Meu Amigo me Amava – Capítulo 66
Ficamos os dois, deitados, um sentindo o calor do outro, naquele fim de noite e inicio de manhã. O Jhonny com todo seu corpo deita por cima de mim, me imobilizando totalmente, estava tão bom sentir seu cheiro, o calor do seu corpo, que nem me incomodo, ficamos ali, os dois, completamente em êxtase por conta da maravilhosa noite que tivemos, tanto no bar, mesmo com a presença do infeliz do Estevão, como após a nossa, digamos, primeira noite de amor.
Logo amanhece, vejo os raios do sol penetrando todo o quarto, porém estava tão cansado que nem me mexo, tiro devagar o Jhonny de cima de mim, meus braços já estavam dormentes, por um instante abro meus olhos e fico a observar o Jhonny dormir. Como é lindo, aquele corpo todo formado, de homem feito, cabelo nos peitos, pernas, aquela bunda carnuda, lisinha, uma tentação. Fico a admira-lo. Penso em toda nossa história, em como tudo foi acontecendo, os problemas, as brigas, em tudo.
Na hora vem como uma flecha certeira as palavras do Pedro, a respeito da minha relação com o Jhonny. “Você não ama o Jhonny, é mais um amor fraternal, você se preocupa com os problemas dele, age feito um irmão, isso não é amor de verdade”. Essas palavras de fato marcaram-me profundamente, eu não queria pensar nisso, na hora nem levei em consideração, mas ficou no meu inconsciente, e nesse dia, ao ver o Jhonny, aparentemente tão indefeso, tão frágil, me fez pensar, e essa lembrança dói profundamente dentro de meu peito.
Muitas eram as indagações em minha vida, estava convicto de que não queria me assumir, e o Jhonny por sua vez exigia uma postura, uma decisão, e na verdade nem ao certo estava decidido sobre o que querer, se eu sou bi, hetero, gay, isso no fundo era o que menos eu pensava, na verdade fugia, fujo e pronto. Penso na minha ida ao bar, no Felipe, um rapaz de 30 anos, formado, foi noivo, e teve a coragem de terminar o noivado por estar em duvida, por não ter a certeza de que queria pra sua vida, um cara que procura, corre atrás, está em constante busca da felicidade. Fico a me perguntar sobre o que é a felicidade, se ela realmente existe, minha cabeça começa a dar um nó.
Jhonny vai se movimenta, muito engraçado, mas mesmo de olhos fechados ele abriu os braços e me abraçou, e isso foi dormindo. Acabo adormecendo novamente.
Acordamos com as batidas do Vinicius, isso já quase meio dia.
Vinicius - Acordem gente, o dia está lindo, vamos pra praia.
Levantamos rapidamente, colocamos a cueca e uma bermuda e abrimos a porta, logo entra o Vinicius com a cara toda amassada, eufórico, sentamos no tapete onde havíamos dormindo, Vinicius vendo a cama arrumada logo deduz o que aconteceu na noite anterior e nem disfarça, joga na nossa cara co todas as letras e sua espontaneidade que era sua marca registrada.
Vinicius - Nossa que romântico, no tapete... no tapete. Aí que inveja, nunca rolou comigo no tapete, e olha que já rolou em matagal, elevador, escadas, terraço, que Deus me perdoe mas até em cemitério.
Breno - Cemitério?
Vinicius - Por que o espanto nem. Aqui é cidade pequena, nem sempre tem local disponível. Vamos ficar na onça por isso, na seca? Claro que não né. Temos que improvisar e a aventura é bem excitante.
Jhonny - Nossa Vinny, estamos com a cara toda amassada, você entra, com todo esse gás que realmente não sei de onde você tira, pra contar suas aventuras.
Vinicius - Aí, vocês são tão caretas. Sério, vocês são certinhos demais. Sabe meu lema, viver cada dia como se fosse o último, e literalmente eu tenho que aproveitar esses dias de férias do meu trabalho por que segunda começa o inferno de novo.
Breno - Está de férias do trabalho cara, que legal, coincidiu com as férias escolares.
Vinicius - Duas férias vencidas Breno, o patrão foi obrigado a dar. Realmente estava cansado, mas mesmo ralando bonitinho ali de segunda a sábado, saio as quatro, durmo e depois vou me divertir.
