TRAVESSIA [31]~ Reencontros

Um conto erótico de BERNARDO
Categoria: Gay
Contém 3353 palavras
Data: 12/05/2024 02:05:20

Eu passei tanto tempo tentando descobrir o que ainda sentia por Vítor, que esqueci de me preocupar em como seria quando nos reencontrássemos. O que falar com ele? Aliás, ainda mais importante, que tipo de relação eu queria ter com ele agora? Fingir que nada aconteceu e nos tratarmos como meros conhecidos? Sentarmos e conversarmos sobre tudo o que aconteceu? Ou gritarmos um com outro até que todos aqueles anos de mágoa guardada tenham sido libertados, e assim possamos seguir com nossas vidas?

E, curiosamente, todas essas perguntas só podiam ser respondidas depois que eu conseguisse responder a minha pergunta inicial: o que eu ainda sentia por Vítor?

O ar na sala estava tenso. Rafinha, tia Rosa e tio Alfredo olhavam para Vítor e eu esperando alguma reação, mas nós dois estávamos perdidos em um outro mundo, aquele no qual guardávamos as mais doces lembranças de nossa infância.

O que eu sentia naquele momento revendo Vítor?

Saudade, mas não saudade dele especificamente e sim saudade de um tempo que não volta mais.

- Olha quem veio nos visitar! - falou tia Rosa quebrando o silêncio.

- O Bernardo veio trazer seu irmão de volta. - completou tio Alfredo.

Por poucos segundos os olhos verdes de Vítor se desviaram de mim para o irmão caçula que continuava abraçado a mim pela cintura.

No seu olhar eu vi desprezo em relação à Rafinha num grau muito maior do que o simples ciúmes entre irmãos. Isso me assustou um pouco: o quão mal tinha ficado a relação deles com o passar do tempo?

- Oi. - falei sem jeito.

- Oi. - ele respondeu voltando a me encarar.

- Bernardo, vai jantar conosco hoje e vamos colocar o assunto em dia. - falou tia Rosa. - Vá se trocar e venha nos acompanhar. - Ela ordenou.

- Ah... Claro, já vou.

Claramente incomodado com a minha presença e ainda sob o impacto da surpresa, ele subiu as escadas em direção ao seu quarto.

Se alguém me contasse, eu não acreditaria. Quem poderia dizer que nosso reencontro seria tão frio assim?

Tia Rosa nos guiou até a sala de jantar e pôs mais dois pratos à mesa. Poucos minutos depois Vítor se juntou a nós. A mãe dele me perguntava milhões de coisas sobre a minha carreira e fazia milhões de elogios, enquanto eu me limitava a responder e agradecer timidamente, ainda desconfortável com aquela situação.

Rafinha participava do papo ativamente, contando sobre o que tinha visto estando comigo nos últimos dias, sempre sob os olhos repreensivos do pai.

Vítor se limitava a comer olhando para o prato. O clima não era nada bom e eu estava louco de vontade de fugir dali.

Como desgraça pouca é bobagem, começou a cair uma forte tempestade, clima típico daquela época do ano.

- Agradeço muito a refeição, estava ótima, tia Rosa, mas eu tenho que ir. Minha mãe e minha avó estão me esperando.

- Como você vai embora com essa chuva, menino?

- Dorme aqui! - falou Rafinha animado.

Nós quatro lhe lançamos olhares de repreensão por causa da ideia absurda, e ele se encolheu na cadeira. Eu só queria dar um fim àquela noite, nem que para isso eu tivesse que ir embora nadando.

- Sem chance, Rafinha. - falei tentando parecer educado ao recusar. - Eu tenho mesmo que ir.

- E essa chuva? - ela insistiu.

- Já está parando, não vai ser problema.

- Mas a estrada até a cidade é de terra, ou melhor, de barro com toda essa aguaceira. Seu carro vai acabar atolando.

Era bem possível, mas a cada minuto que passava eu queria ainda mais ir embora.

- Não deve ser problema, eu passo pelas partes menos alagadas.

- De jeito nenhum. - ela insistiu. - Vítor, pega a caminhonete e leve ele até a cidade.

- O quê? - pensou alto Rafinha.

