carinhoso e atencioso, o que a moça não estava acostumada a receber com outros homens.

A cada dia que passava, Fernanda estava ainda mais caidinha por ele, suspirando lendo os seus bilhetes, sentindo molhar entre as pernas toda vez, que "sem querer", ele a tocava, acariciando o rosto, braços e pernas. Aos poucos, a mulher estava seduzida por ele, e Júlio se satisfazia com isso.

Júlio percebeu que tudo estava no ponto que desejava. Fernanda poderia ser a aliada perfeita, a interesseira e fiel espiã.

Só precisava dar o bote.

Era numa noite de sexta-feira quando Júlio a convidou para jantar. Fez o convite a olhando como se a despisse com os olhos e mordendo o lábio inferior, o que fez Fernanda vibrar de tesão.

Aproveitou que Vanessa estava na casa do outro pai e pediu para que Luciano fizesse companhia para a sua tia, não queria correr o risco de Luciano chegar da surpresa na sua cobertura.

_ Amor, você poderia me fazer o favor de passar a noite com a minha tia hoje a noite? Ela não anda bem, sabe. Vive reclamando de dores de cabeça e eu estou preocupado. Sabe como é, ela é idosa. Eu até ficaria, mas tenho que me encontrar com alguns clientes.

_ Tudo bem, meu amor. Eu fico sim. Eu adoro a sua tia. Ela é tão gentil comigo.

_ Ah, meu príncipe! Você não existe! Eu te amo demais!

Júlio afastou a cadeira da mesa do escritório, puxou Luciano pelo braço para que sentasse no seu colo, o beijou com desejo, acariciando a sua bunda. Levou a mão de Luciano até o seu pau, que já estava duro.

Luciano sorriu surpreso.

_ Mas já tá assim?!

_ É você quem me deixa louco.

Júlio voltou a beijá-lo, mas foi interrompido por Rúbens que entrou sem bater.

_ Ai que delícia! Vocês dois são tão gostosos!

Luciano corou de vergonha, saindo do colo de Júlio e se recompondo. Júlio permaneceu sorrindo.

_ Eu lamento de verdade interromper essa cena deliciosa, mas eu preciso sequestrar o meu chefinho para irmos á casa do deputado federal Luiz Barros. Parece que ele tá encrencado com as investigações de diversos esquemas de corrupção e necessita dos nossos serviços.

_ Precisamos ir, amor. A reunião de hoje a noite vai terminar muito tarde. Mas amanhã de manhã passo na casa da minha tia para te buscar. Aí te levo lá pra casa e passamos o fim de semana juntinhos.

Júlio levantou e o beijou. Em seguida, pediu com gentileza para que Luciano se retirasse e retornou a sentar, e Rúbens sentou em frente a ele.

_ Não sei como você consegue dormir com essa bicha diante de toda essa chantagem que ela e a mãe estão fazendo.

_ Luciano é uma delícia. Tem um cuzinho bem quentinho e apertado, rebola como uma puta e a boca é de veludo. Aquele corpinho é uma festa para o meu pau.

_ Ah como você é tarado!

Júlio sorriu orgulhoso.

_ E você bem que gosta. Já quicou muito aqui no papai. Se bem que tô com saudades dessa sua bundinha gulosa.

_ Meu deus do céu, o homem tá sem controle.

_ Tô falando sério, uh é! Temos que marcar um flashback.

_ Eu vou pensar no seu caso. Agora vamos logo, que não quero me atrasar.

Os dois advogados se levantaram para sair. Júlio se aproximou de Rubens e deu uma boa apertada na sua bunda, indo de baixo para cima. Rubens estremeceu, ficando arrepiado e sorriu mole, dando um tapinha no ombro do patrão.

....

Tudo estava no esquema, Luciano e Vanessa fora do jogo. Agora era só fazer o convite a Fernanda, que foi aceito de imediato.

Júlio a recebeu em sua casa. Mandou preparar um jantar para dois.

Fernanda pôs o seu melhor vestido vermelho justo no belo corpo escultural, por baixo uma lingerie de renda da mesma cor. Caprichou na maquiagem e soltou os belos cachos.

Júlio se vestia formal, usando um terno Armani preto.

_ Seja bem-vinda!_ disse com um sorriso largo e atraente. Erguendo a mão para que Fernanda pudesse entrar.

Ela entrou agradecida. Não pode deixar de reparar no luxo do cobertura, sonhando em dia viver lá.

Ela foi conduzida até a sala de jantar, onde Júlio puxou a cadeira para que ela pudesse se sentar.

_ Obrigada, doutor Júlio._ Fernanda agradeceu dando o seu melhor sorriso.

Júlio solicitou que um garçom os servissem.

_ Querida, eu vou direto ao ponto. Eu costumo ser muito cauteloso na contratação dos meus funcionários. Peço para que o RH faça uma investigação minuciosa das vidas deles antes de contrata-los. Eu soube do seu antigo emprego e das funções extras que exercia para o seu antigo chefe. Confesso que fiquei muito interessado na sua fidelidade a ele. Eu sei apreciar isso muito bem.

"Fernanda, não resta dúvidas de que você é uma bela mulher. É extremamente sedutora. No entanto, o meu garoto não levanta para mulheres."

Constrangida, Fernanda bebeu um gole do vinho, se arrependeu de ter escolhido aquele vestido.

_ Por favor não me leve a mal. Você é linda. Qualquer outro homem que aprecie mulheres não resistiria ao seu charme. Mas, a minha natureza é outra. No entanto, conheço um homem tão bonito quanto você que adoraria se deliciar entre as suas belas pernas.

Júlio retirou o celular do bolso e mostrou a ela foto de Abner.

_ Meu deus! Ele é lindo!

_ Sim. Realmente o cretino é muito bonito e muito bom de cama também. Tem uma versatilidade incrível, como um camaleão ele se adapta muito bem para agradar qualquer tipo de pessoas na cama. Foi um dos melhores garotos de programa que já contratei. E também conheci algumas ex clientes mulheres que só tiveram elogios sobre a performance dele.

_ Eu não estou entendendo aonde o senhor quer chegar.

_ Esse desgraçado se chama Abner. Ele seduziu a mim e ao meu marido. Por culpa dele o meu casamento está em crise. O meu marido saiu de casa, abandonou a mim e a nossa filha. Mas eu não sou do tipo que desiste. Eu amo o meu marido e ele vai voltar pra mim.

_ Mas o senhor não está noivo do Luciano?

_ Esse é um outro assunto que não cabe a essa conversa. Eu estou disposto a tudo para ter o meu marido de volta. Acredita na existência do diabo, Fernanda?

_ Sim.

_ Eu não infelizmente. Mas gostaria que ele fosse real, assim eu faria um pacto só para ter o Leandro de volta.

_ Cruzes!_ Fernanda exclamou, fazendo o sinal da cruz no rosto.

_ Seria mais fácil, Fernanda. Eu venderia a minha alma e uma criatura sobrenatural resolveria tudo pra mim. No entanto, tenho algo que possui uma eficácia real. Algo que abre qualquer porta e que pode beneficiar muito a ti. Chama-se dinheiro. E estou disposto a ser muito generoso se você me ajudar a reconquistar o meu marido.

_ O que quer que eu faça?

_ Boa. Gostei de você. Certeira, objetiva! Quero que se aproxime do Abner, ganhe a confiança dele e facilite as coisas para mim.

Júlio a instruiu de um jeito minucioso, expressando cada detalhe que queria que ela fizesse. Fernanda ouviu atenta. E aceitou a proposta de bom grado, quando ouviu o valor do seu pagamento. Saiu da casa de Júlio até mais satisfeita do que entrou, mesmo as coisas não saindo do jeito que ela planejou.

Soube por Júlio qual academia Lurdes frequentava para fazer Pilates. Aproximou-se da mulher fazendo amizade e conquistando o seu carinho, se tornando o exemplo de mulher ideal que ela desejava para o seu filho.

Foi assim que conseguiu ser indicada por Lurdes para trabalhar na confeitaria e manter Júlio informado de tudo o que acontecia.

Fernanda também conquistou a amizade de Abner com o seu jeito cativante.

Na noite em que Leandro viajou com André, Abner estava sem chão. O seu sofrimento era nítido.

Nessa mesma noite, ele foi convidado por Patrícia para sair junto com os funcionários da confeitaria.

Abner perdeu o controle da consumo da bebida, ficando sem condições de voltar para a casa sozinho.

Fernanda se ofereceu para levá-lo até o apartamento dele. Ajudava-o a caminhar nos seus braços.

Assim que entraram, ela conduziu a sentar no sofá.

_ Eu vou preparar um café amargo para te ajudar. Amanhã você vai amanhecer com uma puta ressaca.

_ Eu não sei o que o Leandro viu naquele ridículo! _ Abner reclamou com a voz enrolada e os olhos vermelhos._ Eu sou muito mais homem do que ele! Leandro adora dar pra mim, eu faço ele ter orgasmos múltiplos.

_ Disso eu não duvido._ Fernanda disse com um sorriso malicioso, sentando ao lado de Abner.

_ Eu o amo! Amo pra caralho! Até mais que amei a Lorena! E olha que amei muito aquela vagabunda! E ele tá lá com aquele tal de André!

_ Você está muito estressado. Está precisando relaxar um pouquinho.

Fernanda se aproximou, surpreendendo Abner com um beijo molhado. Subiu sobre ele, se esfregando em seu pau enquanto o beijava.

Há tempos Abner não transava. O seu corpo reagiu com chamas, ao sentir o toque de Fernanda. O seu pau endureceu no mesmo instante.

Ela abriu a blusa, mostrando os lindos e rígidos seios morenos, pôs a mão de Abner sobre eles e voltou a beijá-lo.

Abner esfregava a mão com gosto, estava explodindo de tesão. Segurou firme nas coxas da mulher, as acariciando. E levou a boca até os seios dela, que penetrava os dedos nos seus cabelos e gemia, erguendo a cabeça.

Abner levantou do sofá, mudando Fernanda de posição. Afastou-se dela chorando.

_ Não adianta! Ele não merece isso, mas eu o amo.

_ Mas você quer. Eu sei que quer._ Fernanda disse pondo a mão no pênis dele._ O seu corpo diz que quer. E além do mais, Leandro a essa hora está com o tal do André. Você não está traindo ninguém, Abner. Somos solteiros.

Fernanda levantou e o abraçou pelo ombro, o beijando novamente.

Era certo o que ela dizia. Leandro o rejeitava mesmo ele se desculpando muitas vezes e demonstrando todo o seu amor e arrependimento. Mesmo assim, preferiu um idiota qualquer ao estar com ele.

Abner desejava Fernanda. Sempre a desejou. Ela é bonita, tem belas pernas, bumbum de boa forma, seios atraentes. Imaginava também que teria uma vagina gostosa.

Além de tudo isso, beijava bem. No entanto, mesmo que não fizesse sentido algum, não queria dormir com outra pessoa que não fosse Leandro. Apesar de tudo, ainda tinha esperanças.

Afastou-se. Era difícil para ele resistir a tentação em forma de uma bela mulher.

_ Eu sinto muito, Fernanda._ Abner disse com os olhos cheios de lágrimas._ Você é perfeita. Mas eu não posso. O meu coração é dele. Mesmo com tudo que está acontecendo. Não é justo conosco se eu fizer isso.

_ Tudo bem._ Fernanda disse abotoando a blusa.

_ Não me leve a mal...o problema sou eu e não você. Eu sou um canalha, mas não quero ser canalha contigo. Eu te desejo sim e muito, mas eu amo aquele homem!

_ Tá bom. Eu entendo.

_ Obrigado por me trazer até aqui.

_ Não há do que agradecer. Eu vou indo. Qualquer coisa que precisar, pode me ligar.

_ Obrigado... obrigado mesmo.

Fernanda saiu desapontada. Ela queria muito transar com Abner, há tempos sentia tesão por ele. Mas ela era orgulhosa demais para se humilhar por causa de um homem atraente. Ela poderia ter qualquer outro, não valia a pena.

Abner foi para o quarto cambaleando. Ao entrar retirou as roupas e deitou nu sobre a cama, onde aliviou o tesão, se masturbando.

Dormiu com a mão no pau, após gozar.

Esse episódio foi reportado a Júlio, que ficou furioso com o fato de Abner não ter cedido e de Leandro ter viajado com André.

Naquela tarde de natal, quando soube por Fernanda que Abner e Leandro estavam juntos novamente, teve um ataque de fúria, quebrando todo o escritório.

Luciano bateu na porta, preocupado.

_ Vá embora! Saia daqui!

_ Eu só estou preocupado, amor!

_ Já falei para sair daqui!

Luciano se afastou tristonho. Mas teve que retornar para a sala onde estavam o restante dos familiares e amigos.

Estava nervoso e não sabia o que dizer as pessoas, que ouviam todo o ataque do fúria vindo do escritório.

Dona Dirce percebeu o incomodo do novo genro e o segurou pela mão para o acalmar.

Em alguns minutos, os visitantes foram embora. Perceberam que a situação não estava boa e preferiram se retirar voluntariamente.

_ Eu não entendo, dona Dirce. Eu não sei o que está acontecendo. Estou muito preocupado com o Júlio. Eu faço tudo para ser o melhor namorado possível. Sei que, como a Vanessa vive dizendo, eu não sou culto e bem educado como o Leandro, mas eu me esforço.

