Nas duas primeiras partes do conto eu narrei a absurda história em que deliberadamente me meti, ao decidir passar uma semana de inverno na minha casa em Gramado com a baba, Fernanda, e o Bebê, Filipe. No Domingo a noite, após a volta do meu marido a Porto , ela declarou suas intenções em relação a mim. Minha indignação sucumbiu a uma noite de desejo. Na segunda, já pela manhã, alcei a babá à condição de minha dona e à noite eu já tinha assumido os afazeres domésticos e me submetido às humilhações que ela me impingia. Na terça, fizemos sexo à zero grau no jardim: ela agasalhada, eu seminua, congelando. Ao final permiti que ela esquentasse meu corpo com seu mijo quente. Na quarta feira, após assumir meu lugar como hóspede do Spa do Kur Hotel, e descobrir um pequeno flerte com uma manicure, ela esbravejou sua revolta. Eu me prostrei, enquanto ela assistia TV:
- Meu amor, queria te pedir desculpas, sei que não tem reparo pro que eu fiz. Mas não é justo contigo que tu fique essa noite sem sentir prazer, só porque eu não soube me comportar...
Ela me olhou fixamente, e com a voz tão fria quanto calma, concordou comigo:
- Tu tem razão. Tu que apronta e eu que me fodo. – Diante do meu sorriso ela continuou – mas não quero que tu me toque. Vai, sai por Gramado, e traz uma garota de programa bem gostosa pra fuder comigo.
Diante da minha surpresa, ela finalizou:
- Vai duma vez, vadia, que quero ver meu programa e não agüento mais ver a tua cara.
Chorando eu fui à garagem, liguei o carro e me pus a rodar, pensando onde eu encontraria uma puta que eu pudesse levar para casa. Rodei sem rumo, até que deparei com um ponto de táxi. Tomei coragem, inventei uma história, dei R$ 100 ao taxista, e perguntei onde poderia achar uma garota de programa para uma entrevista que eu usaria em um trabalho da faculdade. Incrédulo ele riu, mas disse que o melhor era ir até a cidade vizinha de Canela, onde, atrás de uma Pastelaria, havia um bordel em que eu teria várias entrevistadas.
Saí correndo e fiz em poucos minutos os sete quilômetros que separam as duas cidades. Estacionei o carro em frente ao Pasteleiro e não tive dificuldades de achar o tal lupanar. Não passava de um galpão muito escuro, com lâmpadas coloridas que nada iluminavam, precariamente decorado com mesas de plástico de várias marcas de cerveja. Tocava uma sertaneja horrível, como soe acontecer com todas as músicas do gênero, algumas meninas dançavam, outras sentadas conversavam e uns poucos clientes bebiam e riam. Todos olharam quando entrei no recinto, e fiquei absolutamente parada sem reação. Depois de alguns minutos o dono, ou o gerente, ou o cafetão sai de trás do balcãoatrás do balcão e sem qualquer cerimônia pôs sua mão direita entre as minhas pernas e apertou minha nádega. Confesso que gostei e antes que eu falasse qualquer coisa já foi dizendo:
- Olha só, acho melhor tu voltar outra hora. A casa ta lotada de menina e não tem quase nenhum cliente. Vem ai de tarde que a gente conversa.
Eu retomei a calma e disse:
- Não sô puta não, moço. Tenho casa em Gramado. Tô com umas amigas e vim buscar uma garota de programa pra gente se divertir. Será que é possível?
Ele me olhou de alto a baixo, percebeu minha aliança e minha condição social, deu um sorriso de quem tinha entendido e replicou:
- Olha só madame: Se uma menina sai da casa, eu perco de ganhar na bebida dela e do cliente, perco de alugar o quarto. Então eu tenho que cobrar a saída dela. Além disso preciso anotar a sua identidade, porque se acontece alguma coisa com a menina vem a policia pra cima de mim.
Mostrei minha identidade, paguei um dinheiro absurdo pela tal saída, e pedi que ele me indicasse qual delas fazia programa com mulheres. Ele disse:
- Sapatona aqui não tem não. Mas aquelas duas ali gostam de aranha. Se eu descuidar elas vão ficar machorra logo em seguida. Pode escolher! Se fosse eu pegava a negona.
Eram uma negra, linda, corpo escultural, um pouco mais velha que as demais. A outra era uma loirinha de olhos azuis, dessas tantas de origem alemã egressas do Vale dos Sinos. Depois soube que o declínio da indústria calçadista, empregadora natural das cidades de Novo Hamburgo e São Leopoldo, fez com que meninas buscassem a prostituição como alternativa.
