Tome o que merece, maldita!!!

Um conto erótico de the masculinities
Categoria: Heterossexual
Contém 1338 palavras
Data: 13/08/2009 19:09:12

Tome o que merece, maldita!!!”

Fábio Oliveira

Magali avistou aquele homem branco, jovem, mas um pouco corcunda, e usando óculos e jaqueta jeans. Logo o grupo das quatro putas em que ela estava naquela madrugada fria de terça-feira inquietou-se. Do bando saíam risos e ruídos. Elas conversavam, reclamavam, xingavam. Finalmente o homem atravessava a rua para alcançar a calçada onde essas putas estavam, já no mesmo quarteirão no qual elas reuniam-se, depois de muito questionar-se se deveria retornar àquele lugar.

Jéssica disse às outras que com aquele maluco não faria programa mesmo se ele pagasse cinco vezes mais o que ela cobrava. Quando o homem já estava bem próximo delas, Jéssica puxou Rita pelo braço, convidando-a para tomar uma cerveja e dizendo que pagaria a bebida. As duas saíram falando mal daquele homem. Rita também não aceitava fazer o programa com ele.

O nome dele era Jorge. Aquele homem trazia a sua sacola de sempre, com o conteúdo de sempre. Às putas daquela rua ele não contava onde morava, o que fazia, nem se tinha mulher e filhos. Os comerciantes do lugar conheciam-no por meio das fofocas das putas e se divertiam bastante com as histórias que elas contavam sobre ele. Mas elas só sabiam sobre Jorge que ele pagava o dobro pelo programa, que aparecia ali quase uma vez por mês para procurá-las e que tinha aquela mania esquisita de transar. Elas também deduziam que o homem era pobre, por causa das roupas desgastadas que ele usava e porque não tinha carro, o que lhe causava o incômodo de sair pelas ruas com aquela sacola, sabe Deus de onde ele saía até chegar ali, uma rua do centro da cidade.

Jorge encontrou as meninas – era assim que ele chamava as putas - e acertou o programa com Magali. Ele era um de seus poucos clientes fiéis, embora também raramente saísse com outras poucas putas que o aceitavam. Os dois despediram-se de Thalita, a outra menina com quem Magali estava nesse momento, e foram para o hotel barato de costume, pertinho dali mesmo. Ele estava muito agitado e ansioso. Quando os dois já estavam distantes de Thalita, ela falou sozinha:

- Que merda de noite! Pra ganhar dinheiro hoje só mesmo com um louco! E que frio, caralho! O jeito é cheirar uma carreira!

Como sempre, na sacola tinha uma galinha. E estava viva. A sacola era sempre a mesma, com estampa florida, típica de uma dona de casa. Depois que os dois entraram no quarto do hotel, Jorge tirou o animal da sacola e colocou em cima da cama de casal. O bicho tinha os pés amarrados, e estava tão quieto que parecia exausto.

Magali era uma mulher jovem, branca, alta e forte. Tinha pernas roliças, seios avantajados e uma barriga saliente. Vestia uma blusinha amarela e uma mini-saia preta. Calçava um sapato de salto moderado e usava uma bolsa preta e grande. Sua cara estava carregada por causa da maquiagem. Ela tirou sua roupa, sentou na borda da cama e acendeu um cigarro. Jorge tinha ido ao banheiro e já voltava. Enquanto ele tirava sua roupa, Magali olhou para a galinha e perguntou:

- É pra fazer como sempre, Jorge?

- Sim – respondeu.

Aquele homem deitou em uma toalha velha que colocou no chão, em frente à cama. Magali já tinha terminado de fumar e colocou o animal ao lado esquerdo dele. Com isso, o seu pênis começava a enrijecer.

- Mame gostoso!- disse Jorge a ela.

Magali fez o sexo oral até vestir o membro daquele homem com um preservativo dela. Jorge continuava muito agitado e ansioso. Ela falava pouca coisa. Ele não parava de olhar alternadamente a galinha e a puta, que estava ajoelhada entre suas pernas abertas. Finalmente a puta mudou sua posição e sentou no cacete protegido, permanecendo de frente para o homem. De repente, Jorge transformou-se, passou a agir com agressividade e autonomia. Aquela sensação da qual ele tanto precisava para se sentir aliviado começava a rebentar. E ele gritava, como um homem confiante que estava dominando uma situação, frases como:

- Sua puta, sua vadia, pegue no pescoço dessa nojenta! Maltrate essa imunda!!!

