Queria ficar com meu pai, mas Jonas precisa de todo amor possível agora, ele se permitiu ter esperança e foi tudo em vão, mesmo que meu pai esteja disposto a se aproximar dele, isso não muda o fato de que ele ainda é o filho do pastor, tenho certeza que quem mais deve ter comemorado com essa notícia foi aquela mulher, afinal ela não mentiu para o marido sobre a paternidade do Jonas, mas só em existir a chance dele ser filho do meu pai já deveria ser motivo para não confiar nela, no fim é até bom que ela esteja numa boa com o marido, só assim não corre o risco de bancar a arrependida e querer voltar com meu velho.
Amo meu pai, só que sei o que ele ainda sente por ela, no dia em que ela bater nessa porta pedindo para voltar ele volta, no fim é mais fácil desejar que ela não retorne do que contar com o amor próprio do meu coroa infelizmente, não tive tempo de me despedir dos meus amigos, mas mandei mensagem para o Mateus, não toquei no assunto que conversamos no carro, achei melhor esquecer essa história daqui a pouco ele e o Beto voltam e espero que possam ser felizes, ainda me recuso a acreditar no que Téo me falou sobre o Beto ser apaixonado por mim até hoje, pois se isso for verdade o Téo é o maior filho da puta que existe, já que ele ficava comigo escondido mesmo sabendo o que o melhor amigo dele sentia.
Mando mensagem para o Téo também, ainda quero ele em minha vida como meu amigo, eu sei que pode ser contraditório é só que ainda não me vejo preparado para excluir ele de vez da minha vida, entretanto já tenho certo em minha mente que Téo e eu nunca mais iremos ter algo além de amizade, ainda mais sabendo que o Beto pode ter nutrido algo por mim todos esses anos e por falar nele, refleti bastante se deveria falar com ele ou não, e cheguei a conclusão que não quero falar com ele ainda, embora seja preciso acertar as coisas com ele, não me sinto preparado para essa conversa, não sei o que posso dizer para não magoá-lo, não mais do que já devo ter feito, não sou bom com sentimentos e me expressa nesse sentido é um grande desafio para mim.
Dessa vez não estou fugindo e pretendo voltar para visitar meu pai, agora que não tenho mais porque evitar esse lugar, então espero que numa próxima vez tenha algo para dizer ao Beto, sei que ir embora sem falar com ele não é certo, sei que estou sendo cuzão, mas não sou tão evoluído assim, já acho que entendi muita coisa sobre mim nessa viagem e verbalizei coisas que nunca pensei que diria, então vamos de um avanço por vez e ainda tenho que lidar com Lipe quando chegar em casa, ele me evitou a semana inteira, não sei o que me espera quando chegar em casa, arrumo as coisas e meu pai me deixa no aeroporto, meu carro vai chegar um pouco depois de mim, já que vamos ter que mandá-lo de cegonha, meu pai cuidou disso tudo para mim, estou começando a aceitar que meu pai está ganhando muito dinheiro ultimamente e que não sou um peso para ele na questão financeira.
Como meu voo chegou durante a madrugada não pede carona pro meu irmão, ele já não está legal, não queria abusar, mas mesmo assim quando estou no desembarque a primeira pessoa que vejo é ele, corri para abraçá-lo. “Nossa parece que passei um ano fora.” Digo quando nos soltamos. “Sabe que pensei isso também, Isaac queria vir, mas ele trabalhou muito então achei melhor deixar ele dormindo.” Jonas fala e tá tudo bem, nem esperava que ele fosse vim. “Obrigado por vir me buscar.” Falei pegando minhas malas e acompanhando ele até o carro.” Ele foi me atualizando e também contei a ele como foi a viagem e como foi a conversar com Téo, falei sobre o Mateus também e ele embora estivesse visivelmente abatido percebi um alívio de poder conversar algo que não lhe trouxesse nenhuma lembrança ruim.
Fui com ele para a casa dele e dormi no sofá, ele não quis entrar nos detalhes e resolvi esperar até que ele estivesse pronto para conversar, nesse momento acho que o melhor é ficar por perto, mas sem sufocá-lo.
Se passou dois dias desde que cheguei e ainda não vi o Lipe, por alguma razão que nem eu sou capaz de dizer não mandei mensagem e nem tentei ligar, ele mesmo sabendo que eu tinha voltado também se manteve na dele, fiquei preocupado que algo estivesse acontecendo e foi aí que me veio a confirmação, quando chego em casa a noite depois da faculdade vejo Lipe com a mesma ex que beijou ele na festa sentados no sofá vendo um filme e ela está juntinho dele em uma cena digna de filme romântico, assim que ele os olhos dele encontram o meu percebo que ele está constrangido, ou pelo menos é o que eu acho, nem sei mais, a única coisa em que consigo pensar é que essa é minha recompensa por confiar em alguém, talvez não fosse por culpa do Téo, vai ver está no meu sangue não ter sorte com relacionamentos.