_ Na certa é algum problema profissional. Júlio nunca consegue lidar bem se perde dinheiro ou quando as coisas não saem do jeito que ele quer. E além do mais, você não precisa dar ouvidos a Vanessa. Ela é só uma criança mimada que não aceita a separação dos pais. Você não precisa se comparar ao Leandro. Você tem o seu próprio valor. É um rapaz bonito, é educado sim, é meigo e gentil.

_ A senhora está sendo generosa. Mas sei reconhecer que não sou como ele e que Júlio ainda o ama._ Nessa hora, não conseguiu controlar as lágrimas._ Eu conheci o Leandro. Até a minha mãe o elogiou! De fato ele é muito bonito, é muito inteligente, fala muitas línguas, sabe se comportar. Não é só a Vanessa que diz isso...todo mundo, os amigos do Júlio, os advogados da firma...eu sei.

Dona Dirce o abraçou.

_ Não dê ouvidos a essa gente, querido. Não é você quem Júlio escolheu para se casar?

_ Mas eu não sei ser o marido de um homem como ele! Eu percebo que Júlio fica constrangido quando estamos em público! Ele não me diz, mas dá pra perceber!

_ Isso é coisa da sua cabeça! Pare de dar ouvidos a Vanessa. Quer saber? Eu mesma vou dar uma boa bronca daquela menina quando ela voltar de viagem. O casamento do Júlio e Leandro acabou. Eu conheço o Leandro, ele é um bom rapaz e com certeza não faria nada para te prejudicar. Ele só quer viver a vida dele. E eu garanto que ele não aprova essas atitudes da Vanessa. E além do mais, foi a você que o Júlio escolheu.

_ Mas é o Leandro que ele ama.

Luciano caiu em lágrimas quando admitiu o que já percebia.

_ Eu sei disso, dona Dirce. Mas eu amo muito ele. Amo demais! É um amor que chega doer! Eu luto muito para conquistar aquele homem! Fiz coisas por ele que prejudicaram o meu relacionamento com a minha mãe. Eu não queria amar o Júlio dessa forma! Mas eu amo! Eu tenho esperanças que ele vai me amar como ama o Leandro. Mas dói demais!

Dona Dirce só o abraçou apoiando a cabeça dele no seu ombro. Ela poderia negar, mas sabia que Luciano dizia a verdadeNa madrugada, Luciano despertou sentindo um peso sobre o corpo. Deitado de bruços, assustado, tentou se mover, mas não conseguiu. Júlio bloqueia os seus braços fazendo mais peso sobre ele. A pressão aumenta dentro do Luciano, Júlio mete com mais força, provocando dor no parceiro, como se um cabo de vassoura fosse introduzido em seu ânus.

_ Júlio! O que está acontecendo?_ Luciano pergunta assustado.

_ Você é uma delícia!_ Júlio diz gemendo, metendo ainda mais forte, provocando dor em Luciano que franze o rosto. O jovem percebe que não foi lubricado e que o noivo está um pouco alcoolizado.

_ Júlio, para!_ ordenou, mas Júlio ignorou, metendo e urrando como um animal.

Quanto mais ele percebia dor no parceiro, mais prazer sentia.

Júlio o segurava pelos ombros, se mantendo entre as pernas de Luciano e usando todas as suas forças para manter o corpo do rapaz preso a cama. Ele sabia que poderia ter acordado Luciano e conseguido o consentimento através de caricias, mas quis matar a curiosidade que tinha há tempos de saber como é tomar posse de um corpo masculino pela força. Gostou da sensação de poder e dominação.

Recordou de Leandro, e desejou que fosse ele quem estivesse no lugar de Luciano, sentindo aquelas dores e sendo totalmente dominado. Lembrou do dia da cozinha em que pegou o marido daquela forma e seu prazer aumentou o dobro.

_ Por favor, Júlio, pare!

Luciano pedia chorando, sentia um misto de dor e vergonha de si mesmo. Como se o seu corpo não tivesse valor algum para o homem que amava e isso o feria muito tanto fisicamente quanto emocionalmente.

Júlio o beijou no rosto e pescoço.

_ Eu te amo, Luciano! Você é a melhor coisa que me aconteceu. Aliás, é a única coisa boa que tenho nessa vida. Estou sofrendo muito. E só o seu corpo é um remédio pra mim. Se você quiser, eu paro. Mas eu gostaria muito que você me deixasse continuar. Eu já perdi tudo: perdi o respeito da minha filha, o escritório está me dando muitas dores de cabeça e estou morrendo de saudades da minha mãe que partiu há anos. Por favor, não me deixe sem o que tenho de melhor: você.

Luciano se viu confuso. Não estava nada feliz com aquela situação, mas não queria magoar Júlio. Estava só. O seu noivo era tudo que tinha e o amava demais. Mesmo humilhado, decidiu parar de lutar, ficou imóvel, deixando as lágrimas caírem, suportando em silêncio todas aquelas dores.

Júlio sorriu. Mais uma vez, Luciano cedeu para as suas mentiras. Gostou de vê-lo naquele estado de humilhação e meteu com tanta força que gozou muito.

Relaxou sobre o corpo de Luciano, beijando por inteiro aquele corpo que acabou de ferir. Ao retirar o pau, percebeu um pouco de sangramento e ficou feliz por isso.

Deitou na cama de bruços e Luciano se manteve imóvel e em silêncio.

Júlio sorriu prazeroso. Puxou-o para si, o abrigando em seus braços de conchinha, virando a sua cabeça de lado pelo queixo e beijando a boca com carinho.

_ Eu te amo muito, Luciano. Onde você estava? Se eu tivesse te conhecido antes, a minha vida teria sido muito melhor.

_ Por que você não me acordou?

_ Porque você estava tão lindo dormindo! Eu não resisti. Você é irresistível! Me desculpa.

Júlio começou a beijar o pescoço e os cabelos.

Luciano não sabia definir os próprios sentimentos. Sentiu um nó se formando na garganta e uma explosão de confusão no coração. Estava humilhado e machucado sim, mas se perguntava se não era o esse o jeito de Júlio o amar. Afinal, ele estava sendo carinhoso.

Sentiu medo, angústia, culpa e aflição. Júlio adormeceu o abraçando e ele chorou baixinho para não incomodar o parceiro.

Júlio despertou primeiro que o namorado. Antes de se levantar, o beijou na testa e foi para o banheiro tomar banho e se barbear.

Estava decidido a não trabalhar naquele dia.

Pediu para que Valdeia preparasse o café da manhã e o servir na mesa da piscina.

Alguns minutos depois, Rubens chegou e foi convidado a se sentar com ele.

_ Ora ora! A chefia está com uma cara ótima! Garanto que gozou muito no cuzinho do seu namoradinho gostoso.

Júlio o olhou com cara de safado, mastigando um pedaço de torta de avelã.

_ Você não sabe o quanto!

_ Então, aqui estão os papéis da demissão do Luciano._ Rubens colocou a pasta de plástico com os documentos sobre a mesa. Júlio abriu conferindo tudo.

_ Beleza.

_ Por que você quer demitir o seu próprio noivo?

_ Porque ele agora é meu companheiro. Apesar de tudo, eu sou um bom marido. Quero cuidar do Luciano. Ele não precisa mais trabalhar. Vou fazer a minha parte e dar a ele uma boa vida. Só quero que se preocupe em ficar bonito pra mim e bem descansado e disposto para eu meter quando eu quiser. Não quero que use a desculpa do "estou cansado." E além do mais, eu quero exclusividade. Luciano é muito bonito. Eu sei dos olhares que os outros dão a ele e eu não gosto. Aquele corpo é só meu. Eu estou pagando caro por ele, quero uso exclusivo.

_ O Luciano não te trairia. Aquela bicha é apaixonada por você.

_ Eu não sei. Não vou dar mole. Dei mole com o Leandro e deu no que deu. Com o Luciano vai ser diferente.

_ Vai fazer o quê? Prende-lo nesta jaula de ouro?_ Rubens brincou.

_ Sim. Eu já contratei um segurança pra ficar de olho nele e já tenho acesso ao celular e computador dele. Luciano não sabe, mas eu clonei tudo. E a academia, vou manda instalar uma aqui em casa. Assim acabou aqueles abutres olhando para o meu brinquedinho.

_ Júlio, você é tão tóxico!

_ Eu não sou tóxico. Só cuido do que é meu. Não tenho vocação para ser corno. E além do mais, Luciano não é muito inteligente. Não vai fazer falta no escritório. Eu consigo secretários melhores.

_ Tá bom. E você pretende se "aposentar"? Vai ficar só comendo o Luciano?

Júlio olhou para Rubens sorrindo, acariciando o próprio pau.

_ É... já sei a resposta._ Rubens levantou da mesa._ Eu tenho que ir. O chefe aqui é você e tenho muito trabalho pela frente, não posso me dar o luxo de desfrutar de um dia tão lindo como esse, numa cobertura maravilhosa como essa e com um homem tão gostoso como o Luciano. O dever me chama.

_ Boa sorte. Mais tarde, peça para que alguém venha aqui buscar os documentos assinados pelo Luciano.

...

Quando Júlio entrou no quarto, encontrou Luciano tomando o café da manhã sentado na cama, com as pernas em forma de borboleta com a TV ligada.

Júlio se aproximou sorrindo, sentando ao seu lado e beijando o seu pescoço.

_ Eu amo essa sua pele macia!

Júlio desceu a mão até a bunda do rapaz, que recuou.

_ Eu não estou me sentindo muito bem. Tô um pouco dolorido.

Júlio o olhou com carinho e o beijou.

_ A boquinha ta funcionando._ Disse levando a mão de Luciano até o seu pau, mas o rapaz retirou.

_ Júlio, eu não tô clima.

_ Tudo bem, meu amor. Você é maravilhoso! O que você fez por mim eu nunca vou ser merecedor. Você me libertou das ameaças da sua mãe.

_ Eu não quero falar da minha mãe. Dói.

_ Então, vamos falar de coisa boa. Tome.

Júlio o entregou um envelope.

_ O que é isso? Dois presentes.

Ao abrir, Luciano percebeu que havia dois cartões.

_ Este preto tem o limite de 15 mil reais. É todo seu. Você poderá comprar o que quiser. Qualquer coisa. E se o valor não for o suficiente, fale comigo que eu pago a diferença. Este é o valor fixo da sua mesada, mas não exite em pedir mais se quiser.

Luciano o olhou assustado.

_ Mas isso é muito dinheiro!

_ Este aqui é para as despesas da casa. Não quero que gaste um centavo do seu dinheiro com o que se refere as atividades domésticas.

Você agora é o meu marido. É o melhor que tive e quero cuidar de você. Quero que tenha tudo o que quiser. Vou por o mundo aos seus pés. Ah e mais, você é o senhor desta casa. Você pode fazer o que quiser, trocar a mobília, mudar a decoração, fazer obra. As ordens aos empregados sempre serão dadas por você.

_ Como assim?

_ Meu amor, nós vivemos como casados. Só falta o meu divórcio com o Leandro sair, que não vai demorar muito, e nós oficializarmos a nossa união. Mas isso é só um detalhe. O importante é o modo como vivemos. E estamos casados. Eu te amo. Quero ser o melhor marido pra você.

_ Ah, meu amor!

Luciano o abraçou, quase chorando.

_ Você realmente me ama? Esqueceu o Leandro?

_ Leandro está morto...ou melhor, nunca existiu. Você é o grande amor da minha vida.

_ Você não sabe o quão feliz me deixa.

_ Agora só preciso que assine isto.

Júlio o entregou um contrato e uma caneta.

_ O que é isso?

_ Sua demissão.

_ Como assim?!

_ Lu, você não é mais o meu secretário. Você é o meu homem. A nossa relação mudou. Agora é o meu dever cuidar de você. Não quero que trabalhe. Você não precisa.

_ Mas eu não me incomodo.

_ Vida, você agora é o meu marido. Eu preciso de você aqui dentro desta casa. Eu sou péssimo em administrar uma casa. Preciso que cuide de tudo por aqui, não só aqui como no sítio e na casa de Angra. Não dar para deixar tudo nas mãos dos empregados. Você deve fiscalizar. E eu gostaria muito que me ajudasse com a Vanessa, que é só uma adolescente.

_ Mas...

_ Você confia em mim?

_ Claro!

_ Sabe que quero realmente cuidar de você?

Luciano concordou com a cabeça.

_ Então me deixe fazer isso e assine.

Luciano pegou a caneta e assinou depois de ler.

_ Perfeito._ Júlio o beijou tomando posso do documento._ O que quer fazer hoje? Estou totalmente a sua disposição. Quer sair?

_ Não. Eu não estou me sentindo bem. Acho que quero ficar em casa mesmo.

_ Então vamos ficar em casa juntinhos. Tá bom?

...

Alguns dias depois...

O trinta e um de dezembro se aproximava. Mesmo não estando mais convivendo com Leandro, Júlio não quis interromper a tradição de oferecer a sua opulenta festa de réveillon na casa de Angra dos Reis. Porém, naquele ano, não estava feliz. Leandro não estava mais com ele, Vanessa preferiu viajar ao suportar a sua presença. O que o restava era apenas um bando de bajuladores disfarçados de amigos e o Luciano.

