As duas da tarde fui para a parada de ônibus, era uma viajem de meia hora, eu não gostava muito de andar de ônibus, mais o sacrifício valia a pena. Era a última vez no ano que eu veria o Luan. Quando eu cheguei, fui logo para o quarto dele, ficávamos muitas horas jogando no Super Nitendo, quando cansava, jogávamos Xadrez, um jogo que ele adora, é engraçado como ele se concentra, fica sério, não fala nada quando está jogando, e claro, sempre eu perco. Além disso, ele me ensinava Judô as vezes.
Seu quarto era pequeno, tinha no espaço uma cama de solteiro com 2 colchões, um guarda-roupa e a mesinha com uma TV pequena e o Super Nitendo. Ele de vez em quando me perguntava sobre coisas de militares, ele tinha o sonho de ser um Marinheiro, eu já tinha pedido várias vezes para ele ir na minha casa e conhecer meu pai, mais ele sempre ficava receoso, acho que ele tinha vergonha. Eu por outro lado não me via como militar, eu sempre quis ser médico, embora meu pai sempre jogava argumentos para me fazer mudar de ideia, ele queria que eu seguisse sua carreira, sempre falando no dinheiro que eu teria em pouco tempo, para ser um militar levava menos de 3 anos em quanto que para médico levaria 7.
No fim da tarde ele queria fazer algo diferente, eu e ele então fomos andar de bicicleta pelo seu bairro, era engraçado como quase todos conheciam ele, a cada dois minutos alguém acenava para ele. Paramos em um mercadinho para comprar um lanche, quando fomos pagar, a atendente perguntou se éramos irmãos, eu logo falei..."Não, somo só..." quando o Luan me corta e diz "Sim, somos irmãos." a partir daí eu fiquei calado, pensando no que ele havia dito, "por que alguém que eu conheci a pouquíssimo tempo me chamaria de irmão?" Voltamos para a casa dele e lanchamos, já tinha escurecido, era hora de eu ir embora.
- Você está muito calado.
- Luan...eu tenho que ir.
- Ah não Daniel, ainda ta cedo.
- Já escureceu.
- Nossa! (ele olha pela janela) Nem percebi. Fica mais um pouco, por favor.
- Luan...
- Liga para a sua mãe, eu falo com ela, você vai dormir aqui hoje.
- Mas minha viajem é amanhã às oito da manhã.
- Você acorda cedo.
- Certo, não custa tentar, mas deixa eu falar primeiro.
Então liguei para a minha mãe e ela no começo resistiu, eu nunca tinha dormido na casa de um amigo, porque até a pouco tempo eu não tinha amigos. Luan queria falar com ela, mas eu achei melhor não, logo ela deixou, contanto que eu não atrasasse a viajem. A noite nós ficamos assistindo TV, ele fez questão de ficarmos acordados até meia noite para assistirmos um filme de terror, coisa que eu detestava, mais por ele eu assisti. Eu continha os sustos, não queria parecer uma menininha, mas as vezes não tinha jeito e eu soltava um berro... Ele ficava do meu lado, teve uma hora que ele segurou minha mão e disse "presta atenção" eu não entendi muito bem, mais continuei assistindo quando veio o maior susto de todo o filme, eu dei um salto no sofá, ele riu muito de mim, eu soltei a mão dele e o empurrei dizendo como ele era um boboca, mais acabei rindo muito também.
Já estava tarde e o filme tinha acabado. Hora de dormir. Ele tirou um dos dois colchões da cama e botou no chão, e disse pra eu dormir na cama dele, claro, eu relutei, eu iria dormir no colchão do chão. Depois de muita discussão ele veio pra perto de mim e aplicou um golpe de Judô que me fez cair na cama dele, não sei por que mas meu coração acelerou na hora, ele perguntou se eu iria mesmo brigar com ele por quem dormiria no chão, acabei concordando com ele então, não sem antes dizer o quanto ele era bobo e ele dar aquele sorriso lindo pra mim.
Naquela noite eu pensei muito no que havia acontecido, em como eu me sentia sobre a amizade com o Luan, ele era meu amigo, mais do que um irmão, mas eu achava tão estranho essa vontade de querer sempre estar perto dele, quando eu estou com ele tudo fica mais alegre, eu me sinto seguro, aliviado, protegido e... amado. Não, "isso é certo?" eu pensava, sempre recebi muito amor da minha família, mas como eu poderia sentir amor por alguém que eu conheci a dois meses? Decidi parar de pensar nisso e fui dormir.
Eu tinha colocado meu celular para despertar, era sábado, acordei quinze pras sete e fui tomar banho. Quando voltei a mãe do Luan já tinha colocado o café da manhã, mas nada do Luan acordar, coube a mim jogar um copo de água fria na cara dele. Ele deu um pulo do colchão falando...
- O quê que deu em você?!
- Seu dorminhoco, eu tenho que ir agora.
- Ah que droga, acho que vou ter que te amarrar aqui.
- (risos) É só por um mês.
- Vou sentir saudades.
- Vê se não chora heim.
- Pode deixar, não vou chegar a esse ponto (ele veio e me abraçou).
- Temos que ir tomar café da manhã agora.
- OK.
Tomamos café da manhã, me despedi da mãe dele e do irmão. Ele me levou para o terminal de ônibus ali perto, logo meu buzão chegou, abracei ele outra vez e ele me desejou boa viajem, então eu fui. Cheguei em casa na hora, pegamos nossas malas e fomos para o aeroporto. Pensei no Luan a viajem toda.
