TINHA QUE SER VOCÊ - 18: PORTO SEGURO (HECTOR)

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2344 palavras
Data: 31/03/2024 03:01:33

CAPÍTULO: PORTO SEGURO

NARRAÇÃO: HECTOR

A vida é uma constante metamorfose, e aqui estamos nós, João e eu, fazendo a mudança para a casa nova, após o incêndio que devastou o seu antigo lar. Felizmente, a experiência se revelou repleta de surpresas e oportunidades.

Auxiliar a família do meu namorado foi uma tarefa fácil. Afinal, a maioria dos móveis eram novos e a própria equipe de entrega que realizou a instalação. O João ficou todo animado quando a equipe de automação chegou. Ele que era antenado no universo tecnológico teria uma casa inteligente, confesso que não sei muito sobre o tema, mas ver a alegria dele é muito bom.

A nova residência da família Guimarães ficava em um condomínio que nada lembrava o bairro afastado e carente de sua casa anterior. A segurança e o conforto eram agora aliados inseparáveis, e a perspectiva de um recomeço trouxe consigo a promessa de dias melhores.

O condomínio, com suas ruas arborizadas, refletia a mudança não apenas de endereço, mas de status e possibilidades para aquela família. João merecia esse novo capítulo, e eu estava grato por fazer parte dessa história em construção.

Porém, as novidades não pararam por aí. O Sr. Fernando chamou os netos para iniciarem nas empresas Telles, um estagiando na área de tecnologia e o outro no setor administrativo. Isso era uma guinada que contribuiria para o crescimento e desenvolvimento pessoal dos irmãos.

O quarto de João estava ficando a coisa mais linda do mundo. Ele precisou comprar roupas novas e investiu bastante em um setup para trabalhar e, claro, jogar com seus amigos. Era animador quando o meu namorado falava de seus assuntos nerds.

— Está ficando tudo muito bonito. — sentei na cama, enquanto meu namorado ligava o seu PC.

— Sim. Eu nem acredito que vou morar aqui. — confessou meu namorado, voltando a sua atenção para mim e me empurrando.

— Ei. — protestei, mas acabei deitando na cama e o João ficou em cima de mim. O encontro dos nossos corpos me deixou animado. — É tão bom te ver feliz.

— Realmente, o incêndio foi um baque muito grande. Mas agora as coisas estão voltando para o seu lugar. — ele afirmou e respirou fundo. — Tá sentindo, até a mamãe voltou a fazer seus doces.

— Eu estava com saudades dos quitutes da dona Esther. A melhor sogra do mundo. — afirmei, abraçando e beijando João.

— Ei! — exclamou José, abrindo a porta e fingindo estar chocado. — Meu Deus, temos gays nesta casa? Por favor, chame os seguranças.

— Que é? — perguntou João sem sair de cima de mim.

— Nada. Só queria te perturbar. — ele afirmou deitando na cama e me deixando vermelho. — Qual é, cunhadinho. Já passamos dessa fase. Você até me beijou ou esqueceu? Você foi o meu primeiro — ele tocou no meu cabelo. — Não me trate como um qualquer...

— Cai fora! — pediu João tacando uma almofada em José, que levantou e foi em direção a porta.

— A mãe mandou avisar que tem bolo. Seu Zé! — saindo e fechando a porta.

— Desculpa. — soltou João, deitando ao meu lado.

— Tudo bem. Pelo o que eu percebi, o bom humor do cunhadinho está de volta. — comentei, segurando a mão do João.

— Sim. Faz umas duas semanas que ele tem ido a terapeuta. As sessões estão fazendo um bem danado para ele. — explicou João.

Durante boa parte da tarde, ficamos conversando sobre as expectativas para o futuro. João mostrou a sua nova Carteira de Identidade Nacional: João Victor Soares Guimarães Telles. A sua foto estava a coisa mais fofa do mundo, eu não resisti e o beijei. O meu namorado também compartilhou sobre os primeiros dias do novo estágio. Ele ficou acanhado por ser apresentado pelo próprio Fernando Telles, que fez questão de frisar que qualquer membro da família vai começar de baixo.

Sim. O seu Fernando é direto, mas não deixa de ser paternal com as pessoas que ama. Foi assim comigo e está sendo com os gêmeos. Graças a Deus que nem todos da família são ruins. A Nataly também nos informou que a polícia já estava em busca de Viviane Telles, a responsável pelo incêndio na casa da família Guimarães.

Após o jantar, o João me fez o convite mais irresistível do mundo: sincronizar as suas tags inteligentes. Você não sabe o que é uma tag inteligente? Nem eu, porém, de acordo com o João, são dispositivos feitos para ajudar a rastrear objetos perdidos. Ele não queria ter problemas para encontrar as chaves ou objetos pessoais, como por exemplo, o celular ou carteira.

— São muitos úteis, principalmente pra mim que sou a pessoa perfeita para perder as coisas. — ressaltou meu namorando me passando uma das tags para colocar em sua mochila.

