02 - Batalha Perdida

Um conto erótico de Nassau
Categoria: Heterossexual
Contém 5488 palavras
Data: 23/11/2023 00:06:13

Batalha Perdida

Parte 02 da Série: A Filha, a Esposa do amigo e a Filha Deles

No sábado, logo ao acordarem, Lalana se aproximou de Kleber e, parecendo ter se esquecido da conversa no dia anterior, sentou em seu colo e falou carinhosamente:

– Papai. A Thy e eu vamos ao show da Tasha & Trace? Vai ser no POA Club.

Kleber olhou fixamente para a garota demonstrando toda a sua perplexidade. Não era possível que ela não se lembrasse de tudo o que disse a ela e da proibição de andar com a Thyra e acreditou que o pedido dela fosse apenas um teste, ou seja, ela tocava no assunto para descobrir se ele havia falado sério ou não. Lalana já dava sinais de impaciência quando ele respondeu:

– Sem chance. Você está de castigo. Lembra?

– Ah pai! Nem acredito que você estava falando sério.

– Pois pode acreditar. Foi sério sim. Você está proibida de andar com a Thyra. Não quero ela aqui e não quero que você vá até a casa dela. Saírem juntas para um show então, nem pensar.

– Você está brincando, não está?

– Não me teste Lalana. Você está de castigo. – Kleber falou a última frase em um tom acima do normal e esperava com isso encerrar a discussão.

A princípio pareceu dar resultado. Lalana lhe dirigiu um olhar de raiva, mas como ele sustentou o olhar ela pareceu se render e baixou a cabeça. Kleber ficou satisfeito achando que aquele era o resultado final da conversa e quando ela se levantou do colo dele e se afastou um pouco ele também ficou em pé para abraçar a filha. Não queria vê-la magoada. Não deu dois passos e estacou quando ela ergueu a cabeça e olhando em seus olhos, perguntou:

– Por que você voltou todo nervoso depois de deixar a Thy na casa dela? Afinal de contas você passou um tempão lá na piscina olhando para as tetas dela.

Kleber ficou paralisado. Não é que ele não estivesse acostumado com essas reações da filha, pois apesar de ser tímida com todo mundo, com o pai ela não nunca demonstrava receio de falar o que pensava, Mesmo assim ele achou que ao lhe acusar de ficar olhando para a amiga era um desrespeitoso demais e reagiu:

– Você me respeita menina. Isso é jeito de falar com o seu pai?

– Não sei. Nunca precisei falar assim.

Kleber se surpreendeu com a resposta de Lalana. Aquilo era uma novidade para ele.

Normalmente, quando queria alguma coisa que ele não queria dar ou fazer, ela fazia birra, ficava emburrada, mas dificilmente o confrontava daquela forma. O normal era ela dizer o que pensava e sair de perto dele, permanecendo distante por várias horas até que ele cedesse.

Kleber ficou calado pensando sobre isso e como não disse nada, Lalana continuou:

– Então papai. Qual o problema da Thy e eu nadarmos nuas? Ninguém vê a gente e já fizemos isso outras vezes. Eu não tenho culpa se você entrou de mansinho e a gente não percebeu.

Havia fundamento no argumento da filha. O que ele não aceitou foi a tentativa dela de inverter o curso da conversa colocando a ele como culpado. Então confessou:

– Eu só não acho saudável. E se em vez de ser eu, fosse outra pessoa? Isso já passou por sua cabeça?

– Outra pessoa quem? Só o senhor tem o controle do portão que dá acesso à garagem e uma das chaves do portão pequeno e eu tenho a outra. Então, ninguém vai entrar aqui.

– Não é bem assim. Sua tia Michele tem uma cópia da chave. Eu deixei com ela para o caso dela precisar entrar aqui em casa no caso de ela precisar e nós não estivermos aqui.

– E daí? Qual o problema disso? Do jeito que a tia é seria bem capaz dela se juntar a nós e ficar nua também.

Isso era verdade. Parte daquela maluquice de Thyra era herança genética de sua mãe e Kleber sabia disso como poucas pessoas sabiam. Mas havia algo de esquisito no jeito de sua filha falar, parece que ela estava apenas sondando o terreno e tinha algo mais grave para falar. Isso fez com que ele permanecesse em silêncio enquanto tentava entender o que podia estar acontecendo. Lalana esperou e, quando viu que ele não ia dizer nada, deu mais um passo em direção ao que era seu objetivo. Cruzou os braços sobre os seios cobertos por uma camiseta polo folgada e, com os olhos fixos nos deles, disparou:

– Sabe de uma coisa papai. O problema não foi o fato de a gente estar pelada. Estou falando isso porque você não pareceu tão incomodado quando desceu e se juntou a nós.

