Tudo começou quando eu tinha 9 anos de idade , eu era uma criança como qualquer outra, tirando que eu não gostava muito de futebol , sempre fui meio perna de pau para estes esportes , mas gostava de todas aquelas brincadeiras de criança com pic esconde , pic pega , bandeirinha e etc.
Eu era o tipo de garoto meio bobo , os outros garotos da minha idade já eram mais espertinhos e maldosos e se aproveitavam de eu ser assim pra tirar alguns proveitos , ou me fazer de laranja em certas situações , mas eu as vezes me safava da bronca dos adultos , mas não da porrada dos garotos depois. Mas como os meninos aqui do condomínio eram as únicas “amizades” que eu tinha eu não tinha muito como fugir de não conviver com eles.
Um dia eu acordei com o barulho grande , parecia a buzina de caminhão , eu estava de férias escolares e eram quase dez da manhã quando aquela buzina alta na frente da minha casa ficou tocando.
Eu acordei , minha avó me deu café , escovei dentes , tomei banho e fui pra rua , peguei uma bola , acho que é usada em jogo de tênis , aquelas verdinhas que ficam quicando e ia pra pracinha brincar , eu vi que estavam chegando novos vizinhos e eu observei um tempo aquele caminhão grande descarregar as coisas e depois fui pra praça.
Eu fiquei lá brincando , os meninos estavam soltando pipa e eu fiquei lá na minha , sentei na quadra um pouco aonde o sol não estava batendo , eu fiquei sentado ali , me distrai quando eu ouvi alguém falar comigo:
- Moleque .... moleque
Eu me virei e era um garoto que eu nunca tinha visto antes , eu respondi :
- Oi , fala aí
Ele se aproximou e se apresentou :
- Oi , meu nome é Juan e o seu?
Eu me apresentei , e ele me disse que era novo ali no condomínio e não conhecia ninguém e queria fazer amigos , mas tava sem jeito , ele tinha uma pipa nas mãos e queria se juntar aos outros garotos.
Eu o levei e o apresentei aos outros meninos , ele era um pouco mais velho , tinha dos seus 10 para 11 anos.
Com o passar do tempo nós nos tornamos amigos , ele se entrosou bem , em pouco tempo já era meio que líder entre os outros meninos , ele veio do Sul , o pai dele é militar e tinha sido transferido.
Ele realmente era um garoto legal e com um senso de justiça , ele se tornou meio que meu defensor , nas situações em que os outros garotos se aproveitavam de mim ele sempre me defendia e ele me ajudou a me tornar menos bobinho , sempre conversávamos muito, apesar de criança , tínhamos um papo meio adulto de vez em quando.
Nós fomos crescendo e logo já estávamos entrando naquela fase de pré adolescentes , ele já tinha 13 anos e eu tinha 11 , eu ainda curtia um pouco daquelas brincadeiras de criança e ele já estava mais em outra onda , já estava pegando as garotinhas, ficando , beijando e etc , mas de vez em quando participava das brincadeiras , nas épocas de festa junina e outras datas , algumas vezes o pic esconde era uma boa desculpa para arrastar as garotinhas pro mato.
Na ultima festa junina a turma resolveu brincar de pic esconde , a praça era o melhor esconderijo , muitas árvores , carros e eu neste dia não encontrava esconderijo , todo lugar que eu procurava tinha alguém e estava muito escuro , eu estava sem opção , quando eu me aproximei de um ônibus abandonado bem no final da praça eu ouvi aquele psiu bem baixinho , eu ouvi que era insistente , ele me chamou ...
- Julian ... entra aqui
Eu fui tateando o ônibus até que ele me puxou pelo braço.
Ele começou a rir , pois o garoto que estava procurando estava feito barata tonta porque o ônibus estava em um local bem desfavorável de iluminação , mas de lá de dentro dava pra ver perfeitamente o que estava acontecendo a distancia.
Eu fui para a frente do ônibus tentar ver , ele se debruçou sobre mim e ficamos ali juntos observando , mas sem nenhuma conotação de maldade , ele segurou a minha mão e senti que ele acariciava meus dedos e ficava respirando forte na minha nuca , estava um calor danado , ele insistia , e sutilmente ele , começou a me beijar , foi uma coisa inédita porque até então eu não tinha sequer despertado pra nada nem com homem e nem com mulher , eu era realmente bobo e muito ingênuo.
Ele começou a me apertar , e derrepente ele me pediu pra chupar ele , eu não sabia muito como controlar aquela sensação e fui correspondendo ao que ele me pediu , mas ao mesmo tempo eu fiquei confuso , não sabia , me senti mau , eu gostava dele , era meu amigo , mas aquilo era estranho , novo , eu não sabia o que fazer , como reagir , eu o empurrei e saí correndo do ônibus.
Entrei dentro de casa e fiquei algum tempo sentado no portão na parte de dentro. Esperei aquela sensação passar , era uma mistura de pânico, com confusão mental , com desejo , eu não sabia discernir o que eram aqueles sentimentos.
No dia seguinte eu não saí de casa , ele havia me procurado , me chamou no portão , mas eu pedi a minha avó que dissesse que eu estava com gripe pra qualquer pessoa que me procurasse.
Aquele dia inteiro eu fiquei pensando no que aconteceu , eu senti algo muito estranho , sempre gostei dele , ele era meio que o meu herói , aquele que me protegia , que me ensinava , uma espécie de irmão mais velho , mas eu comecei a enxerga-lo de uma forma diferente , como algo que eu não sabia explicar , queria abraçar ele , beijar , tocar, dizer coisas que eu jamais pensei dizer , mas eu ainda precisava de algum tempo.
No dia seguinte eu saí , fiz uma coisa que não fazia desde os seis anos , ficar sentado , na quadra , sozinho , pensando e neste dia ele se aproximou de mim como na primeira vez que nos vimos.
Ele se sentou do meu lado e ficou algum tempo calado e depois disto ele disse:
- Cara , você é um dos meus melhores amigos e eu gosto muito de você , me desculpa pelo que eu fiz.
Eu olhei pra ele , não consegui responder , eu nunca tinha percebido o quanto ele era bonito , branco , aquele cabelo castanho um pouco comprido até o pescoço , alto e atlético , ele nadava , jogava futebol e tinha um corpo já bem definido.
Ele me disse que depois do que aconteceu ele não sabia dizer o que estava sentindo , ele me queria de uma forma que ele não podia , ele queria me beijar , me abraçar , me tocar e eu não soube muito como reagir , mas o ímpeto do momento me fez pegar a mão dele e colocar sobre o meu pescoço , ele me disse que estava somente a empregada em casa e me convidou para ir até a casa dele.
Nós fomos até lá e ele disse a empregada que iria jogar vídeo game comigo , nós subimos e ele me levou até o quarto dele , ligou o ar condicionado e fechou a porta , ele me agarrou e me beijou , ficamos ali nos beijando por muito tempo , ele começou a tirar a camisa e de repente se afastou.
Eu fiquei assustado , pois estava começando a sentir outra coisa mais forte , eu fiquei calado e ele me olhou , eu estava assustado , com os olhos arregalados , tonto , ele se aproximou de mim , me abraçou e disse:
- ainda não ta na hora , é muito cedo , não quero fazer algo que você não está pronto.
Ele me abraçou e eu fiquei deitado no colo dele , a empregada bateu na porta , ele vestiu a camisa e eu ajeitei o cabelo , ele ligou a TV pra poder disfarçar , afinal íamos jogar vídeo game ne?
Ela trouxe um lanche para nós e no final nos jogamos o vídeo game pra poder compensar.
Nós ficamos meio que namorando , ele ainda tinha as namoradinhas dele pelo condomínio , mas dizia que era apaixonado por mim.
No aniversário de 14 anos dele eu fui com meus pais , o meu pai e o dele eram bastante amigos , jogavam juntos futebol nos domingos e bebiam juntos, nós conseguimos escapar um pouco e ficamos namorando no terraço , mas não deu pra gente ficar muito tempo juntos pra não dar bandeira. Ele só teve tempo de me contar que o pai dele estava para ser transferido e que eles teriam que se mudar.
Eu senti que meu mundo caiu naquela hora , eu tinha descoberto o amor e iria perdê-lo , mas não disse nada, apenas abracei ele e tentei ignorar aquela idéia.
Quando inaugurou o parque aqui da nossa região nós fomos juntos , ele me levou para a minha primeira montanha russa e foram momentos ótimos.
Nas férias de final de ano , minha família resolveu passar as festas na casa de uns parentes na região serrana e eu fui lá na casa dele me despedir , ele estava muito estranho , cabisbaixo , disse que seu pai já havia sido transferido e que eles iriam se mudar até o final da semana. Eu senti minha cabeça girar , senti tonteira , ele me olhou , não podíamos fazer nada , estávamos na frente da casa dele e apenas nos olhamos , demos um abraço de amigos normais e nos despedimos , eu entrei no carro , nunca soube ser tão frio e indiferente , mas tentei ignorar e não sentir aquele sofrimento.
Nos dias seguintes eu não consegui parar de pensar naquilo , eu não conseguia aceitar a idéia de que voltaria e não iria mais ver o cara que eu amo.
Os dias se passaram e eu senti como se fosse uma facada no meu peito quando vi aquela placa de aluga-se na porta da casa dele.
Os dias seguintes foram muito dolorosos , frios e eu me foquei nos estudos para tentar afastar aquela idéia que me feria , nos anos seguintes eu não esqueci , mas me acostumei. Quando o Orkut surgiu eu criei a minha conta e procurei ele , não encontrei , fiqei durante aquele tempo todo procurando , todo dia eu tentava , pesquisava o nome no Google e somente encontrei um nome semelhante em uma lista de aprovados para um concurso do exército. Pensei que poderia ser ele , que ele havia seguido os caminhos do pai , mas nada de concreto , nada que me possibilitasse um contato.
Depois dele eu não havia me envolvido com mais ninguém , havia crescido , estava em um excelente colégio , já tinha vaga garantida em uma universidade e tinha um futuro já definido , mas no âmbito afetivo ele foi o primeiro e o único.
Mas a vida tem seus caminhos e quando as coisas tem que acontecer , elas acontecem, no ultimo natal eu estava com a minha família , já havíamos feito a nossa ceia e eu estava com um calor que não me deixou ficar em casa. Já com meus 18 anos eu peguei uma lata de cerveja que tinha na geladeira e resolvi sair para refrescar um pouco.
Eu fui caminhando até a praça e vi aquela mesma quadra aonde eu costumava refletir. Desta vez eu não me sentei , fiquei encostado na grade , olhando , me vendo ali , pensando , lembrando do meu primeiro encontro com o Juan e eis que surge aquela voz dizendo:
- Esse lugar já deve estar marcado.
Eu me virei e meu coração acelerou quando vi que era ele , a voz que agora não é mais de um menino não me impediu de sentir que era ele , apesar da luminosidade não ser a melhor eu percebi cada detalhe dele , estava mais lindo , um homem , adulto , diferente , mas com aquele mesmo sorriso , aquele mesmo jeito seguro de si , aquele herói que eu idolatrava.
Nós ficamos um tempo olhando um para o outro, era perceptível que tanto ele quanto eu não sabíamos exatamente o que pensar , depois de mais ou menos um minuto ele quebrou o silencio , nós fomos até um banco e nos sentamos, contamos sobre o que tinha acontecido um com o outro durante esse tempo , ele me contou que havia noivado , mas terminou por conta de não ter dado certo e de a garota não ter aceito ele vir para outra cidade seguir carreira. Eu pensei comigo mesmo “ eu iria com ele a qualquer lugar’ mas ele resolveu me perguntar se eu tinha ficado , namorado com alguém , eu respirei fundo e disse:
- Você foi o único
Ele ficou um pouco sem jeito , mas não demorou muito e disse:
- Eu quero ser o único e pra sempre
Nós não podíamos fazer nada ali , mas a vontade de abraçar , de beijar era imensa , incrível que como depois de tanto tempo aquele sentimento era tão vivo.
Ele me convidou para dar uma volta no carro dele , eu não hesitei , não pensei em nada , fomos e era engraçado que não sabíamos muito como nos aproximar , rimos durante algum tempo , aquela risada sem jeito , mas não houve outro caminho , nos abraçamos , nos beijamos , agora estávamos adultos e não tínhamos mais tanta restrição.
Ele me contou que iria ficar aqui e que iria morar em uma vila militar e que pretendia se instalar de vez por aqui.
Nós voltamos a namorar e o nosso amor de adolescência hoje amadureceu e posso me dizer a pessoa mais feliz do mundo.
