Ato I
Nada deu certo.
Na última hora ela me liga do celular. Pelo ruído de fundo, estava num carro em movimento. Sua voz traía um inequívoco desapontamento. Explicava-me que já estava a caminho quando recebeu um chamado urgente: foi avisada deveria ir a um compromisso. Recebeu ordens de representar sua empresa num compromisso, substituindo alguém que com algum problema repentino não poderia ir.
Tinham sido meses de e-mails e conversas cada vez mais quentes ao telefone. Separados por mais 2000 km de distância, agora este meu compromisso profissional permitiu-me chegar à sua cidade. Tínhamos previamente deixado tudo planejado. Mas...
Uma noite de luxúria, acalentada há tanto tempo, evaporou-se em segundos...
E o pior: na manhã seguinte eu tomaria - muito contrariado...- o primeiro voo de volta para São Paulo.
Mas, nada a fazer, senão aceitar que o inevitável sempre manda.
Também já estava pronto quando o celular tocou, já estava de saída.
Mas agora, fazer o que?...
Na falta do que fazer, acabo rumando para o Centro de Convenções. Ironicamente, eu passara o dia todo costurando um álibi, com desculpas que me livrassem desse compromisso, já que o convite da firma anfitriã que me hospedava fora insistente. Não desejava outra coisa senão estar livre para navegar no oceano de uma provocante dama.
Dando de ombros, só me resta desejar que o cocktail esteja bem fornido de bebida de qualidade. Sem poder navegar nas curvas da dama, frustrado, só me resta naufragar nalgum 12 anos...
Muita gente no evento, algumas pessoas que conheço, o que rende algum papo e ajuda o tempo a passar, e o serviço de bar, sim, é bom...
Estava já no segundo scotch, quando uma roda de pessoas que conversava à minha frente se desfaz, abrindo o horizonte para o que havia mais ao fundo.
De repente, os ruídos do evento para mim sumiram. Até contabilizo a bebida que já tomei. Não: ainda estou bem sóbrio. A mulher que surgiu ao fundo é a mesma que pouco antes se evaporara de minhas fantasias.
Ela, no mesmo evento em que eu estava. Isso é coisa de bruxas alcoviteiras...
Conversava com outras pessoas, não me nota. Fico aguardando, até que num momento, olha à frente e me nota. Seu copo por pouco não escorrega entre os dedos...
Situação inesperada e altamente promissora. Mas com alguns problemas, pois estamos em meio a pessoas que nos conhecem. Sei lá por que, pareço ouvir Fred Bongusto:
"...cè tanta gente qui, qui aveva gli occhi fissi su di noi..."
A aproximação é lenta e calculada. A conversação é formal e fria. Mal imaginariam os que nos circundam que um piloto automático comanda nossas vozes. Sequer as ouvimos. Quem fala, e diz muito, são os olhares...
Uma operação de guerra livrar-se dos outros. Um engenheiro do sul, já bem alto, que tentava se insinuar para ela (até compreendo...), uma amiga, interessando-se por mim, que também queria usá-la para que ela me apresentasse...
Buscamos ser discretos, num caminhar suave e contido pela sala, tentando trocar o palco por alguma privacidade nos bastidores.
Não temos muitas opções sobre o que fazer. Uma caminhada estratégica até seu carro, está no momento vetada. O estacionamento, a céu aberto, é longe. Cai um temporal.
Mas, com toda a discrição que seria possível, chegamos a uma escada de incêndio. A pesada porta corta-fogo se fecha atrás de nós. Mas é inútil para impedir o incêndio que começará...
Palavras? Desnecessárias... nossos olhares já disseram, em meio ao burburinho do salão, tudo havia que ser dito.
Apenas um beijo, um sôfrego, faminto beijo...
Beijo com nossos corpos se encontrando, as mãos explorando cada detalhe.
No escuro daquela antecâmara de escada, toco seu corpo. Ela me revela que estava vestida assim só para mim, leva minha mão a seus seios. Ergue a blusa e me leva a beijá-los, a sugá-los com a voracidade que tantas vezes havia descrito nos e-mails que, separados pela distância, trocávamos todos os dias.
Mas ela tinha preparado mais surpresas...
Sua bela saia de seda, um modelo de amarrar, que forma uma insinuante fenda lateral, facilmente se abre. Os olhos mais acostumados a pouca luz me permitem ver o que oferta: Uma minúscula calcinha fio dental...
Continua me provocando:
- Faz como me escreveu aquela vez...
Vira-se de costas para mim, e seu recado foi entendido: num gesto cuidadoso, porém rápido e decidido, minhas mãos tomam as tênues alças da calcinha e a jogam por terra.
Nesse meio tempo, suas mãos ágeis já haviam aberto meu zíper e libertado meu membro, cada vez mais rijo.
Depois de tanto tempo de amores virtuais, esse encontro real se deu sob os signos do inesperado e da ousadia.
Em nome da ousadia, há que se seguir sem medo o que manda o desejo.
Naquela posição, de costas para mim, contra a parede, ela separa as coxas. Fala-me num sussurro que grita:
- Vem me sodomizar! Eu quero tanto...
Meu membro ainda nas tuas mãos é conduzido. Sem pressa, com um, depois dois dedos eu a preparo: logo está pronta.
Penetro por trás...
Ela geme, meneia todo seu corpo a cada vez que venho numa nova estocada, leva minha mão ao seu sexo que penetro com meus dedos. Escorre de excitação...
Continuamos assim, num crescendo. Ela tenta conter os gritos de prazer mordendo a manga de meu paletó.
Nosso gozo é intenso...
Celebramos esse nosso primeiro encontro carnal, que se deu dessa forma tão ousadamente deliciosa, com um beijo.
Intenso, claro...
Lá fora, a chuva parou.
Faço uma proposta:
- Que tal, assim que conseguirmos descobrir onde foi parar a sua calcinha, a gente ir para um motel? Conhece algum por aqui? ...
LOBO
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