Quando pensei que nada mais de estranho poderia acontecer, eis que me acontece algo que eu não esperava. Estava ali sentado no bar, completamente isolado e distante de Júlia e suas amigas, até que uma daquelas amigas acabou sentando praticamente do meu lado. Foi a tal japonesa que eu não conhecia o nome que se ajeitou no banco em frente ao barman, e parecia estressada por algum motivo. Ela acabou pedindo uma bebida forte, e suspirou pelo menos duas vezes. Pelo visto ela não veio para falar comigo, mas achei bem curioso que justamente ela tenha assentado ali.
Talvez tenha me ocorrido naquele momento que Júlia já sabia que eu estava no bar, e acabou mandando uma de suas amigas ir até lá, porém achei muito curioso que foi justamente a tal amiga que parecia estar discutindo com ela alguma coisa, discordando fortemente de algo. Resolvi agir, como quem não quer nada comecei a puxar assunto e ver se ela sabia quem eu era.
— Dia difícil? - Perguntei como quem não quer nada aguardando a resposta dela. A resposta veio quase que de imediato:
— Bem difícil. Aposto que você notou só porque eu devo ter pedido whisky sem gelo, não é?
— Achei curioso. Quer desabafar?
— Ah, moço. Eu nem te conheço... — Naquele momento, vi que minhas suspeitas estavam certas. A mulher não me conhecia, naquele momento vi uma oportunidade para saber mais sobre o que estava acontecendo. Avancei.
— Também não a conheço, mas sinto que precisa desabafar. — A bebida dela chegou naquele momento, onde ela acabou pagando, e tomando um gole de uma só vez. Logo, ela começou a falar:
— Me divorciei há pelo menos um ano. Meu ex-marido é aquele tipo de homem babaca sabe? E duas semanas é o aniversário da minha filha e o cara não tem a capacidade nem de manifestar interesse em ir. Estou tendo problemas com relação a isso, e algumas outras coisas também. Mas e você, o que está fazendo aqui?
— Só pensando na vida e tentando lidar com problemas também.
— Então vamos lidar com os problemas juntos. Vou te pagar uma bebida!
Naquele momento, ela pediu uma bebida e assim sou servido com uma cerveja, aceitando passar um tempo com ela. Dei mais uma olhada para trás e Júlia havia assumido. Para ser sincero, nem pensei em ir atrás dela, mais curioso em saber porque justamente uma amiga dela acabou vindo sentar comigo. Conforme bebemos, notei que ela começou a ficar alta e começou a contar bem mais coisas a respeito da vida dela. Seu nome era Jaqueline, era descendente de japoneses e foi casada por três anos e meio com um homem que abusava psicologicamente dela. Pelas coisas que ela me falou de seu ex-marido, dava para perceber que realmente o cara era um babaca, foi bem interessante também saber coisas dela. Ela me contou que tem uma filha, seu nome é Tatiana. Ela me mostrou a foto da menina, é uma verdadeira graça. Me contou que praticamente vive pela menina, e quase não tem muito tempo para sair. Como a filha acabou depois de muita luta dela indo visitar o pai, aproveitou o dia sozinha e foi sair com as amigas para se distrair, mas me contou que uma certa discussão deixou ela completamente desconfortável, o que acabou trazendo ela para minha mesa.
O que acabei anotando foram os olhares que ela lançou para cima de mim, não vou negar que também ela parecia ser muito atraente. Logo uma música começou a tocar e ela me perguntou se eu queria dançar com ela. Resolvi ser honesto até porque apesar de ter tido uma pausa no relacionamento não iria usar aquilo para paquerar ou coisas assim.
— Então, Jaqueline. Apesar de estar sozinho num bar e aparentar ser solteiro, na verdade eu sou o noivo. Mas estou com problemas em meu relacionamento e não sei se ele vai adiante, inclusive é por isso mesmo que estou aqui. Porém, não acho justo paquerar com outra mulher ainda sendo noivo de alguém. Não me leve a mal, você é muito atraente, mas eu tenho princípios.
