Meu nome tem cinco letras (14/15)

Um conto erótico de Gui Real
Categoria: Gay
Contém 1311 palavras
Data: 04/04/2024 09:57:36

14 – Chico

Marie e Alice dormiram em outra cama, passei a noite toda transando e parando antes do orgasmo, era quase sete e meia da manhã quando acordei, levantei a cabeça lentamente, Pedro estava acordado sem se mexer, disse que era impossível levantar e me fazer acordar, ficou com minhas costas em seu peito sentindo minha respiração, o cheiro de meu corpo. Intimidade. Me virei e vi aqueles olhos enormes, ele diz que gosta de meus olhos claros, e eu adorava tudo nele, eu o beijei e desci direto para o pau dele, me dediquei a fazer de meu homem o homem mais realizado naquele início de manhã, ele segurava meus cabelos e me chamava de amor fodendo minha boca, que olhos lindos, que sorriso lindo.

Tomamos banho e telefonei para Artur, ele disse que estava indo se encontrar conosco na academia, estava quase chegando, Pedro liga o telefone, havia coleções de recados em aplicativos de mensagem no meu e no telefone dele. Encontramos com Artur ligando para a ex, ela lhe disse que o seu parceiro de putaria era dono de uma editora independente, na verdade era um herdeiro que vivia como bon-vivant, ele nem procurava uma parceira para aproveitar a vida, mas achou, ela perguntava se ele a odiava por... “Você é minha melhor amiga, eu estou apaixonado por um cara e você também, eu descobrindo outra sexualidade e você outro estilo de vida, você sempre será minha confidente, você e eu é um caso de amor que nunca vai acabar, mas aquele amor ficou maior e mudou de forma, eu vou te amar pra sempre”, Artur chorava e dizia sim ao divórcio, podíamos ouvir o choro da mulher no outro lado da linha.

Pedro retornou para a irmã de Fábio, disse que desligou o telefone por conta de uma festa, pergunta se ela estava bem, “Pedro, você se mostrou um bom amigo para meu irmão e eu, obrigada. No dia seguinte ao desembarque Fábio estava no mesmo quarto de hotel que Saulo, parece que haviam feito as pazes, Fábio deu dois tiros na cabeça do amante e depois atirou na sua própria cabeça. Aquela história trágica que se arrastava por anos teve um fim, eu só liguei pra te agradecer, por outro lado para dizer que foi melhor para você e seus amigos não se envolverem ainda mais com Fábio, sabe... Eu o amava, mas ele só se envolvia com pessoas perigosas e destrutivas, talvez ele não fosse uma boa pessoa.”

Não tivemos disposição para ver gente sorrindo, para tanta felicidade e alegria, nem pra buscar nos exercitarmos numa esteira, liguei para Tomás e ele pediu para irmos a um ponto no navio, um funcionário nos entregou seis caixas de jogos de tabuleiro num saco de lixo grande, eram de Fábio. O bilhete de Tomás dizia que itens deixados para trás por passageiros eram deixados no último desembarque, vai que eles procurem... Achava que aqueles brinquedos não iam ser procurados por ninguém, não valeria a despesa de envio, a primeira vontade de Pedro foi de jogar no lixo, mas o fizemos reconsiderar, houve bons momentos também. No fim, Fábio nos mostrava uma forma saudável de diversão.