Eles se preparavam para viajar. Já haviam dispensado Valdeia e Luciano estava encarregado de fazer as malas. Partiriam no dia seguinte.

_ Amor, eu vou tomar um banho. Enquanto isso, você pode me fazer um favor de pegar as chaves do meu carro que estão em cima da mesa do escritório?_Julio pediu em tom carinhoso, entrando na soleira da porta do banheiro.

_ Claro, meu amor.

Luciano entrou no escritório as pressas, não via a hora de partir logo. Era a sua primeira vez na festa de réveillon como companheiro de Júlio e estava muito tenso. Temia que não fosse tão bom quanto diziam que o seu antecessor era.

Ao se aproximar da mesa, percebeu que por baixo das chaves havia um pequeno álbum de retratos. Curioso, abriu e ficou furioso ao ver o conteúdo. Eram fotos de prints de uma conversa no whatsapp, as quais, supostamente, Abner ameaçava Júlio e o assediava.

Ele entrou no banheiro furioso. Abriu a porta do box, cobrando explicações.

Dissimulado, Júlio pediu para que ele se acalmasse.

_ Como vou ter calma?! Por que você escondeu isso, Júlio?

_ Porque eu não acho justo te preocupar com isso. Eu tenho resolver esse problema. Revelei em forma de fotos para poder dar inicio a um processo judicial por assédio contra o Abner.

_ Eu sou o seu novo marido! Você não pode me esconder esse tipo de coisa! Eu tô com muito ódio desse Abner!

Luciano saiu do banheiro e Júlio sorriu com o sucesso do seu plano. Fechou o chuveiro e se enrolou numa toalha branca, indo até Luciano.

_ Aonde você vai, amor?_ Júlio perguntou ao ver Luciano com a chave do carro na mão.

_ Foi por isso que você deu aquele ataque no natal?

_ Sim. Eu tinha recebido uma mensagem dele e perdi a cabeça. Mas não quero que se preocupe com isso. Deixa que eu resolvo.

_ Eu vou acabar com esse cara!

Luciano saiu de porta a fora. Júlio o seguiu até a sala chamando por ele, mas Luciano saiu mesmo assim.

Só, Júlio sentou no sofá e caiu na gargalhadaLeandro caminhava sorrindo guiando o pequeno e encantador yorkshire terrier pela coleira. Estava tão feliz! Há tempos desejava ter um cachorro e aquele pequeno animal aguçava ainda mais o seu desejo.

A noite estava com uma temperatura agradável e a lua iluminava toda a rua.

_ Ei, delícia, quer entrar pra dar umazinha?

Ele olhou de imediato para o portão da confeitaria, de onde vinha o som da voz.

_ Está falando comigo, senhor?

_ Não. Com o cachorro._ Abner ironizou, encostado na parede, fumando um cigarro.

_ Ainda bem. Porque eu sou um homem comprometido com o confeiteiro mais lindo deste bairro...ou melhor, deste mundo. O senhor não teria chances mesmo sendo um deus grego que é.

Abner sorriu, jogando o cigarro no chão e apagando com o pé. Aproximou de Leandro e puxou pela cintura.

_ O seu namorado não precisa saber, minha delícia!_ Abner sussurrou ao pé do ouvido de Leandro, o deixando arrepiado._ Aproveitamos que a confeitaria está fechada e te levo lá pra dentro e te faço gozar gostoso.

_ Não é bem assim não, moço. Como eu disse, sou comprometido. Não vai ser fácil me comer.

_ Mas eu não quero te comer.

_ Não?!

_ Quero te devorar._ Abner deslizou a língua, sobre o pescoço de Leandro, subindo pelo queixo, o puxou com força pelas nádegas e o beijou com veemência.

Leandro foi arrastado até a parada, sem soltar a coleira, teve as pernas erguidas e recebeu outro beijo na boca e no pescoço.

_ Vamos lá pra dentro. Olha como você me deixou duro.

_ Espere._ Leandro o empurrou para que se afastasse um pouco._ Deixe eu levar o cachorro de volta para a minha amiga. Daqui a pouco eu volto pra continuarmos.

_ Depois você leva._ Abner sugeriu o puxando de volta. Leandro se afastou.

_ Eu não vou demorar, meu gatinho.

_ Ok. Tô te esperando.

Abner deu um tapa forte na bunda do namorado, que se afastou sorrindo.

Abriu uma das portas da confeitaria e entrou para esperar Leandro. Sentou e pegou o celular enquanto aguardava.

Sorriu ao ouvir o barulho de alguém entrando, imaginou ser Leandro.

_ Foi rápido hein, neném.

_ Está fazendo o que com esse celular na mão? Mandando mensagens para o meu marido?

Abner arregalou os olhos surpreso ao ver Luciano na sua frente o olhando com ódio.

_ O que você está fazendo aqui?

Luciano derrubou uma das mesas e cadeiras.

_ Eu já sei de tudo, sua vagabunda imunda! Piranha de quinta!

_ Do que você está falando, seu louco?

_ O único louco aqui é você! É bem o seu tipinho mesmo né? A vagabunda que quer subir na vida se envolvendo com um homem casado, achando que ele iria largar o marido pra ficar com você. Mas se fodeu! O Júlio não te quis e você resolveu se vingar seduzindo o marido dele e pondo a filha contra o próprio pai.

_ O quê?!

_ Você ficou com raiva, porque o Júlio não te quis e armou esse planinho sórdido. Mas o que você não esperava é que o Júlio não se deixou atingir. Ele desistiu do Leandro e você viu que a sua sacanagem não deu em nada e agora fica perturbando o meu homem mandando mensagens pra ele!

_ Ah, agora eu tô entendendo. Você é mais uma vítima. O Júlio te contou essa historinha? Ele está mentindo.

_ Não está!_ Luciano gritou._ Eu li as mensagens que você enviou para ele! Eu li cada palavra sua implorando para ficar com ele, cada ameaça quando era rejeitado! Eu li!

_ E deixa eu adivinhar, foi o Júlio que te mostrou?

_ Foi. Júlio é honesto comigo. Não há segredos entre nós!

Abner deu uma gargalhada.

_ Ele mentiu pra você, meu anjo. É o que ele sempre faz.

_ Eu li as mensagens, porra!

_ São falsas! Deixa eu adivinhar: Júlio disse que é louco por você, que te ama demais, mas é vítima do marido desequilibrado que não se conforma com o fim da relação e usa a Vanessa para te atingir.

Luciano ficou em silêncio, recordando que e exatamente o que Júlio diz.

_ Ele dizia a mesma coisa pra mim, quando éramos amantes. E agora tá mentindo pra você. E para piorar, além do marido desiquilibrado, tem um ex amante inconformado com o fim da relação. Júlio é tão patético! Sério. Como eu fui um dia gostar daquilo? Cara, Júlio mente. Ele está te usando. Está se deliciando com o seu lindo corpinho e manipulando a sua mente fraca. É o que ele sempre faz. Ele usa as pessoas e depois as magoa. Ele fez isso com o Leandro, fez comigo e agora está fazendo com você.

_ Isso não é verdade! Não adianta mentir pra mim! Eu quero que pare de perturbar o meu homem! Você não me conhece, seu merda! Eu não sou o Leandro.

_ Ah mas não é mesmo. Você nem chega aos pés dele.

Num ataque de fúria, Luciano atira uma das mesas na parede e gritou furioso:

_ Leandro não é melhor do que eeeeeeuuuu! Não é! Não é!

_ Escute aqui, sua bichinha histérica e mal amada, pode se pondo no seu lugar! Esta aqui é a minha propriedade e não aceito que venha dar os seus chiliques! Para o seu governo, eu não quero nada com o seu homem. Eu tenho nojo dele! Estou comprometido com o Leandro, que é o homem que eu amo e sou muito feliz. Mas pelo visto você não. Olha o estado de desequilibrio que o Júlio está te deixando com as mentiras dele! Ele faz isso com todos que se relaciona. Ele vai acabar com você, vai te arrastar pro tormento, vai desfrutar do seu corpo e vai te jogar fora quando você não for mais útil pra ele! E quer saber? Eu não me importo com isso. Você é uma bicha burra e louca! Merece mesmo ser tratado dessa forma! Agora saia da minha confeitaria antes que eu chame a polícia!

_ Isso não vai ficar assim! Eu vou acabar com você. Eu vou quebrar a sua cara!

_ Ah é? Estou morrendo de medo.

_ Vá embora, Luciano._ Leandro ordenou entrando na confeitaria. Todos se viraram para olha-lo, que estava sério._ Eu ouvi tudo. E pelo que percebi você está envenenado pelo Júlio o suficiente para não acreditar em ninguém. Então, nada do que dissermos vai adiantar. Ninguém aqui quer briga. Só queremos que você embora. Eu garanto que será melhor pra todo mundo.

_ Você se acha muito superior a mim não é, Leandro? Se acha melhor do que todo mundo. Mas não passa de um idiota manipulado por esse aí. O Abner tá te usando pra se vingar do Júlio, ele não aceita que o Júlio não o quer mais.

_ Luciano, vá embora! Ou você vai por bem, ou eu mesmo te tiro com as minhas próprias mãos!_ Leandro ordenou com firmeza.

_ Eu vou sim. Ficar perto de vocês dois me dar asco! Vocês se merecem. A bicha burra e bicha má!

_ Ah, você é tão louco que olha para nós e vê o reflexo seu e do Júlio._ Abner ironizou._ Fora daquiiiii!

Luciano saiu prometendo vingança com o olhar. Dirigiu transtornado, não conseguindo conter o choro e os gritos.

Assim que Luciano saiu, Abner correu para abraçar Leandro. Teve medo de que o amado acreditasse no que ouviu.

_ Minha vida, eu juro que eu não mandei mensagem nenhuma pro Júlio. Nada do que o Luciano disse é verdade.

_ Eu sei. Eu conheço o Júlio. Ele é sórdido demais para descer o nível e inventar essa baixaria toda. Além de ser extremamente manipulador. Olha o que ele está fazendo com o Luciano. É o mesmo que fazia comigo. Ele está deixando o cara emocionalmente instável. Não vai demorar muito para que os outros achem que o Luciano é louco, assim como achavam que eu era. Júlio é tão cruel!

_ Ufa! Fico feliz de você não ter acreditado.

_ Mas há algumas coisas erradas nessa história. Na certa Júlio realmente mostrou essas mensagens a ele. Ou ele fez uma boa montagem, ou as mensagens realmente saíram do seu celular.

_ Pelo amor de deus, Leandro! Eu jamais faria uma coisa dessas.

_ Eu não estou dizendo você. Mas alguém pode ter enviado do seu celular. Você o emprestou para alguém?

Abner parou por um instante, recordando que há alguns dias atrás havia emprestado o celular para Fernanda. A moça disse que havia esquecido o dela em casa e precisava mandar algumas mensagens para a mãe.

Leandro bateu na mesa como se estivesse acertado num palpite.

_ Eu sabia! Nunca fui com a cara daquela mulher. Na certa foi ela quem enviou as mensagens para o Júlio.

_ Não! Eles nem se conhecem. Isso é viagem, Leandro.

_ Amor, pense comigo. O Júlio descobriu do "nada" que estávamos juntos. Eu até cheguei a cogitar que poderia ter um detetive na nossa cola, mas isso não aconteceu. Eu andei observando bem e ninguém nos seguia. Essa mulher apareceu do nada. Você não acha estranho uma mulher jovem fazer amizade com a sua mãe que tem 60 anos de idade? Eu boto a minha mão no fogo que ela é espiã do Júlio. Meu bem, ela se aproximou da Lurdes só pra conseguir trabalhar aqui e se aproximar de você. Lembra do dia em que ela nos flagrou no carro e depois o Júlio ficou sabendo da verdade? Agora foi só você emprestar o celular pra ela que pimba! Surgem essas mensagens no WhatsApp do Júlio. Mensagens essas que foram plantadas para pôr o Luciano contra nós.

"Mas é aí que mora o perigo. Júlio não está só querendo alimentar o ego de merda fazendo ciúmes do namorado. Não! Ele tem alguma intenção maligna por trás de tudo isso e está usando o Luciano para isso."

_ Faz todo sentido... você tem razão! Que merda!

_ Você precisa demitir essa mulher. Amanhã mesmo. Mas não dê a entender que você descobriu alguma coisa. Só diga a ela que você vai precisar fazer alguns cortes de funcionários. Isso é normal em janeiro.

_ Leandro, eu não sei se é uma boa ideia. Não é melhor a mantermos por perto para espiar e tentar saber o que o Júlio está aprontando?

_ Mas é claro que não! Temos que cortar todos os meios do Júlio ter acesso a nós! É pela nossa segurança. E instrui a dona Lurdes e o seu Martins a fazer o mesmo. Com certeza ela vai usar da amizade para continuar nos cercando. O Júlio deve tá pagando muito bem a ela. A bisca não vai querer perder a mamata.

_ Você tem razão. Eu vou conversar com os meus pais amanhã e vou demitir aquela vagabunda. A minha cabeça tá confusa. Eu tô com tanta raiva! Júlio é um filho da puta! Botou aquela piranha para me expiar. Que merda!

Leandro se aproximou e o acariciou.

_ Amor, estamos muito cansados. Me deixe dormir na sua casa hoje? Eu não vou conseguir dormir sozinho.