Apesar de gostar mais da negra, recusei a indicação do cafetão, e optei pela “xuxinha”, porque tinha certeza que ela seria a escolha de Fernanda. Sob o olhar atento e furioso da africana, combinei os detalhes com a loira, não sem antes mostrar minha identificação e fornecer o número do celular. Aprendi que essas meninas se protegem.
No final, foi bem mais fácil do que eu pensava! No caminho, constrangida, quase não troquei palavras com a menina, que se dizia Sheron. Quando ela segurou a minha mão, dizendo – a senhora é muito gostosa – logo repliquei:
- Tu não vai transar comigo; to te levando pra minha companheira. E não me chama de senhora.
Fernanda avaliou Sheron detidamente antes de sacar-lhe um beijo. Ali mesmo na sala ficaram trocando carinhos e cochichos e risadas, enquanto eu me contorcia de ciúmes, imaginando que riam de mim. De mãos dadas, seguiram em direção ao quarto, ignorando completamente a minha presença. Poucos minutos depois, enquanto eu analisava a insensatez do meu comportamento, ouvi o chamado, que me deixou incrivelmente feliz:
- Lisiane! Vem cá!
Fui correndo, fiquei ainda mais feliz com a segunda ordem:
- Tira a roupa.
Cheguei a chorar de emoção, ao prever que teríamos uma noite a três, e que eu poderia ao menos tocar Fernanda, e compreender que ela havia me perdoado. Ledo engano. Fernanda acabou com minhas fantasias em uma frase dura:
- Essa menina aqui faz programa mas tu é muito mais vagabunda que ela. Teu castigo de hoje é passar a noite nos olhando, sem nenhuma reação, nem um gemido.
E para assegurar que eu não me tocasse, me fizeram sentar na poltrona do quarto, atando mãos e pés, sem esquecer de uma mordaça que calou minha voz. Para que eu não perdesse nenhum detalhe, acenderam todas as luzes, e transaram loucamente na minha frente. Diferente de todas as vezes que fui dela, Fernanda agora era carinhosa, meiga, dizia palavras gentis, mostrava a outra seus sentimentos. Era ao mesmo tempo ativa e passiva.
Eu, atada à poltrona, assistia a tudo, não dizia nada, tal qual os botões da blusa que Roberto cantava. Mas minha libido ia às alturas assistindo uma chupando a outra, ouvindo os uis e ais que as duas gemiam. Eram profissionais na cama. O gozo era contínuo, e em lugar de trazer prostração, provocavam a descarga de adrenalina que as fazia continuar fudendo. A puta era profissional, e sabia provocar prazer. Explorava com precisão os pontos G’s do corpo de Fernanda, primeiro com as mãos, depois com os dedos, depois com as pontas das unhas, depois com os lábios, depois com a língua. Tinha a avidez dos amantes, e a calma dos casais, como diria Chico.
Para meu desespero e pura inveja, a Babá se contorcia, gemia de puro prazer, dizia “eu te amo” à exaustão. Eu forçava os laços para libertar minhas mãos e poder me tocar, bater a maior siririca da minha vida diante da melhor representação de sexo que eu jamais imaginara acontecer. Mas o máximo que eu conseguia era roçar uma perna na outra; ainda assim eu também gozava, e meus gemidos só não eram ouvidos por conta do pano que entremeava meus lábios.
Minhas emoções eram misturadas, confusas, contraditórias. Ao mesmo tempo que me sentia humilhada, pelo tratamento que Fernanda dispensava à puta, delirava em ver o talento que as duas tinham para o sexo. Impedida de me tocar e gemer, dolorida em laços apertados que me cortavam os pulsos e machucavam a boca, tinha orgasmos sucessivos a vê-las transar com tanto empenho. Quando Fernanda foi desafiada: - agora faz a tua Sheron gozar – torci para que ela não conseguisse, ao mesmo tempo em que admirava, e me deliciava, coma habilidade daquela língua que percorria o corpo da puta, causando frisson a cada parada. As duas estavam dispostas de tal forma diante de mim que um exame ginecológico me seria muito fácil em qualquer delas, e pude ver com clareza os líquidos vaginais gotejarem na boca de Fernanda, cujos lábios inquietos ordenhavam aquela vulva meio depilada. Sentia, como se fosse em mim, o encontro da mucosa da bochecha de uma com a mucosa da buceta da outra.
Exaustas, dormiram, e me deixaram ali, presa, incomodada pela excitação, dolorida pelos grilhões, sentindo câimbras pela má posição. Mesmo assim, após muito tempo, algum choro, raiva demais e nenhum amor próprio, adormeci.
Fui acordada como de praxe, com um grito e um bofetão de Fernanda:
- Acorda, vagaba. Tu tem que levar a Sheron em casa. Depois dorme na sala, porque não te quero por perto.
Obediente, fui. Sem dizer palavra, levei a prostituta em casa. Voltei, dormi um pouco na sala, acordei com a luz do dia, preparei o café, amamentei meu filho, esperei minha rainha acordar, inqueta e intranqüila, sem saber o que a quinta feira iria me aprontar.
Fernanda acordou sorridente, sorrindo de escárnio. Deu um longo beijo na boca de bom dia, não fez qualquer comentário sobre a noite anterior. Fizemos o desjejum conversando como amigas. Como que adivinhando meus pensamentos, confusos diante do carinho que agora a babá demonstrava, ela disse:
- A noite de ontem foi uma loucura, mas eu gosto mesmo é da minha patroinha. Vamos pra cama antes do Filipe acordar.
Enlouquecida eu fui. Fazia tanto tempo que eu não dava vazão ao meu tesão que cheguei a correr. Deitada na cama, nua, de pernas abertas, implorei:
- Por favor, me come. To precisando. Depois faço o que tu mandar.
Ela riu, me chamando de bobinha, e me comeu. Não olhei no relógio, mas tenho certeza que ela se demorou quase uma hora no meu clitóris, delicadamente preso entre seus lábios, passando e repassando a língua, ora lenta, ora frenética. Eu lhe havia dito uma vez que não curtia muito a ponta da língua, quase sempre dura, forçando contra o grelo, e ela lembrou: embebia sua língua de saliva e me lambia usando toda ela, em toda a sua maciez. Enquanto me chupava, eu me enternecia com seus carinhos nos seios, no rosto, nos cabelos. Satisfeita, tentei tocá-la, e delicadamente ela dispensou, dizendo que preferia descansar. Ficamos de mãos dadas na cama, conversando banalidades, quando fiz a colocação que definiu nossas vidas:
- Amanhã, sexta-feira, o Reginaldo volta. Como a gente vai fazer?
Ela respondeu tranqüila:
- Tu convence ele a me comer. Vamos ser nós três!
A frase dela soou como uma sentença de morte, e o filme da minha vida passou em minha mente nos milésimos de segundos que eu levei para tomar a decisão:
- Fernanda, arruma tuas coisas e vai embora. Tem um ônibus que vai pra Porto Alegre as 11 da manhã.
Ela perguntou porque e eu não respondi. Mas meu olhar resoluto não deixou dúvidas. Ela ainda tentou ameaçar, mas eu a fiz ver que ninguém acreditaria na verdade, e todos prefeririam a minha versão. As últimas palavras que lhe dirigi foram duras:
- Vai embora e segue a tua vida!
Ela foi, depois de despedir-se de Filipe, a quem devotava amor sincero. Passei a tarde com meu filho, chorando nos raros momentos em que ele me dispensava. Eu queria Fernanda,e muito. Mas não tinha o direito de envolver meu marido, e por conseqüência meu filho, nessa devassidão que tinha transformado a minha vida. Não havia alternativa: se ele me visse submissa, perderia o respeito por mim; se ele se submetesse, eu perderia o respeito por ele; sem a relação de dominação e submissão, ela era uma mulher sem graça, sem atrativos, e ele buscaria outra ou outras, mais atraentes. Inserir Fernanda na vida conjugal era um labirinto que não tinha saída.
Mas eu gostava dela. E o dia passou triste, e o crepúsculo invadiu-me de uma tristeza maior. Minhas entranhas estavam em brasa, e eu sabia que a vida de casada não seria páreo para o fogo que tomava conta do meu rabo. Pensando nisso tocou o celular, que eu não atendi, porque o código 054 indicava que a origem da chamada era local. Tocou mais duas, três, cinco vezes, até que eu resolvi retornar.
Atendeu uma mulher, que se chamava Nívea.
- Não conheço nenhuma Nívea. Foi engano ...
- Conhece sim. Tu esteve ontem na boate buscando a Sheron... ela me contou tudo ... sou a mulher negra que estava com ela ... por favor não desliga ...
- O que tu quer? – perguntei enquanto me divertia com o enigma do significado do nome em contraposição à cor da pele: Nívea, a Negra. Que semana!
- Eu te quero. Desde que te vi não parei de pensar em ti, e depois do que a Sheron me contou, não penso noutra coisa ...
- To sem grana pra te pagar, e to sem a menor vontade de programa.
- Eu te quero como mulher, não quero dinheiro. Esquece que eu sou puta. To indo até aí. – E desligou. Fiquei brincando com meu filho, que adormeceu em seguida. Até tinha esquecido da ligação, quando pelo janelão da sala vejo a negra saltar de um táxi e vir caminhando, de forma elegante e resoluta pelo jardim onde há dois dias eu havia sido mijada, na direção da casa.
Aquela Rainha de Sabá, corpo perfeito, olhar poderoso, rosto firme, sorriso brilhante, tez radiante! Nívea magnetizava tudo a sua volta, e atraía tudo a si. Não foi diferente comigo: abri a porta, abri minha boca, abri minhas pernas, abri meu coração. Sem dizer nada, entrou na minha casa, me deixei abraçar pelos seus braços fortes. Um beijo profundo calou nossas vozes, e seu olhar inquiridor descobria o caminho do quarto. Ela me conduziu à cama pela mão, e pela primeira vez me senti amada. Vendo o console do IPod no criado mudo, ela disse as primeiras palavras:
- Tu gosta da Alcione?
- Não sei ... – respondi surpresa, sem saber mesmo o que dizer
Então conectou seu aparelho, dizendo: - tu não faz idéia como é bom fazer amor ouvindo a Marrom.
Diferente da loucura que tinha sido a semana toda, fiz amor. Intenso. Mesmo quando ela não me chupava, ou sequer tocava minha xana, meu corpo todo vibrava pela sua simples presença. Eu me entreguei, e ela se entregou. Trocamos de posição o tempo todo, e nos beijamos com toda a intensidade que duas mulheres podem se beijar. Enquanto que com Fernanda a regra era doação, com Nívea a palavra era troca.
Não desgrudamos um segundo desde que ela chegou, e mal notamos o tempo passar, tanto que, na sexta feira no início da tarde, quando meu marido, bem mais cedo do que eu esperava, chegou de Porto Alegre, ela ainda estava em casa. Surpresa, fui recebê-lo, e depois de me beijar muito, e deixar evidente o quanto seu pau estava duro, ele perguntou ao meu ouvido:
- Quem é essa negona?
- É a Nívea – pensei depressa – a nova Babá. Tive que dispensar a Fernanda, que estava tratando muito mal o Filipe – menti.
- Eu achava que tu nunca fosse contratar uma babá tão gostosa assim, Aquela Fernanda era muito ruim.
Rindo, mas já pensando no pior, ou no melhor, eu me fiz brava: - tu gostou dela, seu safado? Ela é muito séria, e não é pro teu bico. Acho até que ela é sapatona.
Reginaldo caiu facilmente na armadilha, e respondeu: - não me importo, eu ia adorar te ver transando com ela.
Meu marido ainda brincou com Filipe antes de me levar pra cama. Depois de transarmos - eu estava com saudades de um pau grosso no meio das pernas – o assunto voltou-se para Nívea. Eu me fiz de boba, menti que nunca tinha pensado em mulher, mas ela tinha um corpo tão bem feito, um rosto tão bonito ... Acabamos por combinar o que eu queria: eu teria que atrair Nívea para nossa cama. Seria uma variação na nossa rotina de casal.
Fiz um charme, criei algumas dificuldades, disse sem jeito para chegar-me a ela, enquanto Reginaldo sugeria diálogos para seduzi-la. Aceitei ir a luta e conquistá-la, enquanto ele imergia na banheira de espuma. Óbvio que antes mesmo dele acabar o banho já estávamos as duas na cama.
Sugeri que ele sentasse na mesma poltrona onde duas noites atrás eu fora aprisionada. Ela sugeriu as amarras, que ele aceitou de bom grado. Transamos as duas, mas diferente da outra vez, não ignoramos a sua presença. Éramos estimuladas com as sugestões de Reginaldo, que indicava os locais onde as bocas e os dedos deveriam agir. Quando ele gritou: - para que eu to gozando - corremos as duas: eu na direção do pau, que ejaculava a porra que eu gostava tanto, ela em direção a boca, para um beijo prolongado. Depois trocamos, e trocamos de novo, até o pau endurecer de novo.
Sem saber se atendia a sua esposa, ou à visita, Reginaldo ficou de pau na mão, até que Nívea disse, com desprendimento:
- Dá uma pirocada na tua mulher, que ta com saudades. Amanha de manhã tu me come.
Daí em diante, nossa vida foi a três, muito harmônica. Meu marido não agüenta tanta pirocada, e por vezes seu pau, esfolado, tem de ter dois ou três dias de descanso. Nívea está feliz, é uma babá que cuida da patroa e do bebê com o mesmo zelo e carinho.
Eu, eterna insatisfeita, sinto saudades de Fernanda.
Walfredo.wladislau@hotmail.com