– Quando eu cheguei lá vocês já estavam vestidas.

– Apenas a parte de baixo do biquíni. Aliás, eu notei o quanto você ficou admirando os seios da Thy.

Novamente a acusação de que ele tivesse manifestado desejo por sua amiga. Aquilo já estava indo longe demais e ele reagiu:

– Você me respeita Lalana. Quem te deu autorização para falar assim comigo? – O tom de voz de Kleber indicava que ele estava realmente zangado.

– OK. Desculpa aí tá? Mas eu só queria entender uma coisa. Mostrar os peitos pode e a bunda não? A regra é essa?

– OLHA O RESPEITO MENINA.

Entretanto, Lalana não se intimidou com o fato de seu pai estar gritando com ela e continuou a falar em tom normal:

– Então confesse uma coisa. Me fale porque você não disse nada quando desceu. E não me venha dizer que foi por causa da Thy que eu sei que isso não te impediria de brigar comigo. Aliás, de brigar com nós duas. Ou será que os peitos da minha amiga te hipnotizaram.

– AGORA CHEGA LALANA. VOCÊ ESTÁ DE CASTIGO POR FALAR ASSIM COMIGO!

– Outro castigo? Ou é só uma repetição do outro? – A reação de Kleber ao ouvir a lógica de Lalana o deixou embaraçado e ela aproveitou disso para reclamar: – Isso não é justo. Afinal, eu não estou te desrespeitando papai, só estou curiosa. – A tranquilidade da garota diante a irritação do pai o surpreendia. Era raro ela reagir dessa forma, usando a calma e a lógica em vez de fazer chantagem emocional. Entretanto, Lalana não se intimidava com o olhar furioso que seu pai lhe dirigia e soltou de vez a bomba: – Sabe o que eu acho papai? Eu acho que aconteceu alguma coisa no caminho daqui até a casa da Thy. O senhor estava bem quando saiu, mas quando voltou estava vomitando marimbondos e me colocou de castigo.

Apesar do tom da conversa, Kleber não pode evitar um tremor ao ouvir a afirmação dela que, para piorar, continha certa tom de deboche por parte da filha. Era como se ela soubesse do que aconteceu e estivesse lhe comunicando isso e a simples ideia de que a Thyra tivesse comentando com Lalana ao telefone o que tinha acontecido no interior do carro quando ele foi levá-la em casa simplesmente inconcebível. Mesmo assim, resolveu confirmar e perguntou:

– O que aquela garota andou te contando?

– Contando o que papai? Eu nem vi mais a Thy depois que ela saiu daqui!

– Então porque você está insinuando que aconteceu alguma coisa entre a gente?

Kleber se arrependeu na mesma hora de ter feito essa pergunta. Aquilo era quase que uma confissão de culpa e a expressão vitoriosa de Lalana dava a entender exatamente isso. Só que ela, ao se sentir em vantagem e ela pegou a deixa, falando para ele:

– Como assim? Não entendi? Eu faço uma pergunta e você me responde com outra? Oras papai. Assim vou ficar acreditando que ela tinha alguma coisa para me contar e, como ela não falou nada, acredito que você vai me contar agora. Fale papai. O que aconteceu para o senhor voltar tão irado?

– EU JÁ TE DISSE QUE NÃO ACONTECEU NADA?

– Então porque você voltou não nervosinho?

– EU NÃO VOLTEI NERVOSO COISA NENHUMA.

– VOLTOU SIM SENHOR. POIS MAL CHEGOU AQUI E COMEÇOU A BRIGAR COMIGO.

Lalana, uma garota que pecava pela timidez, nunca tinha levantado a voz contra seu pai que ficou boquiaberto quando ela parou de gritar com ele. Sentou-se no sofá, curvou o corpo escondendo o rosto entre suas mãos e procurou se acalmar, nem que fosse para poder entender direito o que estava acontecendo.

Ele tinha certeza de que Thyra e Lalana haviam se falado e nessa conversa a loirinha tinha contado para sua filha o que aprontara. Até aí tudo bem. Garotas na idade delas costumam trocar confidências e aventuras. Só que ele achava um absurdo Thyra contar para sua filha que havia chupado seu pau. Por outro lado, havia uma coisa que não se encaixava, pois pelo o que ele conhecia de sua filha, o normal seria ela montar o maior barraco com a amiga por causa do seu ciúme, mas ela continuava calma.