_ Claro, meu neném. Você não precisa nem pedir. Aquela casa também é sua. Você já tem até uma cópia da chave. Pode ir a hora que quiser. Além do mais, vai ser bom passarmos a noite juntos. Um cuida do outro, tomamos um banho juntos, fazemos um amorzinho gostoso e depois eu preparo aquele salmão ao molho de maracujá que você adora e abrimos uma garrafa de vinho branco.

Leandro fechou os olhos, gemendo.

_ Isso é música para os meus ouvidos.

Abner o abraçou e o beijou suavementeAbner entra na cozinha descalço, vestindo apenas uma cueca samba-canção. Avista Leandro em pé em frente a pia, batendo uns ovos na intenção de preparar um omelete.

Abner se apoia na soleira da porta e fica admirando o namorado em silêncio. Ama ver os cabelos negros de Leandro molhados. Ele vestia um short xadrez de pijama e uma camiseta branca de algodão. Por insistência de Abner, Leandro está há dias hospedado em sua casa. Eles aproveitaram a viagem de Vanessa para viver um ensaio da vida a dois.

Leandro está mais relaxado e feliz. Os dois saem juntos para trabalhar e voltam juntos também. Durante a noite, sentam no sofá para jantar e assistir TV, uma rotina simples, mas muito reconfortante para Leandro.

Às vezes, Abner fica jogando videogame e ele deitado na rede da varanda, aproveitando o frescor da noite para ler um livro. A gatinha Eleven se aconchega em seu peito e tira um sossegado soninho, recebendo de Leandro carinho na sua fofa cabecinha peluda.

No final de semana, Abner propôs algo diferente, como irem á praia com Patrícia e uns outros amigos e no dia seguinte a um bar com música ao vivo.

Na hora de dormir, é um dos momentos mais preciosos para Leandro, a hora em que ele se aconchega nos braços de Abner e depois de fazer amor, os dois conversam sobre vários assuntos antes de adormecer.

Por mais que Leandro relute, ele não consegue não comparar a sua atual relação com a que tinha com Júlio. Ele faz isso em silêncio, pois o nome de Júlio quase nunca é tocado. Leandro prefere assim e Abner respeita.

Com Abner ele se sente bem, tranquilo, seguro e feliz. Não sente aquela tensão como sentia com Júlio, não sente medo, nem humilhação por estar sendo traído.

Sorrir quando sente os labios macios de Abner tocar o seu pescoço, o deixando arrepiado.

_ Por mais que eu seja um chefe de cozinha profissional, eu não consigo fazer um omelete tão perfeito quanto o seu. Qual é o segredo, minha vida?_ Abner perguntou, envolvendo os braços na cintura de Leandro e apoiando o seu queixo no ombro dele.

Leandro se virou para Abner, e pôs os seus braços nos ombros do amado e respondeu sorrindo.

_ O meu segredo é o um tempero muito especial chamado amor.

Leandro encostou a ponta do seu nariz no de Abner e o beijou em seguida.

_ Eu te adoro, sabia? Eu tô curtindo muito esses dias que você está ficando aqui em casa. Não vejo a hora do seu divórcio sair logo para poder me casar com você.

_ Nossa que apressadinho.

Abner introduziu a mão dentro do short de Leandro, deslizando o dedo a procura do seu ânus. Leandro a retirou.

_ Mas que fogo é esse, rapaz?! A gente transou agora mesmo! Você gozou duas vezes! Se ficar gastando o fogo todo agora, não vai ter chamas para depois do casamento.

Abner o pegou com força com as duas mãos em sua bunda e o puxou para si. Aproximou a boca ao pé do ouvido de Leandro e disse:

_ Você é muito gostoso! A minha piroca é viciada em você. Só de pensar em você ela já fica no ponto de bala. Não pensa que vai ter moleza não, mocinho. Mesmo depois do casamento, essa raba gostosa vai tomar muitas pirocadas. Essa boquinha também não vai ter descanso. Vai mamar muito.

_ Ai que delícia! Pervertido, gostoso!

Leandro o segurou pelo queixo e o beijou.

Abner não foi muito bem sucedido na sua tentativa de transar novamente. Leandro estava faminto e um pouco cansado. O cozinheiro o ajudou a preparar o café da manhã e os dois foram para a sala assistir uma série de humor.

O sofá cama estava aberto. Leandro sentou com as pernas esticadas para frente e Abner deitou em seu colo.

Leandro acariciava os seus cabelos, sentindo o coração aquecido de amor, sentimento esse recíproco por Abner.

O celular de Abner notificou uma mensagem, como o objeto estava numa mesinha próxima a Leandro, ele pegou o telefone com a intenção de dar a Abner.

_ É uma mensagem de um número não salvo.

_ Vê pra mim quem é. A senha é chuva.

Leandro o olhou com espanto. Abner o pedía com a maior naturalidade, que o fez lembrar que com Júlio era proibido chegar perto do seu celular, já que esse tinha muito a esconder.

Leandro ficou parado por alguns segundos sem reação, se perguntando se aquilo era real. Passou tanto tempo vivendo um relacionamento abusivo, que o saudável o causava estranhamento.

_ Quem é, amor?

Leandro abriu a mensagem e viu se tratar de Alberto, informando que havia trocado de celular e pedindo para que Abner salvasse o número novo e repassasse a Leandro.

_ É mesmo, amor. Ele foi assaltado esses dias. Ficou desperado, coitado. Esta cidade está muito violenta... aliás sempre foi.

_ Alberto está mesmo perdidinho. Ontem mesmo ele me mandou mensagem pedindo para salvar o número novo.

_ Ele já está velhinho.

_ Mas eu achei engraçado ele lembrar de você primeiro para salvar o novo número dele._ Leandro brincou, olhando para Abner fingindo desconfiança._ Toma tenência, hein. Quero deixar que os seus serviços sexuais agora são exclusividade minha.

_ Hum! Que ciumento, esse meu neném. Mas quem estava flertando com o Alberto era o senhorito.

_ Olha que absurdo! Eu não estava flertando. Só estava sendo gentil.

_ Hum...sei.

Abner levantou e o beijou.

_ A promessa seria se ficarmos em casa era para você ficar peladinho. Então pode tirando essas roupas.

Leandro sorriu.

_ Ah pra que, Abner?

_ Porque você prometeu e vai cumprir.

Abner retornou a blusa de Leandro distribuindo beijos pelo peito, ao mesmo tempo retirava o short.

_ É assim que quero te ver. Como veio ao mundo, assim facilita o meu trabalho.

Abner o virou de costas e começou a beijar e morder levemente aquela bunda macia, subindo pelas coisas e parando na nuca, enquanto roçava o pau duro entre as nádegas de Leandro.

Abner levantou beijando a cabeça de Leandro, foi para o quarto e voltou alguns instantes depois, deitando por cima das costas de Leandro. O moreno sentiu algo gelado invadindo as suas intimidades através dos dedos de Abner. Sorriu, sabia que o amado estava preparando o território para entrar.

Leandro abriu mais as pernas para facilitar o acesso. Sentia um caminho de beijos começar pela sua cintura e terminar na sua nuca.

Abner foi entrando com cautela, fazendo movimentos lentos e prazerosos.

Seus dedos se entrelaçavam e Leandro podia sentir o hálito quente da respiração ofegante de Abner no seu rosto. Os beijos eram distribuidos entre bochecha, boca e nuca, acompanhados de chupões e lambidas.

Leandro estava totalmente entregue. Seu corpo vibrava de prazer, proporcionando a Abner uma contração gostosa.

Os gemidos ecoavam intensos. Leandro começou mover os quadris, sentindo Abner latejando dentro dele.

_ Fica de quatro._ Abner pediu de um jeito carinhoso e Leandro cedeu como se estivesse hipnotizado.

Soltou um gritinho de prazer, quando Abner iniciou uma masturbação com uma mão e segurando o seu quadril na outra. Leandro aumentou o ritmo das reboladas e só parou até que ambos gozaram juntos.

Leandro caiu no sofá exausto, e Abner se acomodou ao seu lado, o puxou e ficaram abraçados de conchinha.

Leandro recebia beijos no rosto e carinho nos cabelos molhados de suor.

_ Está satisfeito, meu neném?

_ Eu estou. Mas a pergunta mais importante é: você está satisfeito, Abner? Eu te conheço, sei que é faminto.

_ Precisamos nos despedir do ano.

_ Ah tá. Assim descansar amanhã, né.

_ Nem pensar. As fodas de amanhã é para dar boas vindas ao ano novo._ Abner o beijou apaixonado.

_ Eu tô com fome.

_ Huuuum, safadinho. Depois diz que eu que sou faminto. Vão bora.

_ Não, seu tarado! Estou com fome de comida! Quero almoçar.

_ O que o meu rei quer comer? É só ordenar, que eu cumpro.

_ Não sei...deixa eu ver...Ah, eu adoraria um fricassê de frango, igual aquele que a sua mãe preparava lá no sítio, arroz e uma salada simples de alface e tomates.

_ Tudo bem. O senhor é quem manda.

Leandro se virou para Abner e entrelaçou os seus dedos nos dele.

_ Sabe, gatinho. Estou um pouco preocupado. Além da Vanessa, há outras pessoas que sei que não vão aceitar o nosso relacionamento.

_ Eu tô pouco me fodendo. Nós somos homens adultos e independentes. Não temos que nos privarmos por causa dos outros.

_ Eu sei. Mas uma delas é uma pessoa muito importante para mim e outra é pra você. Estou falando da Val e da sua mãe.

_ A Val é sua amiga. Ela deve tá puta comigo e com razão, mas não creio que mesmo que ela não me aceite isso no vai destruir a amizade de vocês. Porra ela suportava o Júlio! Na certa vai me suportar. E a minha mãe não tem que se meter na minha vida, não sou mais criança.

_ Eu tenho uma simpatia muito grande pela sua mãe. Mas ela não gosta de mim.

_ Que isso, Leandro? A minha mãe não tem nada contra você!

_ Tem sim. Na certa ela prefere que você fique com a Fernanda. Há um tempo atrás ela esteve lá na livraria e me pediu para que eu me afastasse de você.

_ O quê?!_ A pergunta de Abner foi tão enfatizada, que sua expressão facial era de indignação, o que fez Leandro se arrepender de ter dito aquilo. Desejou voltar no tempo e manter a boca fechada, mas já era tarde demais.

_ Eu não acredito que a minha mãe teve a coragem de fazer isso! Porra!

_ Abner, calma, meu amor.

_ Como você quer que tenha calma? A minha mãe se meteu na minha vida de um jeito nojento! Ela não tinha esse direito! Eu não sou criança! Há anos sempre fiz o que quis. Nunca dei liberdade pra ela fazer isso.

_ Ela só estava preocupada com você. Eu também estava. Nós sabemos muito bem como o Júlio é.

_ Uma ova! O mais safado dessa história foi o Júlio que era casado contigo e mentia pra mim, o segundo culpado sou eu, que fui um sem vergonha. A única pessoa inocente nessa história toda é você. Não é justo que a minha mãe fale contigo como se fosse o responsável por tudo isso! Você foi a nossa vitima! Não quero que a minha mãe e nem ninguém se meta na nossa vida.

_ Abner, eu já me arrependi de ter te contado isso. Não quero criar tumulto. Nós estamos tão bem juntos.

_ Leandro, o que temos é pra valer! Eu vou respeitar o seu tempo para poder pôr as cartas na mesa com a Vanessa. Mas não vamos ficar as escondidas a vida inteira. Eu quero me casar com você um dia, formar uma família. E não devemos deixar que ninguém se meta na nossa vida, nem a minha mãe, nem a sua filha e muito menos o Júlio. Então, tá na hora de pôr limites. Eu não vou permitir que a minha mãe te maltrate.

_ Ok. Mas eu não quero criar tumultos. Não quero entrar na sua família como o causador de discórdias. Apesar de tudo, eu tenho um respeito enorme pela Lurdes e pelo Martins, eles sempre foram ótimos comigo. Sem contar que a Lorena é a minha madrasta. E eu entendo a preocupação da Lurdes, acho válida. Até porque eu ainda sou casado com o Júlio e ele não é flor que se cheire e já...

_ E até quando vamos deixar que o Júlio cague regras na nossa vida?_ interrompeu Abner, com a voz um pouco alterada._ O Júlio já está namorando e não é mais o seu marido. Você não deve nada a ele e muito menos eu.

_ Você tem razão. Mas eu não quero que brigue com a Lurdes. Nem com ninguém. Eu sei que não vai ser fácil. Ninguém vai aceitar a nossa relação.

_ E você vai se importar com isso?

_ Sim. São pessoas muito queridas por mim.

_ Eu não sou querido por você?

_ Claro que é, meu amor! Eu não quero brigar com ninguém! Quando a Vanessa voltar de viagem, eu vou conversar com ela. Depois com a Val e aí a gente assume. Mas não precisamos brigar com ninguém. Eu já passei por tantos tumultos este ano. Eu só quero um pouco de paz. Pode ser?_ Leandro perguntou com doçura, acariciando o rosto de Abner.

_ Leandro, eu não quero que ninguém se meta na minha vida. Será que você não percebe o quão grave é o que a minha mãe fez?!

