Amor no Paraíso - Cap 8: Decisões

Da série AMOR NO PARAÍSO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2129 palavras
Data: 12/10/2023 14:46:30

— Os moradores de Búzios foram pegos de surpresa por um vendaval na madrugada desta quarta-feira. Segundo a Defesa Civil, existem vários pontos de alagamento na cidade e dois deslizamentos de terra também foram registrados no bairro Tucuns. Três casas foram atingidas. — a repórter falou, antes de César desligar o celular.

— Caramba. — soltou Hugo, vestindo a roupa emprestada de César.

— Isso é comum aqui? — perguntou o empresário, levantando e indo em direção ao banheiro.

— Chove uma vez ou outra, mas nada como ontem. Foi surreal. — contou Hugo, observando o corpo de César, que usava apenas uma cueca. — César, eu preciso ir. Daqui a pouco o João acorda.

Apesar das informações iniciais, ninguém fazia ainda ideia da dimensão dos estragos que a tormenta trouxe para a cidade de Búzios. Aos poucos, os funcionários acordaram e seguiram para o saguão do hotel. Adelaide fez um discurso inspirador sobre superar as adversidades e pediu para que todos dessem o seu melhor na situação.

Como aconteceu no jantar, três pessoas ficaram responsáveis pelo café da manhã. No quarto, César tentou entrar em contato com alguns funcionários, mas a rede de telefonia estava defasada. Para o empresário, a prioridade era reformar o estrago feito pela árvore na janela do hotel.

Ao descer, ele encontrou os colaboradores tomando café. César se juntou a eles e serviu um prato com alguns alimentos. Naturalmente, César sentou ao lado de Hugo, que ficou vermelho e quase engasgou com um pedaço de maçã.

Porém, a lábia de César fez com que o clima estranho fosse dissipado. Essa era uma das suas principais qualidades. O empresário conseguia se adaptar aos grupos e conversas. O bate-papo foi atrapalhado por um afogado Eliezer, que entrou e parecia ter saído de um filme de apocalipse zumbi.

Após tomar um gole de água, o diretor do hotel explicou que parte da cidade estava debaixo d'água. Com o celular, Eliezer registrou algumas cenas da destruição. Para chegar, ele precisou andar quase 20 minutos a pé e precisou cortar o caminho diversas vezes.

O celular de Hugo começou a apitar. No visor, apareceu o contato do asilo onde seu pai estava internado. Desesperado, o skatista atendeu e o diretor explicou que o local sofreu uma inundação e os idosos estavam do lado de fora do prédio, pois não havia outro lugar para ir.

— César, — Hugo balbuciou o nome do empresário e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. — eu preciso ir. — saindo correndo.

— Hugo! — César gritou ao ver o skatista correndo para fora do hotel. — Eliezer e Adelaide, por favor, segurem as pontas. Eu vou verificar o que houve. — correndo na direção de Hugo.

Correndo pelas ruas de Búzios, os dois tiveram noção de como a cidade foi afetada. Árvores, entulhos e muita água estava pelo caminho. Depois de alcançar Hugo, César pediu um tempo para analisar a situação, afinal, o trajeto traria muitos desafios.

De bicicleta, por exemplo, não daria porque a rua estava repleta de lixo e detritos trazidos pela chuva. César sugeriu ir caminhando, mas sem correr, afinal, a maior parte do caminho estava submersa por uma água escura.

— Eu vou sozinho, César. Volta para o hotel. Tenho certeza que tem diversos problemas e...

— Não. — César cortou Hugo e tocou no ombro do skatista. — Hugo, você ir sozinho é loucura. Olha para essa rua. Fora que a Adelaide e o Eliezer vão fazer os ajustes necessários. Eu vou contigo.

— Para de ser teimoso, cara.

— Hugo, o tempo que você está gastando sendo birrento, já daria pra gente ter andado bastante. — afirmou César, pegando um pedaço de madeira chão e colocando dentro da água. — Vem. — andando e usando a madeira como guia para evitar buracos.

Foram mais de 30 minutos andando e desviando de obstáculos. O coração de Hugo parecia que ia encolher em seu peito. O seu pai era o único parente vivo e vê-lo em uma situação de risco o deixava impotente. Já César tinha os seus próprios problemas paternos, mas não deixaria que nada atrapalhasse o resgate de Horácio.

No caminho, ele trocou mensagens com diversos investidores e a família, que ficaram mais preocupados com danos materiais do que com a segurança do empresário. Precavido, o empresário já pediu que o helicóptero ficasse apto para qualquer necessidade.

