Reuniões, 21: Isabelle

Um conto erótico de Anjo
Categoria: Heterossexual
Contém 2242 palavras
Data: 12/05/2010 19:31:55

REUNIÕES, SOB O LUAR DO SERTÃO - IsabelleContinuação da série REUNIÕES, para entender leia os anterioresNão sei se foi a noite ou se o destino me aprontou, mas a experiência que vivi não se compara a nada. Tudo, a escuridão, o vento macio acariciando as copas das árvores, a estrelas minúsculas piscando. Cada detalhe tenho procurado guardar bem dentro de mim...

(Recordações de João)

Porque não eu?

28ª Noite

Um dilema martela Isabelle – não sabe ao certo o que Nat pensa dela, por mais que se insinue ele sempre sai pela tangente.

Ontem à noite, na mesa do jantar, ficou acertado que todos iríamos na Vila do meio tomar banho no rio e fazer um churrasco. A Larissa disse que não estava sentido bem, mas Isabelle sabe que ela mênstruou e sente dores horríveis. O velho problema da prima que se repete todos os meses.

Quando nos recolhemos o primo tentou convence-la, mas ela ficou irredutível como sempre.

- Vamos Larissa! Vai ser bom e as garotas não se sentirão bem sem tua presença – Nat tinha deitado em sua rede mesmo com Larissa querendo que ele saísse.

- Vou não Nat. Não estou me sentindo bem!

- Faz isso não lourinha, vamos! – insiste.

Percebe o que iria acontecer e tenta tira-lo da rede.

- Deixa primo. Ela não deve estar bem mesmo, vem cá me ajudar a colocar o cadarço em meu tênis – chama Isabelle.

Mas ele é turrão e insistiu por várias vezes acariciando o rosto de Larissa e beijando sua cabeça. Só ele não percebia que um vulcão de ódio poderia explodir.

- Olha! Se tu fores eu te deixo me ganhar na natação...

- Vem cá priminho, me ajuda, por favor – volta a insistir.

- Ô Isabelle, até parece que não queres que a prima vá?

- Que é isso amorzinho, tu e ela sabem que adoraria te-la conosco... Mas ela já disse que não quer ir! Respeita o desejo da tua prima – sente que não conseguirá.

Mas Nat não desistia e Larissa já bufafa de raiva.

- Nat faz o que a Isa te pede, sai daqui! – aconselhou Larissa percebendo que sua paciência estava se esgotando.

Isabelle levanta da cama e puxa pelo braço.

- Vem cá amorzinho, deixa a prima descansar – mas ele não veio.

- SEU MERDA! FAZ O QUE ESSA PIRANHA TÁ DIZENDO E SAI DA PÔRRA DE MINHA REDE! – explodiu por fim o vulcão incontrolável.

Nat se assustou e levantou ligeiro sem saber o motivo de tanta agressividade. Se Isabelle não tirar o primo de perto da Larissa com certeza a confusão será maior.

- Vem cá Nat! Por favor, vem para cá e deixa Larissa em paz - implora.

Ele se levanta cabisbaixo e se aproxima da prima sentada na cama só de calcinha.

- Que foi que fiz? – perguntou abobalhado.

Ela abre a gaveta de roupa do primo e pegai uma camisa de meia que veste.

- Amorzinho vamos lá pra fora pegar um vento, que o calor ta brabo hoje – fala enquanto veste a camisa que lhe cobre parcialmente, deixando apenas a ponta de minha calcinha aparecendo.

Ele segue andando lento.

- Isabelle tua calcinha está aparecendo. É bom vestir uma bermuda, pois algum dos tios pode te ver assim e vão pensar mal.

Puxa um pouco a camisa escondendo sua nudez parcial.

- Ninguém vai nos ver, vamos pro banco do pomar – segura sua mão e saem juntos.

As meninas ainda estão papeando nas redes da varanda grande, o calor é muito e por certo elas vão demorar a entrar.

Caminham calados. O Nat ainda sem entender a reação da Larissa e ela tentando encontrar coragem para falar tudo o que guardo em si.

- Vamos sentar desse? – Nat sugere apontando o banco debaixo do cajueiro.

- Não! Vamos andar um pouco mais – se aceitasse aquele banco as meninas nos veriam ao passarem para o quarto.

A noite sem lua faz do pomar um emaranhado de vultos fantasmagóricos iluminado pelo reflexo das lâmpadas da varanda. Contina andando segurando a mão macia do primo e escolhe o banco da mangueira, bem distante da vista e encoberto pelos troncos grossos das árvores.

Nat sentou como que robotizado e a escuridão não deixa Isabelle ver seu rosto, mas que sabe estar tenso. Não senta a seu lado, escolhe ficar no cimento frio que lhe aplaca o calor da noite sem vento.