Vítor não esboçou reação, enquanto seu pai lançou um olhar desconfiado para a esposa. Eu ainda não tinha distinguido se tia Rosa só queria mesmo que eu chegasse com segurança à cidade ou juntar eu e Vítor à força para uma conversa séria.

Tudo o que eu menos queria naquele momento era ficar a sós com ele. Seria um desastre, não importa o rumo da conversa.

- Não precisa, tia, eu...

- Vou pegar a caminhonete. - falou Vítor pegando a chave numa mesa próxima.

- Não precisa. - falei o encarando.

- Eu insisto.

Ele se virou e saiu em direção à garagem antes que eu me recusasse.

Agora eu estava oficialmente arrependido de ter ido até lá.

Só Deus sabe o que aconteceria naqueles vinte minutos que separavam a fazenda da cidade.

- Tudo resolvido, então. - tia Rosa falou. - Vai ficar aqui por quanto tempo?

- Não sei ainda, mas até as festas com certeza.

- Ótimo! Então sinta-se obrigado a vir me visitar novamente para podermos conversar direito. - ela falou aquilo com um brilho diferente nos olhos.

- Certo, eu virei sim. - falei sem muita certeza.

- E diga para a sua mãe vir também, viu?

- Eu vou dar o recado.

- E mais uma vez, obrigado por trazer meu filho de volta.

- Ah, promessa é dívida, não fiz mais do que minha obrigação.

- E eu também vou cumprir a minha parte. – falou se referindo ao meu pedido de que ninguém machucasse o Rafinha.

- Posso ir te visitar amanhã? - perguntou Rafinha.

- Claro, se seu castigo por fugir já tiver terminado.

Ele fechou a cara com a resposta, mas tia Rosa e tio Alfredo riram. Ele estava em apuros, mas eu não podia fazer nada já que ele tinha merecido.

- Volte qualquer dia, rapaz, você sempre foi muito bem vindo aqui.

- Vou voltar sim, tio Alfredo. - nesse momento Vítor parou com a caminhonete em frente à casa. - Tchau.

- Tchau. - os três responderam. E Rafinha correu até mim e me deu um abraço mais carinhoso que o mundo...

Tão ou mais nervoso do que quando cheguei, entrei no carro de Vítor. Sem jeito, o cumprimentei, me sentei e coloquei o cinto de segurança enquanto o carro começava a se movimentar. Nenhum de nós falava nada, bastante incomodados com a situação.

Acho que para quebrar o clima ruim, ele ligou o rádio, mas como o destino gosta de pregar peças, era eu quem estava cantando.

Nós dois acabamos rindo da coincidência.

Senti meu coração bater um pouquinho mais rápido ao som de sua risada, mas nada que chamasse a minha atenção.

- Você conseguiu, virou um astro... - ele falou sem me olhar, concentrado na estrada.

- Pois é, quem diria? Eu cheguei lá.

- Você está cantando ainda melhor, mereceu o sucesso.

- Sua mãe me disse a mesma coisa mais cedo.

Voltamos a ficar em silêncio e ele recomeçou.

- E esse acidente? - falou se referindo ao que havia sofrido.

- O médico disse que eu tive sorte de ter sobrevivido e sem sequelas. O motorista do carro em que eu estava morreu e nem teve culpa.

- As coisas são assim mesmo. Enquanto você esteve em coma, não se falava outra coisa na televisão.

- Me contaram assim que eu acordei.

Novamente o silêncio caiu sobre o carro e foi a minha vez de puxar assunto.

- E você, o que tem feito?

- Terminei o ensino médio aqui na cidade mesmo. Depois me formei em engenharia de minas em Ouro Preto com uma rápida passagem por Berlim. Agora estou trabalhando na mineradora.

- Isso é legal. - pela primeira vez na noite reparei na brilhante aliança que reluzia em sua mão. - E noivo, né? - Rafinha me contou.

- É.

Eu não tinha planejado tocar naquele assunto complicado logo de cara, ele apenas surgiu sem que eu pudesse impedir minhas próprias palavras. E pude perceber que, como Rafinha havia me dito, a simples menção ao noivado deixava claro que ele não estava feliz.

- Da última vez que ouvi falar de você por essas bandas, foi quando seu namorado veio aqui. - Foi a vez dele tocar num assunto complicado.

Tinha acontecido há tanto tempo, que eu nem me lembrava que ele chegou a conhecer Felipe.