E Jorge começava a ter aquele seu prazer que não conseguia controlar, enquanto a galinha começava a sofrer violentamente, e a puta começava a sentir-se totalmente submissa, como realmente gostava de ser tratada.

Magali cavalgava no cacete do seu cliente, em movimentos nem apressados, nem vagarosos, enquanto apertava com uma de suas mãos de unhas pintadas de vermelho o pescoço da galinha indefesa, que batia as asas convulsivamente e cacarejava desesperadamente. O animal parecia uma digna e apavorada senhora sendo maltratada por desconhecidos sem saber o porquê daquilo.

Jorge comportava-se achando que estava humilhando a puta e a galinha com os muitos palavrões que falava, enquanto a puta de fato maltratava a galinha e se maltratava também. Isso o deixava fora de si de tanto prazer. Quando ele estava perto de gozar, gritou muito alto frases como:

- Mate essa galinha maldita, sua vagabunda!!! Tire o sangue dessa imunda!!! Tire essa devassa do mundo!!! Tome o que merece, maldita!!!

Enquanto Magali torcia o pescoço da galinha em cima do peito cabeludo de Jorge, ele gozava. O sangue espirrava e jatos atingiam o rosto de Magali, os seus seios, e sujavam sua barriga. Jorge tinha o tronco banhado por aquela poça de sangue da coisa que ele considerava uma maldita.

A puta jogou a cabeça e o resto do corpo da galinha em qualquer lugar, sem pensar no que estava fazendo. Magali estava cansada, mas com uma satisfação de ter cumprido o seu dever. Jorge sentia-se aliviado. Eles levantaram-se dali. Enquanto Jorge embrulhava a galinha em plástico preto que trouxe dentro da sacola, Magali limpava o chão e o que via sujo de sangue com a toalha velha que ele também trouxe na mesma sacola, e que servia de cama naquelas situações. Os dois queriam sair rápido daquele lugar. Jorge juntou na sacola tudo que usara e pagou a puta pelo seu serviço. Depois disso eles saíram do quarto. A puta estava calada.

O quarto do hotel já estava pago. Os dois retiraram suas carteiras de identidade na recepção do lugar, despediram-se da recepcionista e foram embora, cada um para um lado. A recepcionista, depois que eles saíram, disse para si mesma:

- Tem cada doido nesse mundo! Bem que ele podia deixar as bichinhas pra mim. Eu ia fazer um almoço tão bom pros meninos. E o Tonho, gosta tanto de frango. E é uma carne tão saudável...

Esse homem voltava para casa satisfeito, mas cansado e sentindo um vazio enorme que não sabia explicar. Mais uma vez ele perguntava-se por que fazia aquilo, por que sentia aquele desejo estranho, já que não queria realizá-lo. Mas fazia e não conseguia interromper. Uma vez ficou seis meses sem praticar, mas não resistiu a esse prazer, então passou a registrar as datas em que fazia isso, como forma de controlar-se. Fez promessa para livrar-se desse ato e parou de praticar novamente por três meses, mas voltou a realizar esse desejo. Já fazia quatro anos que tinha esse vício. Sentia culpa desde a primeira vez em que praticou esse assustador ato. Mas o desejo era incontrolável, dominava-o. E era tão bom.

Jorge também perguntava-se por que tinha que ser justamente uma galinha. O que isso significava? O que possuía aquele bicho que o atraía? Nas putas, ele não pensava. Nem mesmo em Magali, que sempre o aceitava como cliente.

Magali voltou para a rua onde trabalhava. Já era quase quatro horas da manhã. Ela não estava alegre, nem triste. Encontrou Tanuxa, o travesti negro que comandava o comércio sexual daquela rua. A puta pagou a comissão do dia à sua cafetina, conversou muito pouco com ela e com as outras putas que estavam por ali. Não encontrou mais Jéssica, Rita e Thalita, então resolveu ir para casa. Tirou da sua bolsa o seu sobretudo, vestiu e foi embora, pensando em Jorge. No outro dia, tinha que trabalhar mais...

Fábio Oliveira é escritor.

Conto publicado em themasculinities.com

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