_ Ela só estava preocupada! Quer saber? Vamos mudar de assunto...ou melhor, vamos comer. Eu tô morrendo de fome. É melhor agirmos logo, porque a hora voa e aí já vai ser noite e teremos que ir á Copacabana encontrar a Patrícia. Hum! Meu zangadinho.

Leandro o segurou com as duas mãos na face e cobria o seu rosto e boca com beijos selinho.

Abner não demorou muito no preparo do almoço. Os anos de experiência na cozinha os proporcionou prática e rapidez. Além disso, contou com o auxílio de Leandro nos cortes dos temperos e na lavagem da louça.

_ Huuuum! Isto aqui tá muito bom! Meu deus! Você além de perfeito na cama, é perfeito no fogão._ Leandro exclamou quase gemendo, sentindo um prazer intenso quando a comida dissolvia em sua boca. Não alimentava somente o seu corpo, mas também o seu coração apaixonado.

Abner sorriu com o canto da boca e o olhava com doçura. Amava ver a felicidade estampada no rosto de Leandro, que sorria fechando os olhinhos brilhantes. Abner não resistiu e acariciou o seu rosto.

Após o almoço, Leandro fez questão de lavar a louça e organizar a cozinha. Ele detestava bagunça e sujeira.

O apartamento de Abner parecia outro desde a chegada de Leandro. Não havia mais roupas sujas espalhadas pela casa, elas agora estavam lavadas, cheirosas e passadas dentro do guarda-roupa. As poeiras sumiram, roupas de cama e mesa foram trocadas, o cheiro de produtos de limpeza exalavam pelo ar. Para dar mais vida ao ambiente, Leandro levou da livraria alguns vasos de plantas e pendurou alguns desenhos seus emoldurados.

_ Você traz vida para esse lugar!_ Abner dizia feliz.

Leandro também providenciou as compras do mês. Substituiu as comidas congeladas, salgadinhos e chocolates por alimentos saudáveis como frutas, legumes e verduras frescas, carnes magras, peixes e grãos.

Abner o ajudou naquela última tarde do ano. Enquanto Leandro organizava a cozinha, ele lavou e secou a louça.

Leandro cuidava de Abner e sua casa com carinho, era a sua forma de demonstrar amor.

_ Você não precisa fazer isso.

_ Preciso sim. Deixo eu cuidar de você._ Leandro disse carinhosamente, envolvendo os braços nos ombros do amado.

Abner não queria que Leandro se sobrecarregasse, e fez questão de que todas as tarefas fossem dívidas entre os dois de maneira justa.

Deitaram na cama para assistir TV e descansar o almoço. No entanto, acabaram adormecendo abraçados e gata Eleven deitada em seus pés.

Leandro despertou um pouco assustado com barulho de fogos de artifícios.

Ao olhar pela janela, percebeu que já anoiteceu. Abner ainda adormecia, virado de costas para ele.

Leandro sentou na cama coçando os olhos. Ainda estava sonolento. Despertou aos poucos. Levantou e foi ao banheiro urinar e lavar as mãos.

Ao retornar ao quarto, sentou na cama e pegou o celular. Havia várias notificações de mensagens de parentes e amigos o desejando Feliz ano novo. Ele digitou uma mensagem de agradecimento no Word, copiou e colou, enviando para todos. Era uma forma prática de ser educado sem se entediar.

Exceto para Vanessa, que ele fez questão de ir para a sala para ligar. Não queria acordar Abner.

Vanessa atendeu com alguns toques depois. Estava com a voz animada.

_ Feliz ano novo, paizinho!

_ Feliz ano novo, meu amor! Como vão as coisas por aí?

_ Estão ótimas, pai. Daqui a pouco nós vamos a uma festa. Ah vai ser muito bom!

_ Festa?! Que festa? Vê se não vai aprontar, garota.

_ Pai, deixa de ser chato! É uma festa de um casal de amigos dos pais da Marcinha. Eles são parentes do Chico Médice, aquele autor de novelas. Vai ter muita gente famosa lá. Eu tô super animada. E modesta parte, o meu vestido é um arraso, comprei na Prada.

_ Prada?! Vanessa, esse vestido custa uma fortuna! O seu pai sabe disso?

_ Lógico que sabe! Ele me deu de presente de natal. Me levou na Prada para escolher. O meu pai quer amenizar pelas merdas que ele fez.

_ Se ele tá de acordo, então tá tudo bem. Falando nisso, você já ligou pra ele?

_Ainda não. Estou me arrumando. Inclusive, a pedicure está cuidando dos meus pés agora. Ela já terminou as minhas mãos e daqui a pouco, a cabeleireira vai dar um jeito no meu cabelo e ainda tenho que fazer a maquiagem.

_ Tem uma equipe de beleza aí?

_ Tem sim. A tia Lúcia contratou.

_ Hum que chique! Mas vê se liga para o seu pai, dona Dirce e os seus avós para desejar Feliz ano novo.

_ Ah, pai! Eu vou mandar áudio. Vovó Dirce fala pelos cotovelos, vovô a essa hora já deve ter tomado uns gorós e vai ficar um tempão falando que me ama e a Angela nem sem importa. Um áudio pra cada um tá muito bom.

_ Pelo menos liga para o seu pai.

_ Não sei...

_ Vanessa, liga pra ele sim! Não precisa o tratar mal. Apesar de tudo ele te ama e é um bom pai pra você.

_ Ele não se importa. Só quer saber de Luciano, aquele veado cafona.

_ Vanessa, mais respeito com o seu padrasto! Não foi isso que te eduquei. E você vai ligar para o seu pai sim. É uma ordem.

_ Hum tá bom. Eu ligo! Agora, eu preciso desligar, tenho que acabar de me arrumar. Quando eu estiver pronta, belíssima com o meu vestido branco da Prada, vou postar uma foto no meu Instagram. Você curte tá.

_ Ok, meu amor. Curto sim. Mande um beijo e um feliz ano novo para a Marcinha, o Paulo e a Lúcia. Vê se comporta nessa festa, nada de encher a cara de comida gordurosa, bebida alcoólica nem pensar e vê se não fica tietando os famosos, isso é muito deselegante.

_ Eu sei, pai. A convivência com o Luciano ainda não me deixou cafona.

_ Ah, e escove os dentes antes de dormir e não esqueça de tomar os seus remédios para a alegria e...

_ Ah, pai! Eu já sei de tudo. Mas eu preciso desligar para terminar de me arrumar, mandar as mensagens para os meus avós e ligar para o meu pai....aqui, você vai passar a virada do ano sozinho não, né?

_ Não, meu bem. Eu vou ir á Copacabana com Patrícia e alguns amigos.

_ Tá bom, então. Beijos e feliz ano novo, meu "véio". Te amo.

_ Também te amo, princesa.

Vanessa desligou. Em seguida, Leandro recebeu uma vídeo chamada de Valéria. Ficou assustado. Foi para o canto de uma parede branca e lisa, a única mais parecida com a da sua casa e atendeu.

_ Feliz ano novo, Bijuzinho!_ Valéria dizia do outro lado da tela. Estava sorridente, com um cigarro entre os dedos.

Leandro pode perceber que ela estava num quarto luxuoso, mais precisamente sentada perto da parede de vidro, onde era possível ver a cidade de Nova York iluminada com as luzes da cidade e salpicadas com os flocos de neve depositados dos edificios.

Valéria vestia um casaco vermelho gola rolê, os cabelos curtos estavam um pouco maiores. Os olhos contornados de pretos com as pálpebras pintadas com sombras esfumaçadas de branco e prateado, as bochechas levemente a rosadas e os lábios pintados num vermelho tão vivos quanto o do seu casaco.

_ Feliz ano novo, amiga! Pelo visto tá frio aí.

_ Pra caralho! Sorte que o apartamento do Ivan tem bons aquecedores.

Valéria o olhou com desconfiança.

_Aqui tá muito calor! Por isso estou só de cueca. Daqui a pouco, vou tomar um banho e me arrumar para me encontrar com a Paty.

_ Leandro, que cara é essa?

_ Eu acabei de acordar.

_ Não é isso. Você está diferente! Com um brilho nos olhos, pele mais viva! Tá dando esse cu pra quem?

Essa pergunta caiu como um peso em cima de Leandro. Viu-se totalmente sem palavras.

_ Que nada, amiga! Não estou dando pra ninguém.

_ Não minta pra mim, filho da puta! Você tá irradiando macho. Tá com cara de quem tá sentando muito. Eu te conheço, veado.

Leandro ficou vermelho. Ele e Valéria se conheciam há anos e ele sabia que era difícil esconder as coisas dela.

Valéria cerrou o cenho e deu tragada no cigarro, com a cabeça erguida.

_ Tá dando pro Abner né?

Agora já era! Não havia mais como esconder.

Leandro ficou sem palavras, apenas confirmou com a cabeça.

_ Amiga, ele foi foi lá em casa no natal e acabou rolando. A gente conversou e conseguimos nos acertar. Abner mudou muito. Está sendo tão gentil comigo. Tão carinhoso.

_ E por que você não me contou, vagabunda?

_ Eu ia te contar. Só estava esperando você voltar ao Brasil.

_ Ah vá tomar no seu rabo, Leandro! Era só você me ligar! Há uma semana que você tá sentando no Abner e nada de me contar, porra! Eu sou a sua melhor amiga! Eu que sou! E você não me disse nada, caralho! Garanto que pra a safada da Patrícia você contou!

_ Amiga, eu não contei pra ela. Ela soube pelo Abner, os dois são amigos.

_ Eu sou mesmo a corna dessa relação! A última a saber, caralho!

_ Val, não é bem assim. Ninguém sabe, só você e a Paty. Amiga, por favor, eu te amo tanto! Você é muito importante pra mim. Eu não quero brigar com você! Estou numa fase tão boa da minha vida. Estou tão feliz como não ficava há anos. Me desculpa por não ter te ligado e contado. Você tem razão de estar chateada. Mas eu só queria te contar pessoalmente.

_ Você merece coisa muito melhor. Abner pode ser um gostoso! É gato pra caralho! Mas é um mentiroso.

_ Ele mudou muito, amiga. Tem jogado limpo comigo, e me trata tão bem.

_Mas mentiu pra você! Foi amante do seu ex marido! Isso é bizarro, Bijuzinho.

_ Se tá me chamando de Bijuzinho é sinal que ainda me ama._ Leandro brincou sorrindo.

_ Você é uma bicha sonsa, tem péssimo gosto pra macho, mas eu te amo. Não tem como não deixar de te amar.

_ Aaaah! Eu te amo, minha rainha.

_ Isso mesmo. Pode me bajular mesmo que você tá em divida comigo. E quando eu voltar, você vai me contar detalhes.

_ Vou sim.

_ E vê se toma cuidado. Do jeito que o Júlio é louco, já deve ter algum espião na sua cola.

_ Ah não gosto nem de pensar nisso. E você? Como está aí?

_ Tá ótimo. Eu estou amando ficar aqui com a família do Ivan. Vitinho é um amor, Alicinha uma graça. A muito custo Vitinho conseguiu convencer a mãe a vir. Ela não queria de jeito nenhum, mas o Renato acabou convencendo. Mas também, a mulher não deu o braço a torcer. Não trocou uma palavra com o Ivan e fica sisuda perto dele.

_ Também né, depois de tudo que aconteceu, eu não tiro a razão dela. Eu no lugar dela também não aceitaria essa relação.

_ O Ivan e Victor são felizes. Ivan é um outro homem depois do Victor e da Alice. E além disso, você sabe que o Renato é um gostoso né. Menino, minha boceta inunda perto dele.

_ Val, deixe de fogo com o homem casado.

_ Eu sei disso. E ele é fiel a Andréa.

_ Eu não acredito que você deu em cima dele, Valéria!

_ Não dei. Uma amiga minha que tentou, mas ele recusou. Mas, o melhor você sabe. O Renato tem um irmão que mora aqui em Nova York e esteve aqui ontem num jantar. Bijuzinho do céu! Que homem! Que homem! Eu fiquei loucaaaa!

_ Ele é solteiro pelo menos?

_ Sim. Solteirão! Ah, eu tô apaixonada! Homem educado, interessante sabe! Bom de cama! Tem um pau imenso.

_ Você já deu pra ele, safada?

_ Lógico! Conversamos, tomamos uns drinks e trepamos. Ele me convidou para no apartamento dele e pimba! Sentei a noite inteira! Meu amor, o negócio esquentou tanto que liberei o bumbum pra ele.

_ Caramba! O negócio pegou fogo!

_ E como. Ele está louco por mim e eu por ele. Amigo, acho agora caso de novo!

_ Val, não vá com muita sede ao pote.

_ Vou te enviar uma foto dele.

Leandro recebeu a foto no mesmo instante.

_ Amiga, que que isso! Que homem é esse?! Que isso! Que que isso!

_ Você tem que ver pelado! Que delícia!

A pequena Alice entrou no quarto e pulou no colo da Valéria, olhando para a tela do computador.

_ Tia Val, você não vai descer?

_ Vou sim, meu amor. Tô indo agora.

_ Olá, moço bonito!_ Alice se dirigiu a Leandro dando tchauzinho._ Eu sou a Alice, filha do papai Victor e do papai Ivan. Eu tenho dois papais!

_ Oi, meu amor! Que lindo nome! Eu também tenho uma filha tão linda quanto você. Ela também tem dois papais.