O desprezo com que ele falou aquilo me incomodou muito, mas resolvi deixar passar, afinal de contas, eu estava aqui justamente para fazer as pazes e não brigar mais.

- Pois é; ele me contou. Ele morreu pouco mais de dois anos depois desse encontro. - falei tentando controlar minhas emoções. Mas lágrimas já escorriam pelo meu rosto e ele percebeu.

- É, me contaram. - Mariana, com certeza.

O desprezo com que ele se referia a Felipe era tão grande, que eu me enchi de raiva e resolvi bater forte também, mandando para o inferno a oferta de paz, mas ao mesmo tempo falando a verdade que morava em meu coração.

- Foi muito difícil, sabe? Eu ainda amo aquele garoto como nunca amei ninguém.

Ele foi meu grande amor, e grandes amores só acontecem uma vez na vida. Toda noite antes de dormir, eu choro no travesseiro a saudade sem tamanho que eu sinto dele. E ainda sonho com aqueles olhos azuis de anjo.

Mas eu tento enxergar o lado bom disso tudo: poucas pessoas no mundo podem afirmar que se amaram tanto e tão intensamente quanto eu e ele. Com ele eu fui feliz de verdade pela primeira e única vez na vida.

Vítor me olhou sem reação. Era a primeira vez que nos olhávamos olho a olho desde que entramos no carro.

Minha declaração de amor a Felipe tinha sido um tapa na cara dele, o que devo admitir me fez muito bem.

Ele ficou tão atordoado com minhas palavras e nem percebeu que já estava em frente à casa da minha avó.

- Chegamos, obrigado pela carona e boa noite.

Ele olhou em volta, se deu conta de onde estava e parou o carro. Abri a porta com pressa, desci do carro e entrei em casa. Só ouvi a partida do carro depois de fechar a portaNossa! Eu dava um dedo para ter presenciado a cena. - Comentou Bruno depois de ouvir a história toda mais tarde no quarto.

- Sabe o que é mais estranho? O clima da nossa conversa foi sóbrio e formal, nem longe parecíamos duas pessoas que se conheciam há tanto tempo. Fomos muito frios um com o outro. Eu esperava mais emoção.

- Sabe o que penso?

- O quê?

- As aparências enganam. Vocês dois ainda não se reencontraram de verdade.

- Como assim?

- Você vê ele usando a máscara do “perdoar a todo custo” e ele te vê usando a máscara da fama.

Vocês fingiram um com outro, inconscientemente, o tempo todo.

Por isso digo que vocês ainda não se encontraram.

Esteve muito perto de acontecer quando vocês discutiram sobre Felipe, mas a discussão não teve tempo de ganhar força.

Na minha cabeça me veio uma velha música:

“As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam

Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões

Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele

Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser

Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar

Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor”

(As aparências enganam – Tunai/Sérgio Natureza)

Dormi com aquilo na cabeça.

Era verdade, nós dois ainda não havíamos nos encontrado de verdade.

Nós nos víamos sob máscaras, como Bruno disse, e isso bloqueava qualquer emoção.

Se eu quisesse levar adiante o meu plano de me acertar com Vítor, eu precisava deixar de vê-lo como vítima das circunstâncias e mostrar que eu ainda era o mesmo garoto, só que mais velho. Eu já começava a visualizar que o nosso processo de paz não seria nada pacífico.

Acordei na manhã seguinte com um burburinho embaixo da minha janela. Curioso, fui até ela ver o que estava acontecendo e logo descobri.

Lá embaixo na rua, uma pequena multidão se aglomerava e gritou ao me ver:

- É verdade! Ele está aqui!

Sorri amarelo para as pessoas e voltei para dentro do quarto.

- Que barulho todo é esse? - Perguntou Bruno sonolento na cama.

- Parece que a notícia da minha chegada se espalhou.

- Você não vai ter um minuto de paz!

- Eu sei. - Falei caindo novamente na cama.

Nos arrumamos e descemos para tomar café na cozinha. Minha avó e minha mãe já nos esperavam.

- Bom dia, seu fãs te encontraram.

- Eu vi...

- Bom, se alimente bem porque você vai ter um dia cheio. - Falou vovó.

- Vou?

