Parou, cansado, defronte a um desses muitos edifícios. Vendo seu reflexo na porta envidraçada, e olhando, através dela, para o corredor mal iluminado, forrado de um extenso linóleo azul, apertou um dos muitos botões do interfone. Um eco distante de passos rápidos fez com que ele desviasse a atenção para a esquina à sua direita; e enquanto buscava identificar a origem do barulho, escutou um breve estalido seguido de uma voz impessoal:
- Fale.
- Inseto, respondeu ele, gaguejando.
Por alguns segundos não houve qualquer resposta. Apenas o silêncio da rua, depois uma gargalhada distante, e, ao fundo, o zumbido do interfone.
- Você está atrasado quarenta minutos, disse, por fim, a voz masculina, deixando transparecer alguma impaciência.
- Por favor, me desculpe, o inseto pediu, num fio de voz, como se estivesse prestes a chorar.
Um barulho oco e, a seguir, apenas o zumbido, novamente, nada mais.
Ele sentia a mão direita, que segurava firmemente as alças da maleta, suar, transformando o couro em algo pegajoso e quente. O peso parecia aumentar segundo após segundo. Abraçou a maleta, como protegendo a si mesmo do silêncio perturbador, e encostou sua testa no granito frio que revestia a entrada do prédio, pronto a implorar.
- Entre, disse a voz, com o mesmo tom de indisfarçável impaciência, e a porta à sua frente se abriu com um barulho seco.
- Sim, senhor, murmurou o inseto, já alguns passos longe do interfone, empurrando a porta e fechando-a, rapidamente, às suas costas.
O corredor era frio. Seus sapatos pareciam grudar no linóleo. Excitado, alegre, temeroso, sentindo uma intensa vontade de urinar, ele caminhou na direção do elevador, entrou no cubículo repleto de desenhos, assinaturas e palavrões e apertou o botão do andar. Num solavanco, a pequena cela de madeira começou a carregá-lo para o seu esperado encontro. Ouvia os cabos de aço raspando nas paredes do fosso e, num ruído soturno, batendo no elevador. A luz piscava, e a subida parecia monótona, lenta. As portas eram deixadas para baixo, uma a uma, e ele via os números dos andares se sucederem pintados no concreto, primitivas pinturas rupestres, tão arcaicas como a sua doída expectativa. Quando o elevador se abriu, ele empurrou, com força, a pesada porta do andar e demorou a se acostumar com o hall escuro, pequeno, onde uma única entrada parecia aguardá-lo. Bateu à porta e esta se abriu, imediatamente. Encontrou um vestíbulo despojado, com as paredes pintadas de preto, forrado com um carpete cinzento, sem qualquer luz natural e com outra porta, também preta, ao fundo.
- Feche a porta, disse a voz masculina que lhe falara ao interfone.
Ele obedeceu e, olhando para o teto, encontrou duas pequenas caixas acústicas, colocadas lado a lado, tendo ao centro uma câmera de circuito interno de tevê.
- Tire sua roupa, dependure-a nos ganchos à sua esquerda e entre, ordenou a voz, entrecortada, agora, por um estranho zumbido.
O inseto se despiu lentamente, não com insegurança ou temor, mas com estudada meticulosidade, peça por peça, devagar, de forma que a roupa não amassasse, dependurando-a com cuidado, quase com carinho, revelando um corpo sem pêlos, exceto por uma delicada penugem que sobressaía da parte superior do pênis, um membro tímido e circuncidado, cuja coloração mais escura contrastava com o restante do corpo, claro, níveo. Por fim, agachou-se, abriu a maleta e retirou dela uma caixa pequena, fechada por um fino barbante. Fechou a maleta, empurrou-a para a parede, levantou-se e, segurando a caixinha com as duas mãos, na altura de sua cintura, um pouco à frente do corpo, como se fora uma relíquia, caminhou na direção da porta.
- O que é isso?, interrompeu-o a voz.
- A... O... O combinado..., gaguejou ele, parando e erguendo os olhos na direção da câmera.