— Você vai ser o meu personal TI. — brinquei colocando o objeto no meu bolso e o abraçando.

— Sim. — ele arrumou os óculos no rosto. — Tenho um projeto para automatizar o teu apartamento. E a melhor parte? Você pode pagar com beijos e mais beijos.

— Você é um bobo. — de repente, a voz de João foi cortada por um forte relâmpago. — Eita, parece que vai cair o mundo. — ele comentou indo até janela e olhando para o céu.

— Puxa, está ficando tão tarde. — soltei deixando o meu tom de voz mais dramático. — Tudo bem, eu vou na chuva. Quem sabe me molhar ou parar em uma rua alagada e....

— Para seu dramático. — João se aproximou e me beijou. — Pode dormir aqui, mas sem saliências barulhentas.

— Sou super silencioso. — protestei.

Transamos três vezes. O João conseguia me seduzir de maneiras que nunca imaginei ser possível. Apenas um olhar me fazia ter uma ereção. Será que tenho algum problema? Talvez esse problema seja amor. Relevem, eu fico muito bobo quando estou com o meu namorado. Ele dorme tranquilo em meus braços, enquanto a chuva desaba do lado de fora.

Olhando para o príncipe que dorme ao meu lado, eu fico refletindo sobre como a vida é maluca. Tudo o que deu errado serviu para nos unir. E se o Alex não tivesse entrado em contato com o Mauro? E se eu não tivesse beijado o José naquela festa? Eu teria conseguido encontrar o João? Adormeço com esses questionamentos e acho que nunca terei uma resposta definitiva.

As semanas vão se passando. Aos poucos, a família Guimarães volta a sua rotina. Os gêmeos estão se adaptando aos seus empregos na Empresa Telles, enquanto os seus pais biológicos fazem de tudo para uma aproximação natural. Sinto que as barreiras estão sendo quebradas, principalmente, da parte do José, que eu sinto ser mais receptivo com o Jayme e a Patrícia.

Naquela semana, o Jayme faria uma festa para celebrar o seu 43º aniversário. Os eventos da família Telles, até os mais simples, eram recheados de pompa. Como sempre, o jardim foi transformado em um cenário de conto de fadas, estava repleto de mesas finamente decoradas, cobertas por toalhas de linho impecáveis, e cadeiras luxuosas.

O burburinho da festa preenchia o ar enquanto os convidados caminhavam pelo jardim para fazer o networking. Cheguei e encontrei os gêmeos sendo apresentados para mais pessoas. Os dois agora estavam imersos em um mundo que era, ao mesmo tempo, fascinante e desconcertante.

À medida que observava a cena, uma discreta ironia se instalou em meu peito. Afinal, eu já fazia parte dessa família há algum tempo, desde que o destino entrelaçou nossos caminhos após a morte dos meus pais. O Jayme foi mais do que um benfeitor; ele se tornou meu guardião e mentor. Diferente do seu irmão, Jorge, ele me guiou pelas nuances deste cenário luxuoso. Agora, o Jayme fazia o mesmo pelos filhos.

A festa, repleta de semblantes sorridentes e vestidos deslumbrantes, era uma exibição de riqueza e status. As mesas fartas apresentavam pratos complexos, cada um uma obra-prima gastronômica. O champanhe fluía em taças de cristal, um brinde constante à prosperidade da família.

O jardim, adornado por uma sinfonia de flores exóticas, era o palco para os convidados, que dançavam ao som de uma orquestra ao vivo. Os risos e conversas polidas flutuavam pelo ar, criando uma atmosfera de festividade e celebração.

Porém, no meio dos convidados, eu vi algo que acendeu um alerta vermelho dentro de mim. O irmão de Jayme, Jorge Telles, se aproximou dos sobrinhos. Eu peguei uma taça de champanhe e me aproximei deles.

— Olá, tudo bem? — me aproximei.

— Então, esses são os meus sobrinhos! — exclamou Jorge com sua voz estridente sobressaindo a minha. — São muito lindos. — ele abraçou os sobrinhos em uma atuação digna do Oscar. — Sofremos tanto com o sumiço de vocês.

— Irmão? — Jayme não escondeu a surpresa de ver o seu gêmeo no evento.

— Qual é, Jay. — Jorge tentou parecer brincalhão e deu um soquinho no irmão. — Eu tinha que vir te prestigiar. Sei que temos nossas diferenças, mas somos família. Né? — ele olhou para João e José na busca de apoio moral.

— Sim? — questionou José dando com os ombros.

A maioria dos convidados, absorta em suas próprias conversas e sorrisos ensaiados, nem faziam ideia do reboliço que estava dentro de mim. Eu só queria arrancar o João daquela situação constrangedora. Eu também fiquei me questionando como dois irmãos podem ser tão diferentes?

Tudo bem, o João e José possuem personalidades diferentes, mas são boas pessoas, cada um do seu próprio jeito. Entretanto, a diferença entre Jayme e Jorge é gritante. Eles são Yin e Yang. O bem e o mal. É muito estranho a forma como o Jorge inveja todas as conquistas do irmão. É desconfortável.

