O sol já estava se pondo, e uma luz meia que laranja entrava pela grade janela de vidro da pequena sala.
— Mãe, é sério! – tentava convencer minha mãe.
— Daniel! Você está mentindo não é? – perguntou com desconfiança. Eu engoli seco.
— Claro que não, mãe! Eu só vou à festa de quinze anos da Ana. – nossa, essa foi a pior mentira que contei na minha vida. — E você sabe que essas festas terminam tarde.
— Quem é Ana? – perguntou sentando no sofá branco.
Sim, pulando a discussão que envolveu me alertar sobre drogas e sexo, não falar com estranhos e sem falar que tava me sentindo uma criança com as palavras da minha mãe, me arrumei o mais rápido possível, e esperei Bruna. Minha mãe olhou engraçado para ela e eu quase que não agüento e segurei uma risada nervosa.
— Tá um gato! – disse Bruna quando minha mãe saiu.
— Você está linda também garota! – a abracei. Seu perfume era muito bom. — E cheirosa também! – exclamei.
— Vamos logo, se não perdemos o ônibus.
Quando chegamos lá, quase tive um treco quando vi o Caio vindo na nossa direção, minhas pernas quase vacilaram. Ele beijou o rosto de Bruna, e me abraçou e deu tapinhas nas minhas costas. Não precisa nem dizer que gostei de senti-lo assim de perto, seu peito contra o meu, seu perfume doce. Controlei-me para não dar uma mordidinha do seu pescoço. E como sempre ele riu e fomos para o ônibus. Bruna me dizendo, coisas loucas, como: “Nossa, ele demorou de mais no abraço”, “Ele fica muito sorridente quando te ver!”
Nós estávamos indo para o shopping outra vez, apenas comer e depois para a balada. Eu e Bruna comemos rápido e fomos direto para a balada que era quase em frente ao shopping. Caio ainda estava com seus amigos quando a gente saiu, eu quase caia olhando para ele. Eu estava criando muita esperança, e que talvez ele também gostasse de mim. Mas balancei a cabeça e acordei.
A musica estava alta, e não escutava mais Bruna. Que saudade de uma balada. As luzes piscavam freneticamente, tinha muita gente já se pegando, pulando, bebendo principalmente. Em apenas dois segundos que perdi bruna de vista, ela já estava com uma bebida na mão, melhor dizendo nas duas. Entregou-me uma, e eu quase recuso, mas peguei e bebi quase tudo em um só gole. A bebida estava forte, e desceu queimando na minha garganta. Eu sou fraco para bebidas, mais umas três dessa eu estaria bêbado. Mas começou a tocar Party At a Rich Dude’s House da Kesha e eu me empolguei. Também vi Caio chegando e me soltei mais ainda. Droga. Bruna só ria da minha cara, e dançava comigo. Eu entrei na onda da risadinha e comecei a rir.
Caio já estava pegando uma garota lá e eu nem me importei, acho que o álcool me deixou dopado dos ciúmes. Bruna também estava pegando alguém perto de mim. E eu fiquei sozinho. MARAVILHA! Quando começou a tocar Judas, eu fui para o meio da pista e comecei a dançar a coreografia com algumas pessoas. Tirei a camisa, quase vomitava, caia. Enfim, eu estava doido. No final as pessoas que dançaram comigo bateram palma e eu ri da situação. Nem acreditando que tinha feito aquilo. Bruna estava batendo palma também e me abraçou e gritou no meu ouvido:
— Você é foda dançando, cara! – e riu. Pedi que ela me levasse para o banheiro, porque eu precisava vomitar. Apoiei-me na pia e me olhei no espelho. Nossa eu tava uma desgraça. Meu cabelo bagunçado, cheirando a álcool, sujo por cair. Limpei minha boca e respirei fundo. Meu celular vibrou. “Mãe”, estava no visor. Como o som estava mais baixo aqui, eu atendi.
— Tá, eu tô bem mãe! Tá bom! Que horas eu chego?! Eu sei lá mãe! – desliguei. E olhei para o espelho e vejo Caio me olhando e segurando uma risada.