Um silêncio constrangedor irrompeu na saleta. O distante zumbido era apenas o som do reator da lâmpada fria que iluminava o cômodo. O inseto aguardava, os olhos postos na câmera, as mãos segurando o pequeno volume, a pele branquíssima deixando transparecer as veias, o pênis acanhado e murcho quase encobrindo o escroto enrugado. Ele teria esquecido o combinado? Ou desistira? O coração cavalgava em seu peito estreito e raso, sentia os óculos escorregarem pelo nariz e um arrepio intenso percorreu suas costas, do cóccix até a nuca, espalhando-se, na forma de delicados eletrochoques, por todo o couro cabeludo. Por um instante, culpou-se, amargamente, pelo indesculpável atraso; imaginou ter posto tudo a perder; arrependeu-se de ser tão fraco, tão nervoso, tão solitário; lembrou-se de seu pai, admoestando-o por alguma falha; e finalmente ouviu a voz dizer, numa entonação relevante, quente, acolhedora: - Está bem, entre.
O novo cômodo era asséptico. O piso, de granito escuro; as paredes, azulejadas em vermelho coruscante de alto a baixo, brilhavam sob a luz fluorescente; um armário de aço, fechado, negro, decorava uma das paredes, tendo ao lado uma porta. Encostada à parede oposta, encontrava-se uma maca de consultório médico, feita num aço luzidio, sem colchão. À esquerda, outra porta.
O que ele deveria fazer? Não havia onde sentar. Ele começava a sentir frio, seus pés gelavam. O vermelho das paredes fustigava seus olhos. De repente, um som estranho, repetitivo e compassado preencheu o quarto; um som semelhante ao do batimento cardíaco de alguém absolutamente calmo, e a intensidade da luz diminuiu até deixar o ambiente na penumbra, fazendo com que o vermelho das paredes ganhasse uma coloração menos sangüínea, menos estridente. O cômodo tornou-se aconchegante, uma indescritível tepidez abraçou o corpo franzino do inseto, enlaçou-o, ele se sentiu envolvido de uma inesperada segurança e viu uma das portas abrir-se lentamente, e atravessá-la um homem alto, musculoso, com um capuz de látex negro cobrindo toda a sua cabeça, deixando à mostra apenas os olhos e a boca.
Hipnotizado, o inseto desejou ajoelhar-se à frente do seu anfitrião e entregar-lhe a caixinha como se esta fosse uma oferenda, mas conteve-se e admirou o corpo seminu, coberto por um macacão preto, também de látex, cujo decote extremamente cavado, desenhado por duas longas e estreitas alças, deixava à mostra o tórax largo e coberto de pêlos, e que logo abaixo da cintura, por uma abertura circular, expunha um cacete corpulento, longo, terminando numa glande carnuda, vermelha e provocante.
O homem não caminhava. Vinha em sua direção num trotar sinuoso, semelhante a um ser mitológico, um animal híbrido, um centauro calçando botas de couro que lhe ultrapassavam os joelhos e amoldavam-se às suas coxas num desenho perfeito. E ao aproximar-se do inseto indefeso, ergueu uma das mãos - mãos enormes e negras, também calçando luvas de couro - e, sem dizer qualquer palavra, olhando-o fixamente, tocou-o num dos ombros e levou-o, com a ponta dos dedos, na direção da parede às suas costas.
- Você trouxe, então..., o centauro disse, numa voz que parecia brotar do seu diafragma.
- Sim, senhor, balbuciou o pequeno, temendo olhar diretamente para o outro, mas com a atenção presa ao membro avantajado, sob o qual ele via, agora, um vultoso escroto.
- Deixe-a no chão, ordenou.
O inseto se agachou e, delicadamente, colocou o seu tesouro sobre o granito, com as duas mãos. Mas sequer insinuara levantar-se, sentiu o peso da bota sobre o seu peito, empurrando-o com violência contra a parede, derrubando-o no chão.
- Porco!, exclamou, com nojo, o gigante, pressionando as costelas do inseto contra o granito e rindo sadicamente.
Um frêmito de prazer percorreu o corpo indefeso do inseto. O peso da bota, o contato com o chão frio, a pressão contra a sua carne, o princípio de dor, o medo, tudo fazia nascer nele o tesão esperado, a delícia ansiada tantas vezes na solidão, a loucura de tornar-se, enfim, apenas um objeto.
- Porco sujo!, repetiu o homem, esmagando-o como se fosse, realmente, um inseto. - Porco imundo!, exclamou outra vez, rindo, num deboche, amassando, com a outra bota, o braço estendido no chão e, ao mesmo tempo, esfregando a sola da bota direita sobre a pele clara do inseto indefeso, pressionando as costelas, o estômago, a bexiga, forçando o corpo indefeso contra a parede e fazendo-o gemer de dor e medo.