— E você, adotadinho? — ele perguntou olhando para mim.

— Estou ótimo. Fui efetivado na agência e...

— Sério?! — Jorge me abraçou, mas eu não retribui. — Puxa, ainda bem que eles não ligaram para o teu histórico, né. Não é todo viciado, quer dizer, ex-dependente químico que consegue uma vaga de emprego tão promissora. Meus parabéns, Hector.

— Obrigado.

— Vocês são gêmeos? — soltou João, visivelmente incomodado com o comentário do tio.

— Sim. — Jorge se aproximou de Jayme e sorriu.

— Nem parece. — meu namorado disse, fazendo o irmão gêmeo cuspir um pouco de champanhe no rosto de Jorge.

— Pô, cara! Desculpa. — José tentou limpar o rosto do tio com um lenço sujo com catchup.

— Não precisa. — Jorge quase não conseguia disfarçar a antipatia. Afastando o sobrinho de maneira arrogante. — Já falei que não precisa. — jogando o lenço longe.

— Calma, cara. Sem estresse. O tio é bravinho. — José fez uma careta e se afastou.

— Com licença. — pediu Jorge, saindo em disparada para dentro da mansão.

— Com licença, meus filhos e Hector. Tenho que conversar com o Jorge. — Jayme foi atrás do irmão. Com certeza contar sobre a novidade do século: o retorno de Viviane Telles para nos atormentar.

— Arrasou! — João soltou. Ele e José fizeram um high five.

— O quê? — me questionei.

— Ninguém vai mexer com o meu cunha. — brincou José, pegando no meu ombro. — Você já é da família, cara. A família Guimarães tá contigo para tudo! Agora, com licença, — imitando a educação do pai. — eu vou pegar umas gatinhas milionárias. — saindo.

— Ei, não liga para aquele babaca. — pediu João, olhando para os lados e tocando no meu rosto.

— Tudo bem. Estou acostumado e...

— Não, Hector. — disse João, ainda tocando o meu rosto. — Você é o cara mais incrível que eu conheci. O teu passado não te define, ok.

— Eu sei. Obrigado por me defender. — eu o abracei. — Acha que estamos sendo muito gays?

— Eu não ligo. — ele me abraçou forte e me senti seguro.

Eu precisava ficar a sós com o meu namorado. Como a casa estava recheada de pessoas, decidimos ir para o meu apartamento. Pegamos algumas bebidas do bar e fomos para o carro. No caminho, o João acabou colocando uma de suas tags eletrônicas no meu molho de chaves. Até brinquei, dizendo que ele queria me espionar.

As luzes da cidade deslizavam pelas janelas do carros, enquanto a voz de Taylor Swift ecoava pelo sistema de som. De repente, sem aviso, um caminhão bloqueou o caminho. Por pouco, não bati no veículo maior e causei um acidente. No início, fiquei puto com a imprudência do motorista. Então, três homens desceram e quebraram as janelas do carro com a ajuda de bastões.

— Hector, é um assalto! — gritou João.

De forma brutal, um homem arrancou João do carro com brutalidade. O pânico se apoderou do meu peito, mas quando tentei intervir, um outro bandido também me levou para fora. Eles gritavam palavras desconexas e pediam dinheiro, então entreguei a chave do carro, mas o meliante a lançou no chão.

— Tem dois caras aqui, porra! — gritou o bandido que me encarava.

— Tem que levar o Teles! — um deles vociferou para o meu desespero.

— Não! — gritou João, que logo foi reconhecido como sendo da família Teles.

— É esse viadinho! — um dos homens debochou do João, que tentou correr para perto de mim, mas foi empurrado pelo terceiro bandido, que usava uma lanterna.

— João, você tá bem? — perguntei. Então, me aproximei e fiquei em cima do meu namorado o protegendo.

— Para de viadagem, porra! — o bandido com um bastão não pensou duas vezes e tacou nas minhas costas. — Sai de cima, caralho, ou vai ser pior para você. — desferindo outro golpe, que pegou em minhas pernas.

— Vão sequestrar o meu namorado. — pensei, nem ligando para dor que eu sentia nas pernas. Então, lembrei da TAG no meu bolso, tirei e coloquei dentro da meia do João.

— Sai, Hector, por favor, amor. — João chorava, enquanto eu servia de escudo humano.

Eu, agora no chão, sentia uma dor pulsar em cada fibra do meu ser. Os homens, percebendo minha incapacidade de reação, se aproximaram com sorrisos sádicos, zombando de minha condição. A violência, além de física, passou a ser psicológica. Alguém me tirou de cima do João e o levou para o caminhão.

Os outros dois que ficaram começaram a me bater com socos e chutes. Coloquei as mãos no rosto e rezei para não ser morto. Lentamente, a escuridão engoliu minha consciência, enquanto eu chorava e balbuciava o nome do João, uma prece silenciosa escapou dos meus lábios feridos. A última recordação que tenho é de um amedrontado João gritando pelo meu nome, enquanto eu perdia a consciência.

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