- Sim. A prefeita quer conversar com você, então vamos à prefeitura. Depois vamos ao novo restaurante que abriram.

- Fazer o quê?

- Encontrar seu pai. Ele é o dono.

A simples ideia que em pouco tempo eu iria reencontrar meu pai me assustava muito.

Conhecendo-o tão bem quanto eu conhecia, eu tinha certeza que nossa conversa não seria fria e distante como aconteceu com Vítor. Seriam sete anos de mágoas de ambos os lados despejados de uma vez só.

- Ele que me pediu para te levar ao encontro dele. - Falou minha avó enquanto eu tomava meu café da manhã perdido em pensamentos.

- E isso é bom?

- Não sei. Esses anos todos ele não falou nada sobre você, nem bem, nem mal.

- Então, voltamos à estaca zero.

- Creio que sim.

Minha mãe tomava café da manhã no outro lado da mesa também pensativa. Esse reencontro tinha tanto significado para ela quanto tinha para mim. Ela ia rever o homem que amava, para quem dedicou boa parte da sua vida.

- Eu vou com você.

- Tem certeza mãe? - Perguntei temendo que ela estivesse se precipitando, afinal, meu pai era casado agora.

- Sim. Não sei o que ele quer com você, então quero estar lá caso ele queira novamente te hostilizar.

- Eu sei me proteger, mãe.

- Ele é seu pai, você não conseguiria se proteger totalmente dele.

Tive que aceitar, ela estava decidida em me proteger. Combinamos de ir encontrar com a prefeita e depois irmos ao restaurante dele.

O barulho do povo lá fora aumentou, nos viramos para olhar e era Zeca entrando pela porta da frente. A cena estava engraçada, ele todo suado; devia ter tido muito trabalho para atravessar aquela pequena aglomeração.

- Te descobriram, né? - Ele falou esbaforido.

- É o que parece...

- Olha, - Falou me entregando a chave do carro. - mandaram de entregar.

- Ah, deve ter sido algum dos peões da fazenda do Cercadinho. Por causa da chuva, deixei o carro lá ontem.

- E voltou como?

- O Vítor me deu carona.

- O quê? - Ele respondeu em uníssono com minha mãe e minha avó. Só tinha contado para Bruno na noite anterior.

- Nada demais, gente, foi só uma carona.

Eles não me deram paz e eu tive que explicar detalhadamente tudo o que tinha acontecido na noite anterior. Ao acabarem de ouvir, concordaram com a opinião de Bruno que não tínhamos nos encontrado de verdade ainda.

Depois fomos nos arrumar. Eu e minha mãe iríamos à prefeitura e Zeca levaria Bruno para conhecer seus pais. Estávamos todos muito nervosos. A única tranquila ali era a minha avó, que estava feliz por ter a casa cheia. Mas antes de enfrentar meus leões, eu tinha que dar um jeito de sair de casa.

Na minha carreira eu tinha aprendido diversos meios de despistar aglomerações de fãs e curiosos, mas decidi não fazer aquilo ali.

Eu tinha uma dívida com a cidade, pois desde que havia ficado famoso não tinha pisado lá mais, o que deixava a impressão que eu renegava minhas origens, uma grande mentira.

Na verdade, aquela viagem já estava me servindo para descobrir que eu não tinha nenhum tipo de sentimento ruim em relação a eles. Aliás, eles nunca me fizeram nada diretamente. A sociedade no geral e seus preconceitos me fizeram mal, não era justo jogar esse peso todo em cima dos morro-velhenses.

- Tem certeza? - Perguntou Zeca.

- Absoluta. Eu vou sair primeiro e vocês vêm, assim vai ser mais fácil.

Eles concordam meio receosos. Respirei fundo e abri a porta da frente. O zumbido que a multidão fazia aumentou bastante de volume. Não devia ter muito mais do que cinquenta ou sessenta pessoas ali, mas isso foi o bastante para me fazer gastar mais de quarenta minutos para andar dez metros até o outro lado da rua, onde o carro estava estacionado. Como já disse, eu não gostava nem um pouco daquelas situações, mas encarava como uma obrigação.

Falei rapidamente, dei autógrafos e tirei fotos com todos que vinham. Depois dessa verdadeira maratona, parti com minha mãe de carro para a prefeitura. Ao entrarmos no casarão antigo, mais gente me cercando e tive que ser “socorrido” por um dos guardas.