— Nossa cara, você tá mal! – e riu. – Toma aqui sua camisa. – ele me entregou. Não respondi nada. Apenas coloquei a camisa, com vergonha dele. — Você é engraçado dançando. – comentou.
— Sério? – ironizei. — Acho que o novato tá se soltando e você? – desafiei. Eu pararia com a brincadeira do “novato”, porque nem eu estava agüentando mais.
— Eu tenho certeza. – disse ele, me arrepiei todo na hora. Ele chegou mais perto. — Esquece aquilo cara, eu tava só brincado. – disse com cara de remorso.
— Brincadeira tem hora. – disse nervoso. — Não brinque comigo, porque eu ainda não brinquei com você... - tentei o afastar mais um pouco, coloquei minha mão no seu peito, que ficou rígido, e o empurrei levemente. Ele segurou meu braço com as mãos e disse:
— Tem certeza? – disse um pouco alto. — Tem certeza que você não brincou comigo?! – disse já nervoso. Eu estava confuso agora. Quando foi que eu fiz isso?
— Não sei do que você está falando Caio, me solta! – disse tentando me soltar das suas mãos, mas ele apertava forte agora. Ele começou a me intimidar, ele era mais forte e alto. — Por favor... – ele me solta e eu respiro fundo.
— Você fica me olhando sempre, fica todo nervoso quando me ver... – disse ele agora mais alto. — Tá querendo o quê? Ou melhor, o que você acha que eu sou? Gay? – quase gritou.
— Não cara, você interpretou tudo errado. – disse baixo tentando sair daquele lugar o mais rápido possível. Ele estava com raiva. — Por favor, Caio! Me deixa sair! – gritei também. Ele me empurrou forte e bati minhas costas na parede. Agora entendi tudo. Ele estava fingindo ser meu amigo, pra ver até aonde eu iria, e depois me dar uma lição dizendo que não era gay? Ele que me dava mole!
— Não me toque de novo, não me olhe outra vez! – fez uma pausa, e olho nos meus olhos amedrontados. — Ou eu te arrebento! – disse nervoso e saiu.
E aqui estou eu... Outra vez magoado. Forcei para não chorar, mas tinha uma bola no meu pescoço e ela me venceu. Não fiz escândalo, apenas deixei que as lágrimas escorressem pelo meu rosto. Não acredito que ele fez isso comigo, ele praticamente brincou com meus sentimentos e depois pôs a culpa em mim. Eu apenas queria ir para casa agora. Lavei meu rosto e pedi que Bruna me levasse ao ponto.
— Mais o que foi cara? O que aconteceu? – perguntava preocupada.
— Nada, só estou mal por causa da bebida. Agora tchau, vai curtir sua festa. – ela me deu um beijo e saiu.
Fui para o ônibus, e quase dormir na viajem. Quando cheguei comprei uma bala forte, prevenindo caso minha mãe queira cheirar minha boca. Eu disse a ela que precisava descansar e ela aceitou, e me deixou ir para o meu quarto.
No domingo fez sol, e Bruna queria me levar para um clube, que era em um bairro vizinho. Eu aceitei, não tinha nada para fazer. Coloquei uma sunga azul, e uma bermuda. Íamos andando mesmo, não era tão longe, era no mesmo bairro do nosso colégio. Bruna tinha amarrado seus cabelos loiros em um rabo-de-cavalo, e usava um short curto e uma bata linda. O clube não era o melhor que já tinha ido, mais dava pro gasto. Tinha apenas três piscinas, dois tobogãs, um parque enorme e quadras de vôlei, futebol e tênis. Não tinha muita gente. Ficamos conversando sobre a balada e tal, mais não comentei sobre o que Caio tinha feito.
Quando nós fomos tomar banho, ela ficou me chamando de gostoso e passado a mão na minha barriga, eu apenas ria. Mergulhei na parte funda da piscina grade. Que nostalgia essa sensação me trazia de Minas. Ficamos conversando na beirada da piscina, eu estava sentado e ela na água. Até que ela abre a boca e olha para mim.