- Seu vermezinho idiota, grunhiu o dominador, deixando que um meio sorriso emergisse da máscara negra.
Tentando escapar das botas que pressionavam diferentes partes do seu corpo, o inseto se contorcia, atemorizado pela dor e pela possibilidade de ser ferido. A violência, ainda que profundamente desejada, confundia-o, e sua capacidade de discernir parecia desorientar-se, perdida entre recordar o que fora, dias antes, previamente combinado e a dor que, momento a momento, fustigava os seus músculos e parecia dilacerar a sua pele. "Isto é apenas o começo do que foi acertado!", sua consciência gritava, alertando-o para que resistisse e fazendo com que o prazer nascido da submissão e da dor superasse a ansiedade e a insegurança. Na verdade, o medo tornava-se fonte de prazer, e ao notar que uma das botas começava a pressionar o seu pênis, uma incontrolável ereção denunciou, em meio a dor, a louca delícia que estrangulava a sua carne.
- Tire os óculos!, ordenou a voz do macho, do seu macho, daquele que, agora, começava a possuí-lo, de quem ele se fizera um inexpressivo objeto e a quem ele obedeceria sem titubear. Deixando as grossas lentes ao lado da caixinha, passando a ver o corpo imenso como uma forma desfocada, sentiu estar livre das botas, apenas para, um segundo depois, ser erguido pelos cabelos. - Verme imprestável, o macho sussurrou em seu ouvido, deixando, em silêncio, com sua respiração queimando a face do inseto, que os segundos passassem e a palavra imprestável tocasse o âmago do seu submisso. - Repita: sou um verme imprestável, sussurrou ele mais uma vez, num tom de voz sugestivo e, ao mesmo tempo, autoritário. - Sou um verme imprestável, repetiu o inseto. - Outra vez, ele insistiu, sorrindo. - Sou um verme imprestável, balbuciou o inseto, quase em lágrimas. - Outra vez!, ele ordenou, com o míope preso e tremendo em suas garras. O inseto chorava, incapaz de, entre os soluços que sacudiam seu corpinho, articular qualquer palavra. - Repita!, gritou a voz, recebendo como resposta um choro incontrolável. - Seu bosta!, gritou com desprezo, lançando-o ao chão, onde o inseto prorrompeu num pranto lancinante.
De pé no centro do quarto, com as mãos na cintura, o dominador deixou sua presa esgotar-se em lágrimas. Analisando-a sem qualquer desprezo, ele sabia o quanto aquilo era necessário, podia avaliar quão bem suas poucas palavras tocaram zonas encobertas na mente daquela criança e, o principal, sua experiência lhe dizia que, com o alívio da tensão, o jogo poderia fluir de uma maneira ainda mais prazerosa para o seu cliente.
Encolhido no chão, o pequeno verme soluçava, e uma intrincada sucessão de imagens repercutia em sua mente. Segredos da infância emergiam, descontrolados, impulsivos, assustadores. Velhos fantasmas - tão velhos quanto todas as gerações que o antecederam e que perderam seus dias fustigando-se com preceitos morais e uniões infelizes, castrados pelos rigores familiares e pelo bolor das religiões - ressurgiam com a mesma volúpia com que sempre o atormentaram. Em seu choro, culpava-se por estar ali, acusava-se por seus exageros, e, ao mesmo tempo, alegrava-se por sua coragem; alegrava-se, principalmente, por abandonar a busca do prazer nas ruas, tendo de mendigar, a um e outro amante ocasional, que o surrasse; alegrava-se por não ter mais de submeter-se a quem o espancava sem qualquer prazer e, principalmente, sem qualquer técnica, sem qualquer cuidado. Se não era possível encontrar aquele que realizasse suas fantasias e, também, o amasse, então que fosse assim, com o dinheiro garantindo-lhe os maus tratos e o prazer.
