Tem um médico dando pontos na minha cabeça, Fabim está comigo, e tem um cara que me ajudou enquanto a ambulância chegava, meu choque está passando ainda, pelo que entendi o cara que me ajudou é enfermeiro, minha cabeça não está mais doendo tanto, mesmo assim está girando, meu coração não pára, preciso saber como o Ryan está, porém a voz não vem, abro a boca, só que as palavras não saem.
— Fa…Fabim. — Consigo com muita dificuldade.
— Tó aqui amigo, você está bem, só precisa de uns pontos, vai ficar tudo bem. — Ele repetia isso, mais para ele mesmo do que para mim.
— Ryan, cadê o Ryan?
— Não sei, o Di tá lá fora ele vai resolver. — O olhar preocupado dele, sabia que Fabim está em choque por ter visto tudo.
— Posso ir checar se quiser. — O enfermeiro fala.
— Por favor. — Meu amigo segura as mãos dele em súplica.
— Volto logo, prometo. — Ele diz e depois sai do leito em que estou.
Fabim não sai do meu lado, como bati a cabeça me deram um remédio para dor e uns pontos, mas tenho que ficar em observação até amanhã para ter certeza que não tem nada errado na minha cabeça, se não fosse o remédio estaria arrancando o soro e gritando pelo Ryan nesse hospital, logo agora que as coisas estava se ajeitando não posso perder o Ryan.
— Não posso perder ele. — Falei com a voz embargada.
— Amigo Ryan é forte, ele deve está bem e Di está com ele, vai ficar tudo bem. — Fabim também estava tentando segurar o choro.
— Oi como você está se sentindo. — O enfermeiro volta finalmente.
— A cabeça está boa, conseguiu notícias dele, por favor? — Pergunto já me desesperando.
— Ele teve fraturas nas costelas e uma delas perfurou uma artéria, isso causou uma hemorragia interna, ele já está na sala de cirurgia. — Ele falou.
— Cirurgia, ele vai morrer? — Minha alma começou a sair do corpo.
— Olha, a cirurgia dele é de risco, mas o doutor Rui é o melhor cirurgião do estado, seu amigo está em ótimas mãos. — Ele fala tendo nos tranquilizado.
— Meu deu do céu. — Fabim está tentando ser forte, mas sei que é difícil para ele.
— Fabim pode pegar um suco para mim, por favor. — Sei que ele não vai conseguir chorar na minha frente, mas ele está precisando.
— Claro. — Ele sai me deixando sozinho com o enfermeiro.
— Ele vai mesmo sobreviver?
— Não temos como saber ainda, mas as chances dele não são tão ruins.
Ryan tinha fraturado o fêmur e três costelas e abriu um corte no supercílio, fora uma costela ter perfurado uma artéria dele, enquanto a mim só me arranhei e levei sete pontos na cabeça, isso não é justo, ele me empurrou, consigo me lembrar disso, ele salvou minha vida, e agora ele pode morrer e a culpa é minha, ele não devia ter me empurrado, era para ele ter se salvado, ter pulado para fora da rota daquele carro.
Di foi quem trouxe meu suco, ele tentou me tranquilizar, falando o mesmo que o enfermeiro tinha dito, que tudo ficaria bem, o cirurgião tinha mãos boas, Di checou na internet até o currículo do médico.
— Di se ele morreu nunca vou me perdoar.
— A culpa não foi sua Chico.
— Ele me empurrou, ele salvou minha vida Di, ele me salvou ao invés de se salvar.
— Ryan te ama, Chico.
— Ele não pode morrer, Di, não vou conseguir viver sem ele. — Di sobe na cama se sentando e me puxando para um abraço. — Preciso dele, não posso ficar sem ele.
— Ryan é forte Chico, se tem alguém que pode sobreviver é ele.
Ryan passou três horas na cirurgia, foram as piores horas da minha vida, meu coração parecia que ia explodir, nada conseguia me acalmar, minha agitação me deu mais dor de cabeça, já tinha orado para todos os santos que conheço, quando vi o enfermeiro vindo até onde eu estava com o Fabim meu coração quase parou.
— Boa notícia Chico, a cirurgia foi um sucesso, ele foi muito bem, agora está na uti para observação, mas está se recuperando bem, logo logo ele vai está no quarto e vão poder vê-lo.
— Quero ver ele agora, por favor, eu preciso ver ele.
— Sinto muito, na UTI só podem entrar os enfermeiros e médicos, mas assim que ele for pro quarto eu aviso tá bom.
— Obrigado, muito obrigado. — Enfim uma boa notícia, meu coração finalmente se aliviou.
Di ficou na recepção esperando para ver o Ryan, como só podia ter um acompanhando quem ficou comigo foi o Fabim, ele também já estava mais calmo, mandei ele para casa, mas não teve jeito, ele ainda estava um pouco preocupado comigo, quando finalmente me deixaram dormir eu desabei, toda a adrenalina já tinha passado, dormir pesado, acordei na manhã seguinte, tive que esperar o médico vir me dar alta.
Di trouxe uma muda de roupa para mim, passei o dia na sala de espera do hospital, até que finalmente o Lion o enfermeiro de quem fiquei amigo e me ajudou muito ontem veio me avisar que o Ryan já podia receber visita, ele virou meu mensageiro de boas notícias, fui com ele até o quarto em que Ryan estava, meu coração se apertou, ele estava todo roxo, seu rosto tinha um hematoma, sua perna estava engessada e levantada.
— Amor, você está bem? — Minhas mãos tremiam muito e senti os olhos arderem.
— Agora estou. — Ele respondeu com uma voz fraca, segurei sua mão.
— Estou aqui, te amo tanto, muito, muito, muito.
— Eu te amo também. — Quero poder tomar para mim a dor que ele estava sentindo, queria poder fazer algo por ele, mas infelizmente tudo que podia fazer era ficar ao lado dele.
— Ryan, pensei que ia te perder. — Minhas lágrimas começaram a cair.
— Voltei por você. — Aquelas palavras dele me derreteram, estava ainda mais apaixonado por ele.
Fiquei com ele a semana toda, meu chefe teve que pôr alguém no meu lugar, mas emprego nenhum estava acima dele, Ryan estava melhorando rápido, todos os enfermeiros gostavam dele, viramos amigos de todo mundo, depois de uma semana já tínhamos toda uma rotina, ajudava a cuidar dele, até os banhos dele já era eu quem estava dando, virei um enfermeiro particular dele.
Também tivemos que falar com a polícia, Di estava cuidando disso ele garantiu que pegar o desgraçado que fez isso de qualquer forma, até então era um caso de atropelamento sem prestar socorro, mas tanto Di quanto Ryan tinham uma pulga atrás da orelha, porém não passava pela minha mente que pudesse ter sido uma tentativa de assasinato.
No domingo fui em casa pegar roupas limpas e organizar algumas coisas, teriamos que entregar o apartamento, sem ele e nem eu trabalhando não teria como pagar, fiquei triste, entretanto não me arrependi de ter escolhido cuidar dele no hospital, depois de quase perde-lo tive a certeza de que Ryan valia a pena e que faria de tudo pra tornar a recuperação dele o mais tranquila possivel.
— Amigo a gente já acertou as contas desse mês. — Fabim me contou enquanto me ajudava a arrumar as coisas.
— Como assim?
— Di tem uma poupança para emergências, e temos o dinheiro que estou juntando para o bar, não se preocupe com nada.
— Não, Fabim esse dinheiro é de vocês.
— Chico é só dinheiro, e dinheiro no mundo nenhum compra a vida do Ryan ou a sua. — Abraço ele forte. — Vamos apertar os cintos e se vocês passarem perrengue vamos passar todos juntos.
— Amo vocês.