— O que foi? – perguntei curioso.
— Olha quem chegou. – droga, Droga, DROGA! Não podia ser ele. Olhei bem devagar para o lado, e o vejo chegando com mais três amigos. Ele estava de sunga preta, que fazia um contraste com sua pele branca. — Vou chamar ele. – ameaçou.
— Espera! – quase gritei e seguei seu braço. — Eu me desentendi com ele ontem. – contei com vergonha.
— Eu sabia que você não estava mal por causa de bebida. – disse decepcionada. — Porque não me contou? – perguntou olhando nos meus olhos.
— Eu achei que não era necessário. – abaixei o rosto.
— De qualquer forma ele já está vindo para cá... – riu nervosa. Eu pensei em pular na piscina e nunca mais sair debaixo da água.
— Bruna! – ele gritou chegando, acho que ele não me reconheceu. Ainda bem.
— E ai cara! – ela bateu na mão dele. Então eu sei que ele me viu agora, mais eu não olhei para ele, como tinha me “alertado”.
— E você Daniel? Melhor da noite? – levantei o rosto e quebrei a regra, pude ver o quanto seu corpo era bonito. Será que ele estava forçando aquele papo? Eu apenas fiz um sim com a cabeça. — Você tem que se controlar cara! Você tava malucão na festa. – riu. Mais que MERDA, que diabos ele queria mesmo? Uns dos amigos dele chamou a Bruna, que foi e me deixou sozinho DE NOVO com ele. Nem estava acreditando. Ele sentou do meu lado.
— Eu não consigo te entender, cara! – disse me arrependendo de ter dito aquilo.
— Olha, eu vim te pedir desculpas por ontem. Eu também não estava bem...
— Sua cota de desculpas está quase acabando. – eu o cortei.
— Não podemos nem ser amigos então? – eu parei. Ele tinha dito isso mesmo? Seus olhos pareciam ser sinceros, e lindos e mais verdes do que nunca.
— Eu não sei, acho que isso depende de você. – afundei e fui para o outro lado da piscina. Ele me acompanhou até o outro lado. Que droga.
— Então que tal você ir lá em casa? – disse ele quando sai na superfície. Duvidei dos meus ouvidos. Tirei meu cabelo dos olhos e o olhei sério.
— O quê? – perguntei incrédulo.
— Você quer visitar minha casa? – disse novamente, só que mais pausadamente. Tive medo que ele armasse outra para cima de mim. Mas o que eu tinha a perder?
— Mas eu não onde é...
— Eu te levo. Eu sei onde é sua casa. - explicou. Como ele sabia? — Então que horas eu te pego? – nossa, quando ele falou pego, eu imagineicoisas na cabeça.
— Sei lá, umas três horas. – disse como quem não tava nem um pouco afim. Ele disse um Ok, e saiu rindo. Nossa, em que ele achava tanta graça? Quando Bruna voltou, eu contei para ela que fui quase forçado a ir, e ela disse que eu tava era doido para ir, e realmente estava... Com medo!
Quando deu três e dez, eu já tinha achado que ele não viria, mas a companhia toca. Minha mãe estava achando que eu ia para casa de Bruna. Eu tinha que parar de mentir para ela, me sentia mal depois.
— Desculpa a demora, cara! – ele pôs a mão na cabeça.
—Nada... Então vamos? - o chamei andando um pouco para rua. Ele riu.
— Que tal a gente ir de carro? – ele apontou para uma Mercedes. Eu acho que aquele carro só podia ser do pai dele. Eu entrei a estava fresco dentro. Aspirei o ar e soltei depois que ele entrou.
— O que foi? – colocou a chave.
— Nada, só estou nervoso. – disse tentando rir.