— Haha, relaxa gatinho. Para ser sincera hoje não Estou também com muito clima para flertar, mas não sei porque achei você muito bacana. Além do mais, a conversa na minha mesa está uma merda. Não se importa de eu ficar aqui, não?
— Como se eu fosse me importar de ter uma moça simpática como você me fazendo companhia. — Naquele momento, vi ela corar, e acabar por bebendo mais uma dose de Whisky. Pelas próximas meia-hora, falamos amenidades, até que finalmente chegamos no assunto da tal " conversa merda na mesa dela". Aquilo realmente me interessava.
— Por que você disse que o assunto na sua mesa estava desconfortável? É alguma coisa com relação a você e sua vida?
— Ahh não! Hahahaha! — Ela deu uma risada, mas logo em seguida começou a falar. — Você não vai acreditar, mas é com minha amiga, ela é bem ridícula. O nome dela é Júlia, acredita que ela pediu uma pausa no relacionamento com o noivo, quando estavam prestes a se casar e vem enganando ele até hoje?
— Nossa... Sério? — Fiquei muito curioso com tudo aquilo, mas ao mesmo tempo perplexo. Enganando, como assim? Resolvi sondar, mas sem falar muito, afinal de contas, ela parecia não saber quem eu era, e seria mais fácil de descobrir algo.
— Então, Júlia é minha amiga e também de Natália. Para ser sincera eu não gosto muito daquela Natália, ela não tem, digamos um comportamento adequado para uma mulher, e a Júlia desde que começou a andar com a Natália tá sendo muito influenciada por ela. Acredita que a Natália conseguiu convencer a Júlia de que o namorado é um mala e que não dá atenção pra ela? Ela vivia dizendo que Julia merecia algo melhor, mas sabe, Júlia sempre me contou coisas com relação a esse namorado e ele sempre fez tudo de bom para ela!
— Que situação complicada, mas e ai? O que está rolando? — Aproveitei para beber mais um gole da minha cerveja, enquanto Jaqueline continuava a falar.
— Natália convenceu Júlia a dar um tempo no noivado. Uma espécie de término temporário, ela fez Júlia acreditar que se fizesse isso, o noivo seria completamente submisso a ela, principalmente se ele acreditasse que ela realmente anda saindo e se encontrando com outros caras. O porquê dessa submissão eu não sei dizer. Mas sei que ela tem trabalhado para provocar e manipular o cara, fazer ele ficar com ciúmes, ao mesmo tempo que faz ele acreditar que ela não sente mais alguma coisa por ele, sendo que na verdade ela é louca por ele . Tudo isso pra mim é influência da Natália, pra mim a Natália tá querendo é pegar ele , joguei isso na cara delas início aconteceu uma discussão e eu resolvi sair da mesa . O mais triste disso tudo é que o cara realmente parece gostar dela, porque se fosse eu já teria anunciado o término do noivado há muito tempo e já estaria passando o rodo. Apesar de que eu não posso falar nada também, pois sou uma romântica incorrigível! Se eu tivesse um homem que fosse metade de tudo o que esse cara é, eu seria a mulher mais feliz do mundo. Mas hoje em dia os homens parecem que só querem sexo. Talvez por isso eu esteja aqui com você agora, você não tem essa intenção...
—Bom, eu não saio fazendo esse tipo de coisa com a primeira pessoa que conheço, mesmo que eu estivesse solteiro.
— Você tem bastante caráter. Pelo menos dá pra perceber isso olhando para você.
— Obrigado. Mas, que loucura isso, não é? Ela então está fazendo o cara acreditar que está saindo com outros homens.
— Sim, isso mesmo. Mas sei lá, não duvido que esteja, sem eu saber não é? Afinal ela é amiga da Natália. Uma biscate.