Chegamos em Santos e fomos para um sítio um pouco distante da cidade que meus avós paternos eram donos, nessas férias toda a família se reuniria lá, meu pai tinha um irmão e uma irmã, minha tia tinha duas filhas, Laila e Thalia, e meu tio um filho, Adam. Adam tinha 17 anos, branco, cabelos cor de areia e olhos cor de céu, era meu único primo paterno, não o via faz muito tempo, a família dele morava nos Estados Unidos, eram muito bem de vida, mas vinham todas as férias para o Brasil, fato que fez com que ele ainda falasse português. Começou aquele papo de avós e tios me dizerem o quanto eu tinha crescido e tal. Depois me afastei um pouco, deixei os adultos conversando, cumprimentei minhas primas e logo Adam veio falar comigo.
- Oi primo, como você está?
- Vou bem, a quanto tempo não nos vemos né?
- Sim, me lembro de como costumávamos a brincar juntos.
- Pois é, faz muito tempo.
- Vamos pro meu quarto? quero te mostrar uma coisa.
Ele me levou para o quarto dele (de quebra, meu irmão veio atrás) e eu fiquei surpreso, ele tinha trazido um PS2, um console que tinha laçado a pouco tempo e ainda era bem caro. Jogamos alguns jogos multiplayers, sempre ele ficava do meu lado, mas o estranho era que eu percebi que sempre que dava, ele ficava encostando e tocando em mim, você pode achar estranho eu dizer isso, mas como passei uma grande parte dos meus últimos anos sozinho, eu notava isso, meu irmão não via nada, parecia que ele estava hipnotizado pela tela. Os dias foram se passando e todo dia da semana íamos a uma praia diferente em uma caravana de quatro carros. saíamos a tarde depois do almoço e voltávamos um pouco depois do anoitecer. Ah, e é importante destacar que o almoço da empregada dos meus avós era horrível, pena que só eu achava isso.
Estranhamente o Adam sempre me seguia, inclusive quando estávamos no mar, eu esbarrava as vezes nele sem querer, mas comecei a perceber que ele já se posicionava para isso acontecer, e eu estava gostando disso. Nas noites em que fazíamos uma fogueira, ele levava seu violão para tocar e cantar, não era surpresa as meninas ficarem vidradas nele. Eu não tinha reparado nele antes, mais seu olhos são hipnotizantes, o azul brilhando com a luz das chamas, reparei porque ele passava a maior parte do tempo me olhando, eu claro acabava desviando o olhar, é um reflexo de todo tímido. Quando eu ia dormir, pensava no que estava acontecendo comigo, "porque eu estou reparando e admirando garotos agora?" não tem sentido, "será que Deus está me castigando por algo?", "o que meus pais iam fazer comigo se descobrissem?", eu ficava muito receoso, mas o sono acabava me encontrando.
Houve um dia em particular que resolvemos ir acampar em uma praia deserta, muito distante. Depois de muitas brincadeiras tanto no mar quanto na terra, escureceu, novamente fizemos uma fogueira, depois de uma ótima tarde, mais dessa vez eu estava mais tranquilo, solto, peguei o violão do Adam e comecei a tocar e cantar, eu vi que ele ficou surpreso, agora que ele não tirava os olhos de mim. Na hora de ir dormir, cada barraca comportava 2 pessoas, e eu fui dormir com o Adam, pois meu irmão era menor e podia ficar com meus pais. Quase sempre eu e ele éramos os últimos a sair da fogueira, todos os outros eram vencidos pelo sono. A fogueira já estava fraca quando ele falou...
- Não é triste justo hoje a lua não mostrar a face?
- É, demos muito azar.
- Vai ficar escuro quando apagarmos as chamas. Fique perto de mim.
Apagamos as chamas e realmente ficou muito escuro, ele pegou a minha mão e fomos até nossa barraca.
- Boa noite Adam.
- Boa noite Daniel.
Eu definitivamente não conseguiria dormir naquela situação, já se passaram umas duas horas eu acho, e eu não conseguia ficar confortável. Então eu saí e fui sentar na praia. Pensei no Luan, em com será que ele devia estar naquele momento, dormindo é claro, como eu sou um bobo....um bobo apaixonado. NÃO, não, ele é meu amigo, meu irmão, eu só me importo demais com ele. Logo uma pessoa senta ao meu lado, estava escuro, mas pela voz, reconheci que era o Adam.
- Não está com sono?
- Não... quero dizer sim, é só que... não me sinto confortável.
- Sou eu né?
- Não Adam, quê isso... é só que eu não sou acostumado a dormir em colchonetes.
Que coisa idiota de se responder, pensei. Ele era super rico e dormia numa boa no colchonete...
- Se quiser eu te dou o meu para juntar com o seu.
- Não não imagina... eu vou ficar por aqui até ficar saturado de sono e então eu volto. (falei e deitei na areia)
- Eu fico aqui com você.
- Eu não quero atrapalhar seu... (ele deita-se na areia ao meu lado) ...sono.
Um silêncio se instaurou, até que ele falou...
- As estrelas daqui são diferentes das que vemos nos Estados Unidos.
- Você gosta de morar lá?
- Eu prefiro aqui.
- Por quê?
- As pessoas de lá são muito orgulhosas, não conhecem humildade, amigos verdadeiros são raros.
- Bem, aqui não é muito diferente.
- Mais aqui tem você.
- O que você d...
Sou interrompido, ele, que estava deitado do meu lado, leva seu rosto a frente do meu e beija minha boca suavemente, tudo em questão de segundos. Quando ele afasta o rosto, eu fico imóvel, não digo nada, não sei o que fazer, o que pensar. Saio correndo para a nossa barraca e fecho o zíper.
[CONTINUA]