No íntimo, Kleber sabia que o problema ali era só o fato de ele ter colocado a filha de castigo por um ato errado cometido pela amiga dela, entretanto, na sua concepção, tudo o que acontecera só servia para lhe mostrar que a pequena Thyra, filha de seus melhores amigos Gunnar e Michele, não era o tipo de pessoa que servia para ser amiga da tímida, bem educada e amorosa filha que era a sua principal razão de viver. Pensando dessa forma, ele era obrigado a concordar que o fato delas ficarem nuas na piscina, apesar de não aprovar, não provocaria nele uma reação tão radical e, no máximo, uma conversa com Lalana a alertando dos riscos que tal atitude envolvia.

O que o afligia era o fato de que a Thyra, sendo capaz de uma atitude como aquela, muito provavelmente fosse acostumada a assediar homens e usar sua capacidade de sedução para manipular os garotos de sua idade com a maior facilidade e, nesse cenário, qual seria o papel representado sua filha? Lalana, apesar da beleza incontestável de Thyra, era muito mais bonita que ela e tinha um corpo que chamava muito mais a atenção dos homens. Seu medo era que, influenciado pela outra, sua querida filha vencesse sua timidez e passasse a agir da mesma forma.

Despertou de seu devaneio quando ouviu a voz da filha, já calma, perguntar:

– E então papai. Você leva a gente no show?

– Eu já te falei que você não vai ao show Lalana. Desista.

– Você que pensa. Vou pedir para a tia Michele levar a gente.

– VOCÊ ESTÁ SURDA? NINGUÉM VAI TE LEVAR A LUGAR NENHUM PORQUE VOCÊ ESTÁ DE CASTIGO.

– PARA DE GRITAR COMIGO.

– EU GRITO PORQUE VOCÊ PARECE QUE ESTÁ SURDA.

– SURDO ESTÁ VOCÊ. EU JÁ FALEI QUE VOU AO SHOW.

– SE VOCÊ FOR, VAI FICAR DE CASTIGO PARA O RESTO DA SUA VIDA.

Justo nessa hora a porta da sala se abriu e Michele invadiu a sala. Pai e filha olharam para ela já sabendo que ela tinha usado sua cópia da chave para entrar na casa e, sem dar nenhuma explicação com relação a isso, foi logo perguntando:

– O que está acontecendo aqui que os dois estão brigando?

Kleber caiu em si de que havia passado dos limites e se envergonhou por isso. Sua vergonha foi tanta que, depois de dizer que não era nada em voz baixa, saiu apressadamente da sala pelas portas do fundo enquanto Thyra e o Gunnar entravam pela da frente, deixando para Lalana a obrigação de explicar para a Michele o que se passava.

Não demorou e a amiga foi até ele que tinha se refugiado ao lado da piscina. Ela se aproximou com um balde de gelo, um litro de uísque e dois copos. Sentou-se ao seu lado e começou a preparar duas doses da bebida. Sem dizer nada. Quando acabou, entregou um copo para ele e fez o movimento de brinde enquanto falava:

– Às revelações que vão sair dessa conversa.

– Cadê o Gunnar?

– Saiu. Ele sentiu que a Lalana não ia se abrir na presença dele e arrumou uma desculpa. Deve ter ido buscar carne para um churrasco.

Kleber sacudiu a cabeça concordando. Sabia que a presença de seus amigos ali seria de grande ajuda. Porém, não conseguiu disfarçar o quanto ficou perturbado quando a Thyra veio correndo até onde ele estava e se atirou no seu colo enquanto beijava seu rosto dizendo:

– Oi meu tio preferido. Dormiu bem essa noite?

Lógico que ela estava caçoando dele. Aquela pergunta não estava completa. O que a expressão zombeteira da menina demonstrava é que ela queria saber se ele tinha dormido bem depois do que ela fizera. Ele sorriu sem graça para ela e fez leve pressão para que ela se levantasse de seu colo, o que foi notado por Michele que entendeu que a presença da menina impediria que eles tivessem uma conversa franca e então pediu para Thyra:

– Vai ficar com a Lalana. Seu tio e eu precisamos conversar.

– OK mamãe, já vou indo. Só vim dar um beijo no meu tio lindo.

Dizendo disso, Thyra deu mais um beijo no rosto de Kleber. Ele não soube se estava sugestionado demais ou se realmente aquele beijo tinha sido dado muito próximo à sua boca. A loirinha saiu correndo em direção â casa enquanto Michele perguntava:

– O que está acontecendo Kleber? Nunca vi você tão alterado assim, principalmente com a Lalana.

– Foi um problema que tivemos ontem. Eu a coloquei de castigo e ela não aceita que errou.

– Lógico que não vai aceitar. Você nunca a colocou de castigo! Mas a forma como vocês gritavam um com o outro quando eu entrei me deixou preocupada sabe! Imagino que foi algo muito grave para você reagir desse jeito.