Jaqueline não falou muito mais depois disso, mas para mim já era o suficiente para começar a entender as coisas. Parte das minhas suspeitas estavam certas, mas algumas coisas ainda não pareciam fazer sentido como por exemplo o sumiço da Júlia que eu nem percebi que havia sumido. Será que ela voltou pra casa? Nisso somos surpreendidos por Débora que acabou vindo atrás da amiga. Quando Débora me olhou ela parecia ter visto um fantasma, mas curiosamente ela parecia não ter me reconhecido. O olhar dela era daqueles que sabia que já tinha visto em algum lugar mas não se lembrava da onde.
— Oi Débora, esse aqui é o Gustavo, ele e eu estávamos papeando, não queria ficar naquela mesa.
— Ah, eu também não amiga, aliás, oi Gustavo! Não te conheço de algum lugar? — Naquele momento, até mesmo Jaqueline me olhou. Fiz aquele olhar de desentendido, e respondi.
— Não até onde eu sei. Talvez você esteja vendo em mim algum rosto conhecido, mas eu não lembro de você não. Aliás é um prazer te conhecer, amiga da Jaqueline.
— Ah, relaxa! Mas enfim, Jaque, a Julia acabou de voltar, ela disse que vai embora e quer saber se você não quer uma carona.
— Na verdade... — Naquele momento, Jaqueline olhou para mim com um olhar de quem não queria sair mas não tinha muita escolha. — Eu não queria ir embora, mas infelizmente não tenho como voltar pra casa, estou meio alta. Vou aceitar a carona sim. — Depois daquilo ela me olhou, e perguntou:
— Adorei te conhecer e gostaria que fossemos amigos. Me liga quando quiser conversar. — Jaqueline então me deu um papel com seu número, e a vi sair da minha mesa. Me coloquei em uma posição que ninguém nos visse, já que Júlia havia voltado, com outro semblante, parecia mais alegre. Mais corada. Naquele momento, elas foram embora, e resolvi ficar mais um pouco, antes de ir. Sabia que Natália ainda estava ali dentro do bar, pois ela não foi junto das duas, ou talvez já tenha saído com o cara que foi dançar. Não passou nem 5 minutos, meu telefone começou a tocar. Era Júlia.
— Oi Gustavo. Me perdoe por... Nossa, que barulheira é essa?
— Olá Júlia. É música e pessoas falando no fundo, o que deseja?
— Hum. Mas como assim música e pessoas falando? Você por um acaso estava dando uma festa na nossa casa?
— E se eu estiver? Até onde eu sei, você tem feito tudo o que você quer sem se importar comigo. E se eu estiver dando uma festa? E se eu estiver agora mesmo em um bar tomando um chope com uma garota bonita? Na verdade pode ficar tranquila, não estou saindo com ninguém mas sim eu saí de casa para me divertir.
— Bom, eu só ia te ligar para pedir desculpas, pois havia te pedido para ir me ver, mas acabei tendo um compromisso de última hora... Vai fazer hora extra amanhã?
— Não, eu já disse que não vou fazer mais hora extra.
— Acho que deveria! Afinal de contas, logo voltaremos e vamos nos casar, e quero um casamento lindo! — Não pude acreditar no que ela acabou de falar. Júlia estava realmente fora da casinha, era incrível as coisas que eu estava ouvindo daquela mulher e cada vez mais eu não conseguia entender qual era o jogo dela. Naquele momento eu só tive apenas uma reação, ficar quieto por alguns segundos e realmente crer que eu deveria seguir em frente com o que eu estava planejando. Para mim nosso noivado já havia chegado ao fim, mas eu queria dar uma lição a ela. Então eu resolvi continuar fazendo o jogo pois eu sabia que tinha muito mais coisas ainda que poderiam aparecer.
— Júlia, volte pra casa. Vamos esquecer tudo isso e retomar de onde paramos. Esse é meu pedido.
— Não posso, Gustavo. Não tenho ainda plenas condições e não estou com meus sentimentos por você recuperados. Eu sinto muito, mas seguirei até o fim do mês com isso.
— Ok então, não se arrependa depois. — Naquele momento, encerrei a chamada, e tive absoluta certeza que nosso relacionamento estava muito próximo de chegar ao fim. Deveria realmente ter mandado isso a ela, mas era do meu instinto ser um homem bastante curioso, então eu queria ir com isso até o final e descobrir o que é que aquela mulher estava planejando.