_ Que legal! Cadê ela?

_ Está viajando com uma amiga.

_ Quando ela voltar, leva lá na minha casa de Niterói para brincar comigo.

Leandro e Valéria sorriram.

_ Moço, sabia que a minha tia Val está namorando o meu tio Alberto? Ontem eu vi os dois beijando na boca._ Alice disse a última frase sorrindo, pondo a mão na boquinha.

Leandro e Valéria gargalharam alto.

_ Olha que safadinha! Me expiando!_ Valéria disse fazendo cócegas na menina, que dava uma gargalhada gostosa.

Leandro ouviu uma voz masculina dizendo "Então você está aí, menina?"

Victor entrou chateado ao ver a filha com a boca e uma parte do vestido sujos de chocolate. Ele tomou a filha no colo.

_ Eu vou matar o Ivan. Ele fica fazendo as suas vontades, te dando chocolate escondido e você já está toda suja!

Victor ficou envergonhado ao ver Leandro do outro lado da tela e sorriu sem jeito.

_ Me desculpe! Boa noite! Feliz ano novo! É que eu nem te vi. Só estou um pouco nervoso. Acabei de arrumar a minha filha, mas o meu marido a mima e deu nisso.

_ Nada. Sem problemas. Feliz ano novo para vocês também. Dá feliz ano novo para o moço, filha.

_ Happy new year!

Leandro achou tão fofo a menina falando em inglês.

Victor pediu licença e se afastou para levar Alice para trocar de roupas e limpar o seu rostinho.

_ Eu também vou nessa, Bijuzinho. Daqui a pouco, o ano vai virar. Preciso descer.

_ Aqui ainda falta um pouco. Feliz ano novo, meu amor. Tô com saudades.

_ Eu também, semana que vem estarei de volta. Beijos. Vai romper bem o ânus.

_ Palhaça.

Despediram-se. Em seguida, Leandro recebeu uma mensagem de Patrícia avisando que já estava saindo de casa.

Rápidamente, Leandro retornou para o quarto e acordou Abner aos beijos. Esse só resmungava, sonolento.

_ Amorzinho, vidinha, a Paty disse que já está saindo de casa. Precisamos nos arrumar. Vamos, acorde. Vamos tomar banho.

_ Tô indo._ Abner respondeu sem abrir os olhos.

_ Eu vou indo na frente. Vê se não demora.

Leandro saiu do quarto e Abner levantou devagar. O seu celular tocou, estranhou ao ver o nome de Valéria na tela.

_ Valéria?

_ Olha aqui, seu pau no cu, eu tô sabendo que você e o Leandro estão juntos. Eu só te digo uma coisa: o meu Bijuzinho vale ouro, é a melhor pessoa desse mundo e não merece ter o coração partido de novo. Você trate de não vacilar com ele, porque se o meu bebê sofrer por sua causa, eu juro que arranco o seu pau fora com as próprias mãos e enfio no seu rabo.

Valéria desligou antes que Abner pudesse dizer qualquer coisa. Ele sorriu. Ficou feliz por saber que Leandro tinha uma amiga tão doida e protetora como a Valéria.

O casal resolveu buscar Patrícia em casa para que todos fossem juntos á praia. Ela já os aguardava vestida com um macaquinho branco de alças finas, sandálias sem saltos douradas e os longos cabelos lisos soltos. Estava acompanhada com os dois filhos, os meninos de oito e dez anos, que usam blusas brancas e bermuda jeans.

Leandro nunca foi fã de tumultos. Por ele, teria virado o ano na varanda de Patrícia com Abner e alguns amigos, um churrasquinho e umas cervejas geladas. Mas Abner e Patrícia estavam animados para irem á praia de Copacabana ver a queima de fogos e os shows no grande palco montado na areia da praia, que Leandro acabou cedendo.

Sua mão gelou quando sentiu o toque da de Abner. Um medo intenso percorreu o seu corpo. Temia sofrer algum ataque ou olhar homofóbico. Quis retirar a mão, mas ao mesmo tempo, não queria magoar o namorado.

_ Relaxa, amor. A praia tá tão cheia que ninguém tá prestando atenção._ Abner sussurrou no seu ouvido, antes de abraçá-lo por trás. O cozinheiro percebeu a tensão do amado e o beijou, o que foi o suficiente para acalmar Leandro.

De fato ninguém prestava atenção. Havia tanta gente diversificada focadas nas apresentações musicais, que o casal passou despercebido. Ao olhar ao redor, Leandro percebeu que havia outros casais homoafetivos de homens e mulheres. Isso o deixou aliviado. Esperançoso num futuro melhor.

O novo ano foi recebido com um espetáculo de fogos de artifícios no céu carioca, pessoas ovacionavam com gritos e palmas. Os três amigos e as crianças se abraçavam desejando feliz ano novo. Abner e Leandro se beijaram tão apaixonados.

Feliz, Abner estourou uma garrafa de champanhe e os três brindaram nas taças esbanjando alegria.

Patrícia, Abner e os meninos tinham energia para aguentar até o amanhecer. Mas Leandro já estava cansado e desejava dormir.

_ Amor, vamos ir embora? Eu tô sentindo as minhas pernas ardendo._ Leandro pediu com meiguice, convencendo Abner a ceder.

_ Tá bom, meu benzinho._ Abner concordou, segurando as duas mãos em seu rosto e o beijando.

Os dois anunciaram para Patrícia que estavam de partida. Ela concordou em ir com eles e os convidou para dormirem na sua casa.

_ Vocês dormem no meu quarto, que eu durmo com os meninos. Amanhã, a gente assa uma Carminha como almoço.

Leandro preferia voltar para a casa de Abner, mas como o namorado concordou, ele não se opos.

O sorriso de Leandro congelou em seu rosto ao reencontrar Valéria. Sem importar com os olhares em volta, ele se atirou em seus braços no aeroporto e encheu o rosto dela com beijos.

Valéria compartilhava da mesma felicidade.

_ É tão bom te ver, meu amor! Eu senti muito a sua falta!

_ Sentiu porra nenhuma! Preferiu ficar sentando na pica do seu macho ao invés de viajar comigo.

_ Eu já te expliquei tudo o que aconteceu.

_ Não. Você ainda não me explicou. Aliás já sabe que vai dispensar tudo que tem para fazer hoje e passar o dia comigo né?

_ Sim, senhora. Inclusive, não só o dia como o fim de semana. Já até levei as minhas coisas para o seu apê.

_ Acho bom. Não tem essa de só porque está namorando vai me deixar de lado.

_ Eu nunca faria isso. Ah não ser que eu namorasse o Henry Cavill. Aí com certeza eu te deixaria de lado.

_ Vagabunda!

_ Amiga, é o Henry Cavill! Não tem como! Aquele homem é maravilhoso!

_ Isso é verdade.

Ambos riram da própria brincadeira e se abraçaram novamente.

_ Agora me ajude a levar as minhas coisas para o seu carro. Vou só dar um pulo em casa para tomar um banho e pôr um biquíni. Nós vamos ao clube.

_ Mas já! Você não quer descansar da viagem? Deixa pra amanhã.

_ Claro que não, bicha!

_ Por que não?

_ Porque amanhã eu vou estar gripada. É assim que funciona o meu corpo. Eu vim de Nova York, que tá frio pra caralho. Chego aqui no Rio tá o oposto. É lógico que amanhã vou estar fodida. E eu quero aproveitar esse clima maravilhoso do Brasil. Ah eu não aguentava mais aquele clima glacial de Nova York. Que saudades do meu Brasil! Que saudades de falar português na rua!_ Valéria aumentou o tom de voz_ Caralhoooo!

_ Fala baixo, louca!

_ Falar caralho é tão bom né? Palavrão em inglês é muito sem graça.

Leandro sorriu girando a cabeça negativamente. Realmente, sentiu muitas saudades das loucuras da amiga. Como ele a ama!

...

Leandro sentia saudades de frequentar o Clube. Gostava mais de desfrutar das piscinas daquele lugar reservado do que as praias lotadas que ia ultimamente. A comida também era agradável. Os dois almoçaram em dos seus restaurantes favoritos do local.

_ É tão bom estar neste lugar de novo!

_ E você ainda não queria que continuasse pagando a sua carteira de sócio. Leandro, pode ser sincero. Você sente saudades da vida de rico?

Leandro a olhou e percebeu que ela fitava bem os olhos nele e que não adiantaria nada mentir para Valéria. Parecia que ela tinha o poder de ler a sua alma.

_ Tenho sim, amiga. Não vou mentir. Eu não gosto de ser pobre. Sinto falta de viajar, usar as grifes que usava, frequentar os lugares que frequentava, não ter que limpar a minha própria casa e fazer a própria comida. Mas o que mais sinto falta, é da falta de preocupação com os boletos. Mas, que fique bem claro, que eu não voltaria para o inferno de viver com Júlio por dinheiro nenhum. Prefiro aturar a pobreza do que aquele homem! Você acredita que esses dias eu quase vomitei quando senti o cheiro de Uísque? É a bebida que Júlio mais consome. O cheiro me remeteu a ele.

_ Você é um gostoso. Na certa, arrumaria outro milionário.

_ Eu não quero mais depender de homem nenhum. Gosto também da minha independência. Acabei me tornando como você. Só que com menos dinheiro, é claro.

_ Você só me dar orgulho, meu Bijuzinho. Mas me conte sobre o Abner. A rola dele é grande?

_ Ah, Valéria, pelo amor de Deus!

_ Eu quero saber detalhes. Você me deve isso.

_ Devo nada.

_ Deve sim. Agora desembucha. Como ele é na cama?

Leandro sorriu mordendo os lábios.

_ Ele é maravilhoso, amiga! Me faz gozar horrores! E sim, o pau dele é grande e ele sua muito bem, assim como a língua e os dedos.

_ É o mínimo que ele deve fazer né, depois do toda a sacanagem que te fez, deve te comer muito bem.

_ Mas não é só isso. Pela primeira vez, eu sinto que estou vivendo uma relação de verdade. Eu sei que eu não deveria fazer isso, mas eu acabo comparando com o que vivi com o Júlio. Abner é totalmente diferente. Ele não é só o meu parceiro de cama, é de vida. Ele me apoia em muitas coisas, nós conversamos sobre vários assuntos por horas sem que ele demonstre tédio. Porque Júlio não gostava de conversar comigo. Era só meter, ele gozar, virar pro lado e dormir. Júlio sempre jogava muitas responsabilidades pra cima de mim, Abner divide a vida comigo. Júlio me fazia sentir inseguro, Abner me provoca o oposto.

_Fico feliz por isso. Sinceramente,eu torço de verdade que vocês sejam felizes. Você merece.

_ Obrigado, amiga. Só tem um probleminha.

_ Qual?

_ Eu vou contar pra Vanessa.

_ Você enlouqueceu, né? Só pode! Quer ser engolido vivo pelo dragão louro?

_ Amiga, eu não posso mentir para a minha filha. Não é justo. Eu fiquei anos tentando construir uma boa relação com a Vanessa. O Júlio atrapalhava muito. E agora eu estou conseguindo. Vanessa, até gosta de ficar na minha casa, me respeita mais e está mais carinhosa. Ela não merece ser enganada por mim. Quero ter com a minha filha uma relação com base na confiança recíproca.

_Já parou para pensar que se você contar que está namorando o Abner, tudo isso que você construiu com a sua filha pode ir por água abaixo? Você conhece muito bem o temperamento da sua prole.

_ Eu sei. E isso me aflige muito. Eu vou sofrer demais se ela me rejeitar. Mas eu não tenho o direito de mentir pra ela.

_ Então, muitas boas sortes, você vai precisarDias depois...

Leandro buscava ansioso pelo rosto da filha entre as pessoas que desciam do avião. As suas mãos tremiam de ansiedade e saudades. Desejava muito abraça-la e declarar o seu amor. Por um instante, pensou em desistir de contar sobre Abner para ela. Teve medo de perder o amor da filha.

No entanto, sabia que deveria ir até o fim. Não era justo mentir para Vanessa. Ela tinha o direito de saber a verdade.

Por outro lado, estava feliz que Júlio teria uma reunião importante de trabalho naquela manhã. Assim não precisaria ficar ao lado dele no aeroporto e teria mais tempo a sós com Vanessa. Combinaram de que Leandro a buscaria por volta das onze da manhã, os dois almoçariam juntos e Júlio a buscaria por volta das três da tarde para passar uns dias com ela.

Eis que Vanessa surge sorridente da sala de embarque. A sua pele estava mais bronzeada e o seu rosto mais feliz. Seus olhos brilhavam e ela sorria acenando para Leandro, o que fez o medo dele aumentar ainda mais e um frio percorrer pela espinha.

O encontro foi marcado por um abraço apertado e demorado.

_ Que saudades que eu estava da minha princesa!_ Leandro disse apoiando a cabeça no alto da cabeça da filha, que era bem baixa que ele. Queria prolongar aquele momento para adiar o máximo que podia aquela conversa difícil.

_ Eu também estava com saudades. O meu outro pai realmente não veio né?

_ Ele não pode vir, porque...

_ Eu sei que está numa reunião e pipi Popó. Conversinha fiada. A verdade é que ele tá cagando pra mim. Só quer saber de ficar de putaria com o Luciano.

_ Filha, o Júlio vai te buscar hoje mesmo. Não se preocupe.