“E agora? O que eu faço? Estou em um beco sem saída, pois não posso falar para a Michele que sua filha é uma putinha que chupou o meu pau ontem.” – Pensou Kleber enquanto pensava em algo para poder justificar sua raiva contra a filha. Então ele resolveu que, entre dois pecados, confessar o menor deles sempre ajuda e, respirando fundo, confessou:

– É que ontem a tarde, quando cheguei em casa, as duas estavam nadando nuas na piscina.

Michele o encarou com a expressão de “não acredito nisso” antes de responder com um sorriso nos lábios:

– Foi isso? Você está querendo me dizer que essa briga toda é porque duas garotas adolescentes estavam nadando nuas em um local reservado? Ah não! Você só pode estar brincando.

– Você acha isso normal?

– Bom. Só estavam as duas aqui, não era? Ou você acha que tinha algum garoto escondido no seu quintal?

– Não. Lógico que não. Mas mesmo assim é errado.

– Errado Kleber? Faça-me o favor. Elas não estavam se expondo. Além disso, se estivessem, era o corpo delas que estavam sendo mostrado. Isso é uma coisa que depende delas.

– Não acredito que você pensa assim.

– Me faça um favor Kleber, deixe de ser inocente. É lógico que penso assim e você, mais que ninguém devia saber disso. Ou você se esquece de minha descendência francesa? Além disso, você sabe o que eu penso a respeito das pessoas terem o direito de usarem seu corpo da forma que quiserem, com quem quiserem e do jeito que quiserem. Aliás, eu acho até hipocrisia da sua parte vir com esse papinho sobre moralidade. Não pra cima de mim meu amigo.

– Mas você já é adulta. Eu não quero que pensem que minha filha é uma vadia.

– Ah. Então é isso? Você me vê como uma vadia. Mas bem que você gosta quando eu estou sendo vadia não gosta? Principalmente quando estou sendo a sua vadia.

– Não foi isso que eu quis dizer. Desculpe. – Ao dizer isso Kleber notou uma expressão de vitória surgir no rosto de Michele e decidiu que, pelo menos dessa vez, não ia deixar se vencer, o que fez com que acrescentasse: – Eu respeito o jeito que você conduz sua vida, só acho que as meninas são muito novas para serem influenciadas por isso.

– Muito novas? Do que você está falando?

– Elas mal completaram dezesseis anos Michele!

– Ah! Entendi! Quer dizer que isso só é errado por causa da idade delas. Então me diga uma coisa meu querido Kleber, quantos anos uma garota precisa ter para se julgar mulher e poder usar seu corpo da forma que melhor lhe aprouver?

A pergunta de Michele pegou Kleber de surpresa porque ele sabia da história de vida de Michele, só que ele não teve tempo de se recuperar, pois ela continuava a dizer:

– Foi exatamente isso que você quis dizer. Não se faça de tolo que eu sei que você não é. Mas tudo bem. O meu modo de ver as coisas e o que você acha certo e errado em mim a gente pode ver depois. Agora estamos falando de nossas filhas.

– Estou falando da minha filha.

– Verdade é? E o que foi que você fez? Que tipo de castigo deu para a menina?

– Só do jeito de você perguntar fica claro que já sabe.

Michele permaneceu quieta por alguns segundos apenas o encarando. Era como se ela estivesse decidindo se ia direto ao ponto ou se contornava alguns. Resolveu então que queria ouvir da boca do Kleber o que ele havia determinado como castigo da filha.

– Não sei. Se você está insinuando que a Lalana já falou comigo a respeito disso você está enganado. Então vamos lá. O que foi? Conta logo.

– Contar o que Michele? O que você quer saber?

– Qual o castigo da Lalana? Sobre o que estamos falando aqui?

– Você já sabe. Por que fica me perguntando?

– Eu já te disse que não conversei com a Lalana. Então desembuche logo.

Kleber, que não conseguira manter uma conversa serena nem com sua filha, ficou ainda mais nervoso. Mas ele conhecia Michele. Aliás, conhecia demais a ela para reconhecer que estava encurralado. A mulher não ia lhe dar tréguas até conseguir o que queria. Então entregou os pontos. Além do mais, como justificar a proibição de sua filha se relacionar com a Thyra para a própria mãe da garota? O cerco imposto por Michele estava se estreitando e Kleber já se sentia derrotado antes mesmo de chegar ao meio da discussão. Então respirou fundo e ligando o “foda-se” falou a verdade:

– Eu proibi a Lalana de andar junto com a Thyra.