“Boa noite.” Falo e passo direto para o meu quarto, Lipe fez que iria se levantar, mas fui mais rápido e entrei no meu quarto batendo a porta atrás de mim, meu sangue está fervendo, começo a pegar umas roupas e vou jogando na mochila de qualquer jeito, pra piorar Lipe entra no quarto. “Precisamos conversar, onde você vai?” Ele fala me vendo colocar algumas coisas dentro da mochila, com pressa. “Não te interessa, você não tem que me explicar nada, fica tranquilo.” Falei sem nem olhar para ele. “Iuri, eu preciso te falar não é o que você pensa.” Paro encaro ele. “Ah você não voltou com sua ex?” pergunto e ele desvia o olhar me dando a resposta que eu queria ouvir, fodam se os motivos, estou tão puto com ele, enfrentei meu passado para me curar e poder ter algo com ele e Lipe não conseguiu me esperar, não levei nem um mês para voltar como ele pode.
Ele tenta vir atrás de mim, mas ouvir o Felipe é a última coisa que eu quero fazer agora, saio da apartamento e peço um uber, no caminho ligo para o Jonas que graças a deus ainda não tinha voltado a dormir e digo que preciso do sofá dele, nem sei porque sai de casa, senti como se estivesse sufocando se eu continuasse ali não me faria bem, me parece que meu destino é fugir dos problemas afinal, Jonas arrumou o sofá para mim e me esperou, na manhã seguinte tomei café com eles e matei a saudade do Isaac, Jonas conseguiu umas entrevistas de estágio para mim e o restante da minha semana foi assim desligando todas as chamadas do Lipe, e dormindo no sofá do meu irmão, troquei algumas mensagens com Téo e com Mateus, ele que por sua vez tinha começado a turnê então estaria bem ocupado nos próximos dias.
No sábado aproveitei a biblioteca da faculdade para estudar, tudo naquela semana estava uma merda, Jonas estava se recuperando enquanto eu estava entrando em meu casulo de novo, namoro não é pra mim, pelo menos tinha pessoas comigo, se fosse em outros tempo acabaria pensando em besteiras de novo, acabei de estudar quando a fome bateu e fui indo em direção do estacionamento pegar meu carro, a única boa notícias esses dias foi a chegada do Corolla, estou quase no carro quando escuto uma voz grave chamar meu nome. quando olho para trás reconheço o sujeito na mesma hora. “O que você quer aqui?” Pergunto o mais ríspido que posso, mas Sérgio nem parece se abalar. “Temos que conversar.” Ele fala como se fosse meio óbvio e meu coração começa a pesar. “Não tenho nada para fala com você.” Falei indo para o meu carro, mas é aí que ouço a pior coisa que já ouvi na vida. “Filho espera.” Meu corpo congela, como assim filho, dai lembro que não li o teste, nem pensei que deletar o email não iria significar que ele não pudesse ler, afinal foi enviado para o meu pai, para ele e para mim.
“Não sou seu filho!” Falei e ele me olha não com ira, é diferente o olhar que ele me lança, se não o conhecesse cairia em sua falsa empatia, Sérgio é um monstro dos piores que existem. “Iuri Deus me deu um presente que sei que não mereço, mas agora não tem porque lutar contra a vontade dele, você e o Jonas vão poder vir para casa e juntos seremos uma família de novo.” Não acreditei que ele pudesse ser tão cínico. “Você agrediu o Jonas e ele não precisa de você, ele tem a mim e o Isaac e até meu pai, nem ele nem eu precisamos de você ou daquela mulher.” Falei com minha voz calma de tal forma que até me assustei. “Eu errei com seu irmão, mas agora Deus me deu uma segunda chance, de corrigir as coisas.” Quero bater nele só por usar o nome do meu irmão. “Sergio o que você fez nunca vai ter perdão, fica longe de mim e do Jonas, meu pai é o Paulo e sempre vai ser ele, meu pai não é perfeito e teve seus erros, porém ele é e sempre vai ser um pai muito melhor que você.” Finalmente a força volta para os meus pés e me movo até o carro, Sérgio fica parada absorvendo minhas palavras e o deixo lá refletindo sobre o que falei, me pergunto como esse monstro me encontrou.
Só depois que me distancio dele do estacionamento é que minha crise de pânico começa, peguei meu celular com minhas mãos trêmulas e abro meus email, procuro um pouco até encontrar o email do laboratório, abro e as lágrimas descem em meu rosto, primeiro ela me tomou meus amigos, depois minha casa e agora meu pai, se um dia amei essa mulher não me lembro mais, porque todas as lembranças que me vem quando penso nela só me fazem odiá-la mais ainda.
Liguei para o Jonas e ele veio me encontrar no lugar em que parei o carro, não consigo dirigir e nem pensar direito, peguei o celular umas mil vezes para falar com meu pai, mas não tem porque compartilhar essa tristeza com ele, sei que ele jamais vai deixar de ser meu pai por causa disso, mas saber que sou filho do pastor, filho daquele monstro isso mexeu comigo de uma maneira horrível.