Leandro percebeu que a ausência de Júlio entristecía Vanessa, e sentiu dó da filha por isso.

_ Bom, eu pensei de nós irmos almoçar num restaurante.

_ Qual restaurante? Nada de lugar que vende PF não né? Ninguém merece tamanha pobreza.

_ Não é um restaurante tão popular assim, mas nada tão luxuoso quanto você está acostumada. Que tal um restaurante japonês do shopping?

_ É...pode ser.

Leandro envolveu o braço no ombro dela e os dois saíram abraçados.

Durante o almoço, Leandro deixou Vanessa monopolizar o assunto, contando detalhes da viagem. Enquanto ele ouvia em silêncio, tentava reunir coragem para a conversa difícil que teriam dali a algumas horas.

Em seguida, foram o apartamento de Leandro.

_ Até que em fim cheguei em casa! Eu tô muito cansada. Esse Rio de Janeiro tá um calor do caralho._ Vanessa disse, se jogando no sofá e pegando o celular.

_ Meu amor, eu tenho uma surpresa. Eu instalei um ar condicionado na sala e outro no seu quarto.

_ Ah, jura! Eeeee!

Leandro ligou o aparelho e Vanessa respirou feliz, sentindo o ar refrescante e gelado.

_ Eu vou tomar um banho. Pai, você comprou aquele sorvete que eu te pedi?

_ Comprei sim. Vá tomar banho, quando você voltar nós tomamos juntos.

_ Aaaaaah! Te adoro, paizinho!

Vanessa beijou o rosto de Leandro antes de ir tomar banho.

Ao retornar, estava vestida com um short e cropped de tecido macios e confortáveis. Os dois sentaram no sofá com as o pote de sorvete em mãos e uma colher pra cada.

Vanessa ligou a TV, e pôs os pés em cima do sofá. Leandro percebeu que não dava mais para adiar. Dali a poucas horas, Júlio viria buscá-la. Engoliu o nervosismo e foi com medo mesmo.

_ Filha, nós precisamos conversar.

Vanessa o olhou preocupada.

_ Aconteceu alguma coisa, pai?

_ Essa vai ser uma conversa difícil, mas muito necessária.

_ O que tá acontecendo? Anda! Fala!

_ Então..._ Leandro parou e respirou fundo._ É...eu nem sei como dizer...

_ O meu pai ou Luciano fizeram alguma coisa contigo?

_ Não! Não! Não tem nada a ver com o seu pai... é que...desde que você viajou, aconteceram algumas coisas...umas mudanças na minha vida e eu não quero que você fique de fora. Quero ser honesto contigo o máximo que eu puder. Não quero que haja segredos entre nós. Você é a pessoa mais importante da minha vida e a que mais amo. Te amo acima de qualquer coisa. Portanto eu só quero ser honesto com você.

_ Você conheceu alguém? Está namorando, pai?

_ Tecnicamente sim.

_ Ah, é isso! Olha, eu não vou mentir pra você, dizendo que isso ainda não me assusta. Eu jamais imaginei que você e o meu pai um dia se separariam. Mas, eu percebi que foi o melhor pra você. O meu pai estava te fazendo muito mal e além do mais já está namorando

o insuportável. Então, se você estiver feliz com esse cara, eu também estou. Você tá feliz?

Leandro concordou com a cabeça, numa expressão de medo.

_ E quem é? É bonito? É rico? Ah, é namorar pobre seria desperdiçar a sua beleza.

_ Querida, essa é a parte difícil.

_ Por quê? É uma mulher?! Tomou a cura gay, pai?_ Vanessa brincou sorrindo.

Leandro aproveitou o golpe de coragem que sentiu e soltou de uma vez:

_ É o Abner.

Vanessa ficou paralisada, olhando para Leandro com a boca aberta.

_ Filha, eu não planejei nada. Eu não queria gostar dele, lutei muito contra esse sentimento, mas aconteceu. Ele esteve aqui no natal e aí nós conversamos e...

_ Eu não acredito!

_ Filha, eu sei que pra você pode ser difícil, mas o Abner é uma boa pessoa. E a minha relação com ele não vai intervir em nada na nossa, ele não vai tomar nenhum espaço seu e...

_ Mas que porra!_ Vanessa gritou socando as pernas.

_ Meu bem, eu sinto muito...eu não quero te magoar.

_ Há quanto tempo vocês estão com essa putaria? Aliás, nem precisa me responder... Vocês nunca terminaram...foi por causa dele que você saiu de casa e me abandonou.

_ Não foi isso. Eu saí de casa, porque o meu casamento com Júlio estava insustentável e eu nunca te abandonei.

_ Pai, esse cretino mentiu pra você! Até o nome ele mentiu! Ele teve um caso com o seu marido! Ele te fez de idiota, porra! Você poderia ter ficado com qualquer um, pai! Menos com aquele prostituto de quinta!

Vanessa deixou as lágrimas caírem.

_ Que ódio! Que ódio!

_ Filha, calma! Eu sei que no começo vai ser difícil, mas você vai acabar se acostumando.

_ Eu não quero chegar em casa e dar de cara com aquele desgraçado!

_ Tudo bem. Você não precisa conviver com ele aqui. Esta casa também é sua. Eu não vou te forçar uma convivência com ele.

_ Eu não quero isso... não ele, pai.

_ Eu sinto muito, Vanessa. Eu te amo muito e fico muito triste de ter te decepcionado. Mas eu não vou abrir a mão do Abner. Eu gosto dele e estamos felizes juntos. Eu prometo que não vou te impor a presença dele. Eu só gostaria que você respeitasse essa minha decisão.

_ Você não se respeita e quer exigir que eu faça isso?

_ Vanessa, por favor. Eu só tô querendo ser honesto com você.

Vanessa ficou chorando por um tempo. Leandro a abraçou e beijou no rosto.

_ Meu amor, eu não quero que você sofra. Não há motivo pra isso. Está tudo bem.

_ E se ele te magoar de novo?

_ Não vai. Eu prometo que não vai.

_ E quem já sabe? O meus avós sabem? O meu pai?

_ Não. Só a Val e a Patrícia. E agora você. Nem a família do Abner. Eu gostaria de pedir para que você deixasse esse assunto entre nós.

_ Você contou pra suas amigas e eu vou contar para a Marcinha. Eu preciso desabafar com alguém.

_ Tudo bem. Mas deixe que, no momento certo, eu conte para o restante da família.

_ Tudo bem._ Vanessa disse enxugando as lágrimas. _Só espero que você não faça como o meu outro pai, que me deixou de lado por causa de macho.

_ Não! Nunca! Você é a minha prioridade.

_ Eu quero conversar com o Abner. Acho que tenho esse direito.

_ Claro. Podemos ver isso para a próxima semana, quando você voltar da casa do seu pai.

_ E que seja aqui, no meu território.

_ Você não vai brigar né?

_ Não. Só quero conversar.

_ Tá tudo bem. Eu te amo.

Leandro a abraçou novamente. Vanessa apoiou a cabeça no ombro dele e continuou a chorar.

_ Eu tenho algo a dizer.

_ Diga, meu bem.

_ Não agora. Eu quero que você vá jantar lá em casa amanhã. É algo que tem que ser dito na sua presença e na do meu pai Júlio.

_ Alguma coisa que eu possa me preocupar?

_ Não é pior do que você acabou de me dizerVanessa e Leandro foram até a livraria para esperar por Júlio.

Vanessa se manteve séria o tempo inteiro, o que fez com que Patrícia percebesse que Leandro já havia contado de Abner para ela.

Abner entrou na livraria levando uma cesta de doces para Leandro. Assim que pôs os pés na livraria deu de cara com Vanessa, que o encarou com ódio.

Debochado, ele a cumprimentou sorrindo. Quis dar um beijo em Leandro, mas esse desviou o rosto, por respeito a Vanessa.

_ Obrigado pelos doces.

_ Quer um, Vanessa? Estão deliciosos.

_ Não. Obrigada, Abner._ Vanessa recusou com rispidez.

Júlio entrou em seguida.

Ao vê -lo, Vanessa correu para abraçá -lo.

_ Que saudade, meu amor! Como você está?

_ Bem.

Júlio percebeu os olhos inchados de Vanessa.

_ Você chorou, meu bem?

_ Sim.

Leandro temeu que ela pudesse dizer algo sobre Abner, mas Vanessa alegou que estava triste porque perdeu um brinco.

_ Ah não se preocupe, minha vida. Papai compra quantos brincos você quiser.

_ Pai, amanhã eu quero dar um jantar em comemoração ao meu retorno. Eu queria que fosse lá em casa. Mas eu gostaria que a família inteira estivesse presente, inclusive o meu pai e a Marcinha.

_ Por mim tudo bem. Cabe ao Leandro saber se ele quer.

_ Eu vou sim.

_ Então, ótimo.

Patrícia desceu do escritório, dizendo para Leandro que Alberto estava ao telefone querendo falar com ele. Leandro pediu licença para subir.

_ Júlio, você pode me esperar um pouco? Eu preciso falar com você.

_ Claro.

Leandro saiu e Júlio olhou para Abner sem disfarçar a raiva. Vanessa disse ao pai que aguardaria no carro.

O clima ficou tenso. Patrícia se viu sem saber o que fazer diante de Júlio e Abner. Ela temia que houvesse outra briga entre eles.

Naquela instante, um cliente entrou na loja e se aproximou do balcão cumprimentando a todos e perguntando se havia o livro Todos morrem no final.

_ Tem sim. Eu vou pegar para o senhor. Só um instante.

Patrícia olhou para Abner e Júlio e disse:

_ Por favor, se comportem._ e saiu.

Júlio olhou novamente para Abner.

_ Então quer dizer que você anda metendo o pau no que é meu?_ Júlio perguntou com ar de arrogância. Encarava Abner com a cabeça erguida e um olhar ameaçador.

Abner não sentia medo, na verdade estava com muita raiva. Quem Júlio pensa que é para ter tamanho atrevimento?

Contudo, quis ficar por cima e não demonstrar o seu ódio. Sorriu debochado, fazendo com que Júlio se sentisse ridicularizado.

_ Seu?_ Abner perguntou gargalhando.

_ Meu sim. Leandro é meu marido perante a lei.

_ Por pouco tempo. Só num papel que ele é o seu marido, mas na prática ele é todinho meu.

Júlio o olhava com ódio e Abner sorria ainda mais.

_ Com você, ele está ligado por obrigação. Comigo é por desejo. Prova disso é quando está na cama, peladinho, gemendo nos meus braços e tendo orgasmos múltiplos tá. Coisa que você nunca foi capaz de dar a ele. Mas como você é burro, hein! Todo metido a fodão. Gastando ríos de dinheiro pagando GP como eu, tendo um homem maravilhoso em casa! Mas é aquilo né, melhor pra mim. Acabei sendo o sortudo e faturando aquela maravilha.

_ Eu não vejo a hora de apagar esse teu sorriso.

Leandro desceu as escadas, retornando para frente do balcão. Ficou tenso ao perceber que Júlio e Abner trocaram palavras. Temeu que pudesse ocorrer uma briga entre os dois.

_ Bom, podemos conversar agora, Júlio?

_ Eu estava te aguardando pra isso. Mas será num lugar mais reservado? Creio que o assunto desrespeite só a família, já que com certeza a nossa filha é a pauta.

Abner sorriu para o aumento da raiva de Júlio.

_ Bom, eu já estou indo, meu amor. Tenho que trabalhar. Mais tarde, a gente se ver.

Abner se aproximou de Leandro e deu um selinho nele, o que o deixou constrangida e Júlio fervendo de ódio.

No escritório, Leandro fechou a porta e pediu para que Júlio se sentasse em frente.

_ Então, o que você quer?_ Júlio perguntou sério. Olhava para Leandro com severidade, de um jeito que Leandro detestava.

_ Eu quero realmente falar sobre a Vanessa.

_ Pois diga.

_ Desde que você começou a namorar, a Vanessa tem se queixado que você anda um pouco ausente com ela. A menina sente a sua falta. É nítida a tristeza dela. Vocês dois sempre foram muito próximos.

_ Então, o problema agora é o Luciano? Que ao contrário do seu amante, nunca fez sexo por dinheiro, não é um péssima companhia e não representa nenhuma má influência para a minha filha.

_ Eu não disse que o Luciano é problema! Não ponha palavras na minha boca!

_ Você não tem moral nenhuma para me criticar. Dorme com garotos de programa, mesmo sendo casado e tendo uma filha adolescente. Você é uma vagabunda!

_ Já chega! Eu não vou tolerar isso! Você não vai me ofender dentro da minha livraria! Quer saber? Abner não é o meu amante, é o meu namorado! E foda-se que isso te desagrade! Eu não tô nem aí! A vida é minha caralho! O Luciano não é problema e sim você, que está deixando a sua filha triste e é por ela que estou tendo está conversa com você, porque se eu não fosse a Vanessa eu nunca mais trocaria uma palavra contigo.

_ Olha aqui..._ Júlio disse levantando.

_ Olha aqui digo eu! Não me interrompa! Não venha jogar as suas sujeiras em mim! Se tem alguém aqui que gasta dinheiro com garotos de programas, desrespeitando a família e a filha essa pessoa é você! Isso na época em que estávamos casados. Mas graças a Deus, isso passou! Acabou, Júlio! Agora, eu exijo que você me respeite!