– Ah! Você fez isso é? E como é que você vai impedir delas andarem juntas?

– Proibindo oras! A Lalana é uma filha obediente e no final vai me obedecer.

– Ah! Sei. Agora só falta você me dizer se já providenciou a transferência.

– Transferência do que?

– Da escola Kleber? Para que as duas não se falem você tem que tirar a Lalana da escola que ela frequenta. Ou será que sou eu que vou ter que providenciar a transferência da Thyra?

– Isso não tem nada a ver. Escola é escola.

– E burro é burro. Explica para mim, mas explica direitinho para que eu possa entender. Como é que você vai fazer para impedir que as duas se encontrem no colégio? Que elas se falem? Que encontrem juntas formas de burlar esse seu castigo idiota? Fala vai?

Kleber ficou olhando para ela, agora não conseguia disfarçar a confusão que lhe ia à mente. Ele sequer havia pensando nisso. Michele, notando isso, não teve pena dele e continuou a massacrá-lo.

– Eu já imaginava que você nem pensara nisso. Homem é tudo igual nessas horas. Estabelecem uma meta e se esquecem do que existe em volta e que podem atrapalhar para que cheguem ao seu objetivo. Desculpe Kleber, mas isso é burrice. – Aguardou e viu que Kleber continuava em silêncio, então continuou: – Agora vamos à segunda parte. Tire da minha cabeça a impressão de que você está achando que só minha filha tem culpa nessa história.

– Eu não disse isso.

– Não disse, mas proibiu à sua filha de se aproximar da minha. Isso soa como se a Thyra tivesse uma doença contagiosa e que você precisa proteger a saúde da sua.

– Você que está dizendo isso.

– QUER PARAR COM ISSO KLEBER! – Quando viu que seu amigo se assustara por ela ter levantado a voz, voltou a falar normalmente: – Você não está esclarecendo nada aqui. Aliás, eu fico admirada de ver esse seu esforço em sair pela tangente. Você nunca agiu assim! O que está acontecendo? Conte para mim, por favor.

Tudo o que Kleber sabia que não podia fazer era dizer a verdade para Michele. Ele achava que, se falasse, além de deixar sua amiga muito triste com a filha, também estaria expondo a menina e isso era algo que ele não queria, mesmo ainda estando com raiva dela. Então bateu o pé:

– Eu já te disse. Elas estavam nuas na piscina.

Michele permaneceu muda por mais de um minuto e, quando falou, foi como um juiz lendo uma sentença de alguém que acabara de ser condenado por algum crime:

– Olha aqui meu amigo. Eu vou te fazer um grande favor. Vou esperar o Gunnar chegar, pegar a carne que ele trazer e guardar no seu freezer. Depois vou pedir para a Lalana pegar umas roupinhas e vamos a um restaurante. Depois ela vai lá para minha casa e eu mesma vou levar as duas ao show que elas querem assistir.

– Eu não quero sair para almoçar.

– E você não vai. Não está convidado. Você vai ficar aqui mesmo e usar esse tempo que vai ficar sozinho para pensar na besteira que você esta fazendo e, quando chegar a uma conclusão, venha falar comigo.

Kleber olhou para ela negando com um movimento de cabeça e Michele não perdoou falando pausadamente:

– Acho que você não entendeu. Eu vou le-var sua fi-lha pa-ra pas-sar o dia co-mi-go. E depois ela vai ao show. Ficou claro agora?

– Eu não vou permitir isso. Você esta tirando a minha autoridade de pai.

– Pode até ser. Fique tranquilo que depois e te ajudo a recuperar essa tal autoridade. Mais isso só depois que você recuperar o juízo.

– Eu não vou permitir isso.

– Ah não! Tá bom então. Vá até a delegacia mais próxima e faça um boletim de ocorrência e depois me processe.

Michele, depois de dizer isso, virou as costas e entrou em casa procurando pelas garotas. Foi encontrá-la no quarto de Lalana e passou a esta instruções para que se preparasse para sair. Lalana ainda estava temerosa e perguntou:

– Mas, e meu pai?

– Pode deixar que do seu pai eu cuido depois.

Michele desceu e ficou na sala esperando Gunnar voltar com as compras e as garotas descerem do quarto. Seu marido chegou antes e ela expôs seu plano sem entrar em detalhes, pois sabia que seu marido saberia esperar pela hora certa. A seu pedido, ele foi guardar a carne no freezer e quando voltou as duas garotas já desciam a escada para se juntar a eles. Lalana ainda tentou ir se despedir de seu pai e foi impedida por Michele que disse a ela para não fazer isso, explicando:

– Melhor não. Isso só vai provocar mais discussão. Pode deixar que eu falo com ele.