Enquanto chorava, deixando que os pensamentos voluteassem sem controle, um outro lado seu, um compartimento de sua mente que parecia ter vida própria, ligava-se ao exterior, ouvia o que se assemelhava a suaves batimentos cardíacos aquecendo o ambiente, e insistia em lembrá-lo que ele estava ali, sobre o piso frio, e que à sua frente, de pé, aguardava-o um homem disposto a oferecer-lhe o que ele sempre desejara. Apegando-se a essa certeza, o inseto, pouco a pouco, controlou-se, deixando que aquele compartimento absorvesse os demais, entregando-se a um torpor indeterminado e sentindo, já sem chorar, a mão do dominador, agora muito próximo dele, segurando-o, com força, pela nuca, prendendo em seu pescoço uma coleira de metal, e arrastando-o para a maca de aço inoxidável.
Mantendo a coleira firmemente presa entre os dedos das mãos, ele ergueu o inseto no ar, muito próximo do seu rosto, olhando-o fixamente, e, instantes depois, colocou-o de bruços sobre a maca. - Vamos ver se é isto mesmo o que este putinho sujo quer, ele ironizou, dando um forte tapa na cabeça da sua vítima e, depois, passando suas mãos sobre o corpinho frágil e branco, explorando cada pedaço de carne, abrindo as nádegas pequenas e duras e esfregando sua mão inteira no cu úmido, segurando os testículos numa intensidade próxima de provocar dor e encerrando a curta sessão de massagem bruscamente, ao escutar o inseto emitir um curto gemido de prazer.
Arrependido de ter demonstrado o quanto apreciara aquela sucessão de toques, o inseto aguardava, quieto, imóvel, enquanto ouvia o centauro trotar pelo quarto, abrir a porta do armário e retornar, também em silêncio. - Você vai gostar disto, vermezinho, ele escutou, as palavras tão frias quanto a maca na qual ele estava deitado, e sentiu os dedos do dominador agarrando o seu minúsculo cacete, apertando-o e soltando-o rapidamente. Mas algo estava estranho. Uma pressão muito leve circundava, agora, a base do pequeno membro. E, além da pressão, uma espécie de formigamento parecia, também, circundá-lo, como se uma infinidade de agulhas tocasse sua pele, delicadamente, é verdade, mas provocando incômodo e, ao mesmo tempo, certa desagradável excitação.
O dominador voltou, então, a massagear as nádegas muito brancas, desta vez carinhosamente, abrindo espaço entre elas, sem forçar, mas aproveitando-se da umidade que encontrava no rego, e deixando que seus dedos escorregassem, numa leve pressão, do cóccix até o início do saco, reiniciando sempre o mesmo caminho, deixando que o inseto, abrindo-se e oferecendo-se à sua mão, sentisse o sangue fluir para o pau, mas encontrando ali, onde, há pouco, ele apenas sentira como que a presença suavemente incômoda de centenas de agulhas, um aperto, um estrangulamento e uma dor penetrante.
O dominador acompanhava, com satisfação, o resultado de suas carícias. Ele sorria enquanto olhava aquele insignificante cacete endurecer, observando, com ainda maior alegria, que o inseto, sentindo as dores e a pressão, tentava, em vão, mexendo-se de forma desajeitada, livrar-se delas, apenas conseguindo que aumentassem, sem qualquer controle sobre a maneira como seu corpo reagia.
Um estreito bracelete de metal flexível, forrado por uma camada de borracha perfurada, em dezenas de pontos, por curtas saliências pontiagudas, estrangulava o pênis do inseto, fazendo com que o sangue penetrasse ali com dificuldade, forçando a passagem, mas sem conseguir lacear o anel. Contudo, na exata medida em que o corpo do rapaz respondia às carícias, também se entregava, num crescendo, ao torniquete rodeado de pequenos ferrões, que não só esganava o cacete, mas machucava-o, provocando dores muito agudas. Assim, dor e prazer mesclavam-se num corpo que já não compreendia os sinais que ele próprio emitia e, descontrolado, dividido, sentindo como se, ao invés de uma única carne, diferentes corpos abrigassem a mesma pessoa, ele ofertava o ânus ao seu torturador, implorando que ele o penetrasse, ao mesmo tempo em que desejava ardentemente que a dor diminuísse, excitando-se, no entanto, com as todas essas sensações.
