Dois anos. Já se passaram dois anos, e somente agora notei que há dois anos atrás, exatamente quando adentrei o portão daquela escola nova logo de cara um garoto me chamou a atenção. Como ele era lindo, aqueles intensos olhos azuis, seus lindos cabelos loiros caiam-lhe na testa o que o fazia ficar arrumando a franja o tempo todo. Lembro me muito bem que ele estava com os amigos conversando alguma coisa haver com futebol, pois vi ele chutando algo. Bem eu não estava interessado no assunto, só em como aquele garoto era bonito. E o seu jeito exacerbado, e sempre dramático de falar me fazia delirar cada vez mais.
Por meses fiquei encarando aquele garoto, pensando no efeito que ele tinha sobre mim. Até que o meu melhor amigo Jonas conheceu ele e nos apresentou. Estendi minha mão para cumprimenta-lo, ele me puxou e abraçou-me. No começo fiquei devidamente assustado, mas depois deixei me levar naquele caloroso abraço. Como eu esperei por isso... Parece que seus braços foram feitos para se encaixar aos meus, seu corpo foi talhado para que o meu o completasse, para que fossemos apenas um.
E tudo isso aconteceu dois anos, foram tantas lembranças, emoções e sentimentos e só tinha certeza de que a cada dia meu amor por ele era maior, mas ele não poderia saber disso. Apesar de ser gay como eu, Douglas não poderia saber dos meus sentimentos por ele. Garotos como eu não podem ficar com garotos como ele. Eu sou um 6,5 e meio, e ele é um 10 com glória e louvor.
Despertei de mais um dos meus longínquos pensamentos, obviamente sempre incluía o Douglas neles. Fui tomar um banho e comer algo, depois deitei em minha cama e finalmente adormeci pensando nele. O alarme do meu celular fazia um som ensurdecedor, e não havia opção melhor do que acordar e desliga-lo. Levantei-me da cama, olhei em volta e alguns raios de sol entravam pela fresta da janela semiaberta. Não sei por que mas aquilo me encheu de um sentimento bom, não sabia qual era, só sabia que era bom. Geralmente quando esse tipo de coisa acontece, sei que meu dia será bom. Tomei um rápido banho e fui para a escola. Assim que cheguei lá estava ele todo sorridente ao me ver, abracei-o como sempre e depois fui cumprimentar meus outros amigos, falava com o Jonas em um dos bancos perto do jardim da escola, quando ele chega por trás de mim e diz:
- Precisamos conversar.
O Jonas nota que é algo sério e sai de cena com um rápido “já volto”.
Não sei por qual motivo mas sempre que alguém fala "precisamos conversar" eu imagino algo muito ruim que devo ter feito a esta pessoa, mas nunca fiz nada de ruim ao Doug. Quando ele começa a falar:
- Ai Hugo, estou tão chateado - E eu com medo do que seria, pergunto:
- Por que?
- Eu estou apaixonado.
Aquelas palavras caíram como uma bomba no meu mundo, e por alguns instantes nasceu a esperança de que seria de mim que ele falava. Rapidamente, me recompus de modo que o Douglas não percebesse como aquilo havia pesado para mim.
- E qual é o problema nisso?
- O problema é que o garoto que eu gosto é hétero e além disso me odeia.
Não sou eu.
- Vish - exclamei chateado. Sem saber o que falar, abracei-o e as senti as lágrimas dele umedecerem meu braço.
- Hugo, muito obrigado por estar sempre do meu lado.
- Que isso, Doug. Estarei aqui sempre que precisar, se você cair eu te pegarei, eu te protegerei do que precisar, quer um braço, lhe dou os dois. Do que precisar, pode verdadeiramente contar comigo. Pode chorar o quanto quiser, sofrer o quanto tiver que sofrer, quando tudo passar eu estarei aqui pra remendar cada pedaço do seu coração. A qualquer momento você pode vir a mim que estarei sempre disposto a te ajudar. Só quero fazer o sorriso mais bobo que eu já vi no rosto do garoto mais bonito que conheço - Disse isso tudo sem nenhuma outra intenção, somente como amigo mesmo.
Senti que ele precisava ouvir algo que lhe confortasse e que fosse verdade. Douglas olhava pra mim, e se limitou a dizer apenas um obrigado meio choroso.
Fico lá abraçando ele, que se aproxima, olha para mim bem no fundo dos meus olhos, coloca sua mão no meu rosto e junta seus lábios ao meu. Sentia que estava prestes a explodir, o calor daqueles macios lábios junto aos meus, suas mãos uma colocada em meu rosto e a outra em minha cintura... Era tudo um sonho e dessa vez não era coisa da minha cabeça. Eu estava acordado e vivenciando tudo aquilo. Mal pude acreditar que estava beijando o garoto que sempre amei, e não foi apenas mais um beijo como o que já dera em outros garotos, foi o beijo que mudaria a minha vida.