Enquanto as duas meninas acompanhavam Gunnar até o carro, Michele voltou para o quintal e encontrou Kleber no mesmo local e, sem nenhum preâmbulo, lhe disse:

– Já estamos indo Kleber. Quando você estiver mais calmo e recuperar sua inteligência, a gente volta a se falar.

– Negativo. A Lalana está de castigo.

– Não Kleber. Quem está de castigo é você. E você sabe muito bem do que eu estou falando.

Por mais estranho que possa parecer, Kleber não emitiu nenhum som. Apenas tomou uma grande quantidade de uísque em um único gole e abaixou a cabeça não a levantando nem mesmo quando Michele lhe deu um beijo nos cabelos enquanto dizia:

– Procure se acalmar Kleber. Nesse estado você não vai consertar nada, apenas deixar tudo muito pior.

Nem assim Kleber reagiu e ficou sentado na cadeira da piscina enquanto ouvia os passos de Michele se afastando.

A incapacidade de Kleber reagir contra Michele era facilmente detectável. Aquela mulher, com sua pequena estatura, tinha o poder de fazer dele massa de manobra sempre que assim o desejasse. E qual seria o motivo disso?

Qualquer pessoa que se aproximassem do círculo de amizade que ele mantinha com o casal Gunnar e Michele, o que era um número muito pequeno, pensaria que tal fato se devia à forma como a mulher agia com relação a ele. Michele não era apenas a esposa de seu amigo, ela era a mulher que, sempre quando necessário, não hesitava em agir como uma mãe substituta para Lalana ou até mesmo gerenciando alguns assuntos domésticos em sua casa quando sentia necessidade disto.

Era sempre Michele que lhe mostrava as falhas de funcionárias contratada para servir como doméstica em sua casa e que muitas vezes não mereciam confiança e era ela também que, nessas ocasiões assumia a difícil tarefa de demitir a uma e fazer a seleção na contratação de uma nova. Era ela que, pelo menos uma vez a cada mês, fazia um exame na despensa de Kleber e lhe entregava uma relação dos itens que deveriam ser comprados. Também foi Michele que, em todos os aniversários de Lalana, tomou a frente e organizou todas as festas de aniversário da menina, cuidando não só do que deveria ser servido como também supervisionando a lista de convidados que, com extrema sabedoria, evitava a presença de alguém indesejável ou da lembrança de convidar a outro cuja ausência seria no mínimo constrangedora.

Essa era Michele. Esposa de seu amigo Gunnar, mãe de Thyra, administrando junto com um sócio um escritório de advocacia e ainda encontrava tempo para agir como a mãe que faltava à Lalana e a dona de casa que Kleber perdera antes que eles se conhecessem. Michele fazia tudo isso e ainda tinha a preocupação de fazer com que Lalana mantivesse sempre viva a lembrança de sua mãe.

O que também chamava a atenção nessas atividades extras de Michele era o fato de ser ela a única mulher que se aproximava de Kleber sem que Lalana ficasse uma fera. Qualquer outra mulher que fizesse um simples comentário que pudesse ser interpretado como uma intenção de ficar mais próxima de Kleber era motivo para que a garota passasse a nutrir verdadeira aversão por ela. Nem mesmo Naomi, secretária de Kleber, que era eficiente, educada e, para complicar, linda demais, escapava desse sentimento de Lalana.

Só que não era nenhuma dessas coisas o que desarmava Kleber diante da força de vontade de Michele. Nesse quesito, ele já fora derrotado há mais de seis anos, não muito tempo depois de ter fixado residência em Porto Alegre.

Logo quando se mudou para a capital gaúcha Kleber alugou um apartamento no mesmo prédio de Gunnar. Melhor dizendo, no mesmo andar. Não demorou muito para que a ausência de uma esposa atiçasse a curiosidade dos demais moradores daquele condomínio. Lalana, sendo da mesma idade de Thyra não demorou a estabelecer amizade com ela. A amizade das duas meninas foi se intensificando o que fez com que seus pais passassem a conversar a respeito disso e foi em uma dessas conversas que Kleber foi orientado por Gunnar a matricular a filha no mesmo colégio que Thyra. Isso tornou as duas garotas ainda mais unidas, sem falar na comodidade de Kleber que não teve necessidade de se preocupar com o transporte da menina, pois a Michele se encarregou disso, como também era ela que conversava com os professores sobre o comportamento das duas. Lógico que nesse detalhe a mulher trapaceou um pouco, pois ela sempre filtrava as informações a serem repassadas ao pai de Lalana assumindo a tarefa de conversar seriamente com ela quando achava ser preciso. Mas como ela já agia da mesma forma com relação à sua própria filha, protegendo-a em algumas travessuras que Gunnar não tinha a necessidade de saber, ela agia como se isso fosse natural. E isso só serviu para que ela conquistasse de vez a admiração e o respeito de Lalana que só não tinha sobre a garota poder maior do que o próprio pai.