Breno - Legal sua animação.
Jhonny - O Vinny rala bonito, ajuda a mãe, são só os dois aqui, assim como acontece com você Breno.
Vinicius - Seus pais também são separados Breno?
Breno - Não... meu pai é falecido.
Vinicius - Aí! Que gafe, desculpe.
Breno - Não... tudo bem, já faz tantos anos.
Vinicius - Vamos tomar café, olha não é o café que estão acostumados a tomar. O Jhonny então. Olha sempre ia cedo pra casa do Jhony tomar café, nossa Tia Nuancy o trata como bebê.
Jhonny - Mas eu sou um bebê né.
Vinicius - Só a cara Jhonny, só a cara. Agora sério, ela faz bolinho de chocolate, leite batido, suquinho de laranja, parecia mesa de rico. Eu ia mesmo no interesse de filar o café, o jantar, muitas vezes minha mãe queria me arrancar o coro. Deus que me perdoe, agradeço pelo pão, pelo leite, mas se tem coisa melhor eu me pergunto, porque não aproveitar não é?
Começamos a sorrir, o Vinicius é um desses caras que estão sempre de bem com a vida, como a cara engana, um rapaz que vi na praia tão sério, achei-o simpático, mas me passou uma seriedade, e agora vejo que é exatamente o oposto, alto astral, divertido mesmo, leva a vida numa boa, enfrenta todas as dificuldades com bom humor, algo que tinha que aprender e por em pratica na minha vida.
Vinicius - Olha tem pão, de ontem é claro, mas tem queijo e presunto, a sanduicheira está ali, só fazer um misto pobre.
Breno - Misto pobre?
Vinicius - Sim filho, misto com pão francês de ontem. Misto pobre.
Jhonny - Palhaço.
Vinicius - Bati leite com Nescau e gelo.
Jhonny - Brigadão amigo, me dá um abraço aqui, fez pra mim Breno, ele me ama.
Vinicius - Tão bão te ver sorrir Jhonny. Sério, tu chegou aqui tão mal, tão mal que eu e a mamãe ficamos preocupados, o engraçado é que até agora você não me disse o que aconteceu.
A cara do Jhonny muda na hora, instala um clima chato, uma troca de olhares entre eu e o Jhonny, discretamente vejo o Jhonny fazer um não com a cabeça, que era para não contar, entendi na hora, como era engraçada a cumplicidade minha e o Jhonny, de apenas no olhar conseguirmos nos comunicar, algo que nunca rolou com meu mano, e nos conhecemos desde sempre.
Breno - Ele estava mal por sentir minha falta.
Vinicius - Disso eu suspeitava, mas gostaria de saber pelo menos o motivo. Olha que passo mal, fico em cólicas, me conta gente, qual foi o babado. Nem vem me dizer de traição por que entre vocês acho isso impossível. O Breno maior careta, Jhonny então, um corpão, todo lindo, cantado por todo tipo de gente, não pega ninguém.
Jhonny - Ta me chamando de que?
Vinicius - De babaca, de otário, mas te amo né, meu coração é de manteiga mesmo. Meu melhor amigo, desde quando mesmo.
Jhonny - Uns cinco anos?
Vinicius - Desde o jardim. Nossa, conheço o Jhonny antes mesmo de ter pentelhos, e hoje até cabelo no peito ele tem.
Continuamos nesse clima de conversa, tentando desconversar na verdade, respeitei a decisão do Jhonny de não querer contar. Saímos da mesa, cada um vai tomar um banho, colocamos camisetas e bermudas, estava calor, e que calor, e vamos caminhando até a praia, não era perto, porém curtia conhecer, ver como a cidade era movimentada, vizinhos conversando com vizinhos, algo um tanto raro no Rio.
Logo aparece um amigo do Vinicius que o chama pra conversar, ele nos dá sinal dizendo para irmos que nos encontraria lá. Vamos eu e o Jhony pra praia. Chegando até a praia fico novamente espantado com sua beleza, estava lotada, também pudera, em pleno sábado. Sentamos na areia, e ficamos ali admirando tudo aquilo, toda aquela beleza, passava varias meninas nos olhando, paquerando, dando sorrisinhos, fiquei até sem graça. Não resisto muito tempo, tiro a camisa e decido entrar.