O inseto não ousava mexer-se, mesmo sentindo que a dor aumentava cada vez mais, não apenas pelo medo da imprevisível reação do dominador, mas, principalmente, porque ansiava, num estado que ele acreditava encontrar-se próximo do delírio, ser penetrado o quanto antes. Percebendo, no entanto, a expectativa de seu submisso, o dominador interrompeu mais uma vez a massagem anal e, colocando-se nos pés da maca, esperou, em silêncio, que a excitação diminuísse. Um ou dois minutos depois, quando, desnorteado, o inseto encontrava-se à beira de implorar para que os afagos continuassem, sentiu, as mesmas mãos que o acariciaram, segurarem seus testículos com rudeza, amarrando-os com uma espécie de corda, ou algo parecido. Reagindo mecanicamente, quase descontrolado, tentou escapar da maca, mas foi retido por um violento tapa que explodiu em seu traseiro, colando-o ao metal frio, e uma sucessão de outros tapas, rápidos, incisivos, queimaram sua carne, fazendo com que ele gritasse e, inutilmente, se debatesse.
O dominador sabia que o aparente desespero de seu cliente guardava emoções contraditórias. Tinha plena ciência de que, subjacente àquele movimento do corpo procurando livrar-se das torturas, debatia-se o desejo de passar por todos os sofrimentos. Após o último tapa, tendo deixado as marcas de seus dedos na bundinha levemente arredondada de sua presa, segurou-a pela nuca e deixou que, devagar, ela parasse de espernear e sua respiração voltasse ao normal. Deslizou sua mão pelas costas do jovem e concluiu o que iniciara, amarrando, com uma longa e fina tira de couro, os pequenos testículos, formando um oito horizontal que esmagava a pele entre as bolas, espremendo-as como se fossem saltar do escroto, de tão apertadas. E com a extensa tira que restara, esticando-a e esgarçando o saco do inseto, amarrou-a num dos suportes transversais sob a maca, enquanto seu submisso gemia e, numa tentativa de livrar-se daquilo ou de, ao menos, afrouxar a torção do couro, movia seu corpo para os pés da cama metálica.
O dominador trouxe, então, a guia que fazia par com a coleira, prendeu-a ao colar que se ajustava ao pescoço do inseto e, puxando-o com violência, esticando o corpo frágil sobre o metal, desta vez no sentido oposto ao que amarrara o saco, fixou a outra extremidade da correia a um gancho chumbado na parede. O inseto debatia-se, meio sufocado, mas sem coragem de tocar na fita de couro que esmagava e distendia seu saco, ou na corrente que retesava seu pescoço.
Sem poder livrar-se, ou melhor, sem querer livrar-se, um instinto natural fazia-o, no entanto, dirigir suas mãos ora para uma extremidade, ora para a outra, desesperando-se por seus gestos e por sua volúpia, ambos descontrolados. O suor escorria pelo rosto, formando gotículas nas pontas dos fios do bigode, por onde ele passava a língua sem parar, também instintivamente. As dores que repercutiam por todos os seus músculos o enlouqueciam. E enquanto seu cacete, ferido pelo anel de metal, tornava a endurecer, ele abria e fechava as pregas do cu, provocando arrepios de sofreguidão que partiam de seu esfíncter, distendiam-se por todo o corpo e endureciam seu pau ainda mais. Ele desejava ser penetrado. Cada movimento do corpo estendido sobre o metal revelava essa urgência. Seu olhar, voltado ao dominador, implorava para ser fodido, mendigava para ser comido até as entranhas do intestino.
- Meu vermezinho sujo, sussurrou o gigante, debruçando-se e encostando a boca ao ouvido do seu animalzinho de estimação, eu sei o que você quer, mas estamos apenas no começo... Você quer gozar, não é?... Não é?!, insistiu ele, segurando o cabelo do inseto e puxando a cabeça para trás, marcando a nuca da vítima com as ranhuras da coleira. O inseto não ousava responder. Por alguns pouquíssimos segundos eles permaneceram assim, a presa com a cabeça esticada para trás, os olhos saltando das órbitas, a carne retesada em todas as direções, e o caçador, calmo, seguro, a espera de uma resposta. O quarto pulsava. O vermelho recobria suas peles em tons cambiantes. Tentando gesticular afirmativamente, o inseto assentiu, a voz sufocada, naufragado num redemoinho de dor, tensão e prazer. - Mas ainda é muito cedo, decidiu o dominador, soltando abruptamente a cabeça emplastada de gel e suor.
(CONTINUA)