Tudo isso contribuiu para que, em um prazo muito curto, a amizade de Kleber e Gunnar se estreitasse. Estranho como eles tinham pouco em comum. Por exemplo, o Gunnar adorava acompanhar o futebol e era um gremista extremado, enquanto Kleber dizia não torcer por nenhum clube em especial, porém, diante das reações do amigo, logo aprendeu a zombar dele quando seu time estava mal, embora fosse acusado pelo amigo de ser desleal com relação a isso, pois não torcendo por nenhum clube, não havia como lhe dar o troco.

Gunnar também tinha umas manias estranhas. A que mais chamava a atenção de Kleber era o interesse que ele demonstrava em pesquisar sobre a origem e o significado dos nomes das pessoas e, embora não fosse algo que lhe interessasse, gostava de ouvir as explicações do amigo com relação a isso. Foi ele que informou ao Kleber que o seu nome era de origem germânica e significava “aquele que cola”. Também acertou quando disse que o nome de sua falecida esposa, Malinee, era originário da Tailândia, o que Kleber já sabia, pois os avós dela eram Tailandeses. O que ele não sabia é que o significado era “joia preciosa ou tesouro”, o que o deixou muito triste ao se recordar que tal significado era muito apropriado.

Lalana também tem a origem na Tailândia e significava “deslumbrante ou cintilante” e mais uma vez condizia com a forma como Kleber enxergava a própria filha, fazendo com que ele acreditasse que a escolha do nome, por parte de Malinee, tinha sido proposital.

Com relação à sua própria família, Gunnar explicou que Thyra significa “a batalha de Thor”. Seja lá o que for isso quer dizer e, sendo assim, não foi necessário explicar a origem escandinava do nome, embora associar o comportamento habitual daquela menina com as agitações de uma batalha tinha tudo a ver. Michele, nome de origem francesa como a própria dona, por coincidência significava “joia preciosa”, assim como o de Lalana.

Quanto ao próprio nome, as explicações geraram motivos para Kleber pegar no pé de Gunnar por um bom tempo. Ao contrário do que ele imaginava sua origem não era escandinava, mas sim nórdica e aparecia no poema épico da idade média denominado “A Canção dos Nibelungos”, o que o obrigou a explicar que Nibelungo era a denominação dada a um povo de anões. Depois disso, sempre que queria provocar o amigo, Kleber o chamava de Nibelungo, muito embora, com seus um metro e setenta e oito, ele não tivesse nada de anão.

Como a amizade entre Kleber e Gunnar se tornava cada vez mais sólida, as duas famílias passaram a andar sempre juntas. Eles combinavam passeios aos finais de semana, alugavam alguma casa na praia para passarem feriados prolongados e até mesmo as compras mensais no supermercado eram feitas no mesmo dia e, talvez tenha sido esse um dos motivos de Michele começou a assumir o abastecimento da despensa de Kleber, primeiro o orientando e depois fazendo extensas listas do que ele deveria comprar. Isso quando não comprava ela mesma.

Nem mesmo quando, animado com um negócio de ocasião que ele considerou um ótimo investimento, Kleber adquiriu uma casa em um condomínio fechado um pouco distante do apartamento em que morava, a amizade deles continuou.

Nessa convivência, só havia uma coisa que deixava o Kleber extremamente contrariado. Michele não era o tipo de mulher reservada e, quando eles viajavam juntos, principalmente quando ocupavam uma mesma casa em suas viagens, era constante ela aparecer na frente dele usando roupas ousadas, como camisolas transparentes ou apenas uma camiseta do marido. A situação ficou ainda mais pesada quando, em uma viagem à praia, os dois homens estavam assistindo ao noticiário sentados em um sofá diante da televisão quando ela ocupou uma poltrona na frente deles e se descuidou o suficiente para mostrar que, por baixo daquela camiseta cujo comprimento ficava apenas alguns centímetros abaixo de sua bunda, não usava mais nada.

Ao ver aquela linda xoxotinha depilada e brilhando em virtude de estar úmida, Kleber perdeu completamente a linha e teve muita dificuldades em ocultar a ereção que se formou debaixo da bermuda que ele usava. Talvez ele tenha conseguido esconder seu estado por Gunnar, mas não de Michele que, quando ele teve coragem de encará-lo, olhava para ele com um brilho nos olhos que só serviu para piorar o seu estado.