Jhonny - Vai entrar na água. E a dengue?
Breno - Cara não estou mais resistindo, rapidinho.
Jhonny fica segurando minha camisa e entro, dou um mergulho, começo a trincar os dentes de tão fria que estava a água, e olha que o calor era intenso, mas a água muito fria. Olho pro Jhonny que começa a sorrir. Mesmo assim dou umas braçadas, começo a nadar, o impacto do primeiro momento logo passa, uma praia linda, limpa, transparente, enxergava a areia, meus pés, algo que não Rio nem em todas praias são possíveis mais por conta da poluição.
Saio da água todo encolhido, Jhonny começa a sorrir.
Jhonny - Não sabia que sabia nadar tão bem.
Breno - Porra, que água fria.
Jhonny - Já estou acostumado, mas é uma delicia.
Breno - Põe delicia nisso.
Jhonny - Você vai amanha pro Rio né?
Breno - Sim. Trabalho na segunda. Por que algum problema?
Jhonny - Não.. nada.
Breno - Jhonny, não queria me meter, mas tenho que falar. Liga pra sua família, liga pra D. Nuancy, pelo menos um oi, sei lá. Eles estão ansiosos, estão sofrendo. Sério, na boa, sei que é algo particular, é sua vida, mas enfrenta de frente, fugir só piora as coisas.
Jhonny - Eu não vi pra cá pra fugir Breno.
Breno - Desculpas.
Jhonny - Odeio quando você me pede desculpas. Parece que estõ te dando broncas.
Breno - E não é?
Jhonny - Não.
Breno - A tah desculpas.
Jhonny - se você falar desculpas mais uma vez te dou um beijo na boca aqui na frente de todo mundo.
Breno - Ta ficando louco é. Ta fumando o que, crack?
Jhonny - Não, estou cheirando maconha?
Começamos a sorrir da infeliz bobeira.
Jhonny - Cara na boa, não sei o que fazer.
Breno - Não foi você mesmo que me disse para seguir aqui oh, o que fala o coração. Então cara, faça o que o seu coração está pedindo, não vá pela razão, palavras suas, que caem como uma luva nesse momento, as vezes o coração nos diz coisas que nem sempre estão erradas, que são mais certas do que a razão, a racionalidade.
Jhonny - Você aprende rápido hein.
Breno - Minha sorte. Jhonny, não estou te pedindo pra perdoar sua família, aceitar o que eles fizeram, nada disso. Apenas de um oi, fale que está tudo bem, sei lá.
Jhonny - Mas isso tenho certeza de que você já falou.
Breno - Ela quer ouvir sua voz, falar com você Jhonny, eles te amam, apesar de todos os problemas, de tudo o que aconteceu. Jhonny há quanto tempo você na fala com seu pai, há quanto tempo? Desde aquele dia da discussão dos seus pais lá na sua casa, que ouvimos seu Henrique dizer que preferia a morte do que aceitar um filho gay. Desde aquele dia que vocês não se falam direito, você não o dá um abraço, e a sua família sempre me pareceu ser tão carinhosa, pelo menos você com sua mãe, seu pai.
Jhonny - Meu pai, que na verdade é meu avó. Que coisa louca cara, que doideira. Nunca ouvir dizer sobre algo parecido, parece coisa de filme.
Breno - Já ouviu dizer que muitas das vezes a vida supera a ficção cara, é mais surpreendente, bem mais interessante.
Jhonny - Não vejo nada de interessante nisso cara. Nada.
Breno - Jhonny, volto amanha pro Rio cara, e você como fica?
Jhonny - Não sei... Sinceramente não sei de nada. Não sei que passo dar, que decisão tomar, estou literalmente vivendo um dia de cada vez.
Breno - A vida na verdade é para ser vivida assim, um dia de cada vez, um problema de cada vez, por isso sofremos, ficamos angustiados, por pensar tanto, imaginar coisas, por antecipação, e as vezes nada daquilo que pensamos acontece.
