O Amante da Minha Mãe

Minha mãe sempre foi uma mulher muito bonita, alegre e inteligente, daquelas que chamam a atenção em todos os lugares. Filha de advogado classe média, ela teve uma boa formação cultural e chegou a dirigir uma escola. Meu pai era bem diferente. Filho de emigrantes, não concluiu nem o primário e trabalhava como caixeiro-viajante. Os dois brigavam muito e acho que a única coisa que fazia eles ficarem juntos era o relacionamento sexual. Sempre que ele voltava de uma viagem, ela engravidava.

No total minha mãe teve oito filhos e, mesmo assim, sempre fez questão de trabalhar fora. No final da década de 50, tôda a família se mudou do interior para a capital e ela foi trabalhar num centro de saúde com o Dr. Flávio, um velho amigo de infância. Ele fez o parto de todos os filhos dela, foi padrinho do meu irmão mais velho, que também se chama Flávio, e estava sempre na minha casa.

Pagou nossos estudos, do primário até a universidade, e nos ajudava em tudo que precisavamos. Aos 12 anos, eu tive minha primeira doença venéria e foi com ele que eu resolvi me aconselhar e não com meu pai. Era ele que cuidava da saúde da família e, era muito mais presente que meu pai, que vivia viajando e não via absolutamente nada.

Com a minha mãe, é claro, a atenção era ainda maior. Ele sempre a levava para passear, jantar e assistir ao teatro de revista. Além de ser médico, ele era um político em fase de ascenção e, frenquentava os melhores lugares ao lado dela e não da esposa. Com o tempo, essa mulher que antes era muito amiga de mamãe deixou de visitá-la. Isso gerava muitos comentários no bairro onde morávamos. E quem mais sofria com a situação era meus irmãos mais velhos, que tinham de defender minha mãe dos moleques da rua que faziam piadas sobre o assunto. Eu era pequeno e não me lembro direito dessas fofocas. Na minha cabeça, tudo era absolutamente natural. Eu não via maldade em nada do que ela fazia e muito menos no Dr. Flávio. Mas me recordo que um dia meu pai chegou de madrugada de uma viagem e minha mãe não estava em casa. Ele ficou muito irritado quando dissemos que ela tinha saído para atender um paciênte com o Dr. Flávio e eles tiveram um bate-boca terrível quando ela chegou quase de manhã. No fundo, ele sabia de tudo, mas era um corno conivente.

Nós, os filhos éramos cúmplices dela e nunca nos revoltávamos porque a situação era boa e confortável, inclusive financeiramente. Eu, na verdade, permaneci meio inocente até os 14 anos em relação a tôda essa estória. Foi então, que uma namorada disse: "Todo mundo sabe que a sua mãe é amante do Dr. Flávio". Eu respondi: "Isso é mentira. As pessoas têm inveja da minha mãe. Ela e o Dr. Flávio são apenas amigos'. Ela então me disse que eu era o único que não queria enxergar a verdade.Senti muita raiva, porque na minha cabeça, naquela época, mulher que traía o marido era puta. E minha mãe tinha um jeito tão puro. Parecia uma santa. Só algum tempo depois eu pude entender que aquilo não era sujo e pecaminoso. Compreendi também que ela era uma mulher muito carente e solitária, precisava ter um companheiro e se sentir amada.

No total, acho que minha mãe e o Dr. Flávio viveram quase 40 anos esse amor proibido. E o mais triste é que os dois começaram a se afastar justamente depois da morte do meu pai. Ela entrou numa depressão profunda, provavelmente por culpa e, ele sumiu lá de casa. eu e meus irmãos continuamos a frenquentar seu consoltório e ele continuou a nos ajudar financeiramente. Mas a relação com mamãe nunca mais foi a mesma. Depois ele mudou com a família para Brasília e, há dez anos, morreu de câncer.

Minha mãe viveu muito tempo numa tristeza absoluta, mas, perto de 60 anos, ela voltou a ir a bailes, arrumar amigos e namorados. Até que conheceu Pedro, um rapaz 20 anos mais novo, com quem ela adotou uma filha. Faz 11 anos que eles vivem juntos. No começo, detestei a ideia. Depois compreendi que ela não sabia viver sozinha. Por muito tempo ela tinha sido uma espécie de D. Flor e seus dois maridos...

Até hoje não sei direito de quem sou filho. Minha mãe nunca foi clara, mas já deu indiretas, insinuando que eu e minha irmã mais nova somos filhos do Dr. Flávio - e nós realmente temos semelhanças físicas com os filhos dele. Sempre sinto pena por essa história de amor ter acontecido dessa forma. Mas realmente não sei como seria a vida deles se tivessem assumido a relação, ficando com os seus, os meus e os nossos, ao todo 16 filhos.