Minha ex também ligou enquanto em minha cabine montávamos um Banco Imobiliário, ela conversou comigo, perguntei se meu irmão a pediu em casamento, ela deu um risinho, disse que ainda não, que ele não pediria, vai pedir, garanti, eu poderia pressionar ele tanto até ele pedir, ela disse que tinha de me dizer uma coisa e não sabia como eu iria reagir, ela estava com nove semanas, eu não sabia como reagir, não era meu, fazia cinco meses que não havia sexo entre nós dois, eu disse que estava magoado por ela me dizer isso sem dizer depois que eu seria o padrinho, que eu iria acompanhar o crescimento, que eu ia ajudar a escolher o nome, “Vai se chamar Francisco, não vai ser Chico como você foi registrado, mas vai se chamar Francisco ou Francisca, foi seu irmão que disse que merecia o nome da pessoa que nós dois mais amamos no mundo antes de saber que essa pessoa está dentro de minha barriga.”, eu chorei de soluçar, eu estava tão feliz por ambos, um amargor horroroso passava por minha boca e vomitava um rio de alegria e calma, eu me esvaziava de um rancor e uma luz ocupava um espaço vazio onde antes era ocupado por coisas nada boas, eu pude dizer exatamente o que disse Artur, eu a amava e estava disposto a ser o melhor tio/padrinho que pudesse ser.

Almoçamos sanduíches, sucos e saladas, Marie e Alice estavam se preparando para o último espetáculo, foram dez apresentações em sete dias, a última era o espetáculo do capitão, Tomás disse que era lindo, mas que não queria nos ver lá, disse para ficarmos “escondidos” se quiséssemos ir, era uma despedida de uma parte longa e importante de sua vida e ele não queria ver nós três, como seu futuro, junto a esse fim, a gente era a esperança do amanhã.

Ele se encontrou conosco nas escadaria principais, estávamos tristes por Fábio e Saulo, felizes (e um pouco melancólicos também) com o encerramento do casamento de Artur e do meu. Ele nos contou que Marie e Alice iriam voar para Bretanha, a mãe de Marie faleceu e deixou a casa e um pet shop para ela, era um recomeço e tanto. Pergunto se ele estava indo com elas, ele disse que não, não era uma coisa que elas queriam, elas passaram duas semanas para contar e resolveram contar antes da apresentação no teatro. Eu não quis perguntar se ele iria caso houvesse a possibilidade, ele chorou muito, passamos a noite jogando ludo, lendo contos de um livro de histórias de ferros que Artur trouxe, conversamos e dormimos, não houve sexo, deixamos as malas na porta de nossos aposentos, os jogos de volta ao saco de lixo.

Aportamos, demos entrada em um hotel, dois quartos de casal, compramos uma sacola de academia e passamos plástico filme nas caixas de jogos, fomos a uma loja de brinquedos e passamos um tempo analisando outros jogos, nunca joguei xadrez. Voltamos ao hotel e encontramos com Tomás no saguão, três malas pequenas e um homem de meia idade que usava a jaqueta de capitão como casaco, mas estava quente na noite santista. Pedro o recebeu com um beijo, naquele momento percebi um medo de que ele não se atrasasse apenas, um medo de que ele não viesse estava se escondendo dentro de mim, agora era um pânico controlado de que aquele encontro fosse uma despedida.

Subimos ao quarto de Pedro, observamos ele tomar banho, vestir um jeans e uma camisa polo, saímos para comer pizza, caminhamos de volta ao hotel, Pedro deu a ele um quebra cabeça, disse que cada um de nós comprou um, quis escolher o dele, era a imagem de um campo de trigo no início de uma manhã. Eles fizeram amor enquanto Artur e eu também fazíamos, eles na cama e meu namorado e eu de pé, quer dizer, eu estava de joelhos em uma cadeira, estávamos cansados. Amanheci com o medo alarmante de Tomás ter convencido Pedro a ir embora com ele, bati naquela porta insistentemente, Artur me observava com olhos benevolentes, a voz de Pedro perguntava se estávamos atrasados, respirei aliviado, não.

Nosso voo saia às treze horas, conseguimos ir todos no mesmo voo. Tomás tem medo de voar, medo patológico mesmo, Pedro estava de calção no meio das coxas e chinelo, mostrava as pernas grossas exibindo-se e deixando Artur enciumado, Artur chama a nossa atenção na hora em que Pedro destila charme para a garota de meia idade no despacho das malas, Artur fala: “Olhem, o pelo do peito do pé de Pedro é preto”, a mulher gargalha, e Artur acaba com o exibicionismo de nosso namorado.

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