Uma moça sorridente demais veio se apresentando como secretária da prefeita e disse que a mesma nos esperava no seu gabinete. Ela nos guiou até lá e qual foi a nossa surpresa ao descobrirmos que a prefeita de Morro Velho era na verdade dona Margarida, a ex-diretora da escola que eu estudava.

Ela veio cheia de dengo para o meu lado, me tratando como um rei. Não demorou muito para ela acabar revelando o verdadeiro motivo de ter me procurado:

- Então, Bernardo, eu estava pensando se você podia fazer um show especial aqui.

- Um show?

- É. Eu estava pensando em um evento ao ar livre, gratuito, só para afagar o ego da cidade.

Não precisava ser muito inteligente para perceber que ela não estava nem aí para o ego da cidade, o que ela queria mesmo era agradar seus eleitores porque no ano seguinte teriam eleições municipais. Mesmo tentando me manter longe desse tipo de evento, com um interesse político por trás, por todos esses anos, acabei concordando.

- Ok, eu faço. Acho que estou em dívida com a cidade. É o mínimo que posso fazer.

- Isso! - Ela exclamou entusiasmada - Posso dar início aos preparativos, então?

- Pode, pode. Já tem uma data em mente?

- Eu estava pensando na noite da virada do ano.

- Mas isso já é daqui a duas semanas!

- Bom, da última vez que eu te pedi isso você fez em menos tempo. - Ela falou relembrando de quando me fez cantar naquela fatídica ocasião.

- Ok, ok. Pode marcar. - Falei me dando por vencido.

- É assim que se fala!

Saímos da prefeitura, eu e minha mãe, e fomos em direção ao restaurante do meu pai, seguindo as instruções da minha avó.

Era tamanho o nosso nervosismo, que fizemos o trajeto todo em silêncio. Agora era a hora da verdade. O que meu pai queria comigo afinal? No fundo eu ainda tinha esperança que fosse me pedir desculpas...

O restaurante do meu pai ficava onde antigamente funcionava seu mercado, no lugar que hoje se situa no centro comercial de Morro Velho.

Era um lugar muito bonito. Foi todo reformado, virando um grande espaço de estrutura de madeira antiga e janelas enormes de vidros no lugar das paredes. Não pude deixar de sentir saudades do antigo casarão que abrigava sua mercearia, que devia ter sido demolido, onde eu passei muito tempo na minha infância. Olhei para a minha mãe e ela também estava visivelmente emocionada.

- Tem certeza que quer ir lá?

- Eu não sei... - Ela falou com a voz embargada - estarei sendo covarde dando pra trás agora?

- Lógico que não. Você lutou muito contra ele, deixa eu assumir a batalha agora. - Falei segurando com força a sua mão - Espere aqui no carro.

Ela respondeu acenando positivamente a cabeça.

Respirei fundo e saí do carro. As pessoas que passavam me olhavam curiosas e incrédulas, pelo visto a notícia da minha estadia não tinha se espalhado tanto assim. Antes que se formasse mais uma pequena multidão, corri para dentro do estabelecimento.

Era um ambiente bem bonito. Não chegava a ser luxuoso, mas era aconchegante e bem cuidado.

A decoração rústica remetia a um verdadeiro restaurante de comida mineira.

O lugar estava vazio, até porque era pouco mais de dez da manhã ainda, mas os garçons, que arrumavam as mesas, me olharam no momento que entrei. Um deles ficou tão surpreso que deixou um prato cair e se espatifar no chão. Uma voz muito conhecida veio vindo da cozinha do lugar, fazendo meu corpo inteiro reagir:

- Quem foi que quebrou dessa vez? Vai ter que pagar, não aguento o prejuízo de vocês quebrando coisas todos os dias!

Ele entrou no recinto marchando duro e indo em direção ao garçom que havia quebrado o prato; não me viu parado na porta.

- Pode cobrar de mim. Acho que fui eu quem o assustou.

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Comentários

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Odeio esse tipo de patrão que fica cobrando dos funcionários até por um prato que quebra, por isso eu nunca aceitei trabalhar de garçom. Só por isso já dá pra ver que tipo de homem é o pai de Bernardo...

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