Cansados e molhados, a dupla chegou na rua da "Residência do Aconchego". A cena era desoladora. Vários idosos na rua, alguns deitados em cima de carros, pois a água estava muito alta. O seu Horário conseguiu ajuda com alguns vizinhos e ficou em uma escada. O idoso usava apenas uma bata e tremia de frio.

— Pai! — gritou Hugo correndo na direção de Horácio.

— Gael, onde você estava. Uma goteira no meu quarto me deixou maluco. Não dormi nada essa noite. — reclamou o idoso, que começou a tossir muito.

Enquanto isso, César procurou a direção do asilo para saber o que havia de fato acontecido e qual o tamanho do prejuízo. O diretor da residência, seu Agenor Luiz, explicou que durante a madrugada a água da rua invadiu o espaço. Como não havia um segundo andar para mandar os idosos, eles tiveram que esperar a chuva passar e as enfermeiras improvisaram as mesas para servir de cama, mas a água avançou mais e mais.

Em um momento de crise, as pessoas não podem se desesperar. Esse é o principal conselho que César recebeu do avô, o saudoso Eduardo Trajano. Olhando toda a confusão, o empresário fechou os olhos e elaborou uma maneira de ajudar o asilo. Como um raio, uma ideia o atingiu e César começou a fazer ligações.

Não demorou muito e Joana, a mãe de César, o ligou. A mulher queria mais detalhes deste plano de ação para ajudar os necessitados de Búzios. Mesmo receosa com os recursos que seriam gastos, a mulher conhecia a cabeça dura do filho e o auxiliou em todas as etapas.

— Você tem certeza, César? — questionou Hugo, que achou a ideia muito exagerada.

— O Hotel Trajano faz parte desta comunidade, Hugo. O meu avô sempre dizia que as pessoas vêm em primeiro lugar. Eu já dei ordens para os funcionários do hotel transformarem o auditório em um abrigo para os idosos. Lá, poderemos dar assistência e apoio para o asilo. — explicou César, que recebeu um abraço apertado de um choroso Hugo. — Tá tudo bem, Hugo. Vai dar tudo certo, ok?

Sol forte. Isso mesmo. Um calor de 33º graus atingiu Búzios. Nem parecia que uma tempestade assolou toda a cidade. Com a redução das águas, uma equipe do hotel foi para a rua do asilo. Eles pegaram os 15 idosos e os levaram para o Hotel. De helicóptero, a mãe de César enviou 30 colchões, que já estavam em transporte de São Paulo para Búzios.

Ao chegarem no empreendimento, uma nervosa Adelaide já esperava pelas vans que traziam os idosos. Para a supervisora, aquele mês de treinamento parecia mais seleção para o Exército do Brasil. Apesar de tudo, ela abriu um sorriso quando os primeiros desabrigados chegaram ao Hotel Trajano.

Uma força tarefa transformou o auditório do hotel em um abrigo com camas improvisadas para os idosos e as enfermeiras. Naquela tarde, César recebeu uma ligação do prefeito de Búzios, que agradeceu a ajuda e perguntou se a prefeitura poderia montar uma base no estacionamento do hotel, algo que o empresário aceitou na hora.

— Ei, — César chamou a atenção de Hugo, que carrega algumas toalhas. Os dois não se falavam desde cedo. — vem cá.

— Oi? — questionou Hugo.

— Vem. — César pegou na mão de Hugo e o levou para o escritório. — Como você está?

— Melhorando. — disse Hugo. — César, sério, eu não sei como te agradecer. — Hugo deu outro abraço e um beijo em César.

— Ei, não se preocupe. Eu te disse, o Hotel Trajano faz parte da comunidade. Vamos dar até um suporte para a prefeitura. Estou feliz em ajudar. Agora vai cuidar do seu pai. — pediu César, sorrindo e tocando no rosto de Hugo.

— Até mais tarde. — Hugo disse, andando em direção a porta e ao abrir se depara com uma mulher elegante, além de muito cheirosa.

— Com licença, querido. Eu posso ter uma conversa em particular com o meu filho? — questionou a mulher. Ela esperou Hugo sair e fechou a porta.

— Ok. — soltou o skatista, ficando parado por alguns segundos, mas voltando a sua atenção para o pai.

Na televisão, todos os jornais falavam sobre o desastre em Búzios. A hashtag #oraçãoporbuzios lotou as redes sociais e as pessoas ajudaram da maneira que dava. O plano de César chamou uma atenção positiva para o hotel, que foi citado em diversos noticiários, principalmente, após a prefeitura local montar um acampamento no estacionamento do empreendimento.