Estava com o telefone de Jaqueline na mão, guardei o número no bolso e fui embora para casa. Naquele mesmo dia Júlia acabou me mandando mais uma mensagem mas ignorei completamente. Nos próximos dois dias, ela me ligou pelo menos quatro vezes, conversamos amenidades e coisas rápidas, mas senti sempre que ela parecia querer na verdade descobrir onde eu estava. Acabei ganhando minha promoção para gerente de operação, agora eu tinha praticamente todo o produto nas minhas mãos e ganharia muito mais do que eu ganhava como supervisor. Tudo no campo profissional estava indo às mil Maravilhas, mas não podia dizer a mesma coisa no meu campo amoroso.
Me surpreendi completamente foi no fim do segundo dia, quando Júlia me ligou novamente, mas dessa vez estava com uma voz um pouco mais doce. Ela fez uma proposta:
— Sabe de uma coisa Gustavo, estarei livre amanhã, quer vir até a casa de Natália conversar? Eu adoraria muito ficar com você.
— Não tenho certeza se estarei disponível amanhã, mas se tiver, irei sim. — Respondi, fazendo praticamente o mesmo jogo que ela. Observei no fundo da ligação um pouco de silêncio, mas depois ela novamente respondeu, com uma satisfação na voz.
— Você não vai se arrepender...
— Será que não? Talvez eu já esteja arrependido de muitas coisas Júlia.
— Como o que?
— Nada. Irei ver você amanhã, Tem mais alguma coisa que você queira falar?
— Não, amor. Boa noite. Eu te amo.
Naquele momento acabei por encerrar a ligação e fiquei super curioso sobre o que ela estava planejando. Júlia não parecia normal nos últimos dias, não parecia ser ela. Talvez a única pessoa que pudesse me explicar o que estava acontecendo era Jaqueline, mas eu pensei que seria muito injusto usar aquela menina para saber coisas que eu deveria tentar descobrir sozinho. Mas mesmo assim me deu vontade de conversar com Jaqueline e então comecei a mandar mensagens para ela.
Conversar com aquela mulher era fácil demais Jaqueline era o tipo de mulher que tinha um papo gostoso, ela passou a me falar sobre os seus sonhos, sobre seu trabalho secundário até mesmo emendou uma foto de sua filha e era a coisa mais linda do mundo. Jaqueline me perguntou sobre meu noivado, sempre deixando claro que estava perguntando como uma amiga, como que estava o pé dele. Naquele momento eu resolvi contar a Jaqueline quem eu era de verdade, contei que eu era Gustavo O noivo da Júlia e que ela havia me deixado temporariamente eu não sabia o porquê, mas graças a algumas coisas que ela disse eu já podia começar a ter uma ideia sobre.
Jaqueline ficou sem entender num primeiro momento, mas depois ela disse que não podia acreditar que era eu, e que estava tão surpresa em ver que eu era mais bonito do que as meninas descreviam. Confesso que minha autoestima foi às alturas, aproveitei para pedir desculpas a Jaqueline por ter ocultado isso para ela no dia. Ela disse entender muito bem os meus motivos e me perguntou quais eram os próximos passos e até mesmo se ofereceu para ser uma espécie de espiã.
Disse que Júlia havia me chamado para ir amanhã a casa dela junto de Natália, mas que estava certo sobre o que poderia acontecer. Jaqueline me contou sobre Natália, o fato dela ser uma verdadeira biscate que traía o ex-marido, mas eu disse que já sabia desse fato e que já pedi para Júlia muitas vezes deixar a amizade com Natália, mas ela nunca ouviu a mim.
Conforme estávamos conversando, recebi uma mensagem de um número desconhecido e a mensagem era de um vídeo curto. Apertei então para carregar o vídeo curto, e aqueles 5 segundos que antecederam o carregamento completo do vídeo curto juntamente com o conteúdo daquele vídeo iriam me fazer tomar uma decisão que mudaria completamente os meus planos para o dia seguinte.