_ Eu não aceito que você me diga que eu não sou um bom pai!

_ Eu não disse isso. Eu só te alertei que você está magoando a nossa filha. Eu sei que, apesar de tudo, você não está fazendo por mal. Eu não estou culpando o Luciano de nada e nem ditando regras na sua vida. Sei também que ama a nossa filha e que é um bom pai. Só estou preocupado com a Vanessa. Mas você é quem sabe. Faça o que quiser.

Júlio permaneceu em silêncio por um momento, com a mão fechada sobre a boca e o cotovelo apoiado na mesa. Talvez Leandro tivesse razão, há tempos não dava atenção a Vanessa. Mas ele não queria dar o braço a torcer. Ficou em silêncio sobre esse assunto.

_ Eu quero falar sobre a Vanessa também. Eu não estou com tempo, tenho muito o que fazer. Preciso que você a matricule no Elite ou no Aliança, são os melhores cursinhos pré-vestibular do Brasil. Preciso que cuide de tudo é só me mande os boletos depois. É ano de vestibular e quero que Vanessa se dedique aos estudos.

_ Tudo bem. Eu sempre cuidei dessas coisas mesmo. Só acho que vai ficar pesado, já que ela também terá as aulas no colégio.

_ Pesado porra nenhuma. Vai para escola de manhã e o cursinho a tarde. Eu fazia isso e ainda trabalhava e não morri. É até bom, que ela fica ocupada e não perde tempo pensando em garotos. Eu gostaria que você fiscalizasse os estudos dela, já que ela fica durante a semana na sua casa. Se ela precisar de um professor particular, me diga que eu pago.

_ Tudo bem. Eu vou catar um espaço na minha agenda para ver isso.

_ Eu concordei com a Vanessa de fazer um jantar lá em casa e não vou me opor a sua presença, mas nem pense em levar o Abner, a casa é minha e ele não é bem-vindo.

_ Nós não fazemos questão disso. Não se preocupe. De você, queremos distância.

Júlio saiu batendo a porta, bufando de ódio.

Leandro se jogou na cadeira. Estava tenso e penetrou os dedos entre os cabelos.

....

No dia seguinte, Júlio decidiu que não iria ao escritório. Acordou com tanta raiva, que nem desejava sair do quarto.

Deu graças a deus que Luciano decidiu sair mais cedo para ir á academia e de lá iria ao shopping com uma amiga. Júlio fez questão de bancar o passeio do noivo, a presença do jovem o irritava e ele não podia demonstrar.

Ficou na cama até a metade da manhã, quando decidiu levantar para pegar um pouco de sol na piscina. Pediu que a empregada lhe servisse o café da manhã no local.

Ao chegar notou que a filha e Marcinha estavam sentadas á mesa, lanchando.

_ Bom dia, meus amores._ Júlio cumprimentou dando um beijo nas cabeças das duas.

_ Pai, eu tava pensando em alugar aquele buffet para o jantar de amanhã, aquele mesmo que você alugou no aniversário do pai Leandro no ano passado.

_ Por mim tudo bem. Aliás, eu estava querendo conversar com você sobre isso. Eu percebi que ando um pouco ausente contigo, filha.

_ Claro. Depois que você colocou aquela lagartixa fedorenta aqui dentro de casa, até esqueceu que eu existo.

_ Isso não é verdade. Eu ando muito ocupado. Muito trabalho. Mas eu vou tirar uns dias de férias e podemos ir pra Angra aproveitar os seus últimos dias de férias.

_ Ah não sei. Eu queria aproveitar um pouco com os meus amigos. Este é ano de vestibular e eu queria aproveitar um pouco as férias.

_ Tudo bem. Se prefere os seus amigos ao invés do seu pai.

_ Ah não faça drama, pai. E com certeza você iria arrastar o Luciano com a gente e ninguém merece. Mas a gente pode aproveitar o fim de semana para jogar tênis no clube. Lembra que a gente fazia isso direto? Mas sem o Luciano é claro.

_ Beleza então. Falando em vestibular o que as senhoritas estão pensando sobre isso?

_ Eu não sei, tio._ respondeu Marcinha._ os meus pais estão me cobrando que eu escolha um curso, mas eu não tenho interesse em nada.

_ Como assim não sabe o que fazer, vaca? Você vai cursar direito comigo.

_ Vanessa, você não pode escolher o curso universitario da sua amiga, filha.

_ Márcia, você quer ficar a vida inteira dependendo dos seus pais?

_ Não, amiga.

_ Então, faça Direito comigo. Eu já tenho uma empresa de advocacia, ou seja, o seu emprego já está garantido. E enquanto você trabalha, pode estudar para prestar concurso para juíza, assim seremos ótimas aliadas na área judicial.

_ Ah adorei! Faremos vários acordos. Ela aprendeu direitinho contigo, tio Júlio.

_ Negócios de família.

Vanessa disse piscando um dos olhos para Marcinha. Júlio a olhou sorrindo, orgulhoso.

_ Bom, falando nisso, há algo que quero conversar com a senhorita. Eu já falei com o Leandro e ele vai te matricular num curso pré vestibular. Você vai estudar na parte da manhã na escola e a tarde no cursinho.

_ Ah, pai, vai ficar muito puxado.

_ Não vai porcaria nenhuma. Você não faz nada da vida. Precisa estudar. Manter o foco. Ou você passa no vestibular este ano e ano que vem a vida segue normal, ou vai trabalhar na livraria com o seu pai.

_ Deus me livre! Eu não nasci pra ser livreira.

_ Então trate de estudar.

_ Pai, eu quero estudar na USP. Eu e a Márcia.

_ Tão longe! Por que não estuda na UFRJ? É tão boa quanto a USP.

_ Ah, pai, a grade do curso de direito lá me atraiu mais.

_ É tio, seria bom. A minha avó me deixou de herança um duplex lá em Sampa, que nós alugamos. Ano que vem o contrato do inquilino termina. Eu tava pensando em morar lá com a Vanessa, enquanto estudamos. Aí nós dividimos as despesas com os valores das nossas mesadas.

_ E as duas desajuizadas sozinhas em São Paulo! Até parece.

_ Pai, nós vamos ser maiores de idade. Você não vai poder fazer nada pra impedir.

_ Até lá nós conversamos sobre isso. Só quero que você foque nos estudos e passe no vestibular.

_ Okay, general._ Vanessa ironizou, batendo continência.

Era a primeira vez que Vanessa se concentrava para dar um jantar em casa. Antes era sempre Leandro o responsável pela organização dos eventos dados pela família.

Desta vez, ela mesma queria fazer isso. Mostrar aos país que era capaz e deixá-los orgulhosos. Escolhia com esmero cada prato que seria servido, o vinho e as outras bebidas, as toalhas, os talheres, as porcelanas e as taças que seriam usadas.

Luciano chegou em casa naquela tarde e estranhou quando viu a enteada dando instruções, por telefone, a algum funcionário do que parecia ser um buffet. Ele sentiu uma raiva tão grande de Vanessa dar um jantar em casa sem consultá-lo. Como se ele não existisse naquela casa, ignorando do fato que era o noivo do seu pai.

_ O que está acontecendo aqui?

_ Ok. Então não se atrasem. Tchau.

A jovem encerrou a ligação e olhou para Luciano.

_Estou organizando um jantar. Você é surdo ou idiota? Essa linda cabecinha que Deus te deu só serve para seduzir homens casados?_ Vanessa provocava com arrogância e um sorriso irritante.

_ Ninguém me disse nada de jantar.

_ E por que diría? Por acaso eu preciso da sua autorização para dar um jantar na MINHA casa? E outra, por mim você nem botaria os pés na sala de jantar, mas, infelizmente, você fode com o meu pai, então não posso te proibir. Mas, eu quero que pelo menos finja que tem educação, pois o meu pai Leandro virá e ele é um lord. Ah, nada de trazer a sua mãe. Eu já tenho que te aturar, agora aturar a brega da sua mãe já é demais e...

_ Você não vai botar o ex marido do Júlio aqui dentro desta casa, só pra me afrontar! Não vai mesmo!

_O que foi, Lu? Não confia no seu taco?

Vanessa o olhou de cima para baixo, sorrindo debochada.

_ Se bem que entendo a sua insegurança, você não chega aos pés do meu pai Leandro.

Vanessa arregalou os olhos assustada, quando ouviu o barulho das louças sendo quebradas. Num só golpe de fúria, Luciano virou a mesa de uma vez, transtornado.

_ Você não vai me humilhar desse jeito, sua puta desgraçada! Aqui aquele desgraçado do Leandro não pisaaaaaa!_ Luciano gritava rouco, estava vermelho com as veias do pescoço alteradas.

Era a primeira vez que Vanessa o vía daquele jeito. Ficou muito assustada.

_ Sua porca cretina! Eu vou te matar! Vou rasgar essa sua barriga, colocar essas tripas pra fora e te enforcar com elas.

Luciano tomou posse de uma das facas. Ao ver isso, Vanessa correu para o quarto gritando por socorro.

Luciano foi atrás enfurecido com a faca erguida. Vanessa corria com o coração tão acelerado que parecia que saltaria pela boca.

Ao chegar no seu quarto, entrou as pressas e tentou fechar a porta, mas as forças de Luciano eram maiores, que a derrubou num só golpe. Vanessa perdeu o equilíbrio e caiu no chão, assustada, gritando pondo as mãos no rosto em gesto de defesa.

Para o seu azar, não havia ninguém em casa. Júlio ainda estava no escritório e Valdeia havia ido ao mercado.

Vanessa gritava desesperada. Nunca sentiu tanto medo na vida. Luciano não parecia o mesmo que ela estava acostumada a lidar. Ele exalava a ódio, parecia possuído por algum espírito maligno.

_ O Leandro não vai pisar aquiiiiiii! Paraaaaa! Por favor, Vanessa paraaaaaaa!

Vanessa ficou em choque quando viu Luciano rasgar várias vezes o próprio braço, urrando de dor.

_ Socorrooooooo! Alguém me ajudaaaaaa! Essa garota é loucaaaaa! Ela vai me matar!

Vanessa não conseguia dizer uma palavra. Só tremia de medo.

Luciano a pegou pela mão com força e pôs a faca. E saiu correndo do quarto segurando os ferimentos.

Vanessa permaneceu parada, chorando e tremendo com a faca na mão.

Luciano correu pelas escadas. Abriu a porta gritando pedindo ajuda.

Nessa hora, o elevador abre e Júlio sai de lá com a empregada e uma das vizinhas. Ele ajudava a Valdeia segurando uma das sacolas.

Ao ver Luciano ferido a põe no chão e corre em direção ao noivo.

_ O que aconteceu, Luciano?!

_ A Vanessa me atacou...ela me atacou..._ Luciano disse em prantos.

As duas mulheres ficaram nervosas.

_ Meu deus! Você tá sangrando!_ Exclamou Valdeia.

_ Ela me atacou com uma faca! Está completamente descontrolada porque eu não concordei com o jantar...me desculpe, meu amor. Eu não sabia que isso poderia a deixar transtornada.

_ Cadê a Vanessa?!_ Júlio perguntou trêmulo.

_ Tá no quarto dela.

_ Valdeia leva o Luciano pra dentro e liga pro doutor Castilho... só o doutor Castilho entendeu? Peça para ele vir com urgência e conte o que aconteceu.

_ Mas no estado que ele está, ele precisa ir ao hospital.

_ Valdeia, só faça o que estou mandando!

_ Tá bom, seu Júlio.

Júlio entrou em casa correndo.

_ Venha, seu Luciano. Eu ajudo o senhor a entrar.

Valdeia envolveu o braço bom de Luciano no próprio ombro. A vizinha ofereceu ajuda, mas eles recusaram.

Júlio entrou no quarto de Vanessa correndo ofegante. Encontrou a filha paralisada, trêmula com a faca na mão.

_ Filha, dá a faca pro papai, dá.

Vanessa estava em estado de choque. Não conseguia dizer uma palavra. Júlio se aproximou com cautela e retirou a faca.

Vanessa deu um grito de desespero. E Júlio a abraçou.

_ Calma, meu amor! Calma! O papai tá aqui!

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Comentários

Foto de perfil de Viktor Gabriel

Nossa, como o Luciano foi burro kkk. Duvido o Julio acreditar nele ao invés de acreditar na Vanessa.

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Foto de perfil genérica

Não gosto de nenhum dos tres mas tomara que Vanessa consiga desmascarar Luciano perante o Julio. Agora vou me repetir, ainda não sei se o Abner é merecedor de confiança mas adoro ve-lo com Leandro, a quimica entre os dois e sensacional e acho que realmente eles se amam. Sem falar que o tesão deles é contagiante só de ler os encontros deles fico muito excitado. Parabéns e obrigado pelo conto.

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Foto de perfil de Ana_Escritora

Capítulo longo mas necessário. Ufa!

Será que o Luciano é mesmo uma pessoa manipulável após essa cena final? Ele pode ser muito mais ardiloso e cínico e não nos demos conta.

E eu amei a rápida participação do Victor e da Alice, ficaram perfeitos demais.

Ansiosa pelo próximo e como a Vanessa vai sair dessa. Te disse nos bastidores e repito aqui: estou morrendo de pena dela hahahahahahah

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