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<tt><Center>Simone, uma história de amor Episódio 02</Center></tt>
<center><strong><b>O Sítio</b></strong></Center>
<Center><tt><b>Sexta-feira, 21de novembro de 2003</b></tt></center>
<blockquote><i> Nem tudo acontece como se planeja e o encontro na casa dele não chegou a acontecer: não naqueles dias.
Na quarta-feira Reginaldo, depois do expediente, anunciou a compra de um sítio em um povoado próximo à cidade.</i></blockquote>
É só um pedacinho de terra falou quando Simone perguntou como é que era Até a casa não é lá essas coisas.
Pôxa, pai! Porque tu foi escolher logo lá? era bem característico dela ir contra os sonhos do pai É quase três léguas!...
Reginaldo sabia que não adiantaria nada tentar fazê-la viver os seus sonhos e fez de contas que não escutou as reclamações.
Só faltava essa!... Simone levantou e passou zangada. Esse merda do teu amigo é mesmo um chato de galocha!
Tinha visto o carro dele apontando na rua. Seu Manoel já sabia que ele viria nessa noite, não falou nada para que a neta não criasse o drama costumeiro.
Essa tua filha já está passando dos limites! resmungou sem querer olhar para a filha Fosse antigamente, já teria levado uma boa sova!
Não sei porque Simone tem tanta raiva dele! Reginaldo olhou para trás e levantou para receber o amigo Tua onça já bateu em retirada! sorriu.
Lira tinha visto a garota sair avoada e balançou a cabeça rindo da cena costumeira.
Deixa pra lá! Um dia ainda domo essa fera! cumprimentou a família e sentou no tamborete Queria saber por que ela faz assim...
Só falta levar uma boa surra pra aprender a respeitar! Rosângela se debruçou na janela Já falei pro Regis...
Deixa pra lá, amiga... Vai ver eu fiz alguma coisa que a desagradou! Lira não queria continuar esse papo E aí, velho? Ficou mesmo com a fazendinha?
A novidade da compra sobrepujou o incidente da Simone e passaram a falar sobre os planos sonhados nas rodas de cachaça. Demorou quase nada até dona Benta chegar com a bandeja e bule esmaltado encoberto de feltro amarelo, e canecas de esmalte.
Cafezinho novo! o sorriso iluminou o rosto bonachão A Raimunda tá puxando muito o saca do Lira... colocou a bandeja na janela, distribuiu os canecos e passou o bule fumegante para que se servissem É só ouvir a zoada do carro que corre pra coar cafezinho novo.
Riram alegres da observação sempre jovial da matrona e degustaram o líquido negro fumegante entre uma e outra piada que Regis contava com maestria.
Vi o Edu indo para o salão... Lira lembrou Perguntou se não topas umas tacadas pra passar o tempo!
Regis adora jogar sinuca campeão do ultimo torneio e também já tinha tido a idéia de ir ao salão.
Terminaram o café, fumaram o costumeiro free e saíram no carro de Regis para o salão de bilhar.
Antes de descerem, pararam na bodega do Nhô e tomaram algumas cervejas para esfriar. Continuaram conversando sobre os planos futuros para o sítio.
Velho! Regis estava pensativo desde que a filha tinha, novamente, feito a cena costumeira Que diabo tu fizeste pra Simone?
E eu lá sei? respondeu quase que de susto Queria saber para arrumar as coisas... Ela nunca disse nada?
Ficaram em silêncio por algum tempo, tomaram vários copos e beliscaram o fígado de porco grelhado que dona Joana servira no prato de alumínio e colocara no balcão encardido.
Acho que realmente fiz alguma coisa... Lira quebrou o silêncio Só não sei o que foi.
É meio esquisito esse jeito dela te tratar... Regis vinha há muito matutando sobre aquilo Tu conheces ela desde pequerrucha e eras o tio predileto quando chegavas...
Pois é! Estranho mesmo... pegou o copo e sentou no batente da porta Sabe velho! Ela é especial para mim, quase uma filha sentiu uma pontada de remorso lembrando da praça do Coronel Não faria nada que a fizesse sofrer, amo muito aquela oncinha!
Regis ficou olhando o amigo sem conseguir coragem para dizer o que pensava saber e pediu outra cerveja, encheu o copo quase vazio de Lira, puxou um tamborete e saiu da bodega.
Velho! pigarreou para limpar a garganta Se não te conhecesse... titubeou Se não conhecesse minha filha, e acho às vezes que não conheço como gostaria, poderia até dizer que isso é pirraça de coração...
Lira gelou e quase deixa o copo cair.
É como se Simone quisesse chamar tua atenção...
Por que tu achas isso? perguntou depois de entornar, de uma golada, todo o copo.
Sei não... Mas às vezes fico observando e ela te olha de uma maneira diferente, quase que contemplativa... também entornou o copo Acho que até não seria de todo mal ter um genro como tu! riu da própria observação, reabasteceu os copos Sério! Sem sacanagem!
Tu não estais falando sério...
Tô sim! Verdade mesmo...
Vai a merda, Regis... Simone é mais nova que Laura... Isso é doideira tua!
E o que é que tem tua filha ser mais velha que uma garota apaixonada por ti? falava sério, não estava brincando Sabe, velho! Conhecendo Simone como conheço, não ia me espantar se isso fosse verdade e... Se fosse, tenho certeza que tu serias um bom homem pra ela.
Porra Regis! Tu estais falando de tua filha... sentiu um frio na barriga, espantado com o poder de observação do amigo Acho que seria uma bruta sacanagem se rolasse alguma coisa entre eu e ela.
Por quê? levantou para buscar o prato de tira-gosto Tu és solteiro, boa pinta e ela maior de idade... Não vejo nada de anormal um envolvimento com ela. voltou, estendeu o prato para Lira que pescou um naco pequeno, e sentou novamente Acho até que Ro também ia fazer gosto desse namoro...
Namoro? Porra cara! Tu não estais colocando a carroça na frente do burro? a cabeça a mil por hora e o espanto pelo que escutara parecia estar vivendo um mundo irreal. Se Rosângela te ouvisse falar essas coisas, ia dar um bolo dos infernos.
Não! Acho que não... Iria até melhorar as coisas lá em casa...
Vamos fazer o seguinte! Lira levantou e pagou a conta Faz de contas que a gente nunca falou isso... Vamos lá pro salão!
Puxou Regis pelo braço e andaram sem pressa, Lira mudou de assunto e Regis fez de conta que aceitou, mas teve certeza que o amigo sentia algo a mais que simples afeto fraternal pela filha.
Tu gosta mesmo dela, não gosta? voltou ao assunto antes de chegarem ao salão.
Lira parou e não soube o que responder.
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<center><b>Para melhor entender esse relato, leia o episódio anterior</b></center>
<blockquote><tt>Episódio 01: O chato</tt></blockquote>