A partir desse dia a vida de Kleber passou a ser um martírio. Michele parece ter usado aquele episódio para infernizar a vida do pobre homem e muitas vezes, estando ele na sala de visitas do apartamento do casal de amigos, ele aparecia diante deles usando apenas uma minúscula calcinha para dizer alguma coisa ao marido, exibindo assim seus seios pequenos e apetitosos.

Apesar disso, durante algum tempo nada aconteceu entre eles. Kleber era honesto e correto demais para se deixar vencer pelo desejo que Michele despertava nele. Porém, como se costuma dizer, nada dura para sempre.

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Comentários

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Essa escrita do Nassau é muito gostosa de ler, a história flui de forma natural e envolvente.

O coitado do Kléber é o típico homem: dono de si na rua e dentro de casa comandado pelas mulheres kkkkkk

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Pessoal.

O Capítulo 1 foi publicado sem alterações.

O título é 01 - Provocações.

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Tudo que tenho a dizer fora a escrit perfeita é: esse pai é um bundão

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O Kleber é desses caras que se assemelham ais bois carreiros. Quem é antigo sabe do que estou falando. O homem só se move depois que é ferroso.

E tem muitos assim. Rssd.

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Pô Nassau...

"Parte ((((02))) da Série: A Filha, a Esposa do amigo e a Filha Deles"

Cadê a "Parte 01" ????

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Está informação está no final da parte 03 que está publicado com o título de A Armadilha

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Nassau tu é incrível amigo gosto de ler seus contos na madrugada são demais amo ❤️ esses detalhes contido neles parabéns parceiro nota um trilhão kkkkkkk

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Bora Nassau, bom retorno e vamos lá curtir altas emoções com a sua narrativa

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Sai fora projeto do capeta.

Ah! Se der spoiller eu mudo o rumo do conto.

Experimente e você verá o Samba do Crioulo Doido que isso vai virar.

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Pessoal. Se até sábado o capítulo I não estiver publicado, vou adotar as seguintes providências:

1. Publicar no Scriv de caráter gratuito para quem quiser ler por lá.

2. Enviar por e-mail para quem solicitar.

Para o item 2, vou deixar meu e-mail no final do capítulo 3 para não precisar que ninguém que não queira ou não possa tenha que divulgar o seu.

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Aí sim... Que boa surpresa, já chegou chutando o pau da barraca. Vou esperar a primeira parte, mas já deu pra perceber que aí vem mais uma história sensacional, o que é normal quando vem do Nassau. Acho que virei poeta, fiz até uma rima)kkkkkkk

Parabéns e obrigado, ótima história Nassau!

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Poeta que rima 'al' com 'au'. Kkkkk

Obrigado Zé quinhão.

Gente. O botão 'responder' já está habilitado de novo.

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Aí sim... excelente comparação, o wue temos em comun é que somos mineiros

Kkkkkkkkkkkk

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So mineiro não, sô. Uai.

Nas sou neto, bisneto, tataraneto.

Toda vez que olho pra trás da minha árvore genética sô tem mineiro.

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Home de Deus, acho que me expressei mau, eu e Quinto,"nois sim e minero^ mineiro de Minas Gerais.

E vc tem sangue mineiro nas veias, baum tamém uai!

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O cara retorna já com uma voadora nos peitos! Te elogiar é o mínimo, mais uma obra excepcional!

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Muito legal seu retorno por aqui Nassau!! Agora é aguardar a definição sobre a parte 1! 👏👏👏

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Muito bom ter mais um conto seu sendo publicado. Vamos aguardar que a administração libere a primeira parte. Essa história promete muita ação e emoção.

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Olá pessoal.

Essa é a segunda parte de um conto que estou escrevendo.

O primeiro foi publicado na segunda-feira e consta que foi detectado possível personagem menor de idade e por isso está aguardando a liberação.

Eu não alterei, porque não existe nenhuma contação sexual quando foi mencionada uma certa passagem na vida da personagem. O que aconteceu foi que eu escrevi "Lalana tinha seis anos quando sua mãe faleceu vítima de um acidente de carro."

Isso é normal, porque a primeira verificação é feita por um algorítimo que pega apenas pela citação da idade. Mas como o conto não é bloqueado e permanece aguardando uma posterior análise da administração, estou aguardando a liberação.

Como está demorando muito, pois hoje copletou dois dias e isso atrasaria o cronograma que progamei, resolvi publicar a segunda parte.

Então, vamos esperar. Caos o conto seja recusado por causa desse detalhe, pensarei em uma forma de disponibilizá-lo de alguma outra maneira.

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