- Não entendi a da Larissa – fala com a voz embargada. – Eu só queria que ela fosse conosco... Não vi motivo para que me agredisse.

- Esquece isso Nat, ela não está bem. Amanhã ela acorda sem lembrar de nada e, quem sabe? Ela não vá conosco.

- Tu não estás entendo prima. O que me deixou triste foi sua maneira de falar comigo...

- Esquece amorzinho... Vem cá! Senta aqui que está gostoso – bate de leve no chão frio a seu lado.

Ele sai do banco, senta colado na prima passando o braço por seu pescoço e ela dá graças pela escuridão que não o deixa enxergar o resultado.

- Me diz o que significa para ti essa frase: “Suponha que você plante um jardim e que após alguns dias não veja resultados. Você o escava novamente? Não, porque sabe que muitas coisas estão acontecendo que você não consegue ver”.

- Parece muito com outra, essa de Saint-Exuperry no Pequeno Príncipe quando a raposa cobra a demora do menino e diz mais ou menos a mesma coisa que tua frase – responde falando baixo. – Mas o que isso tem a ver como hoje?

- Não quero parecer folgada ou libertina... Mas tenho que conversar contigo.

Isabelle está tensa, não sabe por onde começar somente que não agüenta calar seus sentimentos, sua vontade de ser notada não apenas como prima, mas como mulher.

Mas Nat com toda atenção que dispensa não dá entender de senti-la de outra maneira. Para ele ela é a prima calada, que sorri pouco e que, se possível, fala menos ainda.

- Primo tu tens sido especial para todos nessas férias, a cada instante nos sentimos mais e mais ligadas a ti. Sei que tu já notou mudanças em cada uma de nos, pois quando chegamos há quase duas semanas viemos preparadas para não te aceitar – Isabelle recorda as conversas de Larissa que tentou cativa-las e jogar todas contra o primo. A mana mudou como nunca imaginei ser possível acontecer, ela deixou de ser a pessoa amarga que tinha o prazer em mostrar para todos que não era feliz, que um animal havia cortado todos seus sonhos de menina. A mamãe, por tua causa, deixou de ser pegajosa e o papai já conversa e ri com mais facilidade... – para e recupera o fôlego.

Nat não entende o motivo desse interesse repentino da prima pelo bem estar de todos. Logo ela que se mostra arredia ao convívio com a família e que, sempre, buscou o isolamento.

- Acho que tu está superestimando minha figura. Não sou responsável pelas coisas que colocas, apenas me realizo como ser humano vendo as pessoas que amo vivendo bem – replica.

- Não meu querido. Não vejo assim, mas da maneira que te coloco. Tu tens sido o elo entre nosso passado com o presente de cada um de nos... Mas não é bem isso o que quero te falar – o primo ajeita o corpo e senta de frente para ela com as pernas cruzadas e apoiando suas mãos para trás.

- Garotinha! Sei que queres falar alguma coisa, sinto isso desde depois do almoço...

- Até nisso tu reparas...

- Acho que todos notaram.

- Amorzinho o que quero te falar é sobre mim – cria coragem e abre a torneira. – Desde o acidente tenho pensado muito em ti. A massagem que me deste e que me curou as dores, foi o estopim... Tenho tido sonhos e fantasias contigo e te desejo com uma intensidade que chega a dor...

- Para a fantasia passar a ser desejo há uma enorme distância garotinha – ele a olha com ternura entendendo as imagens que deve ter criado quando suas mãos tocou sua pele nua e uma ponta de remorso quando levou sua língua na vagina da prima – Um sonho erótico reflete uma manifestação do inconsciente que não significa exatamente o que acontece na realidade, mas são imagens que precisam ser interpretadas.

- Não me venha com essas lições psicanalíticas – reclamou. – Para essas explicações me bastam os conselhos acadêmicos da mamãe.

Isabelle se exaspera com a possibilidade de não conseguir finalmente falar tudo o que necessita.

- Nat cala a boca e me deixa falar, por favor – cobre os lábios do primo com sua mão espalmada. – Não é sonho erótico, não é nada disso. Sou eu, primo, sou eu que vivo com essa imagem o tempo todo. Chego mesmo a me imaginar cometendo loucuras só para poder mostrar o que sinto, o que quero. O que quero é te ter...

Ela pára sem fôlego e respira sua agoniação. Nat segura um graveto riscando linhas que não vê, no cimento frio. Ele percebe seu drama e se apavora ante a possibilidade do que está por vir.

- Não quero mais apenas sentir no sonho, que quero mais o gozo solitário, quero você, necessita ti ter!

