Obrigado pelos emails e palavras de carinho.
Este conto não acho que não servem para aqueles curtem algo sexual. É um romance, uma história de amor e aprendizado com pitadas de romance gay. É bom relaxarmos e curtimos uma leitura leve. Para entender melhor a história basta clicar no meu nick que está acima e poderá conferir as primeiras partes. Por favor, comentem lá em baixo e dê sua nota aqui em cima. A participação de vocês é essêncial para mim.
"Não... não. Paulinho não dorme mano. Eu preciso de você pelo Amor de Deus. Maurício faz alguma coisa... acorda o meu irmão. Paulo!!! Paulo!!!!"
O Paulo morreu. O meu irmão mais velho morreu. Depois de muito chorar, eu meio que me fechei para todos. A vida não fazia mais sentido. O Maurício ficou perto de mim. Igual a um falcão. Ele temia que eu fizesse alguma loucura.
Eu só queria dormir. Apagar. Não estava afim de encarar uma realidade sem o Paulo. Ele sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida. Como superar uma dor tão profunda? Ele estava aqui. Agora não está mais. Como superar? Como?
Ficamos mais quatro horas no hospital para a liberação do corpo. A Luciana não chorou. Estava ocupada demais nos ajudando, principalmente, a mamãe. Ela sabia que era mais difícil para nós, por essa razão, se fechou e agiu da melhor maneira possível.
— Amigo? — Luciana deitou ao meu lado.
— Lu, ele não está falando. Entrou em choque. Muita informação para absorver. — explicou Maurício, que estava sentado em uma poltrona ao lado da cama.
— Eu sei, mas ele precisa comer alguma coisa. Pedro. olha para mim. Você tem que ser forte pelos seus pais e a tua irmã. — pediu Luciana, fazendo carinho nos meus cabelos.
— Amor. — Maurício se levantou e sentou ao meu lado. — Você precisa reagir. Temos que te levar pra casa.
— Quando, quando eu era pequeno. — falei, sem olhar para eles. — Meu irmão me protegeu de um garoto que queria me agredir porque eu era gay. Estávamos na praia e o Paulo levou uma surra por nossa causa. Ele disse que deveríamos nos proteger. E eu deixei que o meu irmão morresse. — voltei a chorar. Não conseguia segurar às lágrimas.
— Pedro é a vida. — garantiu Luciana, pensando nas melhores palavras para me consolar. — Eu perdi minha filha e queria desistir, mas você não desistiu de mim. Eu sei que a dor é diferente para cada um, por favor, vamos pra casa. Deixa eu cuidar de você. Estamos aqui para você.
Depois de todas as burocracias resolvidas, seguimos para casa, porém, ninguém conversou sobre a morte do Paulo. Ao entrar no meu quarto, deitei na cama e me veio à cabeça o sorriso do Márcio, após causar o acidente. Ele baixou o vidro do carro, sorriu para mim e fugiu. Eu jurei que me vingaria, só que papai pediu para que os advogados cuidassem do caso.
Porém, o meu coração desejava a morte do Márcio. Ele teria que pagar na mesma moeda. Acho que o Maurício misturou alguma coisa na sopa que eu tomei. De repente, os meus olhos ficaram pesados e eu apaguei.
Acordei e, por alguns segundos, não lembrava da morte do Paulo. O Maurício não estava em casa. Ele saiu com Luciana para resolver as questões do velório e enterro.
Não consegui dormir. Peguei um álbum e comecei a ver as fotos, cada lembrança me fazia sentir como se Paulo estivesse comigo ao meu lado. Ouvi um barulho. Alguém abriu a porta do quarto. No meu coração, havia um desejo desesperador que fosse o Paulo entrando e abrindo um belo sorriso.
— Paulo? — indaguei, limpando às lágrimas.
— Não, amor. Sou eu. — avisou Mauricio, segurando uns envelopes nas mãos e pondo gentilmente em cima da cômoda.
— São os documentos do óbito?
— Sim, mas não se preocupe com isso. — Maurício deitou ao meu lado. — Pedro, nós médicos lidamos com a morte todos os dias. No início é difícil, dói muito. Mas o tempo cura tudo.
— Pena que eles não ensinam isso na vida. — lamentei. — Sabe, ele esteve comigo a minha vida toda. Nos momentos bons e ruins, quando eu mais precisei dele. Eu não sei se vou conseguir viver sem ele. — revelei, porque não sabia como seguir em frente.
—Dorme, amor. — Maurício pediu me abraçando. — Dorme, eu vou ser o teu herói agora. — fazendo carinho na minha cabeça.
Ia me perdendo ao som da voz dele. Dormi desejando que o pesadelo acabasse. Acordei com uma sensação de vazio, não queria levantar. Era a manhã do velório do meu irmão, na verdade, eu não queria ir.