Jhonny - Breno as vezes você me parece ser tão maduro, tão sensato, de todos os meus amigos, você é o mais maduro, e olha que sou um ano mais velho do que você, tu tem só 23 anos cara, vinte e três, tenho colegas de 29, 28, que são completamente irresponsáveis, não querem nada com nada.
Breno - Aprendi na marra, com a vida. Mas não quero falar sobre isso agora.
Jhonny - As vezes fico intrigado sabia?
Breno - Intrigado, com o que?
Jhonny - Com você. As vezes você é tão frio, mecânico, racional. E as vezes você é tão carinhoso, companheiro, amigo. Parece que existem duas pessoas em você cara. Dois Brenos, e eu gosto dos dois.
Breno - Você me acha frio e mecânico, racional?
Jhonny - Muito... muito mesmo. Não sei como você consegue até hoje mentir pra sua mãe, pro seu irmão sobre suas saídas com homens. Consegue trabalhar do lado do cara que você tinha um relacionamento e não deixar transparecer nada. Ninguém suspeitar.
Breno - Nada haver Jhonny.
Jhonny - Tudo haver cara. Tinha dias que acordava lá na sua casa e minha vontade era de te encher de beijos. Quantas vezes assistindo televisão na sala da sua casa cara, me deu aquela vontade tremenda de deitar no seu colo, de quando você chegava cansado da faculdade, isso quase onze e meia da noite, te dar um beijo, um abraço. E muitas vezes você me dizia friamente um oi, um tudo bem.
Breno - Cara e minha mãe.
Jhonny - Entendo cara, mas eu não conseguiria. Cara eu te entendo, só fico intrigado por você conseguir ser assim tão racional entende. Eu sofri, não me aceitei, nossa, com todos devem ter acontecido isso, e só quem passa sabe o inferno que é. Cara eu transei pela primeira vez aos de verdade com um homem aos 18 anos. Sai com meninas, perdi minha virgindade aos 15 anos, mas nem sabia direito o que estava fazendo. Transei com a menina da escola, gozei, achei estranho, toda primeira vez é estranha. Tentei ficar com meninas, mas fui vendo cara que não era a minha. Conheço o Estevão pela internet, o acho lindo, inteligente, me apaixonei, depois vc sabe o resto, ameaças. Até que contei tudo pra Estela.
Breno - Por que tudo isso agora?
Jhonny - Pra te dizer que primeiramente temos que nos aceitar, que não adianta lutar cara, que isso vem em nós, não adianta, é mais forte do que a gente pode imaginar. Podemos tentar, sim podemos, mas isso no final trará mais sofrimentos pra nós mesmos. O Pedro, o Estevão são exemplos claros disso, já te falei isso uma vez.
Breno - Por que meter o Pedro nisso cara. Jhonny vamos parar com esse assunto.
Jhonny - Por que o Pedro é completamente apaixonado por você, só isso. Paixão.... paixão mesmo. Tenho medo disso sabia.
Breno - Medo... mas por que?
Jhonny - Paixão demais é algo perigoso, quando mal administrada.
Breno - O que você quer dizer com isso.
Jhonny - Eu não guardo mágoas, já perdoei. Mas não esqueço aquele dia, em frente minha casa, que depois de discutir com o Pedro ele pega o carro e quase nos atropela.
Breno - Ele já se explicou cara, foi na hora da raiva, passou. Já aconteceu tanta coisa depois disso, nem sei por que está lembrando disso agora.
Jhonny - Passou... claro que passou. Mas naquele dia eu vi cruamente o que uma paixão tão intensa pode levar a pessoa a fazer.
Breno - Para Jhonny, você está começando a me assustar.
Jhonny - Cara você já ouviu dizer que o amor e o ódio andam ali lado a lado.
Breno - Jhonny você anda lendo, ou vendo filmes de paixões passionais.
Jhonny - Não ... mas você sabe que é uma verdade. Breno na boa, tu ama alguém, nunca vi você dizer eu te amo, e eu te falo isso tantas vezes, você diz apenas, eu gosto de você. Gostar é legal, mas não é a mesma coisa que amar. Aposto também que para o Pedro você nunca disse, nunca pronunciou, eu te amo... Breno na verdade, quem você ama, de quem você gosta, o que de fato acontece aí dentro do seu coração?
Na minha cara de espanto com as palavras do Jhonny
Continua..,,
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