Como a Rede de Hotel Trajano nunca passou por uma situação parecida em seus 100 anos de funcionamento, a antiga CEO da empresa, Joana Trajano, decidiu ver de perto as ações do filho para resolver os problemas e ajudá-lo a lidar com a pressão. Ela sabia que César era competente, mas ninguém é de ferro.

De uma maneira bem dinâmica, César explicou para a mãe quais foram os pontos de apoio montados no Hotel e a levou para um tour. A mulher fazia diversas anotações em um tablet e reconheceu Hugo, que ajudava os enfermeiros do asilo.

— Filho, você fez um excelente trabalho. — disse a mulher, guardando o tablet na bolsa.

— A senhora não sente falta de administrar os hotéis? — perguntou o empresário. Os dois estavam observando os enfermeiros e idosos no abrigo.

— Eu? — ela soltou dando uma risada abafada. — Às vezes, já em outras eu dou graças a Deus que passei a tocha.

— Ah, mãe. Eu lembro de como a senhora falava com paixão do hotel. O Vovô disse que o seu sonho de criança era gerenciar os hotéis. Até escreveu uma carta para o Papai Noel pedindo para ser adulta e cuidar do empreendimento. — lembrou César em uma de suas diversas conversas com Eduardo Trajano.

— Verdade. As coisas mudam, filho. O seu pai ficou doente. Uma coisa levou a outra. É a coisa mais natural do mundo você ser o dono deste império. E, César, está fazendo um trabalho fantástico. — admitiu a mulher, encostando a cabeça no ombro do filho. — E quem era o gatinho no seu escritório?

— Mãe! — exclamou César, ficando nervoso e vermelho.

— Eu não sou boba, César.

— Ele é funcionário do hotel. — confessou César, que já sabia a opinião da mãe sobre o assunto.

— Filho, — Joana respirou fundo. — só tome cuidado, por favor. Às vezes, misturar negócios e relacionamentos é complicado demais. Você promete que vai tomar cuidado?

— Sim, mãe. — concordou o empresário. — O Hugo é um cara legal. Ele está cuidando do pai. — apontando para frente.

— Bem, então, cabe a nós ajudarmos também. Vamos ver se estão precisando de mãos extras. Inclusive, eu vi a cozinha do Hotel, maravilhosa. Será que os idosos comem paella? Estou louca para cozinhar. Trouxe até um vinho espanhol e... — Joana encarou o olhar de julgamento do filho e achou que uma canja cairia melhor para a situação.

E assim os dias passaram e a tempestade se tornou apenas uma lembrança ruim. Aos poucos, a cidade voltou ao seu normal, com pessoas e turistas transitando pelas ruas de Búzios. Como parte de um projeto interno do hotel, a 'Residência do Aconchego" ganhou uma reforma e um segundo andar para evitar transtornos como o da enchente.

Por pouco, a equipe do desfile não cancelou o evento, mas César realizou diversas reuniões para evitar a desistência. Ele também passou a frequentar a casa de Hugo. Os dois queriam evitar um burburinho sobre o relacionamento. Para celebrar a inauguração do Hotel Trajano, César decidiu patrocinar uma noite temática no 'Bar do Lopez'.

Em uma das noites das Drags, César, Hugo e René decidiram dar a notícia para Lopez, que delirou de tanta alegria. O quarteto ficou em uma parte mais afastada do bar e conversou sobre o evento.

— Essa festa vai bombar! "Bem-vindo aos anos 2000" será um sucesso, viado! — gritou Lopez, animado com o investimento e visibilidade que o seu bar receberia.

— Já vou pensar em uma fantasia babadeira. — afirmou René, que, finalmente, pode sair de casa depois de ficar ilhada por dois dias. — Eu estou precisando de um caminhão de vodca.

— E o seu pai? — César perguntou a um pensativo Hugo.

— Ele está ótimo. Nem lembra do perrengue, coitado. — contou Hugo.

— E essa carinha pensativa?

— César, eu recebi o resultado das seletivas.

— O quê?! — César não pôde se contentar de alegria e chamou a atenção dos outros.

— Eu, eu passei na seletiva, pessoal. — Hugo avisou e todos os amigos celebraram, então, René percebeu que havia algo de errado e perguntou ao amigo. — Eu vou ter que me mudar para Los Angeles daqui a três meses. Só o tempo de ajustar o meu visto e ver os patrocinadores. — o anúncio de Hugo deixou todos em choque.

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