Mauricio me levou até o banheiro no colo e limpou as feridas no meu rosto. Eu estava com pequenas queimaduras no braço e no rosto devido à explosão. Com cuidado, Maurício ligou o chuveiro e às lágrimas se misturaram com a água que caía em abundância.
Um terno preto. Escolhi um terno preto para me despedir do Paulo. O Maurício, praticamente, me vestiu e deu o nó na gravata azul. Fomos para a sala e já estavam todos lá. Seria a última vez que veria o Paulo.
Respirei fundo antes de entrar na igreja. Meu coração estava acelerado. Eu suava frio, relutava em acreditar naquela situação. Sentei ao lado de Maurício na primeira fileira da igreja. Foi a primeira vez em muitos anos que ouvi uma missa.
Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Essas são as cinco fases do luto. Provavelmente, estou negando. Eu não aceito. Eu não quero. O Padre falou sobre o amor de Deus. Eu pensava comigo: "Que amor?". Como pode um Deus fazer isso com o meu irmão?
Cheguei até perto do caixão. Ele estava lindo, vestindo um terno preto com gravata preta. Meu irmão estava ali, frio e sem vida. Perguntava por que não eu no lugar dele. As coisas seriam muito mais fáceis para todos.
Fiquei sete horas ao lado do caixão, apenas acariciando o rosto do meu irmão. A igreja permaneceu lotada por toda madrugada, alguns amigos dele fizeram homenagens cantando músicas. Eu sempre gostei de cantar e, por algum motivo, lembrei de uma música que o meu irmão adorava cantar para me perturbar.
Eu comecei a cantar bem baixinho e, quando percebi, todos começaram a cantar junto comigo, emocionados.
***
Aos olhos do pai
Você é uma obra prima
Que ele planejou
Com suas próprias mãos, pintou
***
Quando terminei de cantar, senti uma tontura e desmaiei. Acordei em casa. Fui até o banheiro e olhei no espelho. Minha expressão estava horrível. Meu rosto está com feridas. Nem pareço o Pedro de dois dias atrás. Para piorar, eu estava com febre. Só que não perderia o enterro do meu irmão por nada.
Voltei para a igreja e falei com alguns familiares. Reencontrei alguns tios e primos. Nem preciso dizer que poucos parentes se afastaram quando os meus pais aceitaram a minha sexualidade.
O templo estava lotado. Familiares, amigos e colegas, todos chorando. Todos vivendo o mesmo luto. O Paulo era querido por muitos. De repente, Luciana saiu correndo para a área externa da igreja. A Priscila olhou para mim e pediu para que eu conversasse com ela.
A Luciana ficou ao nosso lado o tempo inteiro. Eu estava tendo o apoio do meu namorado, mas ninguém segurou as mãos de Lu. Era a minha vez de ser o anjo da guarda de alguém.
— Por que, Pedro? Por que tenho que perder todos aqueles que eu amo? Meus pais, meu filho e agora o Paulo. Estou desesperada, não sei o que fazer. — disse Luciana, chorosa.
— Eu sei amor, estamos todos assim, mas eu te digo, eu te amo e nunca vou deixar nada te acontecer, vamos nos ajudar. — garanti a abraçando.
Conversamos juntos e nos abraçamos. Quando retornei para a igreja, o Padre havia terminado o ato fúnebre e nos deu uma última oportunidade de velar o Paulo. Vi um jovem que lembrava o meu irmão na adolescência. Ele era alto, forte e tinha os cabelos espetados. Andei em direção ao rapaz, mas, atrás dele, outra pessoa chamou a minha atenção: o Márcio.
— Que diabos você pensa que está fazendo aqui? Seu assassino!!!. — gritei, quando todos da igreja voltaram a atenção para nós.
— Eu quero o perdão de vocês. — ele disse, chorando e se ajoelhando no chão. — Eu estava drogado. Não sabia o que estava fazendo. Não fiquem com raiva de mim.
— Eu não estou com raiva de você, Márcio. Estou furioso. Com ódio. — afirmei, segundo o seu pescoço e o levantando, então, desferindo um soco.
— Bate. — implorou Márcio me deixando perplexo. — Eu mereço. Se vocês quiserem me matar, eu não me importo. — levantando do chão.
— Eu te odeio! — gritei, desferindo um soco no rosto de Márcio. — Te odeio. — o segundo. — Eu te odeio. — o terceiro. — Você matou um dos meus bens mais preciosos! — continuei o espancando, sem dó e nem piedade.
Virei uma máquina de soco. Eu não parava. Não cansava. Tinha apenas um propósito: causar dor no Márcio. O Maurício me segurou, por um impulso o soquei. Não estava me reconhecendo.