— Não precisa ficar assim. Ninguém vai te comer lá. – lá vêm as ambigüidades na minha mente. Ele dirigiu calmamente até sua casa, seu perfume maravilhoso tomava conta do carro, e até lá não trocamos uma palavra. Sua casa era realmente grande, dava pra ver só na fachada. O jardim era praticamente a minha casa. Ele abriu a porta da sala, uma porta de vidro e grade, e quase cair para trás. Era espetacular e tinha um piano de cauda preto em uma parte mais alta da sala.
— Nossa cara! Que linda sua casa! – disse maravilhado. – Nunca vou te levar na minha. – ele riu.
— Obrigado, e você vai ter que me mostrar sua casa também. – ele riu. Fui em direção ao piano.
— Posso? – perguntei pondo a mão em cima do piano.
— Claro! – abri cuidadosamente e quase chorei ao ver aquelas teclas pretas e brancas de novo. Sentei e comecei a tocar uma musica bem lenta que eu adorava de Beethoven. Quando acabei ele sentou do meu lado. — Que lindo... – ele disse no meu ouvido. Eu estremeci, essa era uma musica que minha vó também gostava e deixei uma lágrima cair quando soltei o pedal.
— Desculpa, cara... – eu tentava me explicar, mas parei quando seu dedo limpou minha lágrima. — Faz tempo que eu não tocava e minha vó adorava essa musica.
— Eu entendo. – eu abracei então, e chorei em silencio mais um pouco em seu ombro. Sua respiração ficou desregular e mais forte, e sua mão passeava nas minhas costas. Meu coração acelerou. Tomei uma atitude um pouco ousada. Fechei os olhos e beijei seu pescoço perfumado. Ele estremeceu e me apertou mais forte.
— Como você é lindo Caio... – disse entre os beijos que dava no seu pescoço. Abri os olhos e ele estava com eles abertos, respirava pela a boca entreaberta e convidativa. Sentia seu hálito quente e fresco. E eu não agüentei e encaixei minha boca na sua. E pressionei meus lábios contra os seus lábios inferiores. Ele correspondeu fazendo o mesmo e sentir sua língua depois na minha boca. O agarrei. Já estava perdendo o controle. Estava com medo de talvez acordar de um sonho.
— Você que é... – disse depois que o beijo foi parando aos poucos. Quando eu vi o que tinha feito quase caio do banco.
— Desculpa, desculpa! – disse me afastando dele, ele segurou meus braços.
— Está tudo bem! – disse ele me acalmando. — Eu também gosto de você. – eu estava tão doido quase sai correndo.
— Gosta? – perguntei não acreditando.
— Claro seu bobo. – disse rindo.
— Mas na balad...
— Esquece, eu estava confuso em relação a tudo isso que eu estava sentindo por você.
— Então... O que a gente faz agora? – perguntei nervoso.
— Vamos deixar as coisas acontecerem. – ele disse e tentei mudar de assunto.
— Então tá. Então Sr.Morzat, toque alguma coisa para mim! – disse tentando descontrair aquele momento de tensão.
— Tá. – ele disse. Então ele começou a tocar umas notas aleatoriamente, e pus a mão nos ouvidos. Eu comecei a rir quando ele fez uma cara superior. Toquei suas mãos. E olhei para seus olhos.
— Sério. – ele me deu um selinho. — É sério eu não sei tocar isso. – disse sério.
— Acho que vou ter que te ensinar então. – toquei outra musica, mais ele não me deixava em paz, ficava beijando meu pescoço e eu errava tudo.
Depois pedi que me levasse em casa, caso ele quisesse que eu não me perdesse. Apesar dessa cidade ser pequena, a casa dele era um pouco longe da minha, porque ele morava em um bairro de classe alta e já estava tarde. Ele quase que não me deixava sair. Eu cheguei em casa todo feliz, dei um abraço e um beijo na minha mãe que estranhou toda essa minha felicidade.
— Achou dinheiro foi? – indagou rindo. Depois chegou mais perto e cheirou meu pescoço. Droga! — Que perfume é esse Daniel?
Fim da terceira parte, que ficou maior ainda, me desculpem os erros, é porque eu digito rápido.