- Prima as coisas geralmente não acontecem da maneira que sonhamos, e os sonhos existem para que formemos um mundo ideal que não tem o direito de interferir no mundo real, esse onde vivemos. Sonhar que você está transando com um colega, por exemplo, pode significar milhares de outras coisas que não chegam nem perto de sexo, é uma projeção de alguma coisa que nossa mente deseja, mas que o corpo não pode realizar...

- Por favor, não queira repetir as palavras de outros...

- Desculpa-me, não mais farei... E em teus sonhos, o que acontece?

- Não será preciso que te diga isso...

Nat deita no cimento frio e fica olhando os vultos das folhas. Sua respiração está forte e seu corpo transpira um suor frio.

- Não sou esse objeto de apelo sexual que você faz parecer. Não entendo a causa disso.

- Não precisas entender a causa, mas aceitar o efeito.

- Qual a causa? Qual o efeito? – questiona para si, Isabelle não entende o que falara.

- Porque tu falas baixo...

- Garotinha! Sei que andei passando dos limites contigo, principalmente naquele dia da massagem. Se eu te falar que não desejo ti possuir, estaria mentindo. Mas não posso querer, não devo desejar. Logo vocês vão voltar para a vida normal, para os lugares que estão acostumadas, para os amigos que esperam vocês... para os namorados...

Isabelle deita no chão ao lado do primo apoiando a cabeça em sua barriga e interrompe a divagação.

- Se eu pudesse, ficaria aqui. Esse lugar me traz paz, me traz harmonia.

- Mas não é o teu lugar!

- Tampouco o teu – vira-se e apóia o corpo nas mãos. – O teu lugar é onde existam pessoas que precisem de tua presença...

- Que lugar é esse? – interrompe.

Ela volta a deitar-se olhando para a escuridão da noite.

- Eu poderia dizer uma infinidade, mas existe um onde sempre serás necessário...

- Não sei se quero ou se mereço estar nesse lugarDiz? Onde eu deveria estar?

- Comigo!

- Tu sabes que seria impossível...

- Por que és meu primo? Esse é o motivo?

- Não!

- Então qual?Não sabes o que responder, melhor seria se tivesses dito não me querer.

- Eu estaria mentindo...

- Então me queres? Como?

- Mulher, és mulher...

- Amor platônico não me basta.

- Não platônico porque sei que me amas, e sabes que te amo. Mas não seria certo...

- Quem determina o teu certo e o teu errado? Tua consciência, dirás.

- Quem mais poderia guiar-me? Além do mais existe uma coisa, bem simples para você, mas complicado para mim.

- Sei! Sou virgem...

- Sabes! Porque ainda não entendes?

- Isso posso resolver com o dedo... Mas não quero, quero que tu faças.

Nat estremece, isso ele não estava preparado para escutar mesmo sabendo que era verdade. Seu pensamento sai dali e retorna alguns anos.

Está com Cíntia na nascente, banham nus e brincam descontraidamente. Seus corpos roçam, tocam e se acendem para um sentimento que desconheciam. Acabrunhados com a descoberta, se afastam. Cíntia olha o membro do primo enrigidecido e seu próprio corpo emite sinais de perigo.

- Porque ele ficou duro? – perguntou espantada.

- Não sei, acho que foi quando a gente brincava de luta – respondi sem saber ao certo o que falar.

- Deixa eu pegar?Ta quente e pula...

Sinto ainda meu braço erguer e tocar em seus seios, vejo o seu olhar de espanto e sua respiração alterada, percebo seu corpo tremer e seus olhos fecharem.

- É gostoso... – fala baixinho como que não querendo dar à natureza a prova de seu desejo.

Naquela época eu tinha dezesseis anos e ela quatorze. Nunca, em momento algum, havíamos nos tocado da maneira que estávamos fazendo. Desse ponto em diante cruzamos a linha da inocência para descobrir o outro lado da moeda.

Duas quase crianças, sem nunca haverem imaginado ser possível algo que se materializou do nada...

- Hei... Volta! – Isabelle chama.

- Desculpa. Viajei no tempo...

- Onde estavas?

- Aqui contigo... – escuto gritarem nossos nomes.

- Isabelle! Nat!

- Estão nos chamando – falo.

- É mamãe – ela levanta e fica olhando o primo – Não terminamos ainda nossa conversa – estende a mão e puxa Nat.

Se abraçam. Ela sente o pênis do primo avolumado na cueca.

- Tu queres... Eu quero...

Se beijam freneticamente com suas mãos amassando seus corpos.

- Isabelle! Isabelle!

Se separam e de mãos dadas, caminham em direção da voz ainda sob efeito da paixão não consumada, para alívio de Nat.

- Que vocês estavam fazendo no escuro? – pergunta a mãe.

- Namorando – responde a filha.

- Só namorando? – indaga maliciosa a mãe.

- Só namorando... – encerra a filha.

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