— Me perdoa, por favor. — pedi, enquanto o Maurício colocava a mão no rosto.
O que eu fiz? Machuquei uma pessoa maravilhosa por causa do Márcio. A minha atenção voltou para um grupo de policiais, que entrou na igreja e levou o Márcio para a delegacia. Nos reunimos em uma sala e o Padre fez um discurso sobre amor, perdão e compaixão. Nunca guardei rancor, porém, aquilo me consumia.
O momento do cortejo até o cemitério chegou. Seria o adeus do Paulo. Segurei forte nas mãos do Maurício, ainda não havia me perdoado por ter batido no meu namorado. Os meus pais foram amparados pela Luciana e Priscila.
O tempo fechou naquela tarde. Acho que era o jeito de Deus mostrar a tristeza dentro do nosso coração. Vi novamente o rapaz parecido com o Paulo. Estava distante, acompanhando o enterro de uma parte alta do cemitério.
Depois o meu foco voltou para minha mãe, que havia desmaiado. Todos foram ajudá-la. Eu fiquei responsável por fazer o discurso antes do sepultamento. Em um papel amassado havia escrito algumas coisas para dizer, porém, acabei perdendo durante a briga com o Márcio.
— Boa tarde... bem... eu havia preparado alguma coisa para dizer, mas perdi o papel. Quantos, quantos aqui possuem irmãos ou irmãs? — perguntei, enquanto quase todos levantaram as mãos. — Já disse a eles que você os amas? Eu posso ter muitas falhas, mas na minha família uma coisa não falta: o amor. Sempre tive orgulho de ter o Paulo como irmão, assim como os meus pais e a Pri. Confesso que muitas vezes senti ciúmes. Ele tinha mais amigos do que eu, era mais bonito do que eu e sem dúvida era a melhor pessoa deste planeta. — segurei o choro. — Amigos, família. — respirei fundo. O Paulo merecia o melhor discurso do universo. — Eu tenho a honra de falar que amei o meu irmão até o último segundo. Não sou muito religioso, mas sei que Deus não desampararia alguém como o Paulo. Uma pessoa linda por dentro e por fora. Espero que no futuro, eu tenha o privilégio de ser, pelo menos, a metade do homem que ele foi. E finalizo dizendo, nunca se esqueça de dizer "eu te amo" para a pessoa que está ao seu lado, porque não controlamos o amanhã. Obrigado por tudo, meu irmão. — finalizei olhando para o céu.
Deixamos o cemitério no final da tarde. Estava um pôr do sol triste, totalmente sem vida. Chegamos em casa e foi cada um para o seu quarto. O Maurício deixou os seus pais, depois seguiu para um restaurante, pois havia encomendando comida, mesmo sabendo que ninguém aceitaria.
Eu fiquei sozinho no quarto. As lembranças estavam me sufocando. Eu não queria aceitar. Eu não podia aceitar. A dor corróia o meu coração. A minha alma estava em chamas.
Troquei de roupa e resolvi ir até a cozinha tomar água, quando abri a porta do meu quarto reparei que a porta do quarto do meu irmão estava aberta. O cheiro do Paulo parecia invadir as minhas narinas. Na cama, encontrei a jaqueta jeans que ele amava. Peguei a peça e chorei a abraçando.
Não demorou muito e a Priscila apareceu. Ela também não conseguia superar. Com delicadeza, a minha irmã deitou ao meu lado e choramos abraçados. Eu não conseguia respirar. A dor era tão forte e aguda. Adormecemos os dois. Agora, só podíamos contar um com o outro. Queríamos acreditar que o amanhã seria melhor.
Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. As semanas foram passando e o luto se fez presente para a minha família. Cada um agiu de uma maneira. Reparei que o papai foi o único que não chorou durante o velório e enterro. Um amigo psicanalista avisou que deveria ser um trauma ou, simplesmente, a ficha que não havia caído.
Uma noite. Enquanto a mamãe saiu com as meninas. Pude ouvir o meu pai chorando em seu quarto. Não segurei às lágrimas e corri para o quarto do Paulo. Diferente dos outros, eu não conseguia abandonar a negação. O luto passou a ser uma companheira desleal e perversa. A cada dia, eu me sentia morto. A cada dia, uma parte de mim morria. Eu precisava tomar uma atitude.
Eu cheguei ao meu limite. Precisava encontrar o meu irmão. Da última vez, tive que morrer para falar com ele. Andei até o banheiro e encontrei um remédio tarja preta. Comecei a chorar. Lancei o frasco longe. Eu não podia. Eu tinha que ser forte. Eu prometi ao Paulo. Eu prometi.
"Eu não consigo... cheguei ao meu limite. Preciso encontrar o meu irmão. Da última vez tive